10 - Entre Caos e Redenção
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— Ainda estávamos no antigo quarto de Devim quando ouvimos seu chamado telepático para todos os guardas, então viemos imediatamente!
Exclamou Diamewd, se aproximando afoita da nora.
— Que droga Mewthazar fez dessa vez?! — Mewhicann indagou, olhando intrigado para o redemoinho de energia descontrolado que cercava o felin se contorcendo no chão.
— Não é culpa dele, parece algum tipo de materialização do controle psíquico de Heimewdall! Subestimei o poder dele e do que sua influência maligna seria capaz! Pelo visto, não é só figurativamente que Mewthazar é seu fantoche, a mente dele está literalmente presa à vontade de Heimewdall! Quando Mewthazar começou a entrar em conflito com ela, isso aconteceu! Se não fizermos algo depressa, tenho medo que… que talvez Mewthazar não resista!
A aflição no olhar e a urgência na voz de Anmyuu eram evidentes, entretanto, Mewhicann não pareceu se compadecer. Com uma expressão inflexível, o macho reverso apenas cruzou os braços.
— Bom, ele sempre disse que morreria por Heimewdall. Parece que seu desejo enfim se tornará realidade… — Disse, sem poupar qualquer frieza.
Diamewd o encarou incerta. Seu rosto demonstrava que estava dividida entre concordar com sua nora ou tomar a mesma posição de Mewhicann.
Anmyuu entreolhou de um para o outro; ela sabia o motivo de ambos se sentirem assim, no entanto, também estava ciente de que os dois desconheciam de algo que somente ela, e agora Mewthazar, sabiam.
— Sogra, Magistrado, eu entendo sua hesitação, mas acreditem em mim, morrer por Heimewdall não é o desejo de Mewthazar! Tudo que ele quer é se livrar das correntes dele, do mesmo jeito que tentou há vinte anos, quando pediu desculpas ao Devimyuu e pediu a ele por mais uma chance!
Ambos arregalaram os olhos, encarando Anmyuu com uma expressão surpresa e ao mesmo tempo um pouco desacreditada e confusa. A rainha continuou:
— Imagino que não leram as últimas páginas do diário de Devim, não é? E eu entendo o motivo, o quanto isso seria doloroso para vocês. Mas essa é a verdade que trazem. Há muito tempo naquela noite, Devimyuu o compreendeu e perdoou. Ele acreditou que Mewthazar realmente queria mudar, por isso deu outra chance a ele. Se Devim foi capaz disso, não acha que cabe a nós fazer o mesmo? Lorde Mewhicann, o Devimyuu acima de qualquer um, acreditava na luz e na bondade que poderiam surgir mesmo das sombras mais profundas. Sei da escuridão que o assombra pela perda dele, mas o que acha que seu filho gostaria que fizesse? O que acha que ele faria se estivesse em seu lugar?
Ao ouvir o nome do filho sair dos lábios da Rainha Suprema, Mewhicann congelou por um instante. A frieza antes impenetrável em seu olhar vacilou. Ele não desviou o rosto de Anmyuu, porém, era perceptível que as palavras dela surtiram efeito.
Embora não tivesse convivido com Devimyuu, sabia que ele acreditaria naquela redenção. Há vinte anos, seu filho havia enxergado em Mewthazar a possibilidade de uma verdadeira mudança. Se Mewhicann o deixasse morrer agora, seria como se estivesse desperdiçando a segunda chance que Devim deu a ele naquela noite. E ele simplesmente seria incapaz de desrespeitar o legado honroso que seu filho deixou, e macular aquela lembrança dele.
"Devimyuu… meu filho… você sempre foi melhor que todos nós, e com certeza salvaria esse idiota, não é?" Mewhicann pensou consigo mesmo, enquanto respirava fundo de olhos fechados. Depois de mais alguns segundos de silêncio e um longo suspiro, ele ergueu a cabeça, se virando para Anmyuu.
— Se Devimyuu uma vez quis redimi-lo, acho que não posso ir contra a vontade do meu filho. Além do mais, se o desejo de Mewthazar morrer por ele é na realidade do próprio Heimewdall, esse é mais um motivo para eu não deixar que esse maldito vença…
Enquanto falava, o Magistrado Reverso deu um passo à frente. Seus olhos letais determinados, enquanto uma aura assombrosa emergia dele, pronto para convocar seu verdadeiro poder sombrio.
— Pois muito bem, vamos acabar com isso! — exclamou, estralando os dedos com o punho fechado, enquanto o acertava com força contra a palma da outra mão.
