Criança com problema de adulto
O plano era se infiltrar no prédio e prender o cara. Esperavam seguranças e confronto.
Não o que ... aconteceu.
Todos estavam em suas posições. Yara, Toga e Luisa faziam parte do mesmo grupo – haviam seis no total, com três ou quatro heroínas cada.
A chefe da missão tentou fazer a segurança do prédio dar permissão para entrarem, mas não teve sucesso.
Foi quando a desgraça aconteceu.
Bombas explodiram na base do prédio, e todas as janelas estilhaçaram. Fumaça começou a sair de todas as arestas.
— GRUPOS 3, 4, 5 E 6: EVACUEM O PRÉDIO! GRUPO 1: PATRULHE A ÁREA AO REDOR E AJUDE NOS PRIMEIROS SOCORROS SE POSSÍVEL! GRUPO DOIS: MONTEM GUARDA EM TODAS AS SAÍDAS! NÃO DEIXEM O HIYASA ESCAPAR! VOU CHAMAR REFORÇOS! — berrou a chefe, sendo prontamente atendida.
A estrutura do prédio estava comprometida. Uma siderick com individualidade de telecinese começou a segurar e deixar o mais estável possível.
Evacuaram os andares de baixo para cima. Levaram preciosos 15 minutos nisso. Muitos apartamentos estavam vazios, já que era segunda-feira.
Luisa estava no andar do criminoso, arrombando uma porta no fim do corredor. Só ela estava lá. Procurou em meio à fumaça e às chamas, rastejando pelo chão.
Encontrou uma garota de pele morena encolhida em seu quarto, um pano úmido na boca e nariz para evitar respirar cinzas.
— Aqui, garota! — chamou, dando seu melhor sorriso — Eu sou uma heroína. Vim te salvar.
Foram segundos para ela rastejar para perto de si. Sua tremedeira era evidente.
— E-eu 'tô c-com me-do ...
— Calma. Vai dar tudo certo! — garantiu, tirando um respirador de seu traje — Aqui. Respira isso. Não saia de perto de mim, ok?
— O-ok ... — confirmou, pondo o equipamento com as mãos trêmulas — V-vo-cê é a Roupe, moça?
— Sim. Por aqui.
— Aaah! Eu sou sua fã! Eu não acredito que você veio me salvar! — falou, ainda nervosa apesar de extremamente feliz — Você é incrível! E eu nunca vi uma heroína morena chegar tão longe no Festival Esportivo da UA! Os meus colegas da escola passaram a me chamar de "Mini Roupe" depois daquilo!
Apesar de toda a situação, alargou o sorriso.
Porque era uma das grandes causas pelas quais ela queria se tornar heroína desde criança: dar esperança. Dar alegria. Representar alguém.
Esses cinco segundos de felicidade foram ralo abaixo ao ouvir um estalo.
— CUIDADO! — gritou, empurrando a menor no exato momento em que o som de bala sendo atirada ecoou.
Levantou a visão, rosnando de fúria: Hiyasa. Ele sorria diabolicamente, a arma apontada para a testa da de olhos verdes.
— Finalmente posso ver o seu rosto, "Vingativa". — sibilou, divertido — Se fosse mais branca e maior de idade, eu me arriscaria a te chamar p'ra sair.
"Se eu tentar usar o comunicador, ele atira em mim e depois na criança. Se eu enrolar, talvez tenha alguma brecha, e ele provavelmente sabe disso. Talvez ele logo atire em mim ou veja nós duas morrermos de hipóxia lentamente. Não ... a segunda opção demora. Elas viriam verificar a situação se eu demorasse demais. E o prédio 'tá quase caindo. Ele não sabe quando, e corre o risco de morrer esmagado tanto quanto nós."
— Racista. — murmurou, e ele riu.
— Não ser o meu tipo te incomoda, Ajira Kayami? Ou devo dizer ... Luisa Yoshiaki?
Seu sangue gelou.
— ... Como!?
— Eu tenho meus contatos na Spy, sabia?
"Eu sabia! Uma facção como a dele tem essa capacidade. E a Spy é a melhor das agências de espionagem. Bom, não importa mais. Como eu saio daqui!?"
