01 - Carrossel de Memórias
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A Rainha Suprema havia partido de Darkelvania. Com um plano de ação e as engrenagens do destino movendo-se ao seu favor, queria colocá-lo em prática o mais rápido possível. Anmyuu deixou a residência da ministra vampira do mesmo jeito que chegara — através de uma “carona” divinal com o sogro anjo de ambas, deixando a garantia de que manteria a amiga informada sobre cada passo tomado a partir dali.
O sol tímido sobre o céu vermelho já seguia iluminando gentilmente toda a extensão da capital do reino vampírico. Através de uma pequena fresta das cortinas de veludo púrpura, seus raios invadiam o quarto de Mewrogue, criando uma dança de sombras suaves sobre o papel de parede em estilo vitoriano que decorava o lugar.
Deitada em sua cama, com um olhar distante, ela encarava o dossel acima de si, cujo tecido carmim bordado fazia conjunto aos lençois onde a vampira se remexia, simplesmente incapaz de pegar no sono.
Era justificável devido aos eventos recentes, junto a ansiedade e expectativa a respeito de como as coisas se desdobrariam a partir dali. Levou vinte anos, mas enfim, a justiça pela perda de seu amado se aproximava. Confiava plenamente na capacidade estratégica de Anmyuu e sua posição vantajosa como governante suprema; sabia que dessa vez, o detestável Heimewdall não conseguiria escapar da verdade ou distorcê-la ao seu favor.
E ela era parte disso; o estopim que faria com que os culpados finalmente pagassem. Todo seu tempo, sua dedicação, os dias que passou acordada e até mesmo os momentos em que poderia ter colocado sua carreira em risco por aquelas informações — nada disso fora em vão. E agora que estava tão perto de alcançar seu objetivo, Mewrogue não poderia estar mais certa das decisões que havia tomado. Faria tudo de novo, se preciso. E faria tudo mais que estivesse ao seu alcance para que junto a Anmyuu, trouxesse o desfecho que tanto os portadores de seu amor quanto os alvos de seu ódio, mereciam.
A vampira se virou de lado. Encarou o retrato sobre a cômoda de mogno escuro, próxima a cama, onde havia uma fotografia emoldurada dela junto ao seu amado Devimyuu. A ocasião era o memorável baile de Bodas de Cristal de Odimyuus e Diamewd, em celebração aos 15 anos de casamento do Rei e Rainha Supremos.
Na foto, o adorável casal adolescente estava abraçado debaixo de um arco de flores brilhantes, cujas pétalas pareciam gemas preciosas. Vestiam lindos e elegantes trajes cheios de pompa e realeza. Rogue estava, literalmente, como uma princesa, já que sobre sua cabeça, havia até mesmo uma delicada coroa de prata e brilhantes, adornada com pequenos rubis nas pontas — um presente dado pelo namorado príncipe, em seu último aniversário.
A felin vampira chegou a suspirar com essa lembrança. Aquela havia sido, de fato, uma noite mágica. No entanto, era assim que ela se sentia todas as noites que passava ao lado de seu primeiro e único amor.
Mewrogue inspirou novamente, voltando a encarar as camadas do dossel acima de si. Esticou a mão direita, onde no dedo anelar repousava um anel da mais pura prata, com uma gema em formato de meia lua, destacando-se na joia. Com os olhos fixos na pedra, virou as mãos suavemente, observando o tom precioso mudar de ametista para rubro, e em seguida refletir um suave contorno em tom de azul brilhante, conforme os feixes da luz matinal o atravessavam.
— Falta pouco agora, meu amor. Myz e eu vamos fazer com que aquele maldito pague muito caro por ter escolhido não salvar você e seu pai naquela noite. Eu finalmente vou cumprir a promessa que fiz de trazer a justiça que vocês merecem. E um dia, de algum modo, quando enfim estivermos juntos de novo, eu poderei te dizer que consegui…
Uma lágrima chegou a deslizar pelo canto de seus olhos, que seguiam fixos na gema de lua. Permaneceu assim por alguns instantes que pareceram congelados no tempo; enquanto as íris marcantes da vampira seguiam encarando a pedra no centro do anel. E de repente, foi como se todos os seus pensamentos inquietantes aos poucos se acalmassem. Há poucos instantes se sentia como se estivesse cercada por uma maré agitada, que agora se transformava numa reconfortante lagoa calma. Os músculos relaxaram, ela respirava profundamente, e as pálpebras com seus longos cílios charmosos pareciam cada vez mais pesadas.
