2.


Bianca olhou entediada para a pintura na parede atrás de um dos caixas e sentou em uma das cadeiras dispostas no centro do salão da agência, enquanto aguardava Artur trocar algumas palavras com uma atendente. Ele jogava seu charme para a moça que sorria, cada vez mais inclinada sobre a mesa, deixando o decote mais visível. Não era uma cena incomum, o noivo era um homem muito atraente e carismático e exercia grande fascínio nas pessoas, principalmente, nas mulheres.

Conseguia abrir muitas portas com aquele sorriso e, com ele, conseguiu conquistar a atenção de Bianca quando se conheceram dois anos antes.

A moça curvou-se mais alguns centímetros e Artur lhe dirigiu uma piscadela, mas não desviou seus olhos dos dela. Era um homem correto demais para se deixar envolver tão facilmente por um par de seios, ainda mais sabendo que a noiva o observava. Ele se juntou a Bianca um minuto depois, trazia um sorriso de desculpas capaz de derreter uma geleira, mas que não diminuiria, de modo algum, a irritação da noiva.

O olhar que ela lhe dirigiu não foi nada amigável.

— Pensei que fôssemos almoçar e não tomar um chá de cadeira no banco — ela soltou, estalando a língua, seus grandes e negros olhos semicerrados.

— Sinto muito, amor. O gerente está encerrando um atendimento e logo me receberá — passou o braço sobre seus ombros, mas a moça se afastou. — Sabe que se não fosse urgente, não teria vindo até aqui — continuou.

— Também tenho assuntos urgentes a tratar no trabalho — queixou-se ela, uma sobrancelha arqueada acentuando sua contrariedade.

— Você trabalha demais. Nunca tem muito tempo para si, para nós. Hoje, tive que, praticamente, sequestra-la para que almoçasse comigo.

Os lábios dela se comprimiram demonstrando sua irritação. Não queria outra discussão como aquela, nem sabia se queria continuar usando aquele anel de noivado no dedo. Imaginar-se no altar com ele estava se tornando cada vez mais custoso e perguntava-se, com uma frequência cada vez maior, a razão de ainda não ter posto fim ao seu relacionamento.

— Não venha com essa história de novo. Trabalho o necessário, assim como você que não me vê reclamando a respeito.

Ele estapeou a perna, nervoso. Era o gesto mais violento de que era capaz, então deu de ombros e sorriu fracamente, concordando que não era mesmo o local e momento adequados e a viu cruzar as pernas com impaciência e dedicar sua atenção a ler os e-mails no celular. Desanimado, resolveu fazer o mesmo, decidido a voltar a tocar no assunto mais tarde no conforto e isolamento do seu apartamento e concentrou-se na tela do aparelho que retirou do bolso.

Foi assim por apenas um minuto.

Primeiro, ouviram o estilhaçar do vidro que separava a área do autoatendimento do interior do banco. Em seguida, um homem vestido de preto e mascarado, invadiu o local segurando uma pistola e rendeu o segurança facilmente. Segundos depois, mais três assaltantes surgiram; todos vestidos e armados de maneira semelhante.

Adriana era um deles. Ela se adiantou para o meio do salão; cacos de vidro rangendo e se esfarelando sob a sola de suas botas a cada passo dado.

— Todo mundo pro chão! — gritou, apontando a arma aleatoriamente até que o pânico e a correria que se instaurou, cessou e ela foi obedecida.

Baixou a arma, mas não retirou o dedo do gatilho; fazia uso de uma frieza da qual nunca foi dona. Naquele momento, tinha deixado de lado todos os seus princípios. Era uma estranha de si mesma. Mesmo assim, não se arrependia do que estava fazendo. Não sentia medo tampouco, apesar de saber que ele estava enraizado em seu coração e imaginou ser um efeito da adrenalina.