— O-o quê? — murmurou a menor, apavorada — Q-quem é L-Luisa?
"Ele 'tá tentando quebrar o meu espírito, assim eu não vou reagir ou não vou ser tão eficiente. Calma, Luisa! Respira! O que eu faço!? Não dá p'ra correr ou pedir reforços ... e o espaço é estreito e 'tá pegando fogo. E ainda tem a menina ..."
— Receio que você não vai viver o suficiente para descobrir, pirralha. — desdenhou, mirando a arma.
Na mesma velocidade em que ele apertou o gatilho pela segunda vez, o corpo da maior agiu sozinho, pondo-se entre a bala e a criança, que gritou de medo.
Uma dor percorreu seu braço, como uma descarga elétrica diretamente em seus nervos. Também gritou. Ah, seu braço doía inteiro ...
... Espera um pouquinho. Ela ainda tinha os dois braços!?
Olhou para onde a bala a acertou. Aquele escudo lilás voltou, mas estava rachado e tinha uma bala enfiada nele. Sangue escorria da ferida, mas nada que a matasse instantaneamente.
— Que m*rda é essa!!?
Ah, é. O Hiyasa ainda estava lá.
Colocou-se sentada, pondo agora seu corpo todo entre a linha de fogo e a vítima. A cada tiro, uma onda de dor ainda mais forte, já que o homem se aproximava lentamente. E a hipóxia a deixava cada vez mais tonta. Sentia que ia vomitar em cima da menor.
Abraçou-a, finalmente usando o comunicador.
— ROUPE NA ESCUTA! O HIYASA 'TÁ AQUI ATIRANDO, E TENHO UMA VÍTIMA! REFORÇOS!
Ela deveria levantar e carregar a pequena. Tinha uma janela ali perto, mas não sabia se tinha escada de incêndio. E a dor e a ânsia e a tontura acabavam com ela, sem falar na perda de sangue cada vez maior.
"Pensa. Pensa. Pensa, Luisa!"
Foi quando a garotinha tirou o respirador e colocou na maior.
— Usa u-um p-pouco. Você precisa m-mais agora. — sussurrou, o medo e a determinação brilhando intensamente em seus olhos — O que eu faço?
Ela respirou profundamente algumas vezes antes de responder aos sussurros, a voz embargada pela dor:
— Quando eu disser já, corre p'ra janela. Não olhe p'ra traz. Seja rápida. Entendeu!?
— E você!?
— Eu sou uma heroína. — sorriu, ou pelo menos tentou, entre um ou outro arquejo de dor — Esse é o meu trabalho. — engoliu saliva, respirando fundo — No três: um, dois ... VAI!
Num pico de adrenalina, comeu os dois metros e meio que separavam as duas do criminoso. Levou outro tiro, e esse cravou uns bons centímetros em sua carne.
Com a dor anestesiando seus sentidos, usou toda a sua força peso para abaixar a mira da arma, o que resultou em Hiyasa literalmente atirando em seu próprio pé. Gritou de dor e perdeu o equilíbrio, e a garota aproveitou a oportunidade para jogá-lo ao chão e tentar imobiliza-lo.
Mas não deu certo. Ele rolou no chão e recuperou a arma.
Luisa não aguentaria outro tiro.
E, felizmente, ele não veio. Mãozinhas pequenas desviaram a rota.
— NÃO! — gritou a garotinha, pisando na cara do homem.
Foi rápido.
Hiyasa puxou o pé da garotinha, derrubando-a. Luisa mal teve tempo de tentar bater na mão dele e fazer o tiro sair muito longe do que o planejado. A menor gritou de dor. Antes de que pudesse reagir, levou mais um tiro, que estraçalhou seu escudo e levou consigo sua consciência.
...
Luisa acordou com os bips de máquinas de hospital. Não abriu os olhos já de cara, sentindo a cabeça girar. Depois de dois minutos de preparação psicológica e mental, abriu-os.
— Graças a Deus! — ouviu Yara dizer, aliviada.
— Nunca mais se atreva a fazer uma coisa assim, desnaturada! — exigiu a Hamada mais nova, furiosa.
