Uma viagem Inesperada


No mesmo dia da morte de Daniel.

Lá estava eu muito irritado no estacionamento do centro esportivo da cidade Essencianopolis. Minha cidade natal e onde vivia minha ex-esposa com minha filha; estava mais uma vez atrasado, deve ser um dom meu, não fazia por querer, mas o mundo sempre conspira contra mim, é transito, despertador que não toca de manhã entre outras coisas sinistras.

Encontrei uma vaga apertada, olhei com desconfiança; me deu um mini arrependimento de ter um sedan tão cumprido. "Dessa vez ela não vai me perdoar", veio em minha mente a imagem de minha filha rebatendo a bola com sua raquete e ao mesmo tempo me buscando na arquibancada com os olhos e não estou lá. Que decepção para ela coitada, que pai desonroso.

Distração suficiente para sentir um carro entrando na traseira do meu. Meu animo de zero caiu para menos cem. Sai do carro nervoso a ponto de enforcar o infeliz que havia batido em mim, assim que cheguei perto do vidro escuro, me bateu uma vergonha muito grande, por sorte não havia muita gente por perto. Vi que não tinha ninguém dentro daquele automóvel, fui eu quem deu ré demais e bati nele. "Que idiota" disse a mim mesmo.

Não tinha mais tempo para atrasos, pelos meus cálculos já havia perdido pelo menos metade da partida. Subi correndo as escadarias para chegar as arquibancadas lotadas; não queria qualquer lugar, desejava um banco onde ela pudesse me ver. sentei em um lugar um tanto ruim, mas era o menos pior dos disponíveis, finalmente podia vê-la em ação.

Graciosa e linda como a mãe, não sabia que jogava tão bem. O placar estava muito favorável a ela. Danielle tinha a pele clara com os cabelos castanhos, seus olhos eram da cor do mel, era uma menina formidável e talentosa, seu rosto estava avermelhado devido ao sol forte, seu boné rosa que lhe dei protegia um pouco, fiquei feliz por usar algo com que lhe presenteei.

Fiquei quieto no meu canto comemorando cada ponto. Nunca fui muito fã de tênis, mas sabia das regras, sempre paguei suas aulas desde o início pois sempre foi muito dedicada e mostrava o que queria.

Não pude deixar de lembrar de Samanta e tantos outros adolescentes que morreram naquela reserva, Danielle quase tinha a mesma idade daquelas crianças, só de pensar em minha filha sendo violentada daquela maneira me deu um desespero. De repente me veio uma vontade de estar mais presente e protege-la do mundo cruel cheio de armadilhas. Tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, não suportaria que algo acontecesse a ela.

Podia ter sido diferente, mas meus erros do passado nos levaram a separação, sofri muitos anos por não me perdoar, prometi a mim mesmo que só me perdoaria quando Andressa, sua mãe, me desse uma chance, mas isto nunca ocorreu e então me atolei no álcool e trabalho para fingir que não tinha uma vida pessoal, enterrei meu passado junto com esposa, filha e amigos. Não sobrou muita coisa de mim mesmo até Vanessa entrar em meu caminho, me ajudou a me encontrar no buraco da depressão, e naquela época fazia algum tempo que tentava restabelecer o contato com minha filha, o que considero o melhor de mim, sua mãe fez um bom trabalho sozinha, foi uma guerreira, eu que fui covarde, tentava me aproximar, mas sei que nunca terminará meu debito, precisava fazer muito mais.

Demorou meses para convencer Andressa me deixar fazer uma visita, acho que consegui um pouco de confiança dela mesmo com seu ódio pelo que fiz. Danielle estava mais difícil, talvez por tantos anos ouvindo sua mãe dizer que o pai não prestava e que não gostava dela, deve ter passado por muitas dificuldades e nunca estive por perto para lhe ajudar e defender.

Após um tempo, finalmente ela me percebeu na torcida depois de pontuar mais uma vez, ela olhou um pouco tímida e disfarçou, mas sabia que havia sido notado, isso me deixou contente e sorridente. Em seguida em seu saque mandou direto para a rede, ponto da adversaria. "Droga, ela deve me odiar mesmo" pensei.

O jogo terminou e ela venceu, era um jogo não muito importante, mas quando se tem um filho que vence uma partida de bater figurinhas você já fica orgulhoso. Logo que saiu da quadra foi em direção de Andressa, as duas se abraçaram. Andressa ainda era muito bela, me deu uma certa inveja de Danielle, aquele abraço era tão bom. Me recordei.

- Parabéns, filha! Foi formidável! - Disse indo em sua direção ao meio da multidão.

- Chegou atrasado, não foi?

- Ah sim, um pouco, o transito estava apertado, mas cheguei a tempo de ver as melhores jogadas, você é muito boa! - Disse com a maior sinceridade.

- Então... está tudo certo para o fim de semana? - Disse Andressa com a boca torta mostrando insatisfação.

Eu havia pedido permissão a ela para liberar Danielle para viajar comigo e Vanessa para o México. Eu sei que minha filha não estava afim de ficar comigo, mas na cabeça de uma adolescente uma viagem ao México é uma boa oportunidade e ela queria aquilo.

- Claro, vai ser muito bom filha! Será inesquecível, eu garanto.

- Está bem... que seja, não me decepcione dessa vez - Respondeu dando um gole em sua garrafa de água e se virando de costas para ir embora com sua mãe.

Foi meio seca a conversa, mas eu estava satisfeito. Havia sido uma evolução e tanto desde a primeira conversa. Eu precisava de tempo com ela e paciência, e estava disposto a conquista-la mesmo a longo prazo.

Durante a noite...

Quinta feira, era véspera de nossa viagem, estava preparando tudo com Vanessa, ela separava roupas enquanto fazia o planejamento dos lugares onde visitaríamos. O celular começou a vibrar em meu bolso, pensei em atender, mas me lembrei do quanto Vanessa odiava que eu pegasse o aparelho quando estávamos fazendo algo juntos, então deixei o aparelho chamar até parar. Continuei centrado em minha tarefa, estava animado e entretido em minha casa, só pensava em finalmente me divertir com as garotas que amava.

Novamente o celular vibrou, fiquei incomodado; antes que ela percebesse com rapidez tirei do bolso e cortei a chamada, enfiei de volta na calça e continuamos a rir do assunto que ela falava, mas nem fazia ideia do que era pois não prestei atenção, mas fingi para ela não ficar brava.

Mais uma vez a chamada voltou a acontecer, decidi àquela hora sair do quarto e ir à cozinha com a desculpa que queria algo para beber, Vanessa nem notou e ficou tranquila na dela. No meio do caminho, comecei e dizer a mim mesmo "que merda de relacionamento é esse que tenho medo de atender um telefonema? Isto não está certo! Ela tem controle de mais sobre mim" cheguei a cozinha. Acho que menti tão bem para ela que me enganei também, abri a geladeira em busca de algo para tomar, mas aí saquei que só tinha sido um pretexto meu, e não tinha sede de nada. "Estupido" disse a mim mesmo.

Atendi finalmente o celular.

- Sullyvan? Finalmente! Estou desesperada!

- Samanta? Aconteceu algo? - Disse em um tom preocupado.

- Sim! Ele não morreu. Ele está vivo eu o vi, ele tem falado comigo.

Naquele momento vi que a pobre moça estava perturbada de mais, e que aquilo devia ser coisas da sua cabeça.

- Samanta, escute, você precisa de ajuda sim, mas não da minha. Precisa de sua família agora, talvez um outro profissional, eu sinto muito...

- Estou dizendo a verdade ele tem me deixado sinais, ele está sempre presente, eu sinto sua presença - Dizia ela com um tom desesperado e angustiante - Tem que o ajuda-lo a limpar seu nome para que possa sair das sombras.

- Olha, vou ligar para seu pai e recomendar um amigo psiquiatra, ele vai te ajudar...

A linha ficou muda e não ouvi mais sua voz, tentei retornar mas dava caixa postal. Me deu um sentimento de tristeza por aquela menina, mas não podia fazer muita coisa. Voltei ao quarto fingindo estar normal.

- Falava com alguém, querido? - Perguntou me Vanessa com um sorrisinho amarelo.

- É.... falava com aquela mocinha, a Samanta que te falei, ela me ligou.

- E o que queria?

- Ela está muito perturbada, coitada.

Voltamos a nos concentrar nas atividades, tentei focar naquilo para não remoer meus pensamentos sobre a garota, por um momento até tive êxito, quando bem distraído ouvi alguém tocando minha campainha. Era de noite já bem tarde, não esperávamos ninguém e coisa boa a essas horas nunca são, e eu estava certo. Fui a porta e olhei pelo olho magico, me surpreendi, jamais esperaria aquela pessoa em minha porta.

- Diniz? O que faz aqui? - Disse assim que abri a porta.

- Sinto muito incomoda-lo, posso entrar?

