15 - Atrás do Espelho
Mewleficent havia escapado de ser descoberta a primeira vez, e não achava que a sorte a ajudaria a se livrar de uma segunda. O tempo parecia fluir em câmera lenta enquanto ela observava o pai vir em sua direção. Com olhos perscrutadores de um predador voraz, a expressão intimidadora em seu rosto dizia tudo.
Com o olhar preocupado, o príncipe fantasma encarava sua gêmea escondida embaixo da mesa — cujo corpo voltava à visibilidade — como se lhe perguntasse o que fariam. Mas Mewleficent parecia simplesmente paralisada, enquanto inúmeros pensamentos inquietantes derramavam em sua mente como uma enxurrada.
Seu pai já parecia furioso sem sequer tê-la encontrado, e quando a visse embaixo da mesa, escondida em seu santuário proibido e com o corpo oscilando entre visível e invisível pelos efeitos restantes da poção, nada aplacaria sua fúria.
Ela não tinha encontrado o feitiço para impressioná-lo, e pressentindo quão bravo ele ficaria, tinha certeza que não lhe daria ouvidos se tentasse contar sobre o fato do Sombríage refletir Mewdarthe e a verdadeira razão de estarem ali. Era quase como se a princesa pudesse prever o desastre inevitável que em alguns segundos a alcançaria.
E foi nesse momento que a pequena filhote sentiu o resto de sua esperança se esvair. Havia falhado; e sabia que após ser pega, não teria mais oportunidades para tentar executar o plano novamente. Era sua última chance, e agora estava perdida.
A princesa se encolheu, abraçando os joelhos, sentada sobre o chão áspero e frio, contrastando com as lágrimas quentes que sentiu começarem a deslizar por seu rosto.
“Acabou… o papai vai me pegar aqui, e vai ficar mais bravo do que nunca. Não vamos mais conseguir executar o plano depois disso…” Ela se virou para o gêmeo, enquanto se comunicavam mentalmente. “Me desculpa, irmão, eu falhei com você… Papai não vai te ver, e tudo vai continuar como está. Eu só queria que ele não ficasse mais tão triste e quem sabe nossa família voltasse a ser como antes… Mas acho não dá… Por que eu nunca consigo fazer nada pra ajudar você e o papai?!”
Seu choro abafado e silencioso tornou-se mais intenso. Mewdarthe sentia sua alma desencarnada despedaçar ao ver a irmã naquele estado. Ele queria consolá-la, ajudá-la, mas não conseguindo se manifestar para ninguém além dela, não parecia haver muito que pudesse fazer.
“Lef…”
Mewdarthe conseguiu dizer apenas isso, antes de sentir a energia do ambiente mudar por completo. Ele saiu de debaixo da mesa para observar o que acontecia, bem a tempo de ver seu pai parado ali próximo, estendendo um braço para frente e se pondo a executar um feitiço. Um feitiço que localizaria — e restringiria de forma nada agradável — quem ou o quê quer que estivesse invadindo seu santuário.
Enquanto recitava o encanto aos sussurros de um dialeto arcano antigo, a palma aberta de Devimyuu irradiava um brilho ameaçador em tons de roxo profundo, cercado por uma aura negra pulsante. As sombras ao seu redor se adensaram, sendo atraídas por um vórtice invisível em direção à energia emanada pelo bruxo semideus. Seu olhar, fixo e impiedoso, parecia perfurar o ambiente, determinado a caçar a presença que ousava desafiar seu santuário, sem ter ideia de que tal presença era de seus próprios filhos gêmeos.
Uma série de círculos mágicos começou a se formar no ar ao redor de sua mão, cada um repleto de símbolos arcanos intricados que brilhavam com uma luz violeta fosca, quase como se estivessem vivos. Os círculos flutuavam e giravam lentamente, emitindo um som sutil, mas perturbador, semelhante a um murmúrio de vozes antigas e esquecidas. A cada palavra entoada por Devimyuu, as runas nos círculos se iluminavam mais intensamente, e uma energia vibrante preenchia o ambiente.
Logo, do centro dos círculos, correntes de etérima surgiram como serpentes famintas, serpenteando pelo ar com movimentos ágeis e precisos. As correntes eram formadas de pura magia, mesclando o brilho roxo com linhas negras que pulsavam como se fossem veias. Elas se moviam de maneira quase consciente, farejando o ar, buscando seu alvo com uma fome insaciável.
À medida que as correntes avançavam, o ambiente reagia à força da magia sonbria. A temperatura caiu abruptamente, e uma leve névoa negra começou a se espalhar pelo chão de pedras do santuário. O espaço parecia se comprimir, como se as sombras ao redor se aglomerassem, tornando o ar pesado e carregado de tensão. Um leve zumbido ressoava, crescendo em intensidade, misturado ao estalo das correntes nefastas em movimento.
Mewdarthe assistia a tudo com olhos arregalados, incapaz de interferir diretamente, mas sentindo seu desespero crescer. As correntes se aproximavam, e uma delas já começava a circundar a base da mesa, atraída pela energia restante da poção em Mewleficent.
A princesa fechou os olhos com força, o coração martelando no peito, incapaz de impedir as lágrimas de caírem enquanto a sensação opressora da magia de seu pai parecia prestes a esmagá-la. Ela imaginou que o pior que poderia acontecer seria ser descoberta, contudo, diante da forma como isso se daria, a menina percebeu o quanto estava enganada. Não se tratava mais apenas de ser pega e castigada, se aquelas correntes dolosas de fato a alcançassem, Mewleficent estaria em perigo.
“Mewlef, você tem que sair daqui! Deixa o papai ver que é você pra parar esse feitiço, ou você vai se machucar, sai AGORA!”
O irmão exclamou, sua voz ecoando na mente de Mewleficent como um grito de desespero.
Encolhida enquanto abraçava a si mesma com os músculos retesados, Mewleficent tentou reunir forças para se mover, mas foi inútil. Uma sensação esmagadora envolvia seu corpo, como se mãos invisíveis a pressionassem contra o chão, restringindo até o menor de seus movimentos. Este era o efeito primário do feitiço de seu pai, que começava a envolver o alvo de busca mesmo antes de as correntes o alcançarem.
Uma tipo de paralisia mágica tornava seus músculos pesados como pedra e sua respiração ofegante, a incapacitando até mesmo de gritar. Cada tentativa de lutar contra os efeitos do feitiço era em vão.
A magia negra pulsava ao redor, intensificando o aperto invisível sobre Mewleficent. O brilho roxo e negro das correntes aproximava-se como serpentes famintas, refletido nas lágrimas que escorriam por seu rosto. Ela apertou os olhos com força, seu pequeno corpo tremendo de medo e frustração.
Entretanto, quando tudo parecia perdido, um brilho azul pálido como o primeiro raio da lua emergindo dentre nuvens densas, surgiu dançando gentilmente no ar. Uma presença etérea e calorosa se fez sentir, quase como um abraço invisível que a protegia.
A luz cresceu, fazendo fluir uma corrente de etérima espectral envolvendo Mewleficent em um casulo protetor. O calor da luz dissolveu a sensação de paralisia e afastou as correntes negras que quase a haviam alcançado, até que um portal translúcido e cintilante se abriu atrás da princesa. E naquele instante, a luz azul brilhou com ainda mais força e tudo desapareceu.
De um segundo para o outro, a princesa e o irmão gêmeo não estavam mais ali, no entanto, as correntes negras e roxas de etérima de repente vibraram no ar com um propósito renovado, sibilando como caçando uma nova presa.
A magia de Devimyuu envolveu o espaço sob a mesa em um redemoinho de energia densa, buscando algo que se moveu nas sombras — uma criatura sinistra e disforme que tentou recuar para evitar ser detectada, porém, paralisada pelo feitiço, tal tentativa se mostrou inútil.
A criatura grotesca se revelou quando enfim as correntes nefastas a capturaram — uma lamelída. Seu corpo serpentino era coberto por escamas iridescentes que mudavam de cor e textura constantemente, refletindo a luz espectral ao redor. Presa naquele laço inescapável, sua cabeça triangular e alongada balançava violentamente, os chifres curtos se contorciam enquanto olhos negros e vazios reluziam com malícia e fúria, sibilando para Devimyuu com sua boca escancarada e as fileiras de dentes afiados e desordenados a mostra, de onde gotejava um líquido ácido que chiava ao cair no chão.
A criatura se debatia freneticamente contra as correntes que a apertavam como um predador sufocando sua presa. Um som estridente ecoou quando sua cauda óssea, terminada em uma ponta semelhante a uma lâmina, raspou contra o chão em um último ato de resistência. O vapor sombrio que exalava de seu corpo parecia querer corromper o ar ao redor, mas as correntes de etérima carregando o poder do Lorde das Trevas, absorveram e dissiparam sua aura infernal.
Devimyuu observou a lamelída apanhada com os olhos semicerrados, seu semblante irradiando uma ira contida e feroz. Ele sabia que tal criatura asquerosa só poderia vir das profundezas mais obscuras de Vilhell, enviada pelos asseclas de Ghanog.