Nunca falhava. Não importa o quão angustiada estivesse, olhar para seu anel e refletir em seu tamanho significado, sempre a fazia mergulhar no mesmo sentimento que tinha quando aquele que a presenteou com o tal anel a abraçava. Por muito pouco de adormecer, ela trouxe a mão para próximo ao rosto e encostou a joia encantada em seus lábios, depositando um beijo suave na pequena lua de ametista, em seguida a repousando em seu peito sobre o coração. O sono havia a embalado, e a melhor parte para Mewrogue era saber que, toda vez que fechava seus olhos dessa forma, ele seria o primeiro que veria quando os abrisse novamente em seus sonhos.
***
Suas botas de salto plataforma e lacinhos góticos nos calcanhares pisavam suavemente na alameda central, enquanto sua versão de apenas 15 anos, saltitava sobre a camada espessa de folhas mortas e trepadeiras que se enroscavam nos postes de luz apagados há anos.
Na calada da noite, apenas a lua cheia iluminava os loopings enferrujados da montanha-russa, cujos trilhos de ferro mais pareciam serpentes retorcidas em meio à vegetação invasiva. Alguns carrinhos, cobertos de musgo e ferrugem, permaneciam imóveis no alto das colinas de madeira podre, como se aguardassem eternamente os passageiros que jamais retornariam. O vento passava assobiando por entre as estruturas, produzindo um som assombroso que ecoava ao longe, lembrando gritos de euforia transformados em lamentos.
O velho parque de diversões Bloodmoony, outrora um refúgio de alegria em seus dias de glória, agora jazia em um silêncio profundo, envolto por uma aura de mistério e abandono. Mas para eles, o parque não era um lugar de medo, mas de fascínio e aventura. Um refúgio secreto — seu lugar especial.
Mewrogue nunca se cansava de apreciar a paisagem desolada pelo tempo e a decadência, moldando um cenário que ecoava as lembranças fantasmagóricas de um passado distante. Com um brilho nos olhos vermelhos, via beleza no que outros poderiam considerar apenas ruínas.
Ela se movia com sua graça vampírica entre as atrações decadentes, sentindo o vento noturno soprar através dos cabelos cor de vinho e violeta, enquanto seus ouvidos aguçados captavam cada som, procurando pelo riso distante de um certo príncipe.
Mesmo em seu sono profundo, uma parte de seu subconsciente como adulta estava ciente de que sonho era aquele. E não se tratava de apenas um sonho, exatamente. Eram sempre lembranças de momentos que passou com ele. Vívidas em sua memória como um filme que a transportava diretamente ao passado, um passado do qual, muitas vezes, ela gostaria de não ter que acordar…
Por todo o parque, a vegetação tomara conta, com árvores e arbustos crescendo entre as fendas do concreto e cobrindo as estruturas remanescentes. Plantas carnívoras, típicas do reino dos vampiros, espreitavam com suas bocas afiadas, adicionando um toque sinistro ao cenário já assustador, que há algumas décadas costumava abrigar fantasmas e espíritos de antigos visitantes que se recusaram a partir.
— Hmm… onde será que você está? — Ela chamava num tom divertido, desafiador, sua voz ecoando entre as estruturas abandonadas.
Não havia resposta além do lamento distante da grande montanha-russa. Mewrogue caminhou até lá, passando por debaixo da velha catraca enferrujada e emperrada.
Parou na estação de partida e admirou os carrinhos estacionados, em sua espera eterna por passageiros que jamais viriam; com suas formas de morcegos rechonchudos sedentos por suas vítimas. A tinta estava lascada e desbotada, algumas partes deformadas pelo tempo, e seus bancos cobertos de poeira, musgo e ferrugem.
