2° Capítulo ¹°ᴬᵗᵒ
Não dormimos juntos antes do casamento. Meu quarto é separado e fica o mais longe possível, para que não aconteça do noivo ver qualquer parte do corpo da noiva despida. É melhor para mim, pois não quero que Chio-fu me toque. Não me sinto confortável ao seu lado para me entregar a ele.
A manhã havia chegado e acordei cedo para retirar a lua do poço, enquanto Chio-fu depositou o sol.
Era o dia do casamento e logo eu teria que me preparar para o eclipse e a cerimônia.
Tian-Ti me observava atentamente. Ele estava apreensivo com esse casamento e torcia para que algo desse errado, mas duvido muito. Queria tanto me casar com quem amo. Tian-Ti é o homem da minha vida. Queria me perder em seus beijos, sussurrar seu nome enquanto ele me toca. Será que era pedir demais?
Logo voltamos e tomamos nosso café em uma mesa farta com comidas do mundo humano. Sim, não temos comida no reino, e é mais fácil conseