Capitolo due. QUANTO SEI BELLA

ROTEIRO UM | PARTE DOIS
CAPÍTULO DOIS
COMO VOCÊ É LINDA

⚜️

AMBROSIA da VINCI

Na manhã do dia seguinte, Lucrezia me pediu para acompanhá-la junto de seus filhos até o Priori, onde seu filho mais novo seria julgado depois da confusão que criou com os Pazzi.

            Na hora, não consegui pensar em uma maneira de negar seu pedido. Lucrezia tomou meu silêncio como surpresa por ter sido chamada para comparecer a tal assunto familiar, logo adentrando em meu quarto e separando o meu melhor vestido que julgou apropriado.

            Foi difícil para ela, visto que todos eles eram de cores escuras, em geral pretos. Muitos já me perguntaram se eu estava indo a um funeral todos os dias devido a cor, mas eu apenas os ignorava. Entretanto, Lucrezia nada me julgou, apenas falou que achou eles lindos. Sorri com seus comentários.

            Eu estava sentada no banco de trás de Lucrezia, sua filha estando ao seu lado. Ainda não havíamos nos conhecido formalmente, nem aquela era a hora adequada para isso. Em frente a todos, em duas mesas uma de frente para a outra, estavam os filhos de Piero de Medici e mais um que eu não conhecia, na outra estavam os Pazzi. Conforme pediram, Jacopo de Pazzi foi chamado a falar:

            — Os Medici me acusam de contratar assassinos e ter-lhes pagado com um medalhão de outro — disse, enquanto levantava o item. — Mas eu posso provas que esta moeda não pertence a nenhum assassino.

            Com isso, sua testemunha caminhou a até a frente.

            — Messes Fanti, reconhece isso? — perguntou Jacopo.

            — Sim, Senhor. Eu disse a seu sobrinho que tem minhas iniciais nele: AF de Arturo Fanti.

            — Deve haver milhares de AFs na Toscana — disse o Medici cujas mãos estavam presas por correntes.

            — Coloque-o em uma superfície plana, ele vai oscilar — mandou Arturo.

            E assim foi feito, comprovando o que o Fanti disse. Instantaneamente surgiu um sorrido convencido no rosto de Jacopo.

            — Você deve ter sido muito satisfeito por recebê-los, mas já venceu porque é dobrado?

            — Porque é ouro — respondeu Arturo, como se fosse óbvio. — E o Medici cobrou meu empréstimo na última semana.

            O Medici atado por correntes perguntou silenciosamente ao irmão ao seu lado, infelizmente eu não conseguia ver sua aparência muito bem, mas ele respondeu que não.

            — Então o caso Medici é: eu ou um dos meus sobrinhos pagamos um assassino com uma medalha de segunda mão comprada no mercado, ao invés de usar qualquer parte do ouro indetectável nos nossos cofres dos bancos?

            — Apenas o Pazzi odeia meu pai o suficiente para tentar matá-lo! — exclamou o Medici preso, se levantando bruscamente da cadeira.

            — É natural que um filho fique cego com a falhas do pai — disse Jacopo, dando de ombros. — E por essa razão, se Giuliano de Medici pedir desculpas, estou disposto a perdoar e esquecer sua calúnia e agressão física.

            Giuliano de Medici, um belo nome para alguém tão belo. Automaticamente me perguntei qual foi o tipo de agressão. Internamente, desejei que não cedesse aos desejos do Pazzi e não pedisse desculpas. Esse tipo de ato mostrava o quanto era fraco e não tinha pulso firme para as próprias convicções.

            — Senhor, — chamou o Medici ao lado de Giuliano — em nome dos Medici, peço desculpas à família Pazzi pela reação destemperada do meu irmão ao ataque assassino contra nosso pai. Aceitamos agora que estávamos enganados.

            Os Pazzi se entreolharam enquanto o Medici mais velho voltava a se sentar.

            — Eu esperava que seu irmão falasse por si mesmo — comentou Jacopo. — Mas tudo bem, vou levar o seu silêncio como um pedido de desculpas. Mas eu ainda gostaria de saber como que o medalhão entrou no quarto do assassino.