Sem se importar nem um pouco com isso, a jovem vampira pulou dentro de um deles, sentindo um arrepio de excitação ao se lembrar do passado mal assombrado que aquele brinquedo carregava. Foi se equilibrando, divertidamente saltando de carrinho em carrinho até subir nos trilhos, onde poderia ter um ponto mais abrangente de observação.
— Caramba… ele tá ficando muito bom nisso — disse consigo mesma — Só lembra que não vale usar a sua magia pra se esconder, hein xuxu!
Ela exclamou com um sorriso arteiro, enquanto olhava ao redor, esperando vislumbrar alguma silhueta familiar.
Teve a impressão de ver o rastro de uma sombra se movimentar furtivamente em direção ao velho carrossel. Sem perder tempo, resolveu correr até lá, usando suas habilidades vampíricas para se mover rápida e livremente pelo manto da noite.
Ela adorava o aspecto mórbido em que o carrossel se encontrava; como um cemitério de cavalos mecatrônicos despedaçados, com suas crinas uma vez esvoaçantes agora emaranhadas e puídas, e os olhos, antes brilhantes, apenas cavidades vazias que pareciam observar os intrusos com uma fixidez inquietante.
A vampirinha gostava de imaginar que suas almas mecânicas também se tornaram fantasmas, ou que pelo menos, tivessem sidos possuídos por algum, nos tempos de assombro do parque.
Ela se dirigiu até um unicórnio desbotado de chifre partido, que podia jurar que a observava com olhos vazios. Passou a mão pela crina mofada dele e apoiou-se em seu torso de fibra trincado.
— Oi, amiguinho! Será que por acaso você viu um lindo príncipe mago se escondendo por aqui? — Perguntou ao unicórnio pavoroso, rindo para si mesma sabendo que a resposta não viria.
Porém, parou quando, ao longe, um som leve e praticamente inaudível para qualquer felin que não fosse um vampiro, captou sua atenção.
Sorrindo pela emoção de persegui-lo, Mewrogue correu em direção ao som, passando pelo espelho d'água da fonte que costuma enfeitar o centro da antiga praça de alimentação. O monumento agora era como um pequeno pântano estagnado coberto de limo verde, num contraste entre a beleza da lua refletida ali e a decadência da água parada.
— Deeeeviiiii! — cantarolou — Sabe que não pode se esconder para sempre. Você é a presa dessa vampira, e eu sempre vou encontrar você.
Disse com um sorrisinho ladino sobre as presas, sua voz ecoando com o vento.
Rogue avançou para a temida casa dos espelhos, um de seus lugares favoritos. As rachaduras e o pó nos espelhos projetavam imagens distorcidas que a divertiam. A cada passo via os reflexos grotescos e distorcidos e sorria, se lembrando-se dos sustos que Devimyuu e ela davam um no outro ali.
Caminhou lentamente pelo labirinto de reflexos partidos, onde as sombras projetadas pela luz do luar através das falhas no teto pareciam mover-se com vida própria, como se os fantasmas que assombraram o parque décadas atrás ainda espreitassem.
Com os sentidos vampíricos apurados pelo noturno, sentia a presença de Devimyuu cada vez mais próxima, quase como se pudesse ouvir as batidas de seu coração bombeando sangue quente por todo seu corpo. Isso a fez sorrir.
Guiada por seus instintos, Rogue finalmente chegava à roda-gigante. Sua estrutura imensa era agora um esqueleto enferrujado adormecido, dominando o horizonte. As cabines balançavam suavemente ao vento, rangendo em uma sinfonia que a jovem vampira achava encantadora.
Com um único salto gracioso, subiu despreocupadamente numa delas, olhando a vista do parque desolado abaixo. A lua cheia iluminava tudo com um brilho prateado, revelando as trepadeiras que cobriam as estruturas e as plantas carnívoras espreitando nas sombras.
E então, ela o viu – Devimyuu surgiu emergindo da escuridão, com uma expressão travessa no rosto.
