"Obrigações"
Sentia que ficaria banguela de tanto que trincava os dentes nas últimas horas.
Tentava se concentrar na playlist animada que Hamada fez para si. Ou nas informações sobre sua próxima missão. Ou qualquer outra coisa que não fosse a cólica insuportável que sentia.
Foi quando um copo d'água e uma cartela nova de remédio foram colocados em sua frente. Levantou o olhar, captando um sorriso solidário.
— Aqui, Zaza. — falou Midoriya, as bochechas levemente coradas, empurrando o medicamento para ainda mais perto da amiga — A Uraraka ia te dar, mas o Aisawa chamou ela. Então ...
Sorriu de volta, extremamente agradecida. Pegou um comprimido e engoliu com ajuda da água. Rezou para que fizesse efeito logo.
— Não vai treinar com o Shinsou hoje, vai?
— Não. — respondeu, a voz baixa pela dor — Com essa cólica e a missão depois de amanhã, prefiro decorar as informações a esgotar meu corpo.
O rapaz assentiu, ainda vermelho. O silêncio recaiu sobre ambos, e a morena focou na música e nos relatórios.
— ... Qual a sua missão?
— Quando eu trabalhava pro Stain, costumava seguir um homem que trabalhava com drogas no mercado negro. Chamam ele de Hiyasa. Não sabemos seu nome verdadeiro. Mesmo que eu estragasse alguns de seus planos, não se atrevia a me entregar. Não sabia nada sobre mim, mas eu sabia demais sobre ele. Mesmo que tentasse me prejudicar, o prejuízo não valeria a pena. Com uma simplesligação, eu acabaria com tudo que ele construiu. Ou, pelo menos, quebraria o suficiente para rebaixa-lo por uns cinco a quinze anos no mercado.
— ... E por que não acabou?
— Arrancava muita informação dele. Eu também tinha muito a ganhar nesse jogo, e ele sabe disso. Nunca conseguiu me pegar ou extrair informação o suficiente para me ameaçar. E, agora que trabalho com o Governo, vamos usar o que sei para derrubar ele e sua facção no mercado negro. Afinal, a Liga comprava dele, assim como várias outras facções criminosas. Tipo a Makusa.
— Sinistro. — soltou, suando de nervosismo.
Soltou outro sorriso, voltando a ler.
Ou tentou. Pois alguém jogou uma sacolinha branca com força desnecessária, assustando os dois.
— P'ra adoçar a sua vida! — "explicou" Hamada, tirando uma barra de chocolate da sacola e dando para a irmã.
— ... Isso não vai fazer muito bem p'ra minha dieta.
— Que dieta? — questionou, confusa.
— Uma dieta que o Stain fez p'ra mim. Tem todos os nutrientes que preciso, mas numa quantidade certa p'ra evitar sobrepeso e a gula. E faz o meu corpo ficar mais resistente e ágil. — encarou a guloseima, torcendo o nariz — Doces não estão inclusos.
— Você 'tá menstruada e com cólica. — pontuou com seriedade, e ambas ignoraram a vermelhidão de Izuku.
— É. Isso acontece todo mês. Não é como se fosse uma novidade p'ra mim passar esses dias sem comer doces.
— Pode ser uma boa novidade p'ra você comer algo que levante o seu astral. Você merece.
— Prefiro escolher minha obrigação a um alívio de algo com que já me acostumei. — rebateu com acidez.
— Z-Zaza, não foi você mesma que disse q-que queria deixar o seu corpo descan- ...
— Midoriya, meu corpo estar descansado não depende de comer chocolate ou não. — lançou-lhe um olhar cortante — E você não devia se meter num assunto do qual não sabe nada.
Em outras palavras, "um homen não devia opinar sobre como uma mulher lida com a própria cólica".
O esverdeado parecer chateado não foi surpresa, e sim o fato de que sua chateação parecia vir do fato de ser chamado de "homem" por algum motivo. Isso sim era estranho.
Borocoxô e com o rosto vermelho-vivo, levantou com calma. Inclinou a cabeça num pedido mudo de desculpas.
— Perdão por me intrometer.
E saiu com uma animação digna de interro.
Quem lançou um olhar intenso desta vez foi a branquela, furiosa.
— Qual a necessidade de falar assim com ele!?
— E eu menti, por acaso!?
— Existem infinitas maneiras de dizer algo. Você escolheu a mais babaca.
Era verdade. Luisa sabia que era.
Massageou as têmporas, estressada.
— Isso não teria acontecido se não estivesse me obrigando a comer um doce idiota!
— Isso não teria acontecido se você parasse de cobrar tanto de você mesma sem a menor necessidade!
Outra verdade. Doeria menos se houvesse levado um soco da menor. Suspirou, apoiando a cabeça na mesa.
— P*ta m*rda ...
— Se você começar a se remoer e se castigar por isso, eu te mato!
— Então o que quer que eu faça!? — encarou-a, indignada — Só pedir desculpas não parece o suficiente!
Séria como uma pintura de realeza, virou a sacola em cima da mesa.
— Come o chocolate. Tira o dia p'ra ficar de bobeira. Peça desculpas pro Deku. — olhou-a nos olhos, preocupada — Essa é a sua maior obrigação. Não vai se sair bem em mais nada se não cuidar de si mesma primeiro.
...
Encontrou o esverdeado treinando. Suado, vermelho pelo esforço e ofegante. E, quando avistou-a, engoliu em seco.
— Ãhn ... oi.
— ... Topa assistir um filme com a Uraraka, o Red, a Mada e comigo? — propôs num fio de voz — ... Vai ter chocolate. E de monte.
Abriu um sorriso trêmulo, compreendendo o pedido de desculpas implícito.
— Topo, Zaza.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Palavrinhas rápidas:
Antes que caiam em cima da Zaza, lembrem que humanos cometem erros. Não precisa passar pano, mas não a crucifixem.
Só digo uma coisa: preparem os corações, porquê a jurupoca vai piar, e bem alto.
Fiz esse cap na base da força do ódio que a cólica me deu hoje.
E uma coisa que eu não deixei claro antes, e preciso ressaltar: eu sou branca. Eu não sei como é ser negra na prática. Se alguém se incomodar com alguma passagem, fala ou situação, me notifique que eu excluo/ edito.
Beijos e roteiros,
Aliindaa.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top