            Mas esta seria uma discussão para outro dia. Jacopo não esperou mais nenhum segundo para sair daquele lugar. Lucrezia e Bianca fora até onde seus familiares estavam, um guarda rapidamente tirando as correntes que prendiam Giuliano.

            Conforme saiam da construção, Lucrezia me chamou minunciosamente, pedindo para que eu fosse junto deles. Descendo os poucos degraus, ouvi a voz do Medici mais velho perguntas:

            — A bruxa já não deveria ter chegado? Faz dias e nada dela aparecer.

            — De quem está falando? — perguntou Bianca, sem entender o irmão.

            — Da da Vinci — respondeu, no mesmo instante soube que era de mim que se referia. — Ambrosia. Até o nome é de bruxa...

            Lucrezia foi rápida em esbofetear seu filho no braço, virando rapidamente para trás, preocupada comigo.

            Eu não importei realmente. Suspirei pesado, incomodada que até na Florença seria assim. Perguntei mentalmente a Deus o que foi que eu fizera para merecer tanto ódio, qual pecado eu cometi para que isso acontecesse.

            — Eu não os criei assim — ralhou Lucrezia com os filhos, tentando falar o mais baixo possível com todo o ódio que fervilhava em suas veias. — Além disso, ela já está aqui. Chegou ontem de tarde, e nenhum de vocês estava em casa como eu mandei.

            Os filhos se entreolharam, esperando que sua mãe continuasse. Lucrezia, vendo que eu ainda estava metros atrás, me puxou pela mão até onde seus filhos estavam esperando.

            — Quero que conheçam Ambrosia da Vinci — disse ela, me apresentando. — Ambrosia, estes são meus filhos, Bianca, Giuliano, Lorenzo e Sandro Botticelli. Imagino que já tenha ouvido falar dele.

            As feições de Giuliano e Sandro eram parecidas. Suas bocas estavam entreabertas me encarando, um brilho em seus olhos, como se vissem a criatura mais bonita de todo o planeta. Já Lorenzo, este eu não sabia exatamente o que expressava, sendo um misto de surpresa e dúvida, e quase minimamente, arrependimento.

            Tentei sorrir perante o pedido silencioso de Lucrezia, mas não consegui, não sabendo que seus filhos pensavam que eu era uma bruxa como as histórias mais horrendas diziam.

            — Quanto sei bella — fora Sandro o primeiro a dizer.

            Lorenzo encarava um homem do Priori ao longe, ele o chamando para conversar. Lorenzo foi rápido em pedir licença para ir até onde ele era requerido.

            — Onde vai, Giuliano? — perguntou Bianca, vendo seu irmão prestes a sair.

            — Esfriar a cabeça — respondeu, logo parando a minha frente e tomando minha mão na sua, depositando um beijo ali. — Senhora, espero vê-la em breve.

            — Igualmente — respondi.

— Nos encontramos em casa, então — dito isso, ele se foi.

            Lucrezia foi rápida em engajar seu braço ao meu, do outro lado estando Bianca. Conforme íamos voltando a casa dos Medici, Sandro, que antes caminhava atrás, já estava ao meu lado, sendo cordial e educado.

            Lucrezia e Bianca falando em baixo tom sobre assuntos relacionados a sua família, mas em algum momento Lucrezia avisou Bianca que precisaria escolher a nova tapeçaria para a sala de jantar.

            Quando finalmente chegamos à propriedade, Lucrezia pediu a Sandro para que me mostrasse sua nova pintura que estava no escritório. Enquanto isso, ela trataria de assuntos com Lorenzo e Bianca veria sobre a tapeçaria.

            — É linda — falei, admirando a pintura. — Gostei dos traços, têm precisão.

            — Não é tão mais belo do que os seus quadros — disse Sandro, gentil. — Digo, eu só vi uma obra sua. Apenas uma vez, não por mais de cinco minutos, infelizmente.

            — Faz meses que não pinto — admiti, soando um pouco melancólica. — Aprendo a teoria, é claro, mas não chego perto de uma tela há muito tempo.