Citar qual seria a vontade de Devimyuu também surtiu efeito em Diamewd. Ela sabia que Anmyuu não poderia estar mais certa, afinal, como a mãe que o criou com todo o amor e devoção por onze anos de sua vida, era a pessoa quem mais conhecia Devimyuu ali. Realmente, havia lhe faltado coragem para ler o diário, mas não precisava confirmar por si mesma para ter certeza de que dar a Mewthazar uma segunda chance, era algo que Devimyuu faria. E perdoá-lo também.
Sendo assim, a rainha-mãe também deu um passo à frente, colocando-se em posição de ação ao lado de Mewhicann.
— Também vou ajudar. Posso envolvê-lo numa cúpula diamantada fortificada por uma barreira telecinética, para conter as ondulações psíquicas. Não vamos pará-las a princípio, mas pelo menos, será uma contenção de danos externos!
Diamewd sugeriu, no que poderia ser um uso eficaz dos poderes provindos de sua biotipagem dupla de Cristal e Psíquico.
Anmyuu tentava pensar rápido, avaliando a sugestão de sua sogra enquanto cada milésimo de segundo crucial se passava. Em meio aos estilhaços da janela estourada, móveis sendo arrastados, e os guardas tensos e incertos, ela olhou novamente para Mewthazar em sua agonia devastadora. Ele estava ficando sem tempo.
— Isso poderia conter os efeitos das ondas no ambiente, mas, também as confinaria sobre Mewthazar. Eu sinto que o subconsciente dele está lutando desesperadamente pra tentar expulsá-las, se fizermos isso, será como empurrá-las de volta! Desse jeito, iremos condená-lo e definitivamente perdê-lo!
A Rainha Suprema explicou em aflição.
— Certo, então, qual é o plano, majestade?!
Mewhicann questionou, a encarando.
Diamewd também olhava para ela, esperando a orientação de como deveriam agir. Era compreensível que aguardassem pelo aval de Anmyuu para tomarem qualquer ação, pois além de ser a Rainha Suprema, ela era uma estrategista, — a Estrategista Real — e seus planos minuciosamente calculados geralmente eram livres de qualquer falha.
No entanto, diferente de outras situações de crise que enfrentara com firmeza, uma tensão atípica a dominava. Suas mãos tremiam, seu coração batia forte demais, acelerado não apenas pelo caos ao seu redor, mas pelos hormônios que bagunçavam seu corpo. Ela mal conseguia respirar, cada fôlego se tornava um esforço consciente, e a sensação de fragilidade a irritava profundamente. "Por que logo agora?!" pensou, sentindo o peso da realidade de sua gravidez não planejada e a ansiedade crescente a respeito, que a acompanhava.
Jamais se sentiu despreparada para lidar com crises, porém, agora tudo parecia amplificado. O rugido das energias psíquicas em colapso, as vidraças trincando, os móveis sendo arrastados pelo vento violento provocado pelo poder instável; e Mewthazar em meio a tudo àquilo por algo que ela sentia ser sua responsabilidade — tudo parecia um pesadelo do qual não conseguia escapar.
Anmyuu piscou rapidamente, lutando contra as lágrimas que ameaçavam surgir. Ela não podia se dar ao luxo de perder o controle agora, não no meio de tanto caos. Mas o impacto emocional de estar gestando novamente atrapalhava seu raciocínio, intensificando seu nervosismo e fazendo-a questionar sua capacidade de proteger não apenas Mewthazar, mas também a todos ali presentes, incluindo a si mesma e ao futuro bebê que mal sabia se queria.
"Pare com isso e concentre-se, Anmyuu!" disse a si mentalmente, forçando-se a manter o foco, mesmo com a maré de emoções conflitantes. Após respirar o mais profundamente que poderia, ela se obrigou a suprimir as lágrimas que teimavam em querer verter por seus olhos, e encarou Mewhicann com uma expressão imperativa.
— Magistrado Mewhicann, Kinmyuu contou que o senhor foi um dos melhores agentes de campo da O.R.A.C.L.E. Sendo assim, presumo que tenha experiência em lidar com situações desse tipo, estou certa?
— Bem, sim. Na realidade, uma crise desse nível seria considerada uma missão para agentes iniciantes…
Respondeu Mewhicann, imaginando onde a Rainha queria chegar.
— Então eu peço que por favor, tome a frente nas decisões da melhor forma de contê-la. Creio que sua experiência e suas habilidades em magia serão mais do que suficientes. Estarei contando com o senhor.