O semideus Arquemônio considerou tal presença como uma afronta direta. Seu poder sombrio começou a se intensificar ao redor, transformando a atmosfera em um miasma denso que parecia congelar o espaço. Com um gesto decidido, envolveu sua mão em uma chama negra brilhante, a erguendo num gesto brusco e criando um círculo mágico imenso que flutuava acima da lamelída.
O círculo pulsava com runas intricadas, enquanto uma coluna de pura escuridão desceu dele, envolvendo a criatura completamente. Não houve grito ou som além do chiado da energia dissolvendo a lamelída em partículas de sombra que foram imediatamente sugadas pelo próprio círculo. Sua magia definitiva não permitiria fuga ou sobrevivência.
O círculo desapareceu, e o ar voltou a se estabilizar conforme o rei semideus encerrava sua magia. No entanto, aquilo não era o fim para ele. Com os olhos ainda repletos de fúria, Devimyuu marchou até o Sombríage, atingindo o espelho com um chute violento assim que parou diante do mesmo.
O impacto do chute reverberou pelo salão, enquanto a superfície negra do espelho arcano rachou com um estalo profundo, e uma rede de fissuras se espalhou como teias de aranha, criando uma visão distorcida do reflexo do rei furioso.
— É muita ousadia mandarem seus vermes para me espionar dentro do meu próprio domínio! Primeiro ameaçam a minha filha, e agora isso?! Vocês já tem esse maldito espelho para me vigiar, e estou bem ciente do que colocarei em risco se não cumprir com a minha parte do contrato! Não pretendo fazer isso, da mesma forma que não pretendo permitir que tamanha audácia se repita novamente! Estou dentro do prazo para executar o ritual até o Solemn Hour, portanto, não ousem tentarem me espionar ou incomodar outra vez. Ou eu juro que terão um fim mil vezes pior ao que dei ao brinquedinho de merda que vocês enviaram!
Devimyuu bradou num tom ameaçador, que ao mesmo tempo exalava desprezo. Ele mal tinha terminado de proferir tais palavras quando o poder demoníaco do espelho entrou em ação.
As rachaduras começaram a emitir um brilho opressor, e a cada pulsação, as fissuras começaram a se fechar. O vidro amaldiçoado se fundiu novamente, expelindo um leve vapor sombrio que serpenteou no ar na conclusão de sua restauração.
Devimyuu estreitou os olhos, observando a superfície agora restaurada, que parecia ainda mais sinistra após o ataque. Com um último olhar frio e calculista, o rei semideus virou-se, com sua capa negra esvoaçando atrás dele, enquanto deixava o Santuário das Sombras após dar seu recado.
***
— Ousadia é a desse maldito Arquemônio herege que se atreveu a nos ameaçar! — Bradou Ciffermyuu em fúria.
No plano dimensional Vilhell, onde Ghanog se encontrava aprisionado junto a seus filhos demoníacos, seu primeiro descendente mortal e Rei dos Demônios observava a ameaça feita por Devimyuu atráves de uma das portas refletidas pelo Sombríage — aquela que conectava o espelho arcano amaldiçoado direto ao lugar de onde viera.
— Permita que eu ensine a ele uma lição, meu soberano pai!
Insistiu o Rei Demônio, inconformado.
Entretanto, Ghanog não estava atento a isso, pois no momento, algo maior havia despertado sua fúria.
— Cale-se, verme! — O deus supremo da Escuridão rosnou em fúria, fazendo Ciffermyuu estremecer, enquanto virava o rosto para a terceira presença que lhes acompanhava — E quanto a ti, maldita miserável! Não sei por quê fui dar ouvidos às tuas artimanhas falhas e estúpidas!
Samewramis — semideusa demoníaca do Pecado da Falsidade, e uma das filhas que Ghanog gerara com mortais nos tempos antes de seu aprisionamento — se contorcia no chão de mármore negro, com a respiração ofegante e entrecortada pelo impacto da dor que atravessava seu corpo. Seus dedos longos e garras demoníacas arranhavam a superfície fria enquanto suas asas despedaçadas tremulavam, espelhando a aflição que a dominava.
Cada centímetro de sua essência parecia queimar com a perda da lamelída, pois cada uma delas era uma extensão de seu próprio poder, e cada vez que uma delas era destruída, era como se uma parte de Samewramis fosse tortuosamente arrancada. Esse era o preço de manter tais criaturas no plano mortal, sendo para espionar ou criar cópias ilusórias perfeitas para enganar seus alvos.
No entanto, por mais lancinante que fosse, a sensação de dor que a atravessava não era nada se comparada ao sentimento de pavor causado pela figura imensa e avassaladora de seu pai, emanando uma aura sufocante e densa como o próprio vazio.