            — Caso queira pintar, estou sempre à disposição — ofereceu, animado. — Sei que talvez não faça diferença, mas sinto muito pelo o que Lorenzo falou.

            — Sobre eu ser uma bruxa? — perguntei, sabendo que era. — Eu não me importo mais, já me acostumei. E sinceramente, é bem melhor ser a bruxa nas histórias. As princesas são sempre as primeiras a morrer.

            Sandro riu, concordando comigo. Mas a breve alegria logo acabou com os gritos apavorados de Bianca. Ao mesmo tempo em que saímos apressadamente do escritório, Lucrezia e Lorenzo corriam em direção ao guarda que ajudava Giuliano a andar.

            Suas vestes estavam rasgadas em algumas partes, vários cortes abertos em sua pele, tanto nos braços e peito, mas principalmente no rosto. Lorenzo foi rápido em ajudar o irmão a sentar, logo vendo se ele havia sido ferido por alguma espécie de lâmina. Lucrezia prontamente ordenou que um empregado trouxesse água e toalhas para limpar os cortes.

            — Quem fez isto com você? — perguntou Lorenzo, preocupado.

            — Pazzi — respondeu Giuliano, fraco. — Francesco Pazzi.

            — Ele vai pagar por isso — decretou Lucrezia. — Lorenzo, convoque o Priori. Devemos exigir justiça.

            Todos viraram para ver o som de passos lentos e da bengala de madeira de Piero se aproximar. Com dificuldade, ele encarou-nos da escada.

            — Mas não haverá necessidade para isso, não é, pai? — perguntou Lorenzo, deixando todos confusos. — O Duque não vai reembolsar o empréstimo com o dinheiro.

            — Os homens do Duque estão fora dos muros da cidade — disse Piero. — Eles vão marchar sobre Florença à meia-noite.

            — Aqueles homens vão destruir esta cidade, pai! E você concordou com ele.

            — Eu sei o que eles vão fazer — concordou Piero.

            — Não deve fazer isso — interviu Lucrezia.

            — Que escolha temos? — perguntou, arrependido. — Vão nos ver arruinados e os Pazzi irão desfazer tudo de bom que fizemos para o povo de Florença.

            Piero voltou a subir escada acima, Lucrezia correndo atrás dele para tentar impedi-lo. Enquanto isso, Lorenzo já se encarregava de ajudar Giuliano a subir.

            Sandro me lançou um último sorriso bondoso, o qual consegui retribuir.

・❉・

Quando estávamos perto da meia-noite, desci as escadas para o andar térreo da construção. Enquanto eu ainda estava nas escadas, ouvi Bianca conversando com Lorenzo, perguntando se ele estava bem.

            — Convoque o Priori — mandou ele.

            — Mas aqui? — perguntou Bianca, confusa com o pedido do irmão.

            — Sim — foi sua única resposta.

            Quando Bianca passou por mim para ir atrás de um mensageiro, ela me deu um pequeno sorriso, o qual retribui por educação.

            Terminando de descer as escadas, Lorenzo, pela primeira vez, me abordou:

            — O Priori estará aqui a qualquer momento. Eu quero fora de vista, entendeu?

            — Como é? — indaguei, não acreditando em suas palavras agressivas.

            — Eu não tenho tempo para lidar com empecilhos como você. Então, só fique em seu quarto e não desça.

            — E eu sou uma prisioneira agora? — exclamei indignada.

            — Desde que seu pai concordou em torná-la parte desta família, é sim. E nem tente escapar e espionar os assuntos da minha família.

            Cada vez mais eu odiava o simples ato de respirar.

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00.10.20

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
O segundo capítulo está aqui. O que estão achando? Gostando das aventuras na Ambrosia?

História não é a matéria em que eu mais vou bem, já que eu prefiro as de cálculo, mas estou me esforçando para pegar informações coerentes. Entretanto, nem todos os fatos desse livro são compatíveis com a história de Florença, como por exemplo a família da Vinci.

Então, por favor, alguém aí que é bom de história renascentista me ajude. Se notarem algum erro, me avise.

VOTEM e COMENTEM
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