Capítulo 1 - O primeiro floco de neve

— Nós precisamos mesmo dormir?

Pela segunda vez na noite, Junghyo, o mais velho dos gêmeos, questiona. Sentado sobre o tapete, parado enquanto sua mãe termina de escovar seu cabelo, ele mantém a expressão de descontentamento, pois além da resposta anterior não ter sido do seu agrado, Jungkook, seu irmão, não contribuia com seus protestos por aparentemente estar muito entretido no livro de figuras que seu pai lhe mostrava.

— Hyo, está brigando com o sono, é importante que você e Jun descansem, amanhã é um dia muito importante, precisam ter energia.

A resposta não foi o suficiente para convencê-lo. Escapou do enlace da rainha e correu pelo quarto, a intenção é demonstrar que ainda havia muita energia acumulada para ser gasta.

Nara limitou-se a soltar um suspiro. Sentou sobre as panturrilhas e começou a recolher os brinquedos que ele havia deixado pelo chão e os colocar dentro do baú, permitindo que Kahir cuidasse do primogênito.

— Não, não! O monstro me pegou, me ajude, Jun! — Junghyo balançou as pernas e braços com força em uma falha tentativa de livrar-se do amplexo forte do pai. Tendo certeza de suas tentativas falhas, sagaz ele optou pelo planos B que consistia em basicamente soltar chamas pelo corpo.

— Junghyo, chega. — Seu pai apenas deu batidinhas com a mão livre para apagar as chamas antes de colocá-lo sobre a cama. — Eu preciso terminar de resolver algumas coisas, deixo a história para a mamãe essa noite.

Jungkook segurou o riso ao ver Junghyo revirar os olhos e quando Kahir virou as costas, aproveitou para fazer uma careta muito feia, repetindo silenciosamente as palavras do pai com deboche.

— Isso não é o comportamento de um futuro rei. — Pego no flagra pela mãe, ele apenas jogou as costas na cama, apoiando a cabeça nas pernas de Jungkook. — Tem algo te chateando, é isso, Hyo?

— Por que amanhã é tão importante? Por que só o aniversário do Jun tem festa?

— Querido, sei que te contei que vocês nasceram em dias diferentes, mas você nasceu faltando cerca de um minuto para meia noite e Jungkook nasceu meia noite e dois. — Calmamente, ela sentou ao lado deles. Pensou sobre a melhor forma de explicar. — Amanhã é seu aniversário junto do seu irmão, esse detalhe só é relevante para o batizado de amanhã, pois você será apadrinhado pelo outono e Jun pelo inverno. Além disso, também é a primeira vez que farão uma aparição pública. Esse é o motivo de ser tão importante, vocês vão até mesmo ganhar presentes especiais dos ministros.

Junghyo ficou em silêncio por alguns segundos, porém se deu por convencido em um aceno. Jungkook olhou para as feições da mãe e concluiu uma mudança de expressão drástica quando ela mencionou os tais presentes. Nara não era boa em mascarar as emoções, principalmente perto deles.

— Mãe, você está triste, não é?

— Por que pensa isso, Jun?

— Você geralmente é tão tagarela quanto o Hyo. Hoje você nos deu banho em silêncio, mesmo quando baba chegou você não disse nada.

A culpa caiu em seus ombros, ela não gosta de preocupá-los.

— Me perdoe, Jun. Com todos os preparativos do batizado fiquei um pouco cansada, apenas isso.

— Não sei, um riath não se cansa. — Junghyo acusou, encontrando o olhar de Jungkook.

— Quem te contou essa mentira? Usar magia cansa e responsabilidades exigem um esforço que cobra até da alma, Hyo. Agora, digam-me que história querem ouvir?

— Eu quero mostrar um coisa antes da história, eu posso?

— Sempre, me mostre, Jun.

Jungkook esperou que o irmão ficasse ao seu lado e ter toda atenção dos dois para unir as palmas em um formato de concha, fechando os olhos. Focou em guiar sua energia por entre seus dedos, moldando as partículas. Abriu as pálpebras e as mãos, sob o centro pairava um floco de neve com cerca de oito centímetros.

— É tão lindo! — Junghyo encontrava-se perplexo, nunca encontrou um daquele tamanho e tão brilhante.

— Estou tão orgulhosa de você, filho!

