Capítulo 01

Rio de Janeiro, Brasil — 2012.

Rafael Maldonado assinava os últimos papéis para a licença à maternidade de sua secretária. Estava melancólico, afinal de contas, Cecília era bastante eficiente e ainda não tinha encontrado ninguém bom o bastante para substituí-la. Estava um pouco preocupado quanto a isso, mas também não permitiria que Cecília passasse mais uma hora que fosse trabalhando, ela de fato merecia repousar.

— Bem, Cecília — sorriu à moça. — Agora você está oficialmente de licença à maternidade — Rafael fez uma careta de choro, arrancando sorrisos da mulher.

— Ora, Rafael — a outra disse achando graça do comportamento de seu chefe. — São apenas seis meses de afastamento, homem!

— Mesmo assim — mostrou o último papel para que ela assinasse. — Sentirei a sua falta.

— Eu também sentirei a sua — ela terminou de assinar. — E você se comporte durante minha ausência, Sr. Maldonado — sussurrou repreensiva.

— Pode deixar — assentiu com a cabeça. — Boa sorte, Ceci — se levantou e lhe deu um abraço apertado. — Assim que nascer, me ligue que vou visitá-los.

— Obrigada, ligo sim — os dois se despediram e ela saiu.

Rafael a observou sair e suspirou, ele enlouqueceria sem Cecília por ali, além de ser muito competente, era um amor de pessoa e gostava muito dela. Saiu de seus pensamentos ao escutar o irritante toque do seu celular. Tateou a mesa e o pegou.

— Alô — atendeu desanimado.

— Oi, Baby Blue! — Rafael escutou um gritinho estridente que o fez fechar os olhos com força.

— Oi, Lorena — o homem forçou um sorriso.

Lorena era sua esposa, estavam casados há dois anos e ele se considerava feliz com ela. Conheceram-se ainda bebês e cresceram juntos devido à amizade de seus pais. Com o passar do tempo, Lorena se apaixonou e ele não teve como correr de um compromisso com a moça. Pediu-a em namoro, depois em casamento e tudo estava dando certo até então. Lorena era uma mulher fútil e algumas pessoas não tinham paciência com o seu pouco raciocínio. Mas ele já estava acostumado.

— Lorena? — ela disse com um bico. — O que combinamos, coelhinho?

— Baby Pink — ele sussurrou, rezando para que ninguém entrasse enquanto estivessem nesse dialeto ridículo. — Desculpe, eu ainda não me adaptei a esse novo apelido. O que você quer? — rolou os olhos.

— Ai, coelhinho, não acha que está um pouco mal-humorado hoje? Eu estou sentindo você bastante tenso.

— Tem razão, eu estou estressado — ele resmungou se sentando em sua cadeira e rodando de maneira infantil. — Cecília foi embora hoje e ainda não consegui ninguém competente o bastante para substituí-la — disse coçando os olhos. — Estou a ponto de um ataque de nervos.

— Hã?

Rafael suspirou pesadamente, ele ainda se perguntava o porquê de ainda insistir em conversar coisas normais com Lorena, antes de se casar com ela ainda se perguntava se ela se fazia de idiota, ou apenas queria chamar atenção, mas depois que se casaram ele teve certeza de que ela era realmente acéfala.

— Nada, Lorena — disse levantando. — Eu tenho que desligar.

— Espera, meu amor! — Lorena gritou. — Hoje eu não vou almoçar em casa, vou sair com as meninas, vamos ao shopping — contou com os olhos brilhando.

— Tudo bem, sem problema — ele deu de ombros.

— Pode me fazer um favor? — Rafael fez um barulho que ela deduziu ser um sim e continuou. — Pode ir buscar o nosso filho no pet shop?

— Não sei se vai dar, minha linda — ele disse choroso.

— Por favor, por favor — ela ficou repetindo a palavra inúmeras vezes fazendo-o perder a paciência.

— Está bem — Rafael rolou os olhos, sem ter para onde correr. — Agora eu realmente preciso desligar. Tchau, um beijo.

— Tchau, meu Baby Blue... Beijos — desligou.

Lorena agia como uma criança na maioria do tempo. Ouviu dizer que era infantilismo, mas nunca se aprofundaram em descobrir, afinal ela sempre tivera vários problemas psicológicos e mais um não faria diferença. Gostava dela, gostava muito. Apesar de seus problemas e de sua burrice extrema, ela era uma boa pessoa, tinha um coração muito bom e era uma mulher linda. Seus cabelos castanho-claros, seu corpo escultural e seus olhos azuis o faziam esquecer do quanto ela era irritante. Nunca tinha a traído, apesar de não formarem um casal exemplo, ele tentava não cair em tentação. Contudo, já teve vontade e muita.

Olhou para o teto e voltou a desviar sua atenção para o problema, o que ele faria agora sem a sua secretária? Tinha marcado entrevista com mais três candidatas para esta tarde e estava na esperança de conseguir a mulher ideal para ajudá-lo. Rafael tinha vinte e seis anos, era arquiteto seguindo a linhagem de sua família, desde seu tataravô das quantas. Seu pai e o pai de Lorena tinham criado a "Espaço Arquitetura & Design" há exatamente dezesseis anos e era uma das mais bem sucedidas no ramo no Brasil.

— Ei, cara — Bruno, seu amigo de infância, entrou na sala. — Vamos almoçar, o Víctor vai passar aqui.

— Vamos — Rafael suspirou, desligando o computador. — Terminou o gráfico?

— Quase. Vou mandar pra lá hoje à tarde — Rafael assentiu. — Que cara é essa?

— Nada — ele negou com a cabeça. — Eu não ando muito motivado esses dias.

— O que é isso, irmãozinho? — Bruno perguntou. — Você está precisando é de uma gandaia. É disso que você está precisando — ele disse batendo nas costas do amigo.

— Claro... Sempre gandaia, não é? — disse levantando. — Mas vamos lá, estou precisando respirar. Depois ainda tenho que ir buscar o cachorro da Lorena no pet shop — riu e os dois saíram.


♦♦♦

— Lívia! — Cássia gritou pela quinta vez. — Mas onde raio se meteu essa menina? — limpando as mãos no pano de prato. — Lívia Beatriz! — foi até a escada e pôde ouvir o som alto que vinha do quarto de sua filha caçula. — Ai meu Deus — negou com a cabeça e subiu as escadas. — Lívia? — abriu a primeira porta do corredor correspondente ao quarto de Lívia e lá estava ela, dançando adoidada em frente à TV.

Nossa, nossa, assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu te pego — ela se requebrava tanto que parecia que partiria ao meio a qualquer momento. A mãe olhou negando com a cabeça.

— Lívia! — Cássia gritou, fazendo a garota ruiva dar um pulo.

— Nossa, nossa, assim a senhora me mata — Lívia cantou fazendo graça, enquanto abaixava o volume.

— Que engraçado — a mulher disse irônica. — Desça para almoçar.

— Ai, mamãe — Lívia se deitou em sua cama. — Diz se ele não é lindo? — apontando Michel Teló com adoração.

— É um rapaz bonito — Cássia assentiu à contragosto. — Mas vamos descer, filha. A comida vai esfriar — disse saindo do quarto.

— Está bem, já desço — Lívia observou a mãe sair do quarto. — Ai se eu te pego, Michel — piscou, desligando a TV.

Desceu as escadas e encontrou sua mãe arrumando a mesa. Lívia tinha vinte anos, morava com os seus pais e sua irmã mais velha, Liz. Lívia era folgada, como dizia sua irmã, adorava sair para curtir e não gostava mesmo de trabalhar.

— Enfim — Lívia se sentou. — O cheiro está bom.

— É um escondidinho de carne de sol — Cássia explicou, enquanto colocava a forma fumegante em cima da mesa.

— Cadê a Liz? — Lívia perguntou olhando para os lados.

— Está no banheiro e seu pai foi buscar refrigerante — a mãe sorriu e viu Liz aparecer e sentar-se à mesa ao lado de Lívia. Liz era sua irmã mais velha, tinha vinte e dois anos, fazia faculdade de biomedicina e vivia pentelhando a irmã, chamando-a de preguiçosa e reclamando de absolutamente tudo.

— Que milagre — Liz deu um sorriso irônico. — É meio-dia e a Lívia já está de pé — arregalou os olhos, fingindo surpresa. — Caiu da cama, anjinho?

— Que fofo, maninha — Lívia olhou suas unhas que estavam pintadas de rosa. — Hoje o Matheus me ligou cedo e me acordou — fez bico.

— Você não cansa de fazer esse cara de idiota não, Lívia? — Liz bufou. — Ele é lindo demais para viver levando foras e mais foras de você.

— Eu não dou fora nenhum — Lívia retrucou. — Nós ficamos sempre, hein? Mas ele quer namorar e eu não quero ninguém no meu pé, já falei isso pra ele várias vezes e parece que entra por um ouvido e saí pelo outro.

— Já chega vocês duas — Cássia resmungou, entregando o prato de Liz. — Está na hora de comer e não debater — ralhou e Marcelo, seu esposo, chegou trazendo o refrigerante em uma mão e na outra um jornal.

— Aí está o refrigerante — ele falou, colocando a garrafa em cima da mesa.

— Jornal de hoje, papai? — Liz perguntou.

— Sim, querida — ele disse sentando-se. — Bom dia, Lívia. Pelo visto a gandaia ontem foi boa, hein?

— Foi maravilhosa, papai — Lívia mandou um beijinho para o pai, depois deu uma garfada. Liz, por sua vez, começou a vasculhar o jornal nos classificados.

— E então? — Cássia perguntou. — O meu almoço está bom?

— Ótimo como sempre, mamãe — Lívia sorriu.

— Olha só! — Liz sorriu. — Um emprego perfeito para a Lívia — mostrou com os olhos brilhando.

— Mãe, manda a Liz parar — Lívia choramingou.

— Liz, pare de perturbar a sua irmã — Cássia suspirou. — Se ela não quer trabalhar o problema é todo dela, o seguro-desemprego acaba esse mês, não é Lívia? — Lívia assentiu, ainda com um bico de choro. — Pois bem, se você não quer trabalhar vai ficar sem as suas farras, porque o seu pai e eu já temos conta o bastante para ainda ter de manter as suas noitadas por aí — a senhora explicou encarando a filha mais nova. Desde pequena, Lívia nunca foi de trabalhar, nunca gostava de ajudá-la nos afazeres domésticos e sempre gostou de gandaia.

— Nunca pedi para gastarem dinheiro comigo — irritada com o rumo da conversa.

— Lívia, minha filha — o pai começou. — Sabe muito bem que se tivéssemos condições, não nos importaríamos em lhe dar dinheiro. Mas a situação não está muito boa, temos que pagar a hipoteca da casa, temos que pagar as dívidas e você sabe bem...

— Tudo bem, papai — Lívia retrucou, sabia que isso aconteceria em um momento ou outro. — Qual é a droga do emprego, Liz? — se virou, encarando o olhar satisfeito de Liz.

— Secretária — entregou o jornal à irmã. — Em uma empresa de arquitetura e designer de interiores muito famosa e chique, já ouvi falar muito dela, se chama Espaço.

Lívia rolou os olhos e viu o anúncio. Precisavam de uma secretária substituta e... Espera aí... Substituta? Isso estava começando a ficar interessante, provavelmente essas substituições eram rápidas e o seguro-desemprego era quase sempre uma garantia.

— Está certo, Liz — Lívia sorriu falsamente. — Mamãe — encarou os pais. — Vocês venceram, hoje mesmo vou lá nessa tal de... — pegou o jornal e leu. — Espaço Arquitetura & Designer.

— A única que vai sair ganhando é você, querida — Marcelo sorriu.

— Ah é mesmo — ela rolou os olhos. — Eu vou subir, perdi a minha droga de fome — saiu.

— Não liguem, vocês sabem que esse comportamento dela já é normal quando se trata de emprego — Liz disse com um sorriso no rosto.

Os pais suspiraram e decidiram escutar a filha mais velha, já que a mesma começou a falar sobre a sua faculdade e assuntos variados.


♦♦♦

Lívia estava mal-humorada enquanto se arrumava para a bendita entrevista de emprego. Não sabia nem como tinha conseguido marcá-la de última hora, já que a nojenta recepcionista fez questão de dizer que já tinham selecionado as melhores e não tinha mais necessidade de ninguém ser entrevistada, depois de muito insistir na recepção da empresa, ela conseguiu com que marcassem a entrevista, era uma única oportunidade e tinha que aproveitar. Estava arrumando o terninho quando sua mãe entrou.

— E então, minha filha? — ela sorriu. — Está pronta?

— Quase — ela suspirou. — Só falta me perfumar — indo até seu armário e buscando seu perfume. — Onde está o papai?

— Foi ao banco — ela disse sentando-se na ponta da cama. — Está animada?