— Aí está você! — Sussurrou para si mesma. Com um sorrisinho expectante, esperou pelo momento certo e então, saltou da cabine se lançando sobre ele.
Devimyuu a segurou em seus braços, fazendo-a girar num abraço em rodopios graciosos. A risada de ambos ecoava pelo lugar, enchendo aquele cemitério de lembranças com a mesma alegria momentânea que um dia habitou ali.
— Você tem razão, jujubinha. Eu sei que sempre vai me encontrar — disse Devimyuu, exibindo um sorriso charmoso — E como você me achou, aqui está o seu prêmio…
Ele então puxou Mewrogue para um beijo digno de um conto de fadas. Ela retribuiu, desfrutando da liberdade de poderem ser um pouco mais atrevidos do que quando estavam na escola, em público, ou pior ainda, na frente de seus pais.
Seu príncipe segurou em sua mão com firmeza e um sorriso enigmático lhe surgiu nos lábios.
—Tenho uma surpresa pra você. Vem comigo! — disse ele, guiando-a animadamente pelo parque deserto.
Seguiram de volta pela alameda central. No caminho, exploravam cada canto escuro, brincando de esconde-esconde entre as ruínas de atrações decaídas. Bloodmoony era seu playground secreto, onde podiam se ver livres das responsabilidades e olhares dos adultos.
Somente o som rítmico de seus passos esmagando as folhas mortas que cobriam o chão podia ser ouvido pela noite, ecoando em harmonia com os risos do jovem casalzinho apaixonado.
Finalmente chegaram ao seu destino; de volta ao carrossel condenado. Mewrogue parou de caminhar e encarou o namorado com curiosidade. Havia um brilho de excitação nos olhos de Devimyuu, que se afastou alguns passos e estendeu uma das mãos em direção ao brinquedo decaído. Uma aura mágica em tons de azul e roxo começou a emanar dele. Rogue observava tudo fascinada, enquanto Devim sussurrava seu feitiço.
Glifos emanando um brilho semelhante ao da aura de magia de Devimyuu acenderam em alguns pontos na estrutura do mecanismo central coberto de ferrugem, e também sobre o painel de controle destroçado.
De repente, a velha atração ganhou vida. As luzes começavam a piscar erraticamente, algumas falhando e outras acendendo com um brilho fraco e intermitente. O som da música do carrossel, distorcido pelo tempo e pelos anos de abandono, passou a ecoar pelo parque como uma melodia assombrada; uma canção vinda de um sonho esquecido.
Os cavalos do brinquedo, embora quebrados ou lascados, começavam a se mover lentamente, subindo e descendo em seus mastros enferrujados, como num baile de animatrônicos mortos.
O carrossel inteiro rangia despertando de seu longo sono, e o som do mecanismo enferrujado acabava se misturando com a música distorcida, criando uma sinfonia ao mesmo tempo medonha e encantadora.
Mewrogue assistia àquele espetáculo com os olhos brilhando.
— Então você não estava só se escondendo aqui! Era isso que estava planejando, não era? É maravilhoso, Devi!
Ela exclamou, sentindo-se tomada por uma mistura de emoções. O carrossel, mesmo em sua decadência, tinha um charme sombrio que encantava a jovem vampira.
Sorrindo abobalhado por obter a reação deslumbrada que ansiava dela, Devimyuu lhe estendeu a mão.
— Me concede essa dança, milady? — perguntou com um olhar travesso de expectativa.
Rogue imediatamente tomou a mão dele, e juntos, começaram a girar suavemente ao som da música do carrossel. A luz piscante das lâmpadas criava sombras oscilantes ao redor, iluminando brevemente os rostos dos dois antes de mergulhá-los novamente na penumbra.
Os pobres cavalos decrépitos se moviam ao ritmo da melodia distorcida, como se, felizes, fizessem seu esforço máximo por aquela última dança. Os sons rangentes do carrossel se misturavam com a música, criando uma atmosfera surreal, enquanto o vento noturno passava através da estrutura, adicionando um toque de frio e mistério ao ambiente.
