CAPÍTULO 2
“Querido diário,
Está tão tão tão frio que acho que se continuar sendo teimosa em relação a usar luvas, logo terei que amputar as mãos. Não gosto de nada cobrindo meus dedos, mas sabemos que seria um enorme infortúnio se eu perdesse a capacidade de segurar uma caneta.”
Diário de Amélia, 20/12/2017
Sebastian
— Mal vejo a hora de nos livrarmos das provas. — ouço Loren dizer, apesar de não estar prestando atenção.
— Nem eu. Cada vez que recebo o resultado de uma delas sinto que estou mais perto de levar uma surra do meu pai. — concorda Zaden, em um tom esganiçado.
— Seb não tem que se preocupar com isso — é Loren falando outra vez. — Ele nem mesmo estuda e gabarita todas as vezes.
— Nosso garoto é um gênio. — Zaden está rindo. — E é tão humilde. Nem mesmo se gaba diante de nós, pobres mortais.
— Ele não está nem ouvindo você. — Charles fala por cima do dever de cálculo. — Está muito ocupado observando a menina dos diários. A crush dele desde... não sei, quinta série?
— Quarta série. — corrige Loren.
— Terceira — diz Zaden, dando um tapinha em minhas costas.
— Vocês não podem calar a boca um segundo? — reclamo, tirando a mão de Zaden do meu ombro.
— É o que eu pergunto ao Zad o tempo todo. — Loren balança a cabeça em concordância. — Mas ele é um cara complexo demais, funciona como uma espécie de penico independente.
— Ele mesmo produz a bosta e dá descarga em nós — completa Charles.
Os dois riem enquanto Zaden os xinga de alguma coisa que não posso ouvir, porque minha mente se fecha completamente quando estou observando-a.
Cabelo um tom mais claro que o mel despontando por sobre os ombros e franja cobrindo a testa. Sardas lindas no rosto inteiro, nariz reto e lábios perfeitos que nunca tive a chance de ver se movendo para pronunciar uma palavra nenhuma vez sequer. Olhos castanho-dourados e cílios que eu não sei se são longos ou não porque nunca me aproximei o bastante para ter certeza. Dedos longos que escrevem com tanta suavidade que eu tenho certeza de que ela toca piano. Quase posso ouvir o som fluindo dela e chegando até mim.
E há aquele diário.
O mesmo modelo sempre. Todos os anos, capa azul-cerúleo e cadeado prateado.
O sinal toca e ouço os rapazes despedindo-se atrás de mim e dirigindo-se às primeiras aulas do dia. Eu provavelmente deveria estar fazendo o mesmo, mas não consigo parar de olhar para ela.
Amélia.
A única equação matemática que não consegui resolver.
Do lugar onde estou, – encostado em um armário que mantém uma distância considerável de onde ela está, sentada em um dos bancos de madeira espalhados pela área aberta do corredor central do colégio, – posso ver o momento exato em que fecha o diário e se levanta em direção a sua aula de química.
Por Deus, eu sei até a grade dela. Me transformei num maldito stalker.
Ela está indo embora agora e eu provavelmente teria que estar fazendo o mesmo a menos que queira levar uma advertência por chegar atrasado, mas me convenço de que só vou esperá-la virar o corredor.
Mas então ela para. E se vira. Na minha direção.
E eu estou caminhando feito um louco para fora de sua vista o mais rápido possível.
Quero bater minha cabeça contra a parede por ser tão imbecil.
Por que tenho que ser esquisito e ficar olhando-a sempre de longe? Por que não posso simplesmente chegar e falar com ela? Por que tenho tanto medo de Amélia dentre todas as outras pessoas? Tenho receio de conhecê-la e me decepcionar e é por isso que prefiro assisti-la a uns bons trinta metros de distância?
Suspiro, massageando a ponte do meu nariz. A verdade é que sou covarde demais para tentar qualquer coisa.
E tenho pena de mim mesmo por isso.
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