— Claro — Lívia forçou um sorriso. — Bem, eu já vou mãe — deu um beijo na bochecha da mulher. — Me deseje sorte.

— Claro que sim, boa sorte minha filha, vá com Deus — Cássia fez o sinal da cruz em sua filha.

— Fique com ele — ela pegou sua bolsa e saiu do quarto.

Desceu as escadas apressada e olhou no relógio, já eram dez horas, sua entrevista estava marcada para dez e trinta e não podia se atrasar. Foi até a garagem e abriu seu fusquinha vermelho, que tinha ganhado de seu avozinho, Luiz Carlos. Sentia tanta falta dele. Tanto que pôs o nome do fusquinha de Luizinho, ai de quem falasse mal de seu fusca. Ligou o fusquinha, coisa que não era muito fácil e assim que ele pegou, Lívia arrancou rumo à sua entrevista.

— É isso aí, Luizinho... Vamos lá! Se me aceitarem bem, se não me aceitarem foda-se — disse ligando o rádio em uma estação qualquer.

Não demorou em que chegasse até à empresa, era um prédio bastante requintado e cheio de não-me-toque, rolou os olhos e entrou no elevador sem muita paciência. Chegando ao andar indicado, viu uma mulher com uma prancheta na mão.

— Senhorita, Lívia Beatriz Simões do Carmo? — a mulher a encarou.

— Isso aí, tia — Lívia lhe mostrou o polegar, fazendo a mulher torcer um bico.

— Tia? — a outra baixou as lentes dos óculos. — Não sou sua tia — deu um sorriso enojado.

— Desculpe — Lívia balbuciou, morrendo de vontade de mandá-la tomar no fiofó.

— Não acha que está um pouco atrasada, senhorita Simões?

— Não, ainda são dez e vinte e cinco — encarou a mulher e em seguida olhou no relógio. — Minha entrevista é às dez e trinta!

— Não, senhorita, sua entrevista era as dez em ponto.

— Mas me disseram que era as dez e trinta — indignada.

— Pois eu tenho certeza de que a senhorita ouviu errado — tratou de escrever algo em sua prancheta.

— Escute aqui, sua velha coroca, eu não vim até aqui hoje para fazer papel de idiota — se enfezou e a mulher arregalou os olhos. — Se eu fosse a senhora, eu andava logo com isso antes que a minha paciência espoque!

— O que está acontecendo aqui?

Lívia se virou e deu de cara com um homem lindo. Era elegante, vestia uma camisa social branca e uma calça também social, que marcava bem o seu traseiro avantajado. Os olhos cor de mel, os lábios vermelhos e a barba bem-feita a deixaram úmida, porém, obviamente procurou disfarçar.

— Senhor Maldonado — a velha pareceu criar educação de uma hora para outra. — Essa moça insiste em ser entrevistada, mesmo tendo chegado meia hora atrasada, inclusive está baixando o nível, me ofendendo. Vou chamar os seguranças.

Rafael se virou e viu aquela linda garota que mantinha um bico enorme na cara. Ela era ruiva, seus cabelos eram longos e tinha olhos castanhos. O corpo era escultural, seios grandes, era bem mais baixa que Lorena e era com toda a certeza a mulher mais linda que ele já tinha visto na vida.

— Não é verdade — Lívia disse, o tirando de seus pensamentos. — Me disseram ontem que a minha entrevista era dez e meia e agora eu chego aqui e essa velha quer me fazer de idiota — contou vermelha de raiva, mas ele nem tinha ouvido o que ela disse, já que estava enfeitiçado com aquela mulher.

— Não tem problema, Clarice — ele disse à mulher. — Eu mesmo a entrevisto — abriu um sorriso.

— Mas, Sr. Maldonado — olhou os dois, em perplexidade. — Como assim o senhor quer entrevistá-la? Eu posso entrevistar e...

— Mas nada, a secretária vai ser minha, não vejo problema em entrevistar uma candidata, fique tranquila e pode ir — ele disse e a mulher apenas assentiu, saindo dali contra a vontade. Lívia sorriu vitoriosa e encarou satisfeita, quer dizer que aquele gostoso seria seu chefe? — Pode me acompanhar senhorita...?

— Simões... Lívia Simões.

— Me acompanhe — Rafael pediu.

Lívia assentiu e deu um sorrisinho, enquanto o acompanhava até a sala dele. Não pode deixar de notar a bela comissão traseira que ele possuía.

— Minha nossa — a garota se abanou.

— Disse algo? — ele perguntou, enquanto entravam no elevador.

— Não — ela sorriu.

Não demorou e logo chegaram ao andar da sala dele. O cara parecia ser importante, pois possuía um andar só pra ele e o espaço era gigante. Observou uma mesa bem elegante que estava vazia, sua futura mesa. Tudo ali era muito chique, parecia coisa de novela. Ao entrarem na sala, Rafael sentou-se em sua cadeira e pediu que ela também se sentasse.

— Pois bem, Lívia — ele sorriu. — Posso te chamar assim?

— Pode me chamar do que você quiser — disse com um sorriso descabido, ele ficou um ficou um pouco surpreso, mas apenas riu. — Digo, do que o senhor quiser.

— Não me chame de senhor, não é para tanto. Sou Rafael Maldonado, sou o CEO da Espaço e vou conduzir a sua entrevista — a olhou e a garota se controlava para não salivar. — Você pode me chamar de Rafael — pediu e ela assentiu. — Pois bem, vamos começar — disse analisando o currículo dela. Lívia não tirava os olhos dele, que delícia de homem. Umedeceu os lábios e esperou mais do que nunca que ficasse com aquele cargo, ela aproveitaria muito. — Então, aqui está dizendo que você tem curso de informática avançada, entende de secretariado, fala inglês?

Yes.

— Também fala espanhol?

.

— É, realmente... — ele sorriu empolgado. — Você tem um currículo muito bom, Lívia — assentiu com a cabeça. — Me diga, por que te interessa esse emprego? — ele apoiou-se nos cotovelos, enquanto a observava.

— Eu acho muito interessante esse lance de advogados — sem tirar os olhos dele.

— Perdão? — ele pareceu não entender. — Aqui trabalhamos com arquitetura e interiores, não com advocacia.

— Oh — Lívia pôs a mão na boca. — É claro, arquitetura, é que eu me confundo um pouco. Mas eu juro pra você que sou muito competente e esforçada, eu serei uma ótima secretária — abriu um sorriso.

— Isso eu tenho certeza — ele sussurrou mordendo o lábio. — Quer dizer — observando a cara confusa da candidata. — Seu currículo é maravilhoso, me responda mais algumas perguntas e depois responderá a um questionário — informou.

Ela assentiu e continuou respondendo às perguntas dele. Depois Rafael lhe entregou um questionário com questões de múltipla escolha. Ela respondeu rapidamente enquanto ele a admirava.

— Aqui está — ela entregou a folha. Ele pegou e viu que todas as questões estavam corretas, encarou a garota ruiva, que o olhava apreensiva.

— Foi muito bem — Rafael se levantou. — Por hoje é só isso — ela também se levantou. — Qualquer coisa eu te telefono hoje mesmo — estendeu a mão. Lívia assentiu e apertou a mão masculina, sentindo uma onda de excitação corroendo suas veias. Que homem era aquele?

— Obrigada, Rafael — ela sorriu confiante. Apostava o que fosse que aquele emprego já era seu.

Saiu da empresa com um sorriso enorme na cara, foi até a calçada e arregalou os olhos ao ver um animal minúsculo urinando no pneu frontal de Luizinho. Bufou de irritação e foi até lá em passos firmes. Parou em frente à mulher que acompanhava o cachorro.

— Posso saber o porquê desse ratinho estar mijando no pneu do meu carro? — Lívia perguntou vermelha de raiva.

— Ratinho? — a outra arregalou os olhos. — Claro que não, ele é um cãozinho — disse pegando o animal no colo. — Não é, Rupert?

— Não me diga — pôs a mão no peito, se fazendo de idiota.

— É sério, ele é um cachorrinho — insistiu e Lívia ergueu a sobrancelha, aquela mulher era louca ou estava zoando com sua cara?

— Escuta aqui, madame, eu não tenho tempo para brincadeirinhas, o negócio é o seguinte: O pulguento mijou no meu carro e sempre que um cachorro mija no meu carro é cem reais que eu cobro.

— Cem reais? — ela a encarou, intrigada.

— Isso mesmo.

— Está bem — deu de ombros e abriu sua bolsa cor-de-rosa. De dentro tirou uma carteira também rosa e a abriu. — Aceita cartão?

— Claro que não — Lívia rolou os olhos, que mulher burra da porra.

— Muito bem — pegou duas notas de cinquenta reais e entregou para Lívia. — Não sabia que era tão caro. Sou Lorena e esse é meu filho, Rupert.

— Sou Lívia — disse guardando a grana que ganhou tão facilmente no sutiã. — Perdão, você disse que o cachorro era seu filho?

— Oh sim, é o meu filho — Lorena disse orgulhosa e Lívia negou com a cabeça, começando a rir.

— Você não bate bem — abriu a porta do fusquinha. — E dá próxima vez que pegar esse pulguento mijando no meu carro, eu vou pisar em cima dele!

— Esse fusquinha aí é seu carro? — disse com um bico enojado.

— Esse é o meu fusquinha, sim senhora — irritada. — E daí? Vai querer porrada?

— Oh não, eu não sou da sua laia — Lorena fechou a bolsa e arrumou o cãozinho em seu colo.

— Idiota — disse entrando em seu carrinho e saindo dali antes que metesse a mão naquela mulherzinha fútil. Seu celular começou a tocar e ela tentou ignorar, mas o aparelho parava e recomeçava outra vez. Xingou um palavrão e atendeu. — O quê?

— Cachorra! — Brenda berrou do outro lado da linha. — Nem acredita com quem eu fiquei ontem! Adivinha!

— Para-de-gritar — Lívia pediu pausadamente. — Eu não sou a mãe Diná, anda, fala logo.

— Eita, que mau-humor — Brenda retrucou. — Vou falar, mas primeiro me diz por que você está com esse humor do inferno?

— Nada demais — Lívia suspirou. — Perdi a paciência com uma acéfala aqui, mas já estou tranquila — parou em um sinal. — Mas me diz aí, quem você pegou?

— Ai amiga, eu peguei o Vinícius — disse dando pulinhos. — Ele é tão gostoso!

— O Vinícius, irmão do Matheus? — ela franziu a testa.

— Ele mesmo, periguete — Brenda riu. — Seremos cunhadas.

— Que cunhadas o quê — Lívia rolou os olhos. — Nem me fala, eu não aguento mais esse cara no meu pé.

— Ai amiga, o Matheus é tão legal — Brenda suspirou. — Você deveria tentar se entender com ele, ele te ama.

— Não fala besteira, Brenda — ela disse negando com a cabeça. — Não quero ficar com ninguém — ela disse vendo que o sinal abriu, arrancou novamente. — Aliás, se eu conseguir aquele emprego que te falei, ui — ela mordeu o lábio. — Eu estou é feita...

— Como assim amiga?

— O meu futuro chefe é um tremendo de um gato — ela gargalhou.

— Não diz — Brenda pôs a mão na boca. — Sério?

— Sério — murmurou com a voz maliciosa. — E eu vou dar em cima dele.

— Amiga — repreendeu gargalhando. — Lívia Beatriz, sua vadia, o que você vai aprontar? E se esse cara for casado? — disparou.

— E quem disse que eu me importo? Eu tenho certeza que ele é casado, eu vi a aliança, além do mais ele é casado e não capado.

— Sua louca — Brenda riu. — Mas homens gostosos estão em falta atualmente, tem que botar pra cima mesmo.

— Com certeza — Lívia riu. — E eu vi como ele babava no meu decote e nas minhas pernas, ele estava me comendo com os olhos. E tenho certeza de que o emprego vai ser meu só por isso... A entrevista foi catastrófica, mas estou totalmente confiante no meu poder de sedução — deu uma gargalhada. — Vai ser mais fácil do que imagino.

— Então beleza, pô — Brenda sorriu. — Boa sorte para você — Lívia gargalhou. — Agora eu vou desligar, meus créditos vão acabar em três, dois, um... — a ligação cai.

Lívia negou com a cabeça e voltou a prestar atenção no trânsito. Brenda era a sua melhor amiga, se conheciam desde sempre, ela era sua companheira de farra e as duas eram unha e carne. Brenda era outra folgada, igual a ela, mas ao contrário de Lívia, Brenda não tinha tantos problemas financeiros, afinal de contas desde os dezessete anos ela e a mãe recebiam uma pensão gorda, devido à morte do seu pai. E a pensão dava que sobrava.

— Quem não tem cão, caça com gato — riu de seu pensamento. — Me aguarde senhor Maldonado.


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