Seus dedos envolveram a pistola com mais firmeza; suavam dentro das luvas quentes, mesmo assim, sentia-os frios como o metal que segurava e obrigou-se a se sentir assim também. Em instantes, pouco mais de duas dezenas de pessoas estavam deitadas no chão entre funcionários e clientes do banco. Caminhou devagar entre eles, observando Chico recolher o dinheiro dos caixas.

Nos fundos da agência, por trás dos caixas, Rebeca desapareceu por uma porta, arrastando o gerente consigo para recolher o conteúdo do cofre; o homem tremia incontrolavelmente e sangue escorria fartamente de seu nariz, resultado da "delicadeza" da moça que sabia ser cruel quando desejava e, naquele caso, tinha motivos que iam além da razão de estarem ali.

— Vá ajuda-la — Adriana pediu a Chico que assentiu e desapareceu pela mesma porta um minuto depois.

Próximo a um guiché, uma garotinha choramingava agarrada a uma senhora idosa e aumentou seu pranto quando viu a assaltante se aproximar. Os olhos amarelados da criminosa fecharam-se levemente, mas não pôde fugir do som do medo naquele choro e engoliu em seco; não havia qualquer prazer no que estava fazendo. Girou sobre os calcanhares e viu Rodrigo na entrada, de onde podia avistar a aproximação da polícia. Seus olhares se encontraram e não foi preciso mais que isso para que soubessem o que se passava em suas mentes. Assim como ela, o rapaz também se atormentava pelo crime que estava cometendo, mas não sentia qualquer remorso pelo crime que planejava cometer em um futuro próximo, no qual ela pretendia ter participação e, talvez, algum prazer.

Deitada no chão frio, ouvindo a respiração pesada de Artur ao seu lado, Bianca voltou o rosto para o alto e avaliou com frieza a situação em que se encontravam. Em poucos segundos, seus olhos percorreram o contorno do corpo curvilíneo que as roupas largas não conseguiam ocultar. A assaltante caminhava pelo salão, movimentando-se como uma felina entre os corpos espalhados pelo chão. O brilho da pistola na mão dela capturou sua atenção e deixou escapar um sorrisinho que se desfez quase de imediato.

Definitivamente, não sentia medo. Não havia mais espaço em sua vida para ele. De certo modo, podia dizer que o expulsou de sua vida quando o sentiu em demasia e o transformou em ódio. Estava acostumada a sensação de perigo constante, aos tiros, a gritaria, a dor, mas reconhecia que aquela era uma situação inusitada já que, de todos os cenários possíveis em que pudesse se imaginar sob a mira de uma arma, um assalto a banco não era um deles.

Enquanto os demais mantinham os rostos voltados para o chão, ela encarou, intrigada, os assaltantes. Especialmente, a mulher. Existia confiança demais em seus gestos, era possível que houvesse um pouco de prazer também e pelo modo autoritário com que falou com os companheiros, a identificou como líder do grupo.

— Abaixe a cabeça — a voz de Artur a alcançou. Bianca obedeceu, voltando-se para ele com ligeira irritação, coisa que estava se tornando cada vez mais frequente.

O noivo era um homem bom, mas tinha o que ela chamava de "um espírito de banana", ao menor sinal de problemas, logo se acovardava. Talvez por isso, sempre acabava por fazer as vontades dela. Não fosse por ele, não estariam vivendo aquela situação e isso a irritou muito mais; não pelo fato de estarem ali, mas pela covardia que enxergava em seus olhos acentuada pelo tremor em seus lábios que nem a barba negra e bem cuidada era capaz de esconder.

Artur encostou a testa no chão apressado e Bianca notou o par de botas ao lado da sua cabeça. Ergueu o olhar e se deparou com as íris amareladas da assaltante que se agachou ao seu lado.

— Abaixe a cabeça, moça — Adriana ordenou, reconhecendo a mulher que vira lhe dirigir um sorriso charmoso um pouco antes de entrar no banco, constatando que era ainda mais bonita de perto. E, como ocorreu naquele momento, uma linha invisível manteve seus olhos fixos um no outro por alguns segundos. Por baixo da máscara, ela arqueou uma sobrancelha, intrigada com o desafio e a promessa de perigo naqueles olhos e quase sorriu. — Abaixe a cabeça — voltou a ordenar balançando a arma e, desta vez, foi obedecida.

