"A esperança não fica nos bastidores"

— ... Zaza, ' ' bem? — perguntou Uraraka, preocupada.

— E por que não estaria? — rebateu a nomeada.

     Havia uma lista quilométrica de motivos perfeitamente plausíveis, mas Midoriya escolheu apontar apenas um:

— Talvez porquê você cortou mais do que a parte do seu cabelo que o Katchan explodiu?

— Não posso mais cortar o cabelo?

— Você entendeu! — reclamou a castanha, comendo seu cereal.

     Kirishima apenas concentrava-se em não ter um ataque cardíaco por como a "amiga" ficou ainda mais linda com o corte novo.

     Antes, o cabelo dela batia no meio das costas (pelo que o ruivo percebeu nas únicas três vezes que viu-a com ele solto). Ela cortou na altura dos ombros, mas como o cabelo não tinha mais tanto peso, parecia mais curto por causa dos cachos agora mais definidos.

— Vai começar a usar ele solto? — questionou o esverdeado.

— Meio que não tem mais muito o que prender, então sim.

— 'Tá lindo. — opinou Ochaco.

Meia hora depois, eles vestiram os trajes e entraram no ônibus correspondente à 2A. Mina e Hagakure não perderam a oportunidade de dizer o quanto o novo corte ornava com o resto de seu rosto e personalidade.

Yoshiaki tentava acalmar-se e revisar mentalmente todas as mentiras que o Governo planejou para que dissesse caso algumas perguntas específicas fossem-lhe feitas.

     Cada um teria uma entrevista de cinco minutos que iria ao ar no noticiário daquela noite. Todos estavam animados com a oportunidade.

     Os alunos eram chamados de acordo com seus números de estudante, então Luisa era a última. Comia um bolinho de chocolate enquanto esperava e tentava não borrar a maquiagem que uma estagiária passou com cuidado em si.

     Estava preparada para tudo.

     Menos para ser entrevistada pela mãe de Yuki.

     Encararam-se, estatísticas, por longos segundos. A mais velha foi a primeira a sair do choque, dizendo em voz neutra ao apontar para uma poltrona acolchoada:

— Por favor, sente-se aqui.

Engolindo em seco e sentindo o bolinho dar uma balada em seu estômago, obedeceu. Não teve coragem de olhá-la aos olhos.

— Se a pergunta for desconfortável ou pessoal demais, mexa na orelha para eu saber e mudar de assunto.

Assentiu com a cabeça, reunindo coragem e forças. Ouviu a contagem regressiva e abriu um leve e doce sorriso.

Estava de luto e cara-a-cara com a mãe da garotinha pela qual estava de luto. Não precisava (sequer podia) parecer animada, mas sorrir e ser educada nunca era demais.

Era o que uma heroína forte faria. E Luisa, apesar de tudo, era uma heroína forte.

— Muito boa noite, caros telespectadores! Estou aqui cara-a-cara com a aspirante à heroína mais falada nas últimas semanas: Hope! — virou-se para a preta, um pouquinho polida demais — Bem-vinda!

— Muito obrigada pela oportunidade. É uma honra, sem dúvida!

— Muitos internautas pontuaram que você não era aluna da UA no ano passado.

— É verdade. Não passei no primeiro ano, então decidi refazer o teste no ano seguinte e estudar em casa. Por sorte, abriu uma vaga pro segundo ano e, dessa vez, eu passei. Não queria nenhuma outra escola. Sou meio perfeccionista, sabe ...

— Entendo sua ambição. Qual a causa? Por que quer ser uma heroína profissional?

Olhou para as próprias mãos sobre o colo, sorrindo.

— Sabe, eu sou adotada. Antes de morrer, minha mãe biológica trabalhava em uma agência de heróis grande. Ela me levou lá quando eu tinha quatro anos e eu percebi que todos trabalhavam em departamentos especializados até demais, e a minha cabeça de criança não entendia o motivo daquilo. Queria ser heroína desde sempre, e coloquei na minha cabeça que eu seria uma heroína que faria de tudo.

Respirou fundo para recuperar o ar e evitar chorar.

— Meus pais morreram num acidente que aconteceu porquê os heróis estão se especializando demais. A ideia de aprender absolutamente tudo o que eu conseguir para me adaptar a absolutamente todas as situações fixou em mim. Sendo descendente de brasileira, sofri bastante preconceito e decidi que trabalharia apenas nos bastidores, para que nada desse errado.

"Acontece ... que muita coisa aconteceu desde que entrei p'ra UA ... e eu percebi que eu preciso aprender a lidar com os holofotes. E que ninguém consegue fazer com que tudo dê 100% certo mesmo se ficar apenas nos bastidores.

A esperança não fica nos bastidores. Ela está na frente de batalha. Ela que faz você erguer a cabeça e enfrentar o que for para um bem maior. Então, eu também vou ficar na frente e salvar esse sentimentozinho tão frágil."

Tornou a olhar para a jornalista, sorrindo com lágrimas nos olhos.

— Eu quero ser alguém que torna situações cruéis e horríveis em situações que podem ser contornadas. Alguém que traga esperança e força quando ninguém acha uma saída. Um exemplo de como a cor da sua pele não importa no seu desempenho.

Podia jurar que os cameramans seguravam o choro.

— Esse é um motivo lindo, sem dúvidas. — concordou — Sua frase "a esperança não fica nos bastidores" tem relação com a mudança do seu codinome?

— Posso dizer que sim. Eu usava "Roupe" porquê queria simbolizar algo como "a esperança escondida". Como eu não vou mais seguir por essa linha, o mais inteligente me pareceu ser mudar.