— Quero segurar, deixa, deixa, deixa Jun!

— Deixo, eu só não sei como fazer isso... me ajuda, mamãe.

Após ponderar um pouco, Nara criou uma pequena corrente de ar que envolveu o pequeno floco e guiou até estar sobre as palmas de Junghyo.

— É tão brilhante!

— Pode ficar para você, Hyo.

Junghyo entraria em combustão de felicidade a qualquer instante. A empolgação foi tamanha, que em poucos segundos derreteu o pequeno floco, restando por alguns segundos apenas o seu estado líquido que evapora em seguida.

— Eu estraguei... me desculpa... me desculpa, Jun... — Choroso, ele sentiu a dor de ainda ter problemas em controlar sua magia quando se emocionava.

— Não precisa chorar, Hyo. — Jungkook riu baixinho e tocou as palmas do irmão com as suas. O choque das peles formaram nuvens de vapor, pois sempre conseguiam neutralizar um ao outro. — Eu posso fazer vários desses.

Nara acariciou o rostinho, secando as lágrimas.

— Seu irmão tem razão, Hyo. Está tudo bem, foi um acidente. Vamos para a história, amanhã eu trago um recipiente para você colocar o novo floquinho que o Jun fizer e você poderá guardar, está bem?

— Tudo bem!

Ela sorriu e os arrumou na cama novamente, enfim começando a narrar algo que eles gostassem de ouvir. Pouco mais de quinze minutos se passaram e os dois príncipes haviam capotado. Junghyo babava com a boca aberta, o corpo estirado e Jungkook quase reto de lado, segurando na mão do irmão.

Suspirando, a rainha os olhou uma última vez antes de fechar as portas duplas.

Se virou e seguiu pelo extenso corredor, abraçando seu próprio corpo enquanto se encolhia.

Havia uma esperança em seu coração de que o tormento lhe deixasse ao chegar em seu quarto, mas mesmo quando estava sentada ao chão próxima a lareira a angústia não a abandonou. Escutar o ruído da madeira crepitando mantinha-na nesta realidade e impedia de derramar lágrimas.

Kahir ainda não havia retornado ao quarto, tinha privacidade para externalizar aquela dor, ainda sim, não se permitiu, permanecendo abraçada aos próprios joelhos ponderando o futuro.

— Pensei que quando chegasse você já estaria adormecida, querida. — Sua atenção recaiu sobre os passos do marido até a cama. — Está angustiada com algo, não é?

Nara encostou a cabeça na estrutura de pedras brancas.

— Estou apenas pensando sobre a necessidade de Jun e Hyo receberem os cumprimentos dos ministros amanhã. Yuna passou os dez últimos anos acamada. É estranho ter melhorado tão repentinamente, não acha?

— Não seja assim, Nara. É bom que a irmã de Jisu tenha se curado, ele procurou a solução para a doença dela durante anos, assim como ele tem procurado a solução sobre a infertilidade.

— Talvez alguém tenha os amaldiçoado como fez com a minha família...

— Maldições tem brechas, tantos nos disseram que seria impossível termos filhos e tudo bem, demorou alguns séculos, mas temos gêmeos, é algo incrível. Não tem que se preocupar com Yuna.

— Kahir, ela é sem noção. Se ela ver que eles terão algum tipo de doença vai contar na frente de todos. Estaria tudo tranquilo se o presente dela pudesse ser esquecido, poderíamos aceitar somente os cumprimentos do ministro Kim.

— Não acho que ela vá ver grandes coisas no futuro dos meninos. Junghyo será o rei e Jungkook o seu braço direito. Além disso, o conselho concordou que todos os ministros fariam seus comprimentos, existem decisões que estão acima dos nossos desejos.

O ar se esvaiu de modo cansado pelos lábios dela.

— Espero que você esteja certo...

— Estou, você verá. Agora, por que não vem se deitar? Precisa descansar, o dia amanhã será exaustivo.

— Vou ficar aqui mais um pouquinho.

— Como preferir, apenas deixe de pensar demais, quando estivermos nesse mesmo momento amanhã vai ver que suas preocupações eram infundadas e você se torturou atoa.

Esboçou um leve sorriso e o viu apagar todas as velas antes de se aconchegar na cama.

