CAPÍTULO 16
"Comecei a ver doramas, que são tipo séries coreanas. Costumam ter só uma temporada com dezesseis episódios. Li que são ótimas para passar o tempo, mas a verdade é que fiquei um pouco obcecada. Desde que comecei, assisto um atrás do outro. O da vez se chama 'Descendents of the sun' e narra a história de amor entre uma médica e um soldado do exército. Mal posso esperar para ver o final!"
Diário de Amélia, 05/04/2018
Sebastian
Saí da minha última aula às pressas, na intenção de encontrar Amélia para irmos embora. Não prestei atenção em nada do que ouvi nas últimas duas horas. Minha mente estava pausada no momento em que eu dissera que o jeito como Amélia agia diante de toda a situação a fazia parecer alguém que estava acostumada a ser agredida e, ao invés de refutar, ela entrara em um silêncio tenso e defensivo.
Como se eu estivesse certo.
Como se eu tivesse acertado em cheio.
Senti uma sensação gelada se espalhar pelos meus ossos com o pensamento. Não podia ser, podia? Mas ao mesmo tempo... eu sabia que ela tinha vindo morar com os avós somente aos sete anos. Mas por quê? Com quem ela vivia antes disso? Onde estavam os pais dela? Todas essas perguntas sem resposta me faziam entender que eu estava longe de conhecê-la como eu queria.
E o modo como ela reagira quando pareci captar alguma coisa só me mostrava que seria difícil.
Eu teria que ter paciência, no entanto. A verdade era que ainda estávamos nos conhecendo. Se por agora ela não confiava em mim para contar certas coisas sobre seu passado, eu entendia o motivo.
E iria fazer por onde merecer a sua confiança.
Estava tão absorto em pensamentos que quase não notei a garota de pele negra e trancinhas rosa-claro que acenava para mim loucamente no final do corredor.
— Sebastian! — ela exclamou, vindo na minha direção.
— Oi, Alison. — respondo, dando-lhe um sorriso, mas sem parar de caminhar.
— Está tudo bem com você? — Ela me acompanha. — Parece estar com a cabeça em outro mundo.
— Está tudo bem, só estou com um pouco de pressa. E o seu irmão?
Alison suspira profundamente.
— Charles ficou preso em mais uma reunião do clube de debate — diz ela, as três últimas palavras pronunciadas em claro tom de enfado. — Eu devia esperar por ele, mas levou horas da última vez. Então vim aqui com toda a minha cara de pau apelar para a misericórdia do bom e velho Seb.
— Por que não vai com o Zaden? — pergunto, sem entender. — A sua casa fica a caminho da dele.
Ela faz uma careta.
— Não quero ir com o Zaden. Ele é estranho. — então junta as duas mãos em sinal de súplica. — Por favor, não me deixe ir com ele, eu imploro.
Reviro os olhos diante de todo o seu drama.
— Zaden não é estranho. Você que implica com ele de propósito porque a família dele é muito rica. Além disso, me desculpe, mas não vai dar. — digo, parando em frente ao meu armário e tirando o telefone e fones de ouvido de dentro, guardando meu livro de matemática avançada em seguida. — Já vou dar carona para outra pessoa, mas na próxima te levo. — digo, sem dar detalhes.
— Ah, vamos lá, Seb. O seu carro não é um esportivo de dois lugares. Com certeza deve ter um espaço para mim. — choraminga. Mas então de repente, parecendo pensar melhor no assunto, cruza os braços, interessada. — A não ser que essa "outra pessoa" seja quem eu estou pensando.
— Não vá surtar. — alerto, enquanto destravo o celular, pronto para enviar uma mensagem para Amélia.
— Sem. Chance. — ela empurra meu ombro, boquiaberta e indignada. — Não acredito! Você falou com ela. Você falou e não me contou! Seu traidor! Aposto que meu irmão e os dois bocós já sabem. Quando você pretendia me dizer que o seu romance de livro tinha finalmente começado?
— Em algum momento. — murmuro, abrindo o chat da conversa de Amélia e encontrando duas mensagens novas.
fui para casa mais cedo.
não se preocupe comigo, vovô veio me buscar.
Tendo consciência do olhar de Alison sobre mim, tento não aparentar o que estou sentindo no momento, mas é impossível não ficar decepcionado.
Digito uma resposta:
está tudo bem?
eu posso passar na sua casa mais tarde?
— Que cara triste é essa? — Alison pergunta, franzindo a testa. — Pensei que você estivesse feliz.
— Não é nada demais, só que ela já foi embora. Aconteceu uma coisa que fez com que precisasse sair mais cedo. — respondo, ainda olhando para a tela do celular.
Nenhuma resposta.
— Isso quer dizer que você está livre para me dar uma carona?
Suspiro, balançando a cabeça em afirmação enquanto começo a desenrolar os fones, pronto para colocar pra tocar o rock mais pesado que tiver na minha playlist.
O que posso dizer? Cada um com sua forma de se animar.
Parecendo ter um pouco de pena de mim, Alison dá alguns tapinhas em meu ombro.
— Não fique tão para baixo, ok? Ela não te deu um bolo. Só aconteceu um imprevisto. — disse ela, tentando me consolar. — Mas e aí? Ela é tudo o que você imaginava?
Penso a respeito. Desde a primeira vez em que a vi, Amélia foi alguém que se destacou aos meus olhos. Mesmo sem dizer nada, exalava luz. Era linda de um jeito singelo, de uma beleza que era simples. E, acima de tudo, era um mistério. A única equação que eu não conseguira resolver.
Seria mentira minha se dissesse que nunca, nesses dez anos, imaginei seu tom de voz, personalidade, o tipo de coisa que a fazia rir e as coisas de que gostava e que lhe deixavam chateada.
Eu imaginara. Inúmeras vezes. Mas nenhuma das versões dela que fiz me preparam para a original, primeira e única Amélia.
Uma garota humilde e bondosa, que se preocupava até com as pessoas que não mereciam. Que vivia pedindo desculpas pelas coisas mais bobas e cantava baixinho no banco do carona do meu carro. Alguém que tinha tanto para mostrar e ensinar, mas que odiava ser o centro das atenções.
— Olaaaá, Terra para Sebastian, aqui! — Alison estalou os dedos na frente do meu rosto. — Você não respondeu. Ela é tudo o que você imaginava?
Sorrio, balançando a cabeça em uma negativa.
— Para falar a verdade, ela não é nada como eu pensei. — enfio as mãos nos bolsos, olhando para a garota de olhos escuros a espera de uma resposta . — Ela é infinitamente melhor.
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