Permaneceu naquela posição por um minuto, concentrada em tudo à sua volta, principalmente, na sua respiração que tornava-se cada vez mais calma à medida que o tempo passava e percebia que tudo acontecia como o previsto. Quando voltou a ficar de pé, olhou para o relógio em seu pulso, tudo corria no tempo previsto. Mas, um minuto depois, sentiu um arrepio percorrer sua coluna quando ouviu Rodrigo gritar:

— A polícia está vindo!

— Foram mais rápidos do que imaginamos — murmurou, sentindo a tensão aumentar em seu maxilar quando trincou os dentes.

Tinha ido se posicionar perto de um dos guichés e, ao ouvir o aviso, correu ao encontro de Rebeca e Chico que irromperam no salão com as mochilas carregadas de notas. O gerente tinha sido nocauteado por eles um minuto antes e se encontrava desmaiado junto ao cofre.

Os quatro se aglomeraram junto à porta a tempo de ver uma viatura estacionar cantando pneus e subindo na calçada. Três policiais saltaram fortemente armados e se posicionaram atrás do veículo.

— Merda! — Rodrigo esbravejou. — E agora?

Ao seu lado, Rebeca jogou no chão uma das mochilas que segurava e soltou um palavrão.

— Não fomos rápidos o suficiente e logo teremos mais companhia — Chico declarou o óbvio com sua voz anasalada e se voltou para Adriana. — Vamos seguir o plano B. Nós distraímos eles e você foge com o dinheiro.

Rebeca concordou com um inclinar de cabeça e foi imitada por Rodrigo. Adriana engoliu em seco, fitando os amigos um por um. Não podia ver seus rostos, mas seus olhos falavam muito mais que quaisquer palavras. Quando assaltar um banco se tornou sua única opção, nenhum deles titubeou ao dizer que participaria e jamais seria capaz de descrever com palavras o que sentia pelo trio a sua frente, principalmente, Rodrigo que, além de amigo, também era seu irmão.

Respirou fundo e expulsou o ar de seus pulmões tomando uma decisão difícil.

— Se apresse! — Rodrigo apanhou a mochila no chão e lhe ofereceu.

Era o que tinham combinado, mesmo assim, se recusava a abandoná-los. Mirou a mochila por um doloroso e incômodo segundo, então disse:

— Não! Entramos juntos, sairemos juntos — se voltou para o interior do banco.

— Nós combinamos. Você concordou!

— E agora estou mudando de ideia!

Como na maioria das decisões em sua vida, Adriana não pensou muito, nem tinha tempo para tal. Rebeca ainda tentou pará-la, mas foi muito lenta; ergueu a arma e disparou duas vezes no teto.

— Todo mundo de pé! — ordenou.

Alguns gritos foram ouvidos, mas ninguém se moveu e ela voltou a atirar.

— De pé! — gritou.

Lentamente, os reféns se levantaram, uma pequena multidão de olhos chorosos e sussurros de lamentação que se aglomerou no centro da agência.

— Você doida? Que é isso?! — Rebeca perguntou, descrente.

— Nós vamos sair daqui juntos! — voltou a afirmar, sua mão envolvendo o braço do primeiro refém que avistou; mal reparou que se tratava da mesma moça de olhar desafiador que tinha lhe sorrido antes de entrar no banco.

— Não vamos arrastar pessoas inocentes pra essa loucura! — Rodrigo disse e balançou a arma furiosamente.

Decidida, Adriana apertou um pouco mais o braço da mulher e a ouviu gemer. Não estava disposta a sair dali sem os amigos e, também, não podia se permitir falhar no que havia se proposto a fazer.

— Tem uma ideia melhor para sair daqui que não seja algemado ou em um saco plástico?

