O Mundo Lá Fora
Olha como a autora é legal, mais um capítulo para vocês!
O eco das vozes de sua família foi desaparecendo conforme se afastaram, deixando uma casa mergulhada em um silêncio pesado. Lena permaneceu imóvel por alguns instantes, ouvindo o próprio coração batendo acelerado, sentindo a pressão invisível da solidão. Mas ela já estava acostumada com isso.
Suspirando, voltou ao trabalho. Sua mãe havia sido clara: tudo deveria ser impecável até o final do dia, ou ela enfrentaria as consequências. Pegou os produtos de limpeza e subiu as escadas até o quarto de Cecília. Assim que entrou, sentiu o cheiro forte do perfume da irmã, espalhado pelo cômodo como lembrança uma cruel de que aquela casa nunca seria um lar para ela.
Com gestos automáticos, começou a limpar, dobrando roupas que não eram suas, organizando livros que nunca teriam o direito de ler. Mas, por um breve momento, algo fez parar.
A janela estava entreaberta, e além dela, o mundo respirava. O vento fresco bagunçou seus cabelos escuros, e os raios tímidos do sol tocaram sua pele marcada. Lentamente, Lena caminhou até a janela e olhou para fora.
Lá estava a alcateia, viva e pulsante. O som de risadas, o cheiro das fogueiras, os lobos correndo em sua forma animal... Um mundo ao qual ela pertence, mas que nunca pôde tocar.
As lágrimas vieram sem aviso, escorrendo silenciosas por suas bochechas.
"Será que algum dia eu conhecerei algo além desta casa?"
A voz em sua mente era um suspiro desesperado.
"Será que estou destinado a sofrer para sempre?"
Engolindo o choro, Lena olhou para os próprios reflexos na vidraça. Seus olhos verdes brilhavam de tristeza. Sua pele, tão pálida quanto a neve, contrastava com os hematomas arroxeados. Os lábios feridos, as marcas nos braços...
Mesmo machucada, ainda era bela. Mas sua beleza foi sufocada por um peso invisível.
Fechou os olhos e aqueceu o fundo.
"Meu nome é Lena Varga" sussurrou para si mesma, sentindo a garganta ardente. "Tenho 22 anos... sou um ômega..."
Seu peito doía. Ela nunca disse essas palavras em voz alta. Sua identidade era uma vergonha para a família, um erro que nunca deveria ter acontecido.
Mas ali, sozinha naquele quarto, ela se permitiu existir. Mesmo que por um instante.
Então, limpou as lágrimas, virou-se e voltou ao trabalho.
Porque, no final do dia, ninguém se importaria se Lena quisesse mais daquela vida.
Ninguém, ainda.
O tempo parecia se arrastar enquanto Lena continuava sua faxina. Cada passo era pesado, cada movimento puxava músculos doloridos de tantas agressões que sofreram. Mas ela não podia parar. Nunca pode.
A casa era imensa, e cada cômodo parecia um lembrete cruel de sua posição naquela família. Não como filha, mas como serva.
Primeiro, voltou ao trabalho no quarto de Cecília, sua irmã caçula. Uma alfa promissora de apenas 16 anos, que dentro de um mês viveria sua primeira transformação. A grande festa estava sendo planejada, e sua família estava ansiosa para conseguir mais um membro forte e digno da alcateia Lua de Sangue.
Lena dobrou cuidadosamente as roupas espalhadas pelo chão, ajeitou os móveis e trocou os lençóis da cama. Tudo feito com precisão, pois qualquer erro poderia lhe custar um novo castigo.
Assim que terminou, seguiu para o quarto de Victoria, sua irmã mais velha. Outra alfa. Seu cheiro forte impregnava o ambiente, dominador e cruel. O quarto era um reflexo de sua dona: desorganizado, mas ao mesmo tempo repleto de itens luxuosos. Perfumes caros, vestidos de gala, sapatos de salto alinhados perfeitamente dentro do armário. Victoria sempre teve tudo o que quis.
Diferente de Lena, que nunca teve nada.
Depois veio o quarto de Henrique, o primogênito da família. Os herdeiros da força e do poder dos Varga. Um beta arrogante, mimado, cruel como o resto deles. O quarto era escuro, com paredes cobertas por prêmios, troféus e medalhas de competições da alcateia. Ele se gabava de ser um dos melhores guerreiros da Lua de Sangue.
Lena limpou cada canto, ignorando a dor que irradiava por seus braços.
Por fim, restava o quarto de seus pais.
Seu peito abriu quando cruzou a porta. O cheiro forte de seus progenitores – a combinação marcante de alfa e beta – fez sentir um calafrio. O lugar era tão bagunçado quanto o resto da casa, como foram feitos de propósito. Como se sua existência servisse apenas para limpar suas sujeiras.
Os lençóis estavam revirados, roupas espalhadas pelo chão, documentos sobre a escrivaninha, marcas de copos na madeira. O cheiro de café velho ainda pairava no ar.
"Isso não é um lar."
Seus olhos percorreram tudo, cansados, vazios.
Todos os dias eram assim. Apenas sofrimento e mais sofrimento.
E o pior?
Ninguém da alcateia ousava interferir.
A família Varga era respeitada, poderosa. Todos os viam como lobos exemplares, alfas e betas dignos de admiração. Para a alcateia Lua de Sangue, a casa Varga era um símbolo de força.