Parada sob a luz da lareira, um arrepio subiu pela medula espinhal e perpetuou durante algumas horas.

Eram cerca de três horas da manhã quando levantou do tapete e saiu do quarto, respirando fundo e mexendo o corpo para tentar dissipar sua inquietação. Percorreu quase o castelo inteiro e parou no jardim observando as nuvens do céu escurecerem.

Tentou repetir os exercícios de respiração que aprendeu para se acalmar. Não podia causar uma tempestade, travou os punhos andando de um lado para o outro, regulando as contrações do diafragma e em dez minutos pôde notar o céu abrir e dar visão às luas gêmeas.

— Saros e Salue vão deixá-los seguros, deixe de besteira, Nara.

Não conseguiu retornar aos seus aposentos, quando percebeu, estava em frente ao quarto dos príncipes e impulsivamente abriu a porta. Os encontrou adormecidos, agarrados um ao outro, enquanto o ambiente era rodeado pela neblina.

Aproximou-se da cama.

— Andaram sonhando...

— Mamãe?

E assustou-se com o chamado.

— Eu te acordei? Desculpe, querido. — Viu Jungkook afastar-se de Junghyo. Com o rostinho inchado pelo sono sentou-se para poder dar-lhe atenção.

— Já é de manhã? Temos que levantar?

— Não... a verdade é que estou com problemas para dormir. Quis ter certeza que vocês estavam bem. Desculpe.

— Teve um pesadelo? Hyo, fez xixi na cama semana passada por conta de um... você também fez?

— Não fiz, mas acho que tive um pesadelo...

— Quer dormir com a gente? Posso te proteger, sou um menino forte.

Nara sorriu, sentindo seu coração derreter.

— Eu posso?

— Sim, Hyo e eu adoramos dormir com você ou com o papai. — Deu espaço no meio e Nara deslizou até estar entre as duas crianças, se surpreendendo com a rapidez que Junghyo procurou se aconchegar em seu braço. — Viu?

— Obrigada, filho. — Agradeceu o puxando para deitar sobre o seu outro braço.

Jungkook apenas assentiu antes de fechar os olhos e em poucos segundos, pegou no sono. Nara demorou alguns minutos, mas agora com os dois seguros em seus braços, conseguiu alcançar o reino dos sonhos e enfim descansar.

💨

O despertar veio após seis horas, a rainha conseguiu ser a primeira dos três a acordar, tomando um susto ao ver o marido encostado ao batente da porta sorrindo em sua direção.

— Encontrou o sono aqui?

— Estou atrasada? — Enrubesceu por vê-lo trajando a farda. Kahir negou com a cabeça e continuou sorrindo.

— Apenas me adiantei um pouco, há muito o que fazer, eles precisam estar prontos em breve.

Nara concordou e poucos minutos depois sua dama estava presente no quarto, ajudando a arrumar os príncipes e depois de toda família real estar arrumada com os trajes da corte, todos estavam juntos na sala de descanso, Kahir havia acabado de dar presentes aos dois filhos.

— É... um livro sem figuras, que sem graça, Jun. — Junghyo falou ao observar o presente do irmão, seus bonecos esculpidos eram mais legais.

— Eu gosto, muito obrigado, baba. — Recebeu um aceno de Kahir, conseguindo visualizar Junghyo negar com a cabeça.

— Achei! — Nara falou após alguns minutos vasculhando as caixas de madeira. — Vai poder colocar o floco do Jun aqui querido.

— Jungkook conseguiu fazer um floco? — Kahir a questionou, impressionado. — Pode me mostrar?

O pequeno assentiu e demonstrou como tinha feito na noite passada. Nara cuidou de colocar dentro do pote e fechá-lo antes de entregá-lo a Junghyo.

— É tão lindo, não é? — O primogênito ficou admirando seu presente dado pelo irmão, feliz por não derreter mais.

Diferente do mais novo, Junghyo conseguia fazer chamas desde o primeiro ano de vida, apesar de ter mais consciência sobre elas atualmente do que quando era somente um bebê. A evolução de Jungkook estava sendo lenta e Kahir ficou muito orgulhoso em vê-lo finalmente fazer algo diferente a ter o corpo gélido.

