Johnny Blackstone
—Haaah!, que dor é essa? —Um adolescente encontra-se numa cama desconhecida, sentindo todo o seu corpo consumido por uma dor absurda. —claro que eles fizeram isso. —O rapaz tentou se movimentar mas o seu corpo era assolado por uma dor grotesca, ele olhou para o seu braço e viu um cateter acoplado ao seu braço transportando o soro para sua veia. Este jovem era Azazel que já há milhões de anos esquecera o que era dor, decidiu usar um dos poucos poderes angelicais que ainda lhe restava para restaurar o corpo em que habitava.
Enquanto Azazel curava o corpo do seu hospedeiro, ele não se esqueceu de amaldiçoar todos os outros príncipes do inferno. Inesperadamente as portas brancas que no fundo do quarto azul abriram, dando espaço para entrada de uma jovem morena com o uniforme de enfermeira verde, que ficou totalmente espantada ao ver o jovem que antes não conseguia se quer abrir o olhos tentando levantar da cama.
—Jonathan! —Gritou a enfermeira assim chamando a atenção de Azazel que estava tendo dificuldade em se levantar, segui o som e ficou surpreso pois já não conseguiu sentir presenças ao seu redor fazendo-o ter a impressão de estar indefeso.
—Quem? —Por instinto Azazel perguntou ainda tentando se erguer totalmente da cama, quando percebeu que sangue escorria do seu cateter fazendo a dor que ele tinha neutralizado voltar a atuar.
—O que aconteceu aqui? Você está sangrando! —Disse a jovem que largou o bloco de notas em sua mão sobre a mesa, e rapidamente correu para parar o sangramento. —Como isso é possível?.— Ela ficou estupefata vendo somente uma mancha de sangue, pois já não sangrava mesmo após a remoção do cateter.
—Qual é o meu nome?. —Perguntou Azazel vendo jovem reagir rapidamente. —Pois não conseguiu ter acesso as memórias e experiências do jovem que habitava.
—Você é Jonathan Blackstone, acredito que você esteja tendo uma amnésia temporária. —Disse finalmente olhando para Azazel, os seus olhos era castanhos assim como o seu curto cabelo. —Não se preocupe depois do choque passar, você provavelmente recuperará a memória.
—E quem és tu?. —Sem se preocupar muito Azazel com a situação ou se quer com a pessoa em sua frente. O que importava é que uma das criaturas que mais lhe causava repulsa estava lhe tocando.
—Cecília Coelho, enfermeira deste clínica. —Disse abrindo um lindo sorriso amigável, sorriso este que faria qualquer sentir-se confortável porém para Azazel não era diferente duma tortura. —Coelho, acho que já podes largar o meu braço. —Falou sorrindo como se o que falara fosse trivial e amigável. —Não me sinto confortável com os seus membros sobre mim.
—Estou indo chamar o Dr.Peter. —Disse Cecília se afastando de Azazel, não porque ela estava assustada pelo que ele falou mas sim pelo facto dele ter acordado do coma. Se ela ficasse assustada pelo que os pacientes falam não estaria naquela profissão, sendo assim ela saiu calmante do quarto.
—Se todos os humanos forem obedientes assim, talvez não será preciso que eu extermine alguns deles. —Murmurou enquanto sorria para si mesmo, mas logo lembrou do que Lúcifer falou e decidiu conter os seus pensamentos brutais. —É melhor que isso valha a pena, Uriel dessa vez farei você me dizer onde ela está.
—Johnny! —Enquanto Azazel pensava em que direção seguir para completar a sua missão, um senhor de meia idade usando um jaleco branco e estetoscópio no pescoço entrou abruptamente pela porta. —Você realmente acordou, isso é um verdadeiro milagre.
—haha... não existem milagres, só ilusão e desespero. —Disse Azazel em voz baixa, pois qualquer coisa poderia afetar a sua missão.
—É claro que é um milagre. —Azazel ficou abismado, sem saber como ele conseguiu ouvir aquele murmúrio. -Você está sentindo algum desconforto? Não tenha vergonha de falar.
-Só nos olhos... —Azazel olhou para o médico de maneira solene, os seus olhos parcialmente abertos. —Por ter de olhar para ti e a tua assistente.
—O quê?! —O médico estava estupefato, os seus óculos que estavam sobre o cabelo caíram até ao nariz.
—Nem eu sei. —Azazel percebeu que a sua atitude fora totalmente diferente da de alguém que acabara de acordar de um coma. —Onde eu estou? E o que aconteceu?