- Claro, estou de roupão, não espere que eu saia para fora - Disse com sarcasmo.

Nós caminhamos para a sala de estar onde nos sentamos, logo Vanessa veio se apresentado de forma muito bem-educada, aquela era uma qualidade que eu amava nela, sempre legal com amigos e colegas meus, mesmo mulheres, diferente de Andressa que me causava vergonha. Ela ofereceu algo para beber a Diniz que aceitou uma água. Ela o serviu e nos deixou a sós.

- Então, o que lhe fez viajar até aqui para me tirar de uma noite relaxante? - Perguntei.

- Bem, não trago notícias boas, não. Um rapaz chamado Daniel, um dos estudantes que devia estar na reserva no dia do massacre, foi assassinado hoje pela manhã em uma academia de forma brutal e nojenta - Terminou de dizer com uma careta que me passou a impressão de que realmente foi cabeluda a situação.

- Deixe me adivinhar. Não tem pistas do assassino?

- Nenhuma, as imagens da câmera de segurança sumiram, a única testemunha é uma funcionária que não viu nada por que tinha ido buscar café.

- Você disse que ele não foi a reserva, o que aconteceu? Por que não estava lá?

- Estava hospitalizado, teve uma queda um dia antes e machucou gravemente a cabeça, ficou no hospital durante seis meses, até ontem quando saiu. Pelo menos era isso que achávamos até a garota Sara acordar no hospital e nos contar uma versão diferente. Daniel havia sido agredido por Nathan na noite de formatura.

- Sara? A melhor amiga? Ela sobreviveu?

- Sim e passa muito bem, teve alta há três meses, e Daniel havia tido alta ontem à tarde.

- Aposto que é um imitador do assassino original.

- É isso que queremos descobrir, e precisamos de você.

- Já disse que essa investigação não tem nada a ver comigo, sabe bem o que eu faço, não deviam insistir - Disse cruzando as pernas seriamente.

- Olha me mandaram aqui por que você é o melhor, ninguém tem experiência naquela cidade suficiente para entender o que está acontecendo. Está todo mundo surtando e com medo, essas coisas não eram comuns naquela região, as pessoas daquele lugar são boas, não cabe na minha cabeça tamanha crueldade, veja as fotos.

Ele jogou na mesa de centro as fotos da vítima, realmente eram arrepiantes, alguém que não era acostumado facilmente sentiria aversão as imagens.

- É Diniz, acostume-se a isto. Vai ver coisas assim diariamente se quiser crescer e ser um grande investigador - Disse com firmeza.

- Para falar verdade estou desanimado e quase desistindo, não foi para isso que quis me tornar um homem da lei.

Vi ali com clareza o quanto era imaturo, e quanto os moradores daquela região precisavam de alguém como eu para ajudá-los. Ficamos um minuto em silencio e pensei no que podia fazer, gritei por Vanessa e ela veio tão rápido que fiquei com impressão que ela estava esperando ser chamada.

- Amor, termine os preparativos. Preciso ir resolver uma coisa, vai ser rápido.

- E nossa viagem? - Disse ela em um tom de nervosa - Sua filha deve chegar pela manhã.

- Não se preocupe amor, são só algumas horas de carro, eu vou esta noite e volto pela manhã, só precisam de uma opinião profissional, faço isso e volto a tempo de irmos. Qualquer coisa remarcamos para o próximo voo.

- Não sei não, promete?

- Claro! - Disse botando as duas mãos em seus ombros passando confiança.

- Na verdade... - Diniz nos interrompeu - Eu vim de helicóptero, chegaremos lá em minutos.

- Caramba! Vocês me querem mesmo hein, arrumaram uma nave para me pegar, eu nem sabia que cabia um helicóptero naquela cidade - Disse querendo ser engraçado para descontrair e quebrar o gelo.

- E não cabe - Respondeu ele - Emprestamos da capital.

Botei uma roupa mais coerente para ocasião, dei um beijo em Vanessa e ressaltei mais uma vez para não se preocupar pois tinha certeza que chegaria rápido de volta. Então partimos para o heliporto que não era muito distante. No percurso Diniz não parava de falar, sempre me dando mais informações sobre o assassinato. Chegava a ser irritante as vezes, me passava pela cabeça o mandar calar a boca, mas ele não tinha culpa de ser chato e inexperiente; explicava as coisas tão amadoramente que me incomodava, queria corrigir, mas a preguiça de ser técnico como gostava de ser me impedia.


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