— Bom, temos que ir, o pintor Gen já chegou e está pronto para nosso quadro anual. — Avisou se levantando da poltrona. — Hoje vocês dois vão conhecer a rotina de um verdadeiro príncipe e você, Junghyo, mais que Jungkook tem que ter uma postura perfeita, você é o futuro de Katella.

— Eu sou incrível, farei tudo certinho. — Deu de ombros, seguindo ao lado do irmão que tinha a postura quase travada por estar tão ereta. — Jun, vai ficar com dor nas costas.

As mãos de Nara pousaram sobre os ombros dos dois, Jungkook relaxou quase instantaneamente, mas ainda manteve as mãos juntas em frente ao corpo, até chegarem à sala onde encontrariam o pintor. Os gêmeos observaram as interações dos pais com o outro adulto e ficaram sem entender todos os termos que usavam. Nara se sentou na poltrona, Kahir ficou em pé, próximo a ela, Junghyo sentou-se em frente ao pai, enquanto o caçula escolheu o colo da mãe.

As primeiras horas do dia foram reservadas para aquele momento e para qualquer criança foi entediante, desta vez, Junghyo segurou a vontade de pregar uma peça, principalmente observando a forma séria que o irmão estava, não gostava nada de como Jungkook ficava nessas circunstâncias.

O almoço seguiu seu padrão e mesmo sabendo que vários convidados estavam no castelo, nenhum deles deveriam ter contato antes que o batizado começasse. A caminho do vale, as crianças correram para dentro da carruagem, nunca havia andando em uma, aquela área do castelo era totalmente inédita para eles.

— Nas figuras elas são sempre fechadas, eu nunca vi uma aberta! Não sabia que podia ser assim pra funcionar, mamãe! — Junghyo se referiu ao teto, pois assim como para o irmão, achava aquilo incrível. — Vai demorar para chegar?

— Não, meninos. Lembrem-se de acenar para as pessoas, também é a primeira vez deles conhecendo-os. — Kahir os orienta, sentando-se ao lado da esposa após ajudá-la a subir.

A carruagem começou a andar e os olhinhos curiosos passaram por todas as pessoas durante o percurso, como foi ordenado eles acenaram e mantinham um sorriso no rosto.

— Aqui fora é tão bonito, vamos passar pelas vilas? — Jungkook tornou a perguntar, balançando as perninhas.

— Vocês vão poder ver um pouquinho, mas pegamos a estrada do leste para chegar no local da cerimônia. — Nara explicou e apontou sorrateiramente para as construções de tijolos. — Ali é a entrada da vila principal, temos o centro de comércio de Katella, poderão vir algumas vezes nos próximos anos para conhecer.

— Uh, o que tem exatamente no centro comercial?

— Tudo que nossas províncias produzem, desde tecidos e comida a armas — Kahir contou de forma empolgada ao seu primogênito.

— Um dia vamos poder ir visitar essas pro.. proficias?

— Sim, em algum momento vocês irão conhecer as províncias de Eldalarya, Jun. Ou em alguma reunião ou em festa, sabe a Nora?

— Sim, ela é nossa amiga. — Junghyo a respondeu. — Brincou com a gente naquela outra reunião.

— Em alguma comemoração de aniversário provavelmente estaremos presentes agora que vocês dois cresceram.

— Sua mãe está certa, mas nem tudo será divertido. Vocês como príncipes têm grandes responsabilidades, a sua presença vai ser regada a deveres e não apenas proveito.

— Sim, Kahir está certo, porém ainda conseguirão aproveitar bastante, afinal, mesmo sendo príncipes, ainda são apenas crianças. Certo, querido? — Kahir gostaria de ter discordado, entretanto, o olhar incisivo da rainha o fez acatar com um aceno. — Animados para conhecer os espíritos?

— Eles vão mesmo aparecer? Não é só contos como os que o papai nos conta antes de dormir?

— Ah, é muito mais que isso, querido. — A expressão de Nara transmitiu sua felicidade perante aquele ponto. — Nós chegamos, olhem lá!

Os gêmeos estavam maravilhados com a estrutura do vale, rodeado por toda a natureza haviam construído uma redoma que podia receber quase todo o reino de Katella. Foram saudados com música e aplausos, os mais próximos eram caracterizados pela nobreza, apesar de Kahir não estar gostando muito disso, conheciam bem a falta expressão de contentamento do pai.