Rodopiando nos braços de Devim, Mewrogue sentia o coração acelerar. A forma galante como a conduzia, exalando toda sua confiança e amor, fazia com que tudo ao redor desaparecesse. Ali era seu mundo próprio, onde não existia nada além deles, vivendo seu doce conto de fadas noturno.
— Isso está perfeito — Rogue sussurrava, olhando nos hipnotizantes olhos dourados de Devimyuu — Perfeito como você — ela completou.
Ele sorriu, puxando-a mais para perto.
— Nada é mais perfeito do que você, minha princesa.
Continuaram a dançar até que a música acabasse, rodopiando em meio ao carrossel ressuscitado, onde cada luz piscante e cada nota distorcida só intensificava o encanto do momento.
Até que o carrossel começou a desacelerar, com a magia de Devimyuu gradualmente cessando. As luzes piscavam mais devagar, com algumas se apagando completamente, mergulhando o ambiente em sombras oscilantes, conforme a música distorcida do carrossel foi diminuindo e as últimas notas ecoando um sussurro nostálgico pelo parque.
O movimento dos cavalos tornou-se mais irregular, subindo e descendo lentamente até parar completamente. O rangido do mecanismo enferrujado se suavizou, e o carrossel enfim cessava todo movimento, voltando ao seu sono eterno.
Com um sorriso carinhoso, Devimyuu puxava sua amada para um último giro antes que a música se fosse completamente, concluindo a dança com um beijo apaixonado; suas respirações sincronizadas no silêncio que voltava a envolver o parque.
Mewrogue sorriu; seus olhos de rubi brilhavam com a emoção do momento.
— Essa foi uma das surpresas mais incríveis que já fez pra mim. Muito obrigada, xuxu, eu adorei! — Disse a jovem vampira, acariciando suavemente o rosto dele, afastando um pouco uma das mechas caídas dos cabelos negros que ela tanto adorava.
— Ah, era o mínimo que eu poderia fazer, já que vou ficar uma semana longe da minha vampirinha… — ele pareceu um pouco consternado ao dizer isso, porém, logo fez seu ânimo voltar ao normal, não dando a Rogue tempo para também ficar chateada com a viagem dele — O que me lembra que a surpresa não acabou ainda. Eu te trouxe um presente!
Devimyuu tirou uma caixinha de veludo vermelho e em formato de coração do bolso de sua jaqueta, com um laço delicado em tons de lilás e prateado vedando a caixa. Exalando expectativa e ansiedade no olhar, o entregou nas mãos de Rogue.
Com uma feição deslumbrada em seu rosto, a vampira cuidadosamente apanhou a caixa. Ao abri-la, uma luz prateada brilhou intensamente, revelando um anel de prata delicado.
Mewrogue ofegou levemente, com os olhos fixos no presente.
— É… é tão… lindo, Devi!
Ela sussurrou, com a sua voz mal podendo ser ouvida pela emoção, não resistindo a dar um gritinho de empolgação em seguida.
Ali estava o anel adornado com a gema em formato de meia-lua, destacando-se com sua beleza única, refletindo o suave contorno azul brilhante quando a luz da lua o tocava. Era uma visão hipnotizante, como uma dança de cores que capturava perfeitamente a essência do vínculo entre os dois.
— Eu conjurei essa gema com meus poderes e usei até meu próprio sangue — explicava Devimyuu, enquanto pegava o anel e o deslizava no dedo de Mewrogue — Desde que começamos a namorar, é a primeira vez que vamos ficar tanto tempo sem nos ver… Então eu queria que você tivesse algo que representasse a nossa ligação, e que carregasse um pedaço de mim onde quer que fosse. Assim eu vou poder estar sempre ao seu lado, mesmo que fisicamente eu esteja longe.
Mewrogue podia sentir a magia pulsando através daquela gema, um calor reconfortante e uma energia que a fez sentir-se mais conectada a Devimyuu do que nunca. Seu primeiro e único amor verdadeiro.