Piscou mais algumas vezes. Estava num quarto branco, deitada numa maca de hospital. Tomava soro na veia, mas não tinha energia para entrar em pânico por ter uma agulha enfiada em si. Alguns aparelhos mediam seus batimentos, sua pressão, etc.
E seu corpo todo estava enfaixado e dolorido.
— Tiraram quinze balas no total. — anunciou a mais velha, a voz doída — E perdeu meio litro de sangue. Eu sinceramente não sei como você aguentou.
— Eu sou durona. — murmurou, a língua meio dormente e a garganta raspando de seca.
Mitsuha pegou uma garrafinha na mesa ao lado da maca e ajudou a irmã a tomar pequenos goles. E lembrou de uma coisa, entrando em desespero.
— E a garota!?
A expressão das duas ficou sombria.
— A Yuki levou um tiro no ombro. Chegamos bem quando você desmaiou. A bala acertou uma artéria principal. Fez uma cirurgia complicada, e ...
Calou-se subitamente. Lágrimas brotaram nos olhos da morena.
— "E" o que!?
Foi a branquela a responder, a voz embargada:
— Ela perdeu muito sangue. E a cirurgia só retardou a morte dela. Não sabemos quantos minutos ela ainda tem.
Sentiu outro pico de adrenalina enquanto seu coração afundava e se desfazia em poeira fina.
Tentou levantar, mas a irmã a impediu.
— Você tem que descansar.
— Eu tenho que ver ela!
— Não tem o que fazer, Zaza.
— Ela ... ela me salvou. Ela me adora. Eu tenho que ver ela! — insistiu, sentindo as lágrimas escorrerem livremente — Eu ... eu t-tenho ... ela ...
Mãe e filha biológicas trocaram um olhar, concordando.
Levaram-na de cadeira de rodas e soro até a porta, tirando ambos dela — "eu preciso parecer bem para ela", afirmou a morena.
— (...) Os batimentos não estão mais- hey! Quem deu a permissão para entrarem aqui!?
— Preciso de um minuto com ela. — falou, tentando equilibrar-se de pé.
— Você não pode- ...
— Por gentileza. — "pediu" a loira.
— Vai contra o protocolo!
— Ela é fluente em 6 mil jeitos de te meter a porrada. Se eu fosse você, saía logo. — pronunciou-se Mitsuha.
Após um longo minuto de hesitação, a médica finalmente saiu, reclamando sobre como não era paga o suficiente para aquilo.
Analisou a pequena. Tomava soro. Vários aparelhos mediam seus sinais vitais. Sua pele cor de oliva estava tão pálida que só de olhar doía. Seus olhos estavam fechados.
"Rastejou" até a maca, sentando-se num banquinho ao lado dela. Quando tomou-lhe a mão, ela abriu os olhos. Usou seu melhor sorriso ao dizer:
— Você é bem corajosa, hein, Yuki.
— A mamãe sempre disse isso. — sussurrou, fraca, para logo perguntar com seriedade — Eu vou morrer, né?
Se fosse possível que o coração de Luisa se quebrasse ainda mais, então ele o fez naquele momento.
— ... Vai, princesa.
Não pareceu surpresa. Nem com medo. Rodou seus olhos preguiçosamente pelo quarto, voltando a mira-la depois de alguns instantes. Seus olhos castanhos – nunca, nunca esqueceria daqueles olhos tão castanhos – expressaram esperança ao perguntar:
— Eu fui uma heroína hoje, não fui? Meu corpo se moveu sozinho, assim como todos os outros heróis. E esse é o meu sonho
Yoshiaki teve uma grande dificuldade de continuar sorrindo e segurar o choro. Engoliu saliva, mas pareceu cacos de vidro. Apertou mais o agarre de suas mãos, tentando fazer sua voz não sair embargada:
— Sim. Você foi uma heroína incrível, e eu devo a minha vida a você, princesa!
— Mesmo? — seus olhos brilharam, extasiada com a ideia de ser a heroína de sua grande heroína.
— Mesmo! E eu prometo- ... — interrompeu-se antes que começasse a chorar histericamente e sua voz quebrasse — ... -Prometo que vou salvar milhões de pessoas por você! Eu vou ... carregar o seu sonho comigo, Yuki. Prometo.