Mewhicann ergueu uma sobrancelha, intrigado.
— Tem certeza? Meu modo de lidar com as coisas pode ser um tanto… intenso. Você é a rainha e a estrategista real, talvez possa pensar em meios eficazes menos radicais que os meus.
Diferente da expressão de Mewhicann que trazia dúvida, o olhar de Anmyuu mostrava toda sua certeza sobre aquela decisão.
— A estratégia mais eficaz para esse momento, é deixar isso nas mãos de alguém com mais experiência do que eu. Não teremos uma segunda chance se falharmos, e sei que o senhor não vai, independente de seus métodos serem radicais ou não. Situações drásticas pedem medidas drásticas, e estou confiando plenamente nas suas!
Após tal declaração, não restava mais dúvidas para Mewhicann. Se era o que a Rainha Suprema desejava, ele assumiria o controle da situação.
— Se é o que quer, que assim seja então! — Ele imediatamente se virou para Diamewd — Rose, eu vou enfraquecer e dispersar esse maldito campo de força! Assim que eu o fizer, preciso que crie quatro obeliscos de cristal retentores de emoção, os posicione ao redor de Mewthazar e ative-os imediatamente!
— Certo, mas, o campo está envolto por uma barreira telepática que repele tudo num limite de alcance cada vez maior, acha que consegue mesmo dispersá-lo? Não posso deixar que nada afete a captação de emoções dos cristais, ou invés de acalmar, terão o efeito contrário!
— Não se preocupe, eu tenho exatamente o que preciso para lidar com isso.
Mewhicann fechou os olhos por um breve instante, sentindo a já familiar pulsação mágica correr por suas veias, com seu um coração sombrio batendo em sintonia com o caos ao redor. A urgência do momento não o abalou; ele estava acostumado a agir sob pressão, e era quase revigorante convocar seu poder no calor do perigo.
Com um gesto firme de suas mãos, ele traçou um símbolo de conjuração no ar, deixando um resquício de brilho esverdeado enquanto simultaneamente, um círculo mágico em chamas negras surgiu, se expandindo no chão sob seus pés.
— Armoria Nocturne: Abra-se.
Assim que o felin bruxo proferiu tal comando, os símbolos no interior do círculo refletiram um brilho profundo de ébano, e levitante bem no centro dele, surgia um portal, revelando em seu interior um pequeno espaço composto de magia dimensional. O anel de sombras líquidas que o circundava girava lentamente, exalando sua aura de poder sombrio, enquanto o portal parecia uma cicatriz no tecido da realidade, dando acesso ao vasto arsenal que apenas Mewhicann podia comandar.
Diamewd e Anmyuu observavam sem palavras. No interior do portal, podiam notar vislumbres de silhuetas de lâminas afiadas, bestas e rifles, todas compostas de uma energia etérea, cintilando brevemente antes de se dissiparem nas sombras, como exibidas num mostruário para que Mewhicann fizesse sua escolha.
Diamewd também notou que, através da manga arregaçada do sobretudo de Mewhicann, o brilho negro das runas tatuadas em seu braço pulsavam no mesmo ritmo que o círculo mágico, se tornando mais translúcidas ao passo que as glifos do círculo se intensicavam a cada segundo, enquanto ele estendia a mão através do portal.
A habilidade pessoal de sua magia de reequipar se manifestou instantaneamente, envolta por um vendaval sombrio. Um clarão reluzente o cobriu, como se as sombras tomassem forma ao seu redor quando a arma escolhida emergiu do portal: um rifle de longo alcance esculpido em metal negro, adornado com runas pulsantes e feixes de luz roxos que corriam pela superfície, como veias de puro poder sombrio.
Na mesma intensidade que se mostrou impressionada, por um instante, Diamewd acabou ficando ligeiramente preocupada.
— Hic, querido, seus métodos radicais não incluem… atirar no Mewthazar não, né? — Perguntou duvidosa, achando melhor se certificar.
Um discreto sorriso charmosamente vil emoldurou os lábios de Mewhicann por uma fração de segundo. Com certeza, ele havia se imaginado realmente fazendo isso.
— Não. Essa belezinha aqui é um Disruptor Psíquico Umbral. Um rifle de energia mágica projetado para suprimir e dispersar campos psíquicos inimigos. As balas de etérima carregadas pela minha magia se convertem de acordo com o padrão das ondas psíquicas, mas criando uma força oposta que quebra suas correntes de efeito. Com a quantidade certa de tiros, eu posso desfazê-lo.