—Espero que sim. —O médico olhava para Azazel de forma suspeita enquanto ajeitava os seus óculos. —Estás no hospital central da cidade de Berlin Beach, e aqui estás por que tiveste um acidente vascular cerebral após um leve acidente de viação. —Ele olhava para Azazel como se estivesse olhando um espécime único que merecia ser estudado, mas sabia que não poderia fazer nada pois iria contra a sua ética.
—Inexplicavelmente! Porquê dizes isto?— Conhecendo as regras não ditas do inferno, Azazel sabia que isso fora obra de Lúcifer.
—Com as sua condição física e idade, seria impossível ter uma obstrução vascular e sem contar que você estava praticamente ileso após o acidente. —Disse o médico como se estivesse pensando em algo, e receava falar. —É como se algo tivesse obstruído as suas artérias, pois não tinha como acontecer.
—Certo, e quando eu poderei sair deste lugar?. —Os poderes do caído finalmente deram efeito fazendo o seu novo corpo ficar livre de dor e cansaço, não gostava da sensação de ter dor.
—Você precisa fazer alguns teste primeiro, e se não houver riscos você pode ter alta nos próximos dias. —Disse a enfermeira que estava observando os dois de uma certa distância, não sabia porquê mas sentia algo de estranho naquela situação.
—Quanto tempo? Não preciso e nem quero fazer nenhum exame. —Falou Azazel sentando na cama e conseguindo encostar a sua coluna na parede, nesse momento ele sentiu varias presenças fracas sussurrando por ajuda. Algumas delas perceberam que não se tratava dum simples humano, desapareceram em silêncio.—Esse hospital foi feito sobre um cemitério? Ou um lugar do gênero?
—Primeiro, você ficará por aqui até realizarmos todos os exames necessários. —O médico falou de forma autoritária como se estivesse repreendendo uma criança. —E pelo que eu saiba nunca houve um cemitério aqui, porquê a pergunta?
—Talvez seja algo mais interessante que um simples cemitério, não é senhor médico? —O desdém na cara de Azazel era tangível, fazendo com que um pouco de remorso aparecesse no rosto gentil da Cecília. —Então que façam esses exames o quanto antes, senão eu saiu daqui sem a permissão de ninguém. —Ele só não saiu daí a força para evitar chão atenção indesejada.
Azazel via claramente uma quantidade imensurável de sombras e vultos circundando o hospital, como se estivessem presos num limbo ou sendo manipulados por alguém. Mas nada poderia fazer pois não tinha como usar os seus poderes na frente dos humanos, por mais que ele quisesse recolher as almas repletas de energia negra e usá-las para fortalecer o seu domínio.
—Será que tem como ligar para um parente meu?. —Perguntou o caído acalmando a sua curiosidade e ganância pelas almas do local, pois a sua missão mal havia começado e ele já estava num berço de almas. Ele acreditava que o seu poder agitou os espectros em sua volta, talvez pensando que era a morte vindo buscá-las para o inferno. Pouco sabiam que a morte só se importa com a vida, almas são nada para além dum estorvo.
—Sim eles já estão à caminho. —Falou o médico que a cada minuto tornava-se mais frio e indiferente perante ao Azazel, pois em toda a sua carreira nunca antes encontrara alguém que não o desse o mínimo de respeito. —Eu não acredito que o único filho da família Blackstone seja um inconsequente.
—Eu que o diga. —O tom de Azazel parecia menos hostil e mais empático mas os espíritos naquele lugar começaram a chorar e a fugir para o subterrâneo, pois a energia espiritual que o Azazel emitia chegou ao extremo queimando qualquer espectro perto do quarto. —Lamento a minha insensibilidade. — Uma mísera frase Azazel quase vomitou o seu próprio sangue, pois ele nunca pediu perdão mesmo até quando fora expulso do céu mas tudo isso era para o bem da sua missão, e pela chance de acertar as contas com Uriel.
—Deixemos estar, creio que seja uma simples fase. —O médico nesse momento achava que o jovem a sua frente tinha uma crise de bipolaridade. —Você consegue levantar da cama?
—Creio que sim. —Dessa vez Azazel removeu as pernas da cama lentamente, como se estivessem atrofiadas. Ele sabia que não seria possível mover-se normalmente após um grande período inconsciente, por isso decidiu fingir ter dificuldades ao levantar até mesmo fingiu ter uma queda que foi amparada pela enfermeira Cecília.