O que causava a inquietação dos gêmeos, no entanto, era sua mãe. Nara não costumava ficar tanto tempo quieta e o corpo recluso, ela sempre foi como um sol resplandecente e hoje estava como as nuvens em momento de chuva.

Imaginaram que haveria algum discurso a ser feito pelo rei, mas assim que chegaram ao palanque e Junghyo se posicionou em frente ao pai e Jungkook em frente a mãe, uma forte corrente de vento cobriu a floresta, o primeiro instinto foi se encolher no lugar, os penteados que Yumi tanto tinha trabalhado para fazer haviam se desfeito.

No entanto, todos começaram a prestar atenção nas pequenas cores cintilantes que agora voavam por todo o salão. A imagem ficaria marcada na memória dos gêmeos pela eternidade.

As fadinhas mediam o tamanho de um dedo mindinho. Elas montaram uma fileira de novas velas em sua direção, enquanto o vento continuava a passear por todo o ambiente, trazendo as folhas e pétalas de flores para distribuir pelo chão.

— As fadas do verão são as com um brilho vermelho, as do outono laranja, do inverno azul e da primavera rosa. — Nara informou em um tom que somente os gêmeos poderiam escutar. Observando a forma como cada uma se juntou com sua categoria e demonstraram belos voos, até que uma versão maior delas surgisse em cada centro. — Conheçam as ministras das estações, meninos.

As fadas das estações tinham cerca de um metro e asas adornadas por mosaicos transparentes. Seus pés, mãos e rosto eram parecidos com o dos Eldan, mas todo corpo era coberto por penas de aves.

A fada do Verão tinha penas coloridas como as de uma arara vermelha, enquanto as do Outono eram iguais às de uma águia, juntas elas seguravam a folha seca, símbolo outono.

A fada da primavera, por sua vez, tinha penas de e um pavão e por fim, a fada do inverno tinha penas brancas com sombreamento preto, como as corujas brancas, juntas carregavam o floco neve para simbolizar o inverno.

Os gêmeos se surpreenderam, ao ter um par posicionados ao seu lado. Escutou-se o tamborilar dos bongôs e algumas fadas rodaram ao redor da rainha, provocando cócegas, os gêmeos observaram ela tentando prender o riso e não repararam que do centro de uma das flores caídas perto de seus pés surgia o espírito da primavera.

— Eita! — Junghyo praguejou quando sentiu o toque dela em seu queixo, ela fazia a mesma coisa com Jungkook.

Diferente do irmão, Jungkook estava embasbacado demais para expressar sua surpresa. Sarin é idêntica às esculturas e pinturas que já havia visto de sua representação, possuía os cabelos coloridos e lisos em um arco íris, dos lados da cabeça nasciam os chifres de um servo. Seus olhos cor-de-rosa e a pele cinza. Com um belo vestido longo, carregando um degradê das cores lilás e azul.

— Sarin... — Escutaram Nara murmurar, ainda descrente. Seus queixos caíram mais quando o espírito fez uma breve reverência e mais um dos espíritos surgiu atrás dela. — Naevi!

Sarin deu espaço para que os gêmeos pudessem conhecer o espírito do verão. Encantadora, era a palavra que usariam para descrevê-la. Naevi é linda, sua pele escura e seus olhos eram escarlates. Os cabelos alaranjados estavam presos em um coque trançado, com apenas alguns cachos para fora e ela trajava um lindo vestido nas cores laranja, amarelo e vermelho que imitavam as curvas do fogo.

Receberam um aceno do espírito e Junghyo se apoiou no irmão, o calor que ela transmitia era semelhante ao seu. Sarin parou em frente a Nara, observando de soslaio Kahir. A rainha sentia-se honrada, pois seriam poucas as vezes em sua vida que poderia contemplar a existência de sua guardiã tão de perto. Ali Sarin podia falar consigo, era uma oportunidade única e não podia desperdiçar o tempo ficando chocada.

— Estou tão orgulhosa de você, minha querida, Nara. — As mãos de Sarin repousaram sobre sua bochecha. O toque era gélido, mas estranhamente trazia aconchego.

Nara aproveitou o carinho, colocando as mãos sobre as do espírito, recebendo um beijo na testa. Sarin se afastou e voltou para perto de Naevi que estava dançando com as fadinhas e entretendo o público.