Mewhicann então direcionou seu olhar para Mewthazar e franziu o cenho ao observar o caos psíquico que o envolvia. As ondas de energia instável distorciam o ar ao redor, começando a rachar algumas das colunas do salão e fazendo as paredes tremerem. Ele sabia que precisava agir rápido.
O cano da arma mágica brilhou quando Mewhicann se colocou em posição de atirador, com seus olhos fixos no campo de energia que circundava Mewthazar. À medida que o segurava firmemente, uma pequena esfera brilhante emergiu da lateral do rifle, movendo-se suavemente no ar até se posicionar diante de seu olho esquerdo. Era um círculo mágico de mira repleto de sigilos flutuantes, que sutilmente se conectava com sua visão, ajustando-se até mesmo a sua respiração e ritmo cardíaco. Tudo para garantir a precisão única de seus disparos.
A concentração de Mewhicann era absoluta, quase como se ele se limitasse a até mesmo respirar. Qualquer um que o observasse daquela maneira diria que seus dias como o melhor agente secreto da organização O.R.A.C.L.E jamais se encerraram de fato.
Anmyuu rapidamente percebeu que a arma estava ligada a Mewhicann, e que portanto, seu foco total era crucial para que o plano fosse bem sucedido. E um ambiente caótico onde um vendaval paranormal fazia janelas tremerem, móveis serem arrastados e o gigantesco lustre do teto balançar violentamente ameaçando cair a qualquer segundo, de certo dificultaria qualquer tipo de concentração. Por mais habilidoso e preparado que Mewhicann fosse, quanto menos distrações houvessem, maiores seriam suas chances de vitória.
Sendo assim, a rainha se virou imediatamente para a guarda.
— Guardas, escutem! Preciso que se dividam em dois grupos! Quero metade de vocês usando seus escudos para criar uma barreira em volta do Magistrado, não deixem que nada o atinja! Quanto aos outros, usem sua telecinese para manter parados móveis, quadros e tudo mais que estiver se movendo para que nada atrapalhe ou bloqueie o curso dos tiros no campo de força!
— Sim, majestade! — A horda de soldados leais exclamou em uníssono, seguindo as ordens dela prontamente.
Mewhicann rapidamente desviou o olhar em direção a Anmyuu, num assentir leve de cabeça como agradecendo. Nada poderia impedi-lo agora.
Com um olhar afiado e calculado, o magistrado bruxo começou a ajustar a mira da arma. Ao fazer isso, uma série de círculos mágicos começou a se formar na ponta do cano do rifle. Eles surgiam em sequência, pequenos e brilhantes, como anéis flutuantes de poder crescente, sincronizados com cada tiro que ele pretendia disparar. O som suave da energia mágica sendo canalizada enchia o ar, com cada círculo mágico vibrando pulsante, enquanto se preparavam para a descarga.
Mewhicann respirou fundo e travou a mira. Cada um dos círculos mágicos na ponta do cano se deslocou à frente, fixando-se no ar e marcando com precisão os pontos onde o rifle atingiria o campo de força psíquico. Pequenos flashes de luz arroxeada surgiram nas marcas, onde os disparos arcanos quebrariam o fluxo de energia. As balas etéricas estavam prontas para disparar.
E então ele puxou o gatilho. Numa fração de segundo, o primeiro disparo de etérima foi liberado através de uma rajada de energia pura envolta em sombras. O projétil mágico atravessou o ar com um silvo agudo, sua velocidade impossível de acompanhar a olho nu. O impacto contra o campo de força ao redor de Mewthazar foi violento e preciso, gerando uma explosão de faíscas roxas e ondas de distorção.
Em outro movimento fluido e veloz, Mewhicann disparou novamente, e mais um tiro ecoou pelo salão, acompanhado pelo brilho fulminante dos círculos mágicos que permaneciam fixos no ar. Cada tiro encontrava seu alvo como se o tempo estivesse ao lado do Magistrado, desintegrando o campo de força em segmentos, fazendo a barreira psíquica tremer sob intensa pressão. Mais dez disparos sucederam-se em uma dança quase coreografada: as explosões de luz violáceas enchiam o ambiente a cada impacto, e o som das ondas de choque reverberava por toda a sala do trono.
A cada impacto, o campo de força se fragmentava um pouco mais, suas ramificações violetas, antes densas e opressoras, começavam a rachar e despedaçar como uma teia de energia prestes a ceder. Os feixes de luz dos disparos de Mewhicann deixavam rastros em seus caminhos, e as marcas circulares flutuantes no ar serviam como guias para cada um de seus tiros perfeitos.