— Tenha calma, deixa que eu te ajudo. — Eles seguiram o médico para uma sala em que realizaram os exames, desde amostras de sangue até aptidão física. —Dr.Peter isso é inconcebível, será que foi tudo uma farsa? —Disse a enfermeira Coelho que ficou pasma ao ver os resultados dos exames, a forma do paciente que antes nem conseguia mover um dedo estava em melhores condições que alguns atletas.
—Será que já dá para eu sair daqui?. —Azazel sabia que seria impossível encontrar alguma anomalia nos exames, mas mal sabia ele que o fato de estar em perfeita forma seria a maior das anomalias.
—Jonny! Meu filho graças a Deus que você está bem. —Após um grito eufórico Azazel sentiu um forte aperto embrulhando o seu abdômen, o seus olhos encontraram uma senhora que aparentava estar nos seus trinta anos. Os seus olhos eram verdes e o seu cabelo ruivo, o seu rosto repleto de sardas e algumas rugas devido a insaciável passagem do tempo.
—Não se engane, ele nunca se importaria. —Azazel odiava quando mencionam o seu progenitor, especialmente porque ele foi expulso do céu e transformado em um demônio com a aparência sombria representando o fato dele ter sido o primeiro assassino na cidade dourada. —Podes me largar agora, estou sem ar já.
—Não precisa ter vergonha filhão, afinal de contas você ficou muito tempo inconsciente por isso deixe a sua mãe aproveitar o momento. —Por trás da alegada mãe de Jonathan, estava um homem moreno, de olhos ambar e dreads descendo até os ombros, ele usava uma camisola azul escuro com as mangas dobradas deixando a mostra as suas tatuagens.
—E vocês quem são? —Azazel já sabia que eles eram os parentes do coitado Jonathan, mas ele precisava de nomes e todas as informações possíveis, pois não fazia ideia de nada. Ele não acreditava que uma das entidades mais temidas dos sete céus estava sendo abraçado por uma simples humana, alguém que viu o fim e o início.
—Como assim filho? Eu sou a sua mãe!
—Os olhos verdes da senhora já estavam húmidos, e escorrendo lágrimas. Ela afastou-se de Azazel enquanto tinha a boca trémula, ela olhou para o médico tentando entender a situação.
—Ele está tendo uma simples amnésia temporária, em algumas semanas ele lembrará de tudo. —Afirmou o médico confiante, mas ele sabia que algo nunca antes visto estava a se passar com o seu paciente. —Ele pode até ir para casa hoje mesmo, mas vocês devem prometer que o trarão aqui para fazer alguns exames de acompanhamento durante os finais de semana.
—Fique tranquilo Peter, faremos tudo que recomendar. —Disse o pai do Jonathan se aproximando de Azazel e posicionando o seu braço sobre o seu ombro . —Eu sou Ethan Blackstone, e ela é Sarah Blackstone. somos os seus pais, eu sei que não se lembra de nós mas com o tempo isso muda, agora vamos para casa tirar esse cheiro de hospital de você... sem ofensas. — A Enfermeira e o médico só sorriram, porque já sem acostumados com a personalidade do senhor Blackstone.
—Melhor, eu não aguento mais ficar aqui. —Azazel realmente não conseguiria ficar mais no hospital pois os espectros não estavam simplesmente sussurrando, mas sim estavam gritando e roendo os dentes. E Azazel sabia que ele não conseguiria sentir a presença de espectros na sua forma atual, e isso confirmava que algo se estava a passar deixando um mau pressentimento no caído.
Depois de vários protocolos, Azazel acompanhado pelos pais do Johnny seguiram até o estacionamento subterrâneo onde estava estacionado o carro. As luzes do estacionamento não iluminavam o estacionamento de forma eficiente, deixando assim vários lugares as escuras. Em feixes as luzes piscavam inconstantemente, para um humano normal isso seria uma falha técnica, mas ninguém conseguia ver que lá existia uma criatura sóbria e gelada que só poderia se alimentar no escuro e disso nem Azazel sabia.
—Entre filho. —Ethan falou enquanto abria a porta do conversível preto para que Azazel entrasse, a sua atitude era igual a de um motorista abrindo a porta para o seu chefe.
—Parece que poderei fazer várias coisas nesse mundo. —O humor de Azazel havia mudado completamente, ele sabia que a família Blackstone era rica e isso seria muito útil. Lúcifer disse para agir como um santo se fosse preciso, e nesse mundo em que o dinheiro era sagrado o único que teria maior santidade que ele seria Mammon. —Vamos para casa! —Um sorriso sinistro apareceu no rosto inocente de Johnny.
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