— Entendo. Última pergunta, e a que vários de nossos internautas têm feito. — anunciou, tentando evitar que seu corpo todo ficasse tenso — Como tem sido lidar com a morte de Yuki?

Fechou os olhos por um momento, sentindo seu corpo tremer de desespero. Engoliu saliva, apertando as mãos até os nós dos dedos embranquecerem e lutando para sua voz não quebrar:

Insuportável. Sinceramente, eu preferia ter morrido no lugar dela. Ela era uma garota corajosa e alegre e ... eu me sinto um fracasso ao lembrar do que aconteceu. — tornou a olhar para suas mãos — Mas ... foi decisão dela me salvar. Então, tudo o que eu posso fazer é levar ela no coração, ser a melhor heroína que eu puder e fazer das tripas coração para que a situação não se repita.

     Os três segundos de silêncio que seguiram-se provavelmente não deveriam estar na entrevista.

— Algo ... você tem algo para dizer aos nossos telespectadores e crianças do outro lado da telinha?

     Sorriu largo. Olhando para a câmera, foi determinada ao dizer:

Escalem a montanha. É difícil, mas a vista do topo é linda e a escalada te faz mais forte que nunca.

     É. Com certeza.

     Entregou-se à polícia, teve sua liberdade – qual foi a última vez que esteve realmente livre? – quase totalmente roubada e sua mente feita em frangalhos.

     Porém, viu que era mais forte do que imaginava. E que ainda havia gente que se importava consigo do fundo da alma.

     Escalou trinta metros de duzentos. A vista dali já era maravilhosa. Quão esplêndida será quando chegar ao topo? Com quem compartilharia a paisagem?

...

— Hope.

     Gelou. Virou-se lentamente à mulher.

— Sim, Senhorita?

     Lentamente, a mais velha ajoelhou-se no chão e encostou a testa no mesmo.

— Eu ... não devia ter colocado a culpa em você daquele jeito. Não foi a sua culpa. E ... a Yuki ... sempre sonhou em fazer algo importante. Em ajudar as pessoas. Foi escolha dela. Muito ... muito obrigada por ter feito tudo o que pôde e ... cantar p'ra ela dormir.

     Segurando o choro, foi até ela e agachou-se.

— Tudo bem. Eu entendo que é uma das coisas mais horríveis que existe uma mãe ter que enterrar a própria filha. — ajudou-a a sentar sobre as próprias panturrilhas, sorrindo — Eu prometo por Deus, Buda, pelo Universo e tudo de bom no mundo que eu vou me tornar uma heroína que valha o sacrifício dela por mim.

    Envolveram uma a outra num abraço desajeitado enquanto choravam. Não sabem quanto tempo ele durou.

— Me ... me conta sobre ela?

...

— (...) Querem apostar quanto que a Kayami vai ficar entre os mais populares da classe? — falou Kaminari.

— Não é como se eu pedisse p'ra ter uma história triste, Kaminari ...

— Não é isso. Longe de mim! Só é um fato.

     Suspirou pesarosamente, encostando a cabeça no sofá da Área Comum.

— Fica calma. Ser popular é bom, não é? — falou o ruivo.

— Acontece que eu sou popular por uma desgraça que não pude evitar. Isso com certeza vai influenciar em como todos veem minhas habilidades práticas. — virou-se para ele — Adorei a sua entrevista. Você tem jeito com as câmeras!

— Não é p'ra tanto. — coçou a nuca — Só perguntaram se faziam muita piada de duplo sentido com a minha individualidade e sobre a luta com o The Bad Ending.

— Também me perguntaram sobre isso. Eu meio que não tive um papel muito grande na luta, então eu me senti meio desinteressante e em desvantagem. — confessou Ochaco, murcha.

— Não é verdade! — negou Izuku — Você tirou o peso da Zaza p'ra que ela conseguisse chegar no Nomu. Sem você, o plano dela não ia dar certo!

— Continuo odiando o plano dela ... — resmungou Kirishima.

— Já passou. Devia superar. — aconselhou a preta.

Não dá p'ra superar o fato de que eu podia ter perdido você!

     Até mesmo Kaminari e Jirou, que não participavam da conversa, pararam e olharam para o ruivo. Seu rosto camuflava-se em seu cabelo.

     Yoshiaki limitou-se a sorrir entre a vermelhidão de seu próprio rosto e pegar a mão do "amigo". Entrelaçou seus dedos com carinho.

— Para a sua felicidade, eu já descartei totalmente a ideia de "morrer para vencer a luta". — mirou-o aos olhos, e os de ambos brilhavam — Eu vou viver, Red.

— Acho bom, mesmo. — concordou, sorrindo.

     Não soltaram o agarre enquanto assistiam uma notícia sobre como um Hacker anônimo revelava qual o pai do Herói Hawks. Ou quando todos decidiram assistir One Piece. Ou quando tiveram que levantar para irem aos quartos dormir.

     Já no andar de seus respectivos quartos, encararam o enlace de suas mãos por longos segundos.

— Eu gosto de ficar assim com você.

É. É realmente gostoso, Red.

     Inclinou-se e beijou as costas da mão agarrada à sua delicada e masculamente. Não quebrou o contato visual em nenhum momento.

— Boa noite, Luisa.

— Boa noite ... Eijiro.

    Ele gostou de como seu nome soava não voz dela.

     Ambos dormiram muito bem. Só não tão bem quanto a vez que dormiram juntos alguns meses atrás.

Quando tudo parecia mais simples.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top