— Estaria mentindo se eu dissesse que não estava quase pedindo pra você ficar… Mas, com um presente que é literalmente uma parte de você, tão pertinho assim de mim o tempo todo, acho que posso aguentar te esperar — Rogue disse num sutil tom brincalhão, mas logo se entregou às reais emoções causadas por aquele momento — Muito obrigada, Devi. Não podia ser mais perfeito… Prometo nunca mais tirá-lo.
Disse por fim quase num sussurro, com seus olhos fixos na gema, brilhando com lágrimas de felicidade.
Devimyuu deu uma risadinha, disfarçando as bochechas coradas em reação a emoção dela.
— Bom, então eu acho melhor você colocar na outra mão, porque um dia, provavelmente depois da nossa formatura porque eu não vou aguentar esperar muito mais, hehe, tem um outro tipo específico de anel que eu vou te dar pra colocar nessa... — disse ele com uma piscadinha charmosa, o que fez Mewrogue saltar contornando os braços em seu pescoço.
— Você é simplesmente incrível, xuxu — Ela se afastou um pouco e olha novamente para o anel, observando as cores mudarem na luz da lua, fazendo-a sentir uma onda de amor e gratidão inundar seu coração — Eu te amo, pra todo sempre.
Disse por fim, o abraçando outra vez com força.
Devimyuu sorriu, delicadamente se desvencilhando e inclinando-se para beijar suavemente os lábios dela.
— Eu também amo você mais do que tudo, minha princesa. E com este anel, você sempre terá uma parte de mim te amando e te protegendo, não importa o que aconteça.
Respondeu, segurando-a apertado.
Juntos, eles permaneciam ali por mais um momento, imersos na magia e na promessa de seu amor eterno e de seu vínculo inquebrável.
***
E de volta ao presente e a realidade, Mewrogue dormia com as mãos entrelaçadas junto ao peito, mantendo a joia perto de seu coração. Imersa no sono que lhe fez reviver tal momento inesquecível, um sorriso sutil se formou nos lábios rubros da vampira, ao mesmo tempo que uma pequena lágrima verteu por seus olhos fechados, derramando-se sobre o anel encantado que jamais saiu de seu dedo, tal qual ela prometera.
Mal sabia ela que literalmente, a um mundo de distância de si, seu príncipe agora Rei e Lorde das Trevas, despertava em seus aposentos no interior do castelo.
Ele havia tido um sonho — algo raro nos tempos recentes — um sonho sobre uma lembrança vívida e dolorosa da noite em que presenteou aquela que amava com um anel encantado, conjurado com seu próprio sangue.
Ao abrir os olhos, a primeira coisa que viu foi o quadro que mandou pintar dela, um retrato que capturava a essência da sua amada e se tornara um símbolo de sua eterna fidelidade e devoção.
O rei semideus se sentou na borda da cama, um pouco incerto e confuso de como foi parar ali. No entanto, isso era o que menos lhe importava no momento, pois a única coisa a reter sua atenção era o coração dilacerado de saudade.
— Rogue… — ele murmurou o nome, sua voz ecoando na vastidão solitária do quarto sombrio. Mesmo separados por tempo e espaço, seu amor por ela nunca diminuiu. Ainda podia senti-la em cada batida do meu coração e em cada respiração que exalava.
Ele se levantou, caminhando lentamente até o quadro. Os cristais enfeitiçados que iluminavam o quarto numa penumbra em tons de roxo, lançavam um brilho suave sobre a pintura, realçando os traços delicados do rosto de Mewrogue. Devimyuu estendeu a mão e tocou levemente a moldura dourada, sentindo uma conexão tangível com ela.
— Eu faria qualquer coisa para tê-la outra vez ao meu lado — ele sussurrou, com uma lágrima solitária escorrendo pelo seu rosto — Mas sei que este mundo de merda, podre e deturpado não é lugar pra você, minha rainha... Eu nunca te condenaria ao mesmo destino que o meu. Mas, quem sabe um dia, quando eu finalmente consertar tudo, eu possa realizar meu desejo... Eu te amo, Mewrogue, antes, agora e para sempre.
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