E Lena?
Apenas uma falha. Uma vergonha. Um erro que deveria ser esquecido.
Mas, no fundo, em algum lugar dentro dela, uma parte pequena e frágil ainda se perguntava:
"Até quando?"
Lena descia as escadas, apertando cada músculo do seu corpo latejar com a dor acumulada. Seus movimentos eram lentos, mas, ao chegar ao inferior, algo chamava sua atenção.
A porta da frente estava entreaberta.
Seu coração acelerou. Aquilo nunca acontecia. Sua família sempre trancava tudo, garantindo que ela ficasse naquele inferno.
"Será que esqueceram?"
A ideia deixou hesitante.
Mas e se fosse sua única chance?
O desejo de ver o mundo lá fora, de sentir algo além das paredes frias daquela casa, foi mais forte que o medo. Lena respirou fundo e, com passos cuidadosos, se mudou da saída.
O vento suave tocou sua pele assim que cruzou a soleira.
Era... lindo.
A floresta ao lado da casa se estende como um quadro vivo, repleto de cores e sons que ela nunca poderia explorar. O cheiro da terra úmida, o farfalhar das folhas ao toque do vento, os raios dourados do sol filtrando-se entre os galhos altos...
Cada flor que avistava era uma pequena maravilha.
Um pequeno sorriso brotou em seus lábios.
Pela primeira vez em muito tempo, Lena sentiu-se viva.
Mas não durou tanto.
"O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?"
A voz trovejante de Henrique cortou o ar.
O medo congelou cada célula do seu corpo.
Quando se virou, seu irmão mais velho já estava sobre ela. Seu rosto estava vermelho de raiva, os olhos brilhavam em fúria lupina.
"Quem te deu permissão para sair?" ele rosnou, os dentes cerrados.
Antes que Lena pudesse se explicar, as garras de Henrique se fecharam ao redor de seu braço.
Ela soltou um grito de dor quando foi brutalmente arrastada para dentro de casa.
"Maldita ômega inútil!"
A primeira pancada veio tão rápida que ela nem teve tempo de se preparar.
A segunda a jogou contra a parede.
A terceira...
Estalos de ossos quebrando ecoaram pelo ambiente.
Lena caiu no chão, tentando conter o gemido de dor. Mas Henrique não terminou.
"Você só serve para obedecer, ouviu? Nunca mais se atreva a sair dessa casa, entendeu?!"
A cada palavra, um novo golpe.
A dor era insuportável.
Os olhos de Lena se encheram de lágrimas enquanto sentiam sua consciência vacilar.
No fundo, ela sabia.
Naquela casa, naquela vida, ela jamais teria liberdade.
Apenas dor.
Apenas sofrimento.
E, como sempre, ninguém viria ajudá-la.
Em um lugar distante
A noite era fria, mas Kara Zor-El não sentia nada.
O vento uivava entre as montanhas, sacudindo as árvores como se tentasse arrancá-las do solo. A floresta abaixo era escura e silenciosa, mas nada disso importava. O tempo havia perdido o significado para ela há séculos.
Ela não sabia dizer quanto tempo vagava sem rumo. Cidades, alcateias, reinos inteiros passando por seus olhos como borrões sem importância. Nenhum lugar era seu lar, ninguém era sua companhia. Havia muito tempo que deixava de procurar algo. Havia muito tempo que não sentia nada.
Sua loba, outrora forte e feroz, agora existia apenas em instinto. Sem emoções, sem desejos, sem propósito.
Ela era apenas um ser vagando pelo mundo, sem passado e sem futuro.
O que um Supremo Alfa se torna sem sua companheira?
Kara já sabia a resposta.
Um vazio. Um monstruoso. Uma lenda a ser temida.
Diferentes dos Alfas Comuns que podem se relacionar com outros até achar seu par, os Supremos Alfas só podiam tocar e amar apenas uma pessoa. Somente sua companheira predestinada poderia completar sua alma. Mas, com cada século que passa sem encontrá-la, Kara sentiu seu coração se tornar mais frio, mais suportável.
Seus olhos azuis frios fitavam a paisagem sem interesse. Não havia mais nada a encontrar. Não havia nada a sentir.
Mas, pela primeira vez em mil anos, algo cruzou sua mente como uma sugestão distante.
"Volte."
Seu lobo interior não falava há muito tempo. Mas, agora, algo dentro dela sussurrava essa única palavra.
"Volte."
Ela franziu o cenho. Voltar? Para onde? Não havia lugar ao qual pertencesse. Não havia lar.
"Volte para a sua alcatéia."
A ideia a atingiu como um golpe invisível.
Sua alcatéia.
Havia muito tempo que a abandonara. Muito tempo que deixava aqueles que a seguiam e respeitavam para trás. Eles ainda esperavam por ela? Ainda acreditavam nela?
Ela não sabia.
Mas, por algum motivo, seu lobo sabia a resposta.
Kara Zor-El respirou fundo. Virou-se na direção voltada ao horizonte desconhecido.
Pela primeira vez em séculos, tinha um destino.
Era hora de voltar.
Continua...
Por enquanto os capítulos estão pequenos, mas depois melhoram! Estou só introduzindo a história por enquanto.
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