O espírito do verão voltou-se aos gêmeos, as palmas estendidas em direção a eles de onde saíram chamas que circularam seus corpos até entrar pela roupa e atingir o coração.

— Como espírito que representa a felicidade, vos presenteio com grande vitalidade, meus príncipes. — As mãos de Naevi soltaram um pó incandescente, ela segurou delicadamente o rosto de um por vez para desenhar a runa do verão.

— Olha, eu também sei fazer! — Junghyo se concentrou e em sua palma surgiu uma chama. — É... não a benção, o fogo...

— Você está indo muito bem, Saros tem orgulho! — A guardiã sorriu e colocou a palma baixou da mão de Junghyo e o ergueu para cima, a chama subiu aos céus e tomou o formato da onça do Deus Sol, antes de correr pelo vale e explodir como fogos de artifício. — Você pode fazer coisas incríveis também!

Uma salva de palmas ecoou pelo salão antes de Naevi dar espaço para Sarin conceder sua bênção. Ela os encarou por um tempo, antes de segurar em suas mãozinhas.

— Sua pele é gelada... igual a minha... — Jungkook piscou, um sorriso tímido surgindo em seus lábios.

— É claro, somos filhos da lua. — O olhou com ternura e Junghyo tomou um susto quando vários lírios os rodeavam. — Como espírito do renascimento, dou a vocês o dom da sabedoria da renovação. — Encaixou uma das flores em seus cabelos, antes de tomar seu lugar ao lado de Jungkook.

Naevi se colocou ao lado das fadas do verão e outono, do lado esquerdo onde Junghyo estava. Todas as flores e folhas no chão começaram a subir para o alto, em um vórtex, chegando ao topo do salão e estourando como confete, convidando uma nova rajada de vento, porém dessa vez, ele veio acompanhado com gelo.

A primeira entidade que se formou foi Turion, o espírito do Outono. Sua pele, alva e escura, as roupas em tom de laranja terroso, os olhos âmbar e os cabelos trançados marrons com mechas loiras, e um sorriso muito galanteador. O espírito do Inverno veio logo em seguida, sua pele exatamente da cor da neve, seus olhos azuis e brilhantes, assim como os fios de seu cabelos que seguiam até depois da cintura.

Eles flutuam graciosamente pelo ar, parando em frente aos reis e se curvarem diante deles.

— O filho de Saros. — Turion anunciou depois de se virar para Junghyo para que fizesse o sinal do sol em sua testa.

— O filho de Salue. — Loriner proclamou e fez o sinal da lua na testa de Jungkook.

Ambos pegaram os os meninos nos braços e estenderam aos céus. Naquele momento um raio cortou o céu e dividiu-o em dia e noite. Nara sentiu um leve ardor em sua testa, levou a mão ao local sentindo os traços da marca da lua.

Os gêmeos fizeram uma careta incomoda pela dor que sentiam reverberar por seu corpo, irradiando diretamente da marca em sua testa. Todos estavam admirados com o brilho das estrelas e das luas gêmeas que não notaram o momento que os gêmeos estavam dispostos ao chão, coçando levemente as testas.

Junghyo olhou para a derme deles e cutucou o irmão para apontar para a pele acima dos olhos, assim como sua mãe, eles também possuíam as marcas.

— Loriner e Sarin tem os símbolos iguais ao seu e o da mamãe.

— Sim, Naevi e Turion são os mesmos o seu.

— Isso porque Junghyo é afilhado de e Turion, filho do sol. Você, por ser meu, é um filho da lua, o mesmo acontece com a rainha por ter minha irmã como madrinha. — Loriner de repente estava entre eles, em uma versão menor e jovial, como uma criança. — Não façam essa careta, eu achei que seria melhor tentar me enturmar me assemelhando a vocês.

— Loriner!

O chamado de Turion lhe despertou e ele retomou a forma adulta para se juntar aos outros três espíritos que dançam em sincronia seguindo o comando do sons da flauta. Loriner deu às mãos a Sarin, como Naevi fez ao espírito do outono, com seus centros cintilando a sua união eles formaram a coroa dos herdeiros, sendo novamente ovacionados pela platéia.

Cada padrinho coroou seu afilhado.

