CAPÍTULO 11
“Querido Diário, depois de muito tempo pensando sobre o assunto, tenho finalmente uma resposta: amor verdadeiro existe. Sei disso porque é impossível viver com meus avós e não dizer que eles se amam. Um dia, depois do jantar, fui procurar algo para ler e peguei os dois dançando uma música lenta na biblioteca, olhando um nos olhos do outro bem de perto. E, apesar de estarem em silêncio, os sorrisos em seus rostos diziam muito. Foi aí que eu soube. Amar alguém com o tipo de amor que se lia nos livros... aquilo existia. Para os sortudos, é claro, mas com certeza existia. ”
Diário de Amélia, 14/07/2015
Amélia
— Ele não a ama! — exclamou cheia de indignação a garota que sentava na minha frente. — Ele só quer alguém com quem possa brincar de casinha!
— Não é verdade, ele a ama sim! — disse a menina sentada ao lado dela, sua declaração coincidindo com o toque do sinal que marcava o horário do almoço. — O Tamlin só quer que ela fique segura, é só isso!
— Ah, cale a boca! — disse a outra, se levantando e juntando seus livros e cadernos. — O relacionamento do Tamlixo e da Feyre é absolutamente tóxico e se você não vê isso, não podemos ser amigas. Além do que, o Rhysand é muito mais bonito.
— Pamela! Como você quer ser levada a sério se todos os seus argumentos são baseados na aparência dele? — questionou a menina, também pegando suas coisas e seguindo a amiga até a porta de saída da sala de aula. — Ser bonito não é a única coisa que importa, está bem? Tem que ter algo a mais, como por exemplo o...
— Sebastian Dubrov. — respondeu Pamela, o que fez com eu sorrisse um pouco comigo mesma. Eu sabia que ele era popular com as garotas.
— Dã. Sebastian Dubrov, Pam? Tem como ser mais óbvia?
— Não, sua idiota. — disse ela, agarrando a amiga pelo braço e apontando com queixo para além da porta. — Eu estou dizendo que Sebastian Dubrov está bem ali do lado de fora!
— O quê? Ai. Meu. Deus! — ela deu um gritinho. — É ele. E logo no dia em que nossos caminhos se encontram eu não lavei meu cabelo!
Arregalei os olhos. Sebastian estava aqui? Por quê?
Meu coração errou uma batida ao ponderar sobre a possível resposta, e eu imediatamente me pus a arrumar as minhas coisas também. Ainda havia muita gente para sair da sala; com o tumulto de alunos de certo que ele não me notaria entre eles. Não se eu saísse pela porta dos fundos.
Você está se preocupando à toa, sua burra. Ele não está aqui por você.
Sim, eu estava sendo estúpida, é claro. Ele não estava aqui por mim. Para ser mais plausível, ele nem mesmo devia saber que eu estava aqui. Porque não tinha como ele saber da minha grade.
Tinha?
Sem hesitar por muito tempo mais, me dirigi para a porta no fundo da sala, a que te direcionava para o corredor com a rota mais longa para o refeitório. Ousei olhar por cima do ombro uma única vez, avistando o grupo de pessoas reunidos alguns metros a frente. Contudo, não achei Sebastian entre eles.
Soltei o ar, decepcionada e aliviada por ele não estar realmente ali.
Não que eu não gostasse dele; eu gostava. Ele era gentil, engraçado e me fazia sorrir o tempo todo. Eu quase podia esquecer do mundo ao nosso redor quando estava com ele e ter consciência disso era... assustador. Eu não tinha sido totalmente sincera com ele sobre o teste mais cedo. A verdade era que eu deveria mesmo ter um, mas ele tinha sido cancelado. Mordi o lábio, tentando não me sentir culpada. Não era como se ele houvesse sentido a minha falta.
De qualquer forma, era estranho que a garota – Pamela, eu acho – tivesse se enganado. Sebastian não era o tipo de pessoa que podia ser facilmente confundida, mas deixei isso para lá. Coisas como essas aconteciam.
Ao chegar no final do corredor, já tinha me convencido de que não era ele e pronto. Contudo, é quando estou indo em direção ao meu armário para guardar os materiais da aula anterior e avisto uma figura conhecida encostada na parede que sei que não havia sido engano coisa nenhuma.
— Tentando escapar, senhorita? — ele me perguntou, acompanhado de uma sobrancelha erguida e um sorriso largo idêntico ao do gato de Cheshire.
— Não sei do que você está falando. — digo, em voz baixa, passando por ele para chegar até meu armário, os dedos de Sebastian resvalando acidentalmente no meu braço coberto pelo blazer do colégio.
— Com certeza não sabe. — ele concordou, também em voz baixa, chegando mais perto. — Eu vi a carinha de susto que você fez quando ouviu Pamela Taylor dizer que eu estava lá.
Dei de ombros, destravando meu armário. Ponho o meu caderno e livro lá dentro, tentando não notar o vazio em uma das prateleiras. Solto um leve suspiro. Sinto falta do meu diário. Entretanto, depois do incidente na festa, não me sinto mais segura em andar com ele por aí.