O irmão a encarou por meros dez segundos, buscando outra solução. Por fim, bufou e jogou a mochila nas costas, vencido. Então, a ajudou a guiar os reféns para fora do banco, tornando-os uma massa, um escudo que os protegia da polícia. Os reféns formavam um círculo em volta deles e caminharam devagar até serem envolvidos pelo ar quente e luz do sol.

— Continuem andando — ela gritou, a arma pressionando as costas da refém que segurava.

Apenas uma viatura tinha chegado ao local até aquele momento, mas era possível ouvir o som de outras se aproximando rapidamente; em menos de um minuto, estariam completamente cercados e sem opções. Como esperado, os policiais não ousaram atirar e eles chegaram até a van sem problemas.

— Isso é estupidez! — reclamou Chico, puxando um dos reféns para perto, incentivando-o a caminhar para fora do círculo humano.

Artur trincou os dentes, quando o braço do assaltante envolveu seu pescoço, a arma em sua têmpora. Com mãos trêmulas, obedeceu ao homem e abriu a porta lateral da van. Ao seu lado, Bianca mordiscou o lábio sentindo a arma de Adriana pressionando suas costelas.

Assustados, os reféns se dispersaram quando mais viaturas começaram a chegar ao local. No meio da confusão que se seguiu, Chico atirou Artur no piso do veículo com um pouco de violência. O rapaz não ousou se mexer, tremia descontroladamente, enquanto seus lábios mexiam-se incessantemente formando palavras que não foram sonorizadas e Bianca se juntou a ele quando foi empurrada pela líder do bando que saltou para o banco da frente com um dos companheiros e assumiu o volante do veículo.

Adriana pisou forte no acelerador.

Os pneus cantaram, deixando marcas no asfalto e o banco ficou para trás, mas a perseguição tinha se iniciado. Ela fez uma curva em alta velocidade e ultrapassou o sinal vermelho, enquanto um tiro estilhaçava o vidro traseiro.

— Meu Deus! — Artur gritou com a mão na cabeça. — Vocês são loucos!

Alguns metros adiante, Adriana girou o volante rapidamente e virou em outra esquina, espremendo a van entre um caminhão e um táxi. A velocidade alta fez o veículo derrapar e atingiram um poste amassando a lataria traseira, impedindo seu avanço por alguns segundos em que Artur enxergou uma oportunidade e aproveitou para abrir a porta traseira e saltar do veículo seguindo pela rua numa carreira desabalada e sem olhar para trás.

Bianca o teria seguido se ele tivesse dado qualquer indicativo do que pretendia fazer ou a tivesse pego pela mão e arrastado. No entanto, a oportunidade se perdeu e viu, com o coração a bater mais rápido pela emoção, um dos assaltantes saltar o banco que ocupava para fechar a porta traseira, enquanto a motorista colocava-os em movimento outra vez.

Outra bala os atingiu e Rebeca gritou:

— Que inferno! Pensei que eles não atirariam com um refém no carro.

— Pensou errado! — Rodrigo gritou por cima do ombro.

— Segurem-se! — Adriana avisou um segundo antes de entrarem em uma rua de mão única, exatamente no sentido contrário da via. Ela desviou de um caminhão, sentindo um embrulho no estômago quando as laterais dos dois veículos rasparam uma na outra. Os carros afastavam-se, batiam uns nos outros, freavam, subiam nas calçadas para evitar a colisão com o deles. Mas, infelizmente, as viaturas continuavam em seu encalço.

— Droga, mulher, vai acabar nos matando! — Rodrigo resmungou com a voz abafada pela máscara, deixando que vislumbrasse um brilho assustado em seus olhos e se encolheu quando passaram por uma lombada. Um gemido rouco escapou de seus lábios ao bater a cabeça no teto e agarrou-se firme no painel quando entraram na autoestrada que levava até os limites da cidade.

— Usa a droga dessa arma para alguma coisa, ela não é de brinquedo!

Rodrigo passou a mão na testa dolorida com um palavrão, então empunhou a pistola. Pôs a cabeça para fora da janela, o braço esticado e firme aguardando o coice da arma quando disparasse. A viatura em sua mira estava quase emparelhando com a van.

— O que está esperando?!

Ele não deu atenção a pergunta, em vez disso, aguardou o momento certo e fez o disparo. Um tiro certeiro no pneu esquerdo da frente. A viatura avançou descontroladamente para a pista vizinha e bateu na cerca de proteção. Com o canto do olho, ele viu os olhos de Adriana se contraírem do mesmo modo que faziam quando ela sorria e também se permitiu dar um breve sorriso. No entanto, havia mais duas viaturas perseguindo-os.

Existia uma bifurcação à frente e Adriana os conduziu para fora da autoestrada, entrando em uma via local, quase sem transito.

— Usem os grampos!

Rebeca se juntou a Chico e a refém na traseira do veículo. Havia um saquinho preto atrás de um dos bancos e Chico o pegou, enquanto a amiga abria uma das portas. Ele despejou o conteúdo do saco na pista e observaram as viaturas rodarem e pararem alguns metros depois com os pneus murchos e cravejados por grampos.

Pelo retrovisor, Adriana viu o que aconteceu e bateu forte no volante, satisfeita, forçando o motor da van a ir cada vez mais rápido e longe do perigo. Os guiou em direção ao distrito industrial, onde havia uma dezena de galpões e fábricas abandonadas e não demorou muito para que chegassem àquele em que tinham escondido o outro carro da fuga.

A poeira no chão do galpão se ergueu quando estacionou com uma freada brusca. Quase um minuto se passou para que todos percebessem que estavam mesmo a salvo e saltassem retirando as máscaras e livrando-se das armas. Adriana permaneceu sentada ao volante, a respiração entrecortada, ainda sentindo os efeitos da adrenalina em suas veias, então percebeu o que estava se passando do lado de fora e saltou do veículo.

— O que pensam que estão fazendo?

Os amigos se voltaram para ela sem entender.

— Estão se desfazendo da única coisa que os mantém anônimos na frente da refém! — gritou.

Rebeca, Chico e Rodrigo se entreolharam, então se voltaram para a moça sentada no interior do veículo que os fitava inexpressivamente. Com toda a adrenalina da fuga, acabaram por esquecer que tinham uma "convidada".

— E mais essa, agora! — Rebeca fez uma careta, enquanto Adriana retirava sua máscara também; se a refém tinha visto os rostos dos seus amigos, não faria qualquer diferença se visse o seu também.

Bianca a avaliou com interesse e, quando viu os cabelos longos e acobreados se derramarem em cascata por seus ombros, a recordação da mulher para quem sorrira cheia de charme na frente do banco lhe chegou. Tinha achado sua beleza impressionante naquele momento, mas era muito mais agora que a viu de perto. Uma bela bandida de tez bronzeada e levemente salpicada por sardas que, se não a matasse, ela iria destruir.

— Devia ter seguido o plano — um dos rapazes a repreendeu; era baixo e magro com uma barba rala entremeada por fios grisalhos. Tinha olheiras profundas e um aspecto cansado, apesar da firmeza em sua voz e postura. Era o tipo de homem que não chamava a atenção em meio à multidão e fora dela, mas havia algo em seu olhar que fez Bianca se lembrar da famosa frase "as aparências enganam".

Analisando a situação em que se encontrava, a frase caía como uma luva. Ele esticou o braço e a ajudou a sair da van.

— Todos concordamos como isso terminaria caso a polícia aparecesse — continuou a falar. — Agora, temos um problema extra porque você foi...

— Por que fui eu mesma?! — Adriana perguntou ácida.

Chico afrouxou o aperto no braço de Bianca e estalou a língua.

— Deu certo, não deu? Estamos todos bem e livres.

— Bem, estamos. Livres... ainda é cedo para falar — Rebeca encerrou a discussão e Adriana mirou a refém que a fitava, imperturbável.

— Amarrem-na — se afastou em direção a saída. — Depois pensamos no que fazer com ela.

Rodrigo a observou com os braços cruzados e um sorrisinho no canto da boca.

— Por que essa cara de bobo alegre? — Rebeca atacou.

Ele deu de ombros.

— Ela pode ter errado em mudar nossos planos, mas eu gosto da liberdade e estou feliz por desfrutá-la por mais algum tempo — envolveu o braço de Bianca e a levou para um canto do galpão. Atou seus pulsos com um pedaço de corda qualquer, que retirou de uma das mochilas, e a trancou em um quartinho nos fundos.

De uma coisa Bianca tinha certeza, eram amadores. Não fosse assim, não teriam tirado as máscaras na sua frente. Nem por isso, se sentia menos preocupada. O fato de terem mostrado suas faces, só lhes dava uma opção em relação ao que fazer com ela: matá-la. Só restava saber quanto tempo duraria para que percebessem isso.

Com um suspiro, avaliou o quartinho imundo e malcheiroso em que foi trancada. Com exceção da sujeira e alguns pedaços de madeira velha e apodrecida empilhados em um canto de parede, estava vazio. A pouca luz que tinha, vinha de uma janela tão empoeirada que mal dava para perceber o vidro.

Fez uma careta, sentindo a dor dos nós apertados em seus pulsos e deixou um suspiro resignado escapar, observando a marca que a ausência do anel de noivado tinha deixado em seu dedo, estava folgado já que ela tinha perdido algum peso e, no meio da confusão dentro da van, ela o deixou cair. Isso a fez recordar Artur e seu olhar desesperado quando um dos assaltantes o escolheu como escudo. Era compreensível diante da situação, mas não conseguia deixar de achá-lo um pouco idiota depois do ocorrido. Nem conseguia sentir raiva pela sua covardia ao fugir e deixa-la para trás sem qualquer reserva.

Caminhou pelo quartinho, que não tinha mais que três metros quadrados, enquanto analisava suas possibilidades de fuga. A janela seria a rota ideal. Era estreita, mas tinha certeza de que conseguiria passar por ela sem esforço, o problema era que ficava a dois metros de altura e não havia nada por perto em que pudesse se apoiar para subir. A porta estava trancada pelo lado de fora. A única possibilidade, seria aguardar que um dos criminosos viesse vê-la; talvez fosse capaz de subjuga-lo, afinal, tinha os conhecimentos e as habilidades para tal, no entanto, ainda teria três inimigos do lado de fora.

Irritada, sentou-se e liberou o ar de seus pulmões, seu olhar fixo em uma mancha na parede. Mofo. Praguejava baixinho, furiosa com sua desventura. Era certo que andava entediada há tempos, mas ser feita refém em um assalto à banco e participar de uma fuga em alta velocidade com direito a tiros, acidentes e vidros quebrados era mais adrenalina do que desejava.

Baixou a cabeça e espirrou alto.

— Droga! — espirrou novamente. — Será que não tinham um lugar menos nocivo para me trancafiar?

Enquanto coçava o nariz e fungava, passeou o olhar por todas as paredes à sua volta; estavam sujas, imundas, mas não havia o menor sinal de mofo. A mancha para a qual olhava, instantes antes, tinha um formato específico. Era retangular e estava a pouco mais de um metro de altura do chão.

Aos poucos, um sorriso se formou em seus lábios.

Aquela sala devia ser um escritório quando a fábrica estava em funcionamento e a mancha na parede não era outra coisa senão o local de um ar condicionado. Provavelmente, usaram gesso para tapar o buraco e a umidade e a chuva do lado externo propiciaram a proliferação dos fungos.

Se colocou de pé, vasculhando o chão em busca de algo que pudesse lhe ajudar a quebrar o gesso. Catou, apressada, um pedaço de madeira da pilha no canto. Sentiu seu peso e consistência, então se pôs a trabalhar.


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