Cada disparo reverberava pelo salão, suprimindo as ondas caóticas com uma precisão mortal. O ambiente tremia menos a cada segundo, enquanto as sombras conjuradas através da arma absorviam parte da energia devastadora. Até que, as rachaduras nas vidraças pararam de se expandir, e o vendaval que tomava o lugar começou a diminuir gradativamente.
Quando o décimo terceiro tiro atingiu seu alvo, o centro do campo de força emitiu um estalo profundo e, em um último lampejo, explodiu em mil fragmentos de luz roxa, como cacos de vidro mágico dispersos pelo ar. A barreira psíquica que aprisionava Mewthazar foi obliterada, e as violentas ondulações ao redor dele cessaram, deixando um silêncio quase ensurdecedor em contraste com o caos que havia preenchido o espaço momentos antes.
Mewhicann abaixou o rifle lentamente, observando o resultado de sua precisão implacável enquanto o ambiente ao redor começava a se acalmar. Mas sua missão não havia terminado. Ainda não podiam declarar a vitória de Mewthazar estar a salvo.
— Agora Rose! — ele exclamou, virando-se para ela com uma expressão confiante.
Sem perder tempo, Diamewd avançou com determinação, os olhos fixos no corpo de Mewthazar, que ainda sofria pequenos espasmos e tremores. Os movimentos da rainha-mãe demonstravam urgência, mas ao mesmo tempo, uma graça fluida e controlada.
Ela então ergueu as mãos em um gesto preciso, como se estivesse prestes a dançar, com os braços formando curvas elegantes enquanto girava levemente o corpo. Cada movimento seu carregava uma força sutil; o ar ao seu redor pulsando com a energia que ela invocava.
Com um giro suave de seu pulso, os dedos de Diamewd desenharam no ar pequenos traços de luz que cintilaram brevemente antes de desaparecerem. Em resposta ao comando silencioso de sua mente, os primeiros obeliscos de cristal começaram a se formar no chão. Os diamantes surgiram, materializando-se a partir do poder que emanava dela, brilhando em tons iridescentes de azul e branco, com uma pureza quase etérea.
Num próximo movimento, Diamewd fez uma leve ondulação com o quadril, como se seu corpo estivesse em sintonia com o ritmo de uma música invisível. Outro obelisco emergiu, desta vez com um som suave, como o tilintar de vidro se formando. Ela continuava a traçar círculos delicados com as mãos, enquanto os pulsos acompanhavam a coordenação de seus movimentos como numa dança do ventre, combinando precisão e delicadeza. Cada gesto dela evocava uma nova estrutura cristalina que brotava do chão ao redor de Mewthazar, formando lentamente um losango de obeliscos estabilizadores.
Os quatro obeliscos, altos e majestosos, brilharam intensamente ao redor do corpo de Mewthazar, com a energia contida dentro deles se conectando com fios de diamante entre os cristais. Por fim, Diamewd deu um último passo, finalizando sua sequência com um gesto circular que reuniu as mãos em frente ao peito, fazendo com que seu poder se selasse. A formação de cristal pulsou uma última vez, emitindo uma onda suave de tranquilidade que se espalhou pelo ar.
Com os obeliscos ativados, a aura psíquica opressora que ainda restava em Mewthazar foi dissolvida, seus espasmos diminuindo até cessarem por completo. As propriedades estabilizadoras dos diamantes começavam a agir, acalmando sua mente e suas emoções aos poucos. Diamewd observava de perto, mantendo sua postura firme, mas com a graciosidade digna de sua ascendência cristárabe.
Anmyuu rapidamente se aproximou, chegando a tempo de ver as íris cor magenta de Mewthazar tornarem a aparecer no branco de seus olhos outrora vazios, poucos instantes antes que ele os fechasse. A rainha então se abaixou, apoiando delicadamente a mão sobre a testa do felin mago e fechando os olhos. Sua respiração era calma e reconfortante, quase como um bálsamo de acolhimento e restauração, enquanto ela evocava seu poder de cura, desfazendo qualquer efeito colateral físico que a dominação que sofreu poderia causar em seu corpo.
Todos no salão puderam respirar novamente, mal acreditando que todo caos instalado havia finalmente cessado. Reunidos ao redor de Mewthazar — que se mostrava inconsciente, mas pelo menos não mais sofrendo — Diamewd, Mewhicann e Anmyuu se entreolharam, com o alívio tomando o lugar das expressões antes focadas e tensas em seus rostos. Juntos, a Rainha, o Bispo e a Torre, enfim haviam triunfado.
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