Sem ter mais como prolongar esse momento, fecho o armário e me viro para encarar Sebastian. Péssima ideia. Ele está com aquele olhar; aquele mesmo olhar de quando estávamos conversando na frente da minha casa.
Meu rosto esquenta. Me sinto despida de tudo quando ele me olha assim.
Sem minha timidez, sem meus medos, sem minha insegurança... Livre de todas aquelas amarras que deixo me prenderem há tanto tempo. Sem elas, só eu continuo lá. Apenas eu, Amélia.
E Sebastian.
— Tem medo de mim, Amélia? — ele indagou, a voz rouca quase que um sussurro.
— Não tenho — respondo, arrepios percorrendo pela minha pele sem motivo aparente.
— Então por que saiu correndo?
Faço uma careta.
— Eu não saí correndo — ele estreitou os olhos. Inclinei a cabeça para o lado, resignada. — Está bem, talvez eu tenha acelerado um pouquinho.
— Um pouquinho, só. — ele sorri de lado, claramente achando graça. — Foi mais como se tivesse alguém te perseguindo.
— Ah, pare. Não foi assim e você sabe. — digo, indignada com seu exagero.
— Tudo bem, vou deixar você ganhar dessa vez. — ele disse, a ponta de seus dedos tocando os meus. — Suas mãos estão frias.
— Eu não costumo ficar na parte mais quente da sala — explico.
— Venha aqui. — ele pede, estendendo suas mãos na minha direção. Reviro os olhos, colocando as minhas palmas sobre as suas. As mãos de Sebastian são cálidas e grandes e seus dedos envolvem os meus com facilidade. A ponta de cada um deles é calejada, por causa do tempo que ele deve passar tocando. — De longe seus dedos parecem ser um pouco mais longos.
— Acho que você quer dizer que eles parecem não serem tão longos se em comparação aos seus — esclareço. — Meu avô diz que nasci com as mãos de uma pianista, para sua informação.
— É sério? — ele sorri consigo mesmo, parecendo alguém que acabou de confirmar algo de que já sabia. — Por que é que não estou surpreso?
— Não é só você que tem dotes musicais. — digo, tirando minhas mãos das suas, subitamente me dando conta da intimidade do gesto.
Sebastian pigarreia, parecendo se dar conta disso também.
— Vamos almoçar?
— Se eu disser que não estou com fome, você vai acreditar? — pergunto, esperançosa de não ter que entrar no refeitório lotado de gente ao lado dele e acabar como o centro das atenções.
— Você não vai ficar sem comer.
— Você parece a minha avó. — reviro os olhos, sabendo que não tenho como escapar dessa vez. — Você não vai sentar comigo, vai?
— Amélia...
— Sei que devo parecer patética sentando sozinha, mas vir com você hoje já foi um avanço, certo? — tento negociar. — E os seus amigos não iriam achar chato caso eu estivesse lá?
Ele suspira.
— Na verdade, senhorita desculpa esfarrapada, eles estão ansiosos para saber como você é. Não acreditam que quis ser minha amiga.
Fico chocada.
— Eles não me acham estranha?
— Claro que não. Eles chamam você de — ele fez aspas com os dedos. — “A garota dos diários”. E antes que você pergunte, sim, eles dizem isso com esse mesmo tom de mistério. O que quer dizer que eles gostariam muito de conhecê-la.
— Eu... estou tão surpresa que nem sei como reagir. — digo, tentando me situar diante dessa revelação. — É claro que eu gostaria de conhecê-los também. Se você gosta deles, é claro que eu também vou gostar. Mas...
Ele solta um gemido.
— Sempre tem que ter um “mas”.
— Hoje não. — digo, em tom de desculpas. — Eu não me sinto pronta. É um pouco cedo demais, você não acha?
Ele balança a cabeça em acordo, mas fica em silêncio.
— Decepcionei você. — digo, olhando para os meus sapatos. Sinto meu estômago embrulhar.
— É claro que não. — ele diz, resoluto. Sinto a dobra do seu dedo sob meu queixo e ergo o rosto, nossos olhares se alinhando. — Você nunca seria capaz de me decepcionar. Nem que quisesse muito. Está ouvindo?
Eu aceno em resposta, não confiante o bastante para dizer qualquer coisa, sentindo o nó de nervosismo que se formara em minha barriga afrouxar rapidamente.
— Você quer fazer como hoje de manhã e ir na frente? — ele me pergunta. — Você vai primeiro e eu chego lá em breve. Te vejo depois, ok?
— Tchau. — eu consigo dizer, antes de seguir andando pelo corredor. Tenho consciência dos olhos de Sebastian sobre mim durante todo o percurso, até que eu vire e suma da sua vista.
Tenho que me tranquilizar, digo a mim mesma. Ficar tensa e sentir que fiz algo errado só por não querer fazer alguma coisa não é a maneira certa de agir. Não seria justo comigo e nem com ele.
Sim, é isso mesmo, eu decido. Vou ser mais corajosa.
Ou é o que penso, antes de trombar com alguém.
— Vê se olha por onde anda, sua... — ela reclama, e então olha para mim.
Eu a reconheço. Sei que ela também me reconhece.
E estremeço.
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