Seu sorriso fraco se alargou. Fitou o agarre de suas mãos por alguns segundos, voltando a falar:
— Morrer é tipo dormir p'ra acordar no céu, né? — questionou, e a maior apenas assentiu com a cabeça, não querendo que sua voz se quebrasse — ... Então canta p'ra mim até eu dormir? A mamãe não faz mais isso.
— Qual música, princesa?
— A da Earphone Jack. Aquela que cantaram no Festival Cultural. Ela é a minha segunda favorita.
Ela não se sentia capaz de negar qualquer coisa àquela garotinha tão parecida consigo. Por sorte, sabia cantar a música em questão. Respirou fundo, engolindo saliva.
Quem eu sou, então?
Qual é a missão?
Não há rendição
Em frente eu vou
Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela, acariciando-lhe a bochecha.
Futuros que não vi
Dependem só de mim
Linhas vou traçar
E sonhos seguir, yeah
Sem descansar
Tentei me achar
Algo sempre me impediu
Me segurou!
Seu sangue gelou ao perceber certa instabilidade nos sinais vitais dela.
Não permitiu-se parar de sorrir. Nem chorar. Nem que sua voz se quebrasse.
Um herói
Sou um herói também!
Meu coração
Não volta atrás
Seus olhos começaram a fechar. A médica voltou, desesperada, com mais dois profissionais.
Percebeu, com o peito queimando de dor, que ela também murmurava a lírica. Com suas últimas forças.
Ser herói
Não é mostrar só poder!
Heróis reais
Defendem seu valor!
Verá enfim!
A mão dela perdeu a força.
— Verá em mim. — sussurrou, finalmente permitindo-se chorar.
Depois disso, foi expulsa do quarto pela equipe médica.
Enxugou as lágrimas com o braço, voltando para a cadeira de rodas. E foi nesse momento que uma mulher mediana, gordinha e pálida virou para o corredor onde estavam, desesperada.
— YUKI! YUKI, CADÊ VOCÊ!?
— Se acalme, Senhorita. — pedia uma funcionária ao encalço dela.
— A Senho- ... -rita é a mãe da Yuki? — questionou Mitsuha, preocupada.
— Cadê. A. Minha. Filha!?! — tornou a questionar, furiosa e histérica.
Antes que qualquer um se pronunciasse, Yoshiaki levantou da cadeira com dificuldade. Pôs-se em frente à mais velha, a expressão séria.
— A Spy tinha um mandado de prisão de um criminoso que morava no seu prédio. Quando a operação começou, ele incendiou o prédio e plantou bombas nele. Eu tentei salvar a sua filha, mas ela que me salvou e acabou levando um tiro fatal por causa disso.
A morena levou um tapa estalado e doído como reação.
— É CULPA SUA!
— Senhorita, a sua filha desobedeceu ordens claras e diretas e correu ajudá-la! Como pode ter sido culpa dela!? — pontuou a loira, irritada pela reação agressiva.
— Essa garota inapta é uma heroína! É trabalho dela salvar a todos, apesar de tudo!
— Essa garota é uma criança que tentou salvar outra criança, que decidiu sozinha agir de acordo com o que achava ser certo fazer! — corrigiu, furiosa — O que você poderia fazer com um criminoso experiente e armado, com uma criança autônoma p'ra proteger, tendo apenas 16 anos!?
— Nada, e é por isso que eu sempre fiz jornalismo: não decepcionar famílias com uma filha morta por incompetência!
Mesmo com ferimentos graves, doída, com o psicológico acabado e talvez um osso quebrado, Yoshiaki pôs-se de joelhos e se curvou até sua testa encostar no chão. Seu corpo todo protestou. Quase vomitou.
— Perdão, Senhorita. Perdão. — pediu, lutando contra a dor e a vontade de chorar e vomitar.
— Eu não quero a p*rra das suas desculpas! — bradou, finalmente chorando — Eu quero a minha filha.
Algumas horas depois, todos tiveram que dar um depoimento e fazer uma breve entrevista sobre o ocorrido, e Mitsuha nunca viu um olhar tão quebrado quanto o de Luisa.
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