— Não se preocupem com o tamanho, ela vai crescer junto a vocês. — Naevi os explicou conforme a sentiam com o tato. — Nosso tempo acabou, deixaremos as Frost e Leaf ficarem para a supervisão.

O céu aos poucos voltou ao normal e os tambores pararam. Loriner e Turion deixaram um último afago em seus afilhados, se despedindo com um beijo prolongado em suas cabeças. Voltaram para o centro do salão ao lado das irmãs, já posicionadas com as fadas ao seu redor e ao darem as mãos uma onda de luz banhou o vale, forçando todos a fecharem os olhos.

Quando conseguiram abrir novamente, tudo brilhava e tinha sido redecorado com seus símbolos e plantas de seus ciclos.

A sensação que deixaram é de pura vitalidade.

Os convidados aplaudiram eufóricos, soltando gritos de aprovação. Os alimentos começaram a ser servidos e com o povo distraído, os gêmeos viraram para os pais. Kahir ainda estava processando todo o rito, não estava habituado com ele, na província de Thanhala a cerimônia era realizada perante outros deuses.

— Foi tão legal! A sua coroa também foi feita desta forma, mãe? — Jungkook a perguntou, recebendo um aceno em confirmação. — Sarin é tão bonita, Loriner é muito, muito branco.

— Oui, ele é o espírito do inverno. — A voz diferente o fez olhar para o lado, para a fada que até então ainda era um pouco maior que ele. — Sou Frost, a fada do inverno. Fico responsável pela sua proteção durante a festa.

— Eles precisam de proteção? — Kahir a encarou de forma desconfiada.

— Precisamente, estão purificados. Há certas entidades a serem evitadas durante as próximas horas. — Escutou Leaf falar perto de seu ouvido, diferente da semelhante, ela permanecia batendo as asas no ar. Deixando o rei sem resposta, ela se virou para os herdeiros. — Venham, preparamos uma refeição especial para vocês.

Kahir iria protestar, mas Nara parecia tranquila em deixar os filhos seguirem com as duas para a tenda atrás do palanque.

— Apesar de ainda preferir a cerimônia de Thanhala, a cerimônia de Katella é muito bonita.

— Você sabia que ao casar comigo, viveria sobre as leis da lua e do sol. — Nara manteve a cabeça ereta ao responder. — Está vendo Jisu ou Yuna?

— Ainda preocupada com isso, Nara? Eles ainda não chegaram, mas não entendo a sua fixação com isso.

— Eu tenho um mau pressentimento, talvez pudéssemos mudar os cumprimentos dos ministros para algo mais reservado.

— Deixe de besteira, isso é apenas pessimismo. Fique tranquila, se ela vier, verá apenas prosperidade sobre o futuro de nossos filhos. — A envolveu em um abraço de lado. — Tudo dará certo.

💨

As fadas sentaram-se nas extremidades do palanque. Nara e Kabir estavam atrás dos gêmeos, esperando o início dos cumprimentos dos ministros.

— Recebam agora suas altezas reais, o Ministro Lord Tissage e sua esposa Cassandra da província de Nahen.

Uma salva de palmas foi ouvida e o casal subiu as pequenas escadas. Cassandra tinha dois presentes em mãos e estendeu aos príncipes.

— São cobertas encantadas, em noites que estejam perturbados por pesadelos, ela irá acalmar sua mente para conseguirem dormir.

— Muito obrigado, Sra. Cassandra. — Os dois responderam juntos e ela se curvou, dando espaço para o marido.

— Concedam-me a honra. — Lord pediu antes de fios de tecidos saírem de suas palmas e eles se juntaram até envolver o corpo dos meninos e uma capa se acoplar sobre seus trajes. — Agora se parecem como verdadeiros herdeiros.

Os dois produziram sons surpresos e agradeceram, após uma última referência aos reis, o casal deixou o palanque. Colocaram seus presentes ao lado, ansiosos pelos próximos.

— Em seguida recebem suas altezas reais, o Ministro Devon Armin e sua esposa Ísis da província de Farhen.

Eles subiram ao palanque, mas desta vez quem entregou o presente foi o próprio ministro e não havia embrulhos.

— Pensei durante muitos dias em algo que pudesse vos agradar, esta esfera de areia irá se moldar a alguma construção que desejarem, podem usar hoje para criar um brinquedo, ou podem guardar e usar quando forem mais velhos.

A próxima província a ser apresentada foi Thanhala, o ministro Odara é irmão de Kahir, os gêmeos já o conheciam junto a sua esposa Yas.

— Olá, tio! — Junghyo comentou empolgado, um grande sorriso em seus lábios.

— Pequenos, cresceram bastante desde a minha última visita. — Odara os entregou duas peças de metal esculpidas com runas. — Podem armazenar sua energia dentro, ajudará quando a magia sair de controle.

— Não sabia que podia existir algo assim... — Jungkook comentou baixinho.

— Poderá ampliar o poder também, basta aprender a usar. — Yas acrescenta gentilmente.

— Nós ficamos muito agradecidos! — Junghyo falou e Jungkook assentiu.

— Recebam suas altezas reais, o Ministro Heiko Wai e sua esposa Halin da província de Aseam.

Diferente dos outros ministros, Heiko entrou fazendo uma apresentação. Uma enorme bolha d'água era controlada por ele, que se transformou em grandes orcas em bando, simulando como eram no oceano, nadando para cima até explodir ao alto como uma pequena chuva que nunca chegou a cair sobre eles.

Ele e Halin seguravam conchas em suas mãos e cada um entregou a um gêmeo. Foi o único presente que abriram, era como uma caixa de música e havia várias criaturas do oceano nadando, como se tivessem realmente vendo-os dentro do mar.

— Os muros do castelo até hoje os impediram de ver os portos de Katella, mas somente entre nós, um dia devem conhecer como são os de Aseam. — O ministro deu uma piscadela.

Halin foi a única que acenou para Nara antes de se reverenciar.

— Mais tarde poderão brincar com Nora, ela está louca para lhes felicitar. — Contou baixo para os gêmeos antes de descer em comunhão com o marido.

— Está faltando uma província... — Jungkook informou quando a música retomou outro ritmo.

— Sim, o senhor Jisu sempre foi tão gentil, achei que ele viria ao nosso aniversário.

Como se soubesse que estavam falando dele, o vale entrou em silêncio quando o som da percussão foi abafado pelo trotar dos cavalos. Em um salto eles pularam os guardas, Kahir franziu o cenho e puxou os filhos entre ele e a esposa, assumindo a frente. A tensão se dissolveu ao perceberem se tratar do ministro de Goren.

— Perdoem-me, estávamos atrasados demais. — Ele desceu de seu cavalo e ajudou a irmã a descer do dela. Yuna tinha aparência esquelética e pálida, com as veias arroxeadas visíveis por toda parte do corpo. — Ela insistiu em vir.

Kahir olhou para trás, notando a tensão no corpo da esposa, respirou fundo e olhou para o cerimonialista que assentiu para os anunciar.

— Suas altezas reais, o ministro Kim Jisu e a subministra Yuna, da província de Goren.

O irmão serviu seu corpo de apoio para a subministra e andaram devagar pelo corredor até o palanque.

— Nara, solte-os. — Kahir pediu, tirando as mãos da esposa dos ombros dos filhos, os príncipes entenderam que poderiam ficar à frente.

— Pensamos que não viria, Sr. Kim. — Jungkook confidenciou, conforme ele parou de frente a eles.

— Tive que cuidar um pouco da minha irmã, mas já estamos aqui. — Tirou da bolsa que carregava as duas mudas que havia preparado. — Para casos de cura de emergência, salva de quase tudo.

— Estamos agradecidos! — Junghyo abriria um sorriso se Yuna não tivesse avançado para frente do irmão.

— Dêem-me as mãos. — Diferente do corpo, a voz saiu forte, em um tom claro de ordem.

Os príncipes se entreolharam antes de colocar os presentes junto dos outros e cumprir com o pedido da subministra. Os olhos dela assumiram uma coloração amarelada e tudo ficou em silêncio, sequer as respirações eram ouvidas naquele instante. Minutos se passaram, até que ela enfim sentenciou: Morte.

❅❅❅❅❅

90% desse capítulo sendo um acalento, bonitinho, ai chega no final e temos uma bomba. Com isso, podemos afirmar que Jungkook teve paz durante 4 anos da vida dele. Pq eu digo isso? Porque daqui pra frente é só pra trás!

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