As íris rubras dentro de seus olhos como orbes brilhantes de trevas líquidas, fixavam-se na filha caída com desprezo absoluto. A sala ao redor tremia com a força de sua fúria, e até as tochas infernais que iluminavam o local oscilavam com suas chamas esverdeadas diminuindo, como se temessem a ira do deus supremo.
— Inútil! — sua voz ecoou, profunda e cortante como lâminas de ébano. O som era mais do que um grito; era uma sentença que fazia até mesmo as paredes da sala sombria estremecerem. — Te atreves a falhar diante de mim?! O que és, senão um fardo sem valor, Samewramis?! Um eco patético de um poder que deveria ter sido absoluto!
Samewramis tentou se erguer, mas a dor e o peso da presença do pai a esmagavam, mantendo-a no chão como um inseto insignificante.
— P-perdão, soberano pai... foi um descuido… — murmurou, sua voz quebrada, entrecortada por gemidos de dor — … não sei como a filha dele escapou, não imaginei que isso poderia aconte…
Mas Ghanog não permitiu que ela terminasse a frase.
— Descuido? — O deus riu, mas não havia humor em seu som gutural — Descuido é o que um mortal cometeria, não a filha de Ghanog, não a semideusa do pecado que deveria ser um reflexo da minha supremacia! Tu me envergonhas, Samewramis! Tuas lamelídas deveriam ser armas na escuridão, mas foram facilmente destruídas por aquele bastardo, e tu sequer pôde manter o controle sobre elas!
Com um gesto abrupto, Ghanog ergueu a mão, e a aura ao redor de sua décima filha mudou instantaneamente. Um poder avassalador a envolveu, erguendo a semideusa demoníaca do chão através de uma pura força sombria, como se correntes invisíveis a suspendessem no ar. Samewramis gritou, um som visceral e agudo que ecoou pelo salão, enquanto o poder do pai a esmagava por dentro.
— Soberano pai... eu... eu posso corrigir isso! Por favor, eu só... preciso de outra chance...
Samewramis implorou, segurando as lágrimas prestes a escorrer de seus olhos negros como tinta líquida.
— Eu poderia destruir-te agora mesmo e dar seu lugar ao meu lado a outro de minha prole que não me envergonhasse com tamanha incompetência!
Rosnou o deus da Escuridão, seus olhos brilhando com intenção mortal.
— Achei que fosse conseguir… Quando percebi que ele havia notado uma presença no santuário, desconhecendo que se tratava de sua própria cria, enviei a lamelída para que ele sentisse a manifestação de um poder malevolente e usasse seu feitiço de busca e constrição. Quando sua própria magia capturasse e ferisse a menina, aquele herege ficaria devastado. E quanto mais perturbado e carregado de culpa e energia negativa ele fica, mais suscetível ao teu comando e a influência das Sombras ele se torna. Eu só queria… ajudar a domá-lo para que não houvesse nenhum mínimo risco de erro quando Solemn Hour chegar e ele executar o rito de tua libertação de Vilhell, soberano pai… A filha dele não escapou sozinha, não poderia… Alguma coisa interferiu, mas hei de descobrir a procedência de tal força e garantir que não se repita… Dou-te minha palavra…
Samewramis sabia que ao tentar se justificar, cada palavra poderia ser sua última, mas o instinto de se defender mesmo perante sua falha ainda prevalecia.
Ghanog a observou com sua expressão implacável, e após um momento de silêncio carregado, ele a lançou fortemente contra o chão como um brinquedo quebrado. O impacto fez o mármore tremer novamente, e ela se curvou em agonia, abraçando-se para conter a dor.
— A palavra de um fardo inútil e vergonhoso como és não serve me de valia alguma — disse ele, sua voz fria como um túmulo — Mas saiba que se me decepcionar novamente, tua existência se extinguirá junto com tua utilidade para mim.
Com isso, o deus da Escuridão deu as costas, enquanto Samewramis permanecia ali, caída e humilhada, mas aliviada por ainda ter uma última chance.
Calado, num canto, Ciffermyuu havia observado com indescritível deleite o sofrimento de uma das meias-irmãs.
Ele se aproximou, com um sorriso vil e sádico em seu rosto.
— Não sei como nosso soberano pai ainda permite que a sirva como sua conselheira, enquanto vigia aquele bastardo herege pelo espelho. Ele deveria tê-la deposto há tempos, meretriz inútil.
Disse o Rei Demônio, impiedosamente pisando numa das asas de Samewramis, enquanto a mesma reunia as forças de seu poder regenerativo para tentar se levantar.
Samewramis cerrou os dentes pontiagudos enquanto sentia a pressão esmagadora do casco bifurcado de Ciffermyuu sobre sua asa destroçada. A dor era intensa, mas seus olhos brilhavam com fúria e determinação, fazendo uma risada baixa escapar de seus lábios, carregada de escárnio.
— Meretriz inútil? — sibilou ela, com um tom venenoso. — Vamos ver quem realmente é descartável aqui, irmão.
De repente, a atmosfera ao redor deles tremeu com uma energia maligna. Samewramis ergueu a mão mesmo com o peso de Ciffermyuu sobre si, e pronunciou em um sussurro gélido:
— Duo Veritas Falsa... despertem!
Duas lanças demoníacas negras como o vazio, materializaram-se nas sombras ao seu lado, pulsando com uma aura ameaçadora. Carregando a fúria voraz de sua empunhadora, ambas se moveram sozinhas, atacando Ciffermyuu. Uma cravou-se em seu ombro, enquanto a outra o empurrou para longe dela, obrigando-o a cambalear e soltar sua presa.
Samewramis se ergueu rapidamente, suas asas danificadas regenerando-se com um brilho sombrio. Ela segurou ambas as lanças, agora unidas como uma única arma mortal. Seu sorriso era perigoso, repleto de um ódio gelado.
— O pecado da Inveja deveria ser nosso irmão Mewbaal… Mas estás tão cego pela tua que chega a questionar a decisão de nosso pai? Sabes muito bem porque ele me colocou nesta merecida posição. Se não fosse por mim e meu poder ilusório, o Terceiro Arquemônio ainda estaria no mundo de nossos inimigos e ao lado de sua repugnante Luz. Afinal, a ilusão que enganou o detestável progenitor do Terceiro Arcanjo, fazendo-o acreditar que o filho adotivo foi morto diante de seus olhos, foi MINHA! Foi só por Odimyuus estar tão em choque e desestabilizado pela perda que você, possuindo o corpo daquele inútil do Mewpester, conseguiu matá-lo. E com isso, o verdadeiro Devimyuu achou que o pai adotivo jamais viera por ele, e a sensação de abandono só fez as Trevas crescerem em seu coração para ele poder agir a favor dos objetivos do soberano pai. E de quebra, os puros tolos do outro lado acreditam até hoje em sua morte, da mesma forma jamais tentando procurá-lo. Se ele está aqui, servindo a causa das Trevas hoje, é graças somente a MIM!
A semideusa da Falsidade bradou, não disposta a permitir que seu meio-irmão ferisse seu orgulho, sendo ele o Rei dos Demônios ou não.
Com um movimento ágil, Samewramis avançou, girando a lança dupla em um arco destrutivo. A lâmina cortou o ar com um silvo ameaçador, obrigando Ciffermyuu a se defender apressadamente com sua magia sombria. Porém, as sombras da lança pareceram se multiplicar, gerando cópias ilusórias que o cercaram por todos os lados.
Ciffermyuu rugiu de raiva e frustração, atacando inutilmente as imagens ao seu redor. Samewramis aproveitou a brecha, arremessando uma das lâminas diretamente contra o peito dele. A arma penetrou profundamente, fazendo-o recuar com um grunhido de dor.
O mesmo sorriso sádico de deleite que o macho esboçara há poucos minutos agora emoldurava os lábios negros dela.
— Você sempre foi arrogante, Ciffermyuu. Talvez seja hora de aprender o que acontece com aqueles que subestimam a filha preferida de nosso pai…
Enquanto falava, Samewramis fez com que a lâmina fincasse ainda mais profundamente em seu corpo, apenas para arrancá-la sem piedade em seguida, fazendo a carne pútrida se rasgar com o movimento, trazendo uma enxurrada de sangue negro derramando-se sobre o chão.
— Isso foi só um aviso — disse ela, aproximando-se, sua voz fria e calculada — Da próxima vez, não será apenas a sua soberba que sairá ferida. Um dia, ainda hei de tomar tua coroa, a arrancando de tua cabeça decepada. Quando a prisão de nosso pai terminar, a guerra de sua prole pelo trono começa. É bom que se lembre bem disso.
Samewramis ergueu a cabeça, triunfante, enquanto suas lanças desapareciam junto a ela, em um redemoinho de sombras.
Ciffermyuu, ainda cambaleando, regenerava o ferimento causado por sua irmã, enquanto seu rosto se contorcia, moldado pelo mais puro ódio. Sem dizer mais nada, só restou a ele se dissipar em uma nuvem de trevas, desaparecendo do salão.
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