RELATO 2

    Eu queria ter ajudado ela logo no início, mas não tive força para mexer as pernas, fiquei paralisado e tudo que consegui fazer  foi assistir aquela cena que nunca mais me saiu da memória.

     Minha mãe quiz se manter forte, não queria deixar eu ver minha heroína passar por fraca e fez de tudo para não chorar.

- Isso é comida que se sirva em um almoço? Falou ele em um tom irritado.

      Ela queria falar, mas sábia que se dissesse algo só aumentaria a confusão. 

   Dei uma olhada de canto de olho e percebi que já não estava mais tão abalada isso vinha acontecendo com freqüência em nossa família,  seus olhos estavam triste, seu rosto estava sem seu brilho natural então  pegou a  vassoura e foi limpar a comida que se espalhou pelo chão.

    Em silêncio ela permaneceu, limpou a comida espalhada e fez  uma outra pra ele.

     No fundo ela tinha esperança, desejava mais que tudo que meu pai voltasse a ser o homem com quem se casou e  esposo  e excelente pai que foi um dia.

     Lembro das histórias que  nos contava de quando os dois se conheceram, era um homem romântico, apaixonado e cheio  de amor pela vida, permaneceu assim por onze anos e mudou  após  ter conhecido Helena .

      Helena  era uma viúva  de trinta e cinco  anos, perdeu o  marido  em um acidente na empresa em que trabalhava, ninguém nunca soube como isso de fato aconteceu. Jorge esposo de Helena  trabalhava junto com meu pai, os dois eram melhores amigos e viviam juntos nossas famílias tinha uma ligação muito forte.

      Ninguém soube  como a morte aconteceu,  a perícia não conseguiu apurar os fatos e o que mais de concreto tinha era a  palavra do meu pai.

      O tempo seguiu,  há boatos que em menos de um  mês meu pai já estava de caso escondido com a mulher de seu falecido melhor amigo cujo a morte ainda era um mistério a ser esclarecido.

      Eu não soube  isso na época, fiquei sabendo oito  anos depois quando já havia deixado o Maranhão e vim tentar a vida na cidade do Rio de janeiro.

        O modo como meu pai tratou minha mãe aquela tarde  nunca mais me saiu da mente, aquele foi meu primeiro contato com meu maior pesadelo, eu tive medo e ódio ao mesmo tempo, tive medo do meu pai e ódio de mim mesmo por não ter tido força para ajudar minha mãe. Ele não tinha o direito de fazer isso com ela, ele não tinha o direito de fazer isso comigo, eu era só uma criança que acreditava que o pai era um super herói.

        Conheci meu fantasma aquele dia, começou com aquela cena, o homem  que eu tinha como herói me presenteou com  um bandido, aquele trauma  passou a me perseguir todos os dias da minha vida.

     Aos poucos fui perdendo o medo de sorrir, o garoto que era popular entre os amigos foi se tornando anônimo, passei a viver de uma maneira mais isolada e durante um tempo fiquei no escuro.

        Eu não queria viver assim, não desejei viver isolado e com medo do mundo,  meus amigos tentaram me ajudar, me convidavam para partidas de futebol, festas diversões que antes eu adorava, mas eu sempre inventava uma desculpa.

     O não passou a ser minha palavra favorita e com o tempo fui ficando de lado, aos poucos fui mergulhando cada vez mais fundo em meus dias nublados.

       Dois anos havia se passado, eu não aguentava mais aquela guerra familiar, meu pai não deixava os vícios e minha mãe não aceitava que o homem que ele amou havia se transformado naquele total desconhecido.

        O sonho de  uma família perfeita que   no início foi real estava se transformando em um pesadelo, o marido a qual  amava não estava mas presente naquele homem que estava presente em nossas vidas.

      O mais racional seria o divórcio mas, ela   se recusava a entregar a felicidade do seu lá a essa nuvem escura que fez morada em nossa casa, eu desejou de todo o coração, lutava com todas as suas forças para ter sua família de volta, procurava uma luz nessa treva que nossa vida se tornou.

       A cada ano que se passava meu relacionamento com meu pai só se complicava, o garoto que era visto como anjo na rua era taxado de aberração dentro de casa e isso me machucava e atormentava todos os segundos da minha vida.

        Meus amigos esqueceram de mim, não pararam de falar comigo mas, não me convidavam mais pra nada, se cansaram de ouvir não,  todos se afastaram somente Laila não desistiu de mim.

       Eu amava a companhia de Laila, eu amava seu sorriso, seu jeito de olhar, seu modo de sentar , falar, eu amava tudo que vinha dela, eu amava tudo que envolvia ela.

     Eu confiava nela só não me sentia a vontade pra falar de mim, de meu medos e fraquezas, não queria que ela tivesse pena, queria ser o anjo protetor que ela sempre falava que eu era pra ela, queria ser aquela pessoa inabalável que ela tinha projetado na mente.

      Laila foi a única pessoa que levei para conhecer a minha árvore, aquele lugar era tão sagrado pra mim que queria manter ele escondido do mundo, ali eu me sentia bem, era como uma fortaleza recuperava  minhas forças e me ajudava a não pensar no caus que minha vida havia se  tornado.

     Eu estava perdidamente apaixonado por Laila, minhas pernas tremia minhas mãos suava e o coração faltava sair pela boca quando ela se aproximava. Eu queria dizer como me sentia, como ela me fazia bem mais eu não tinha o direito de afundar a vida dela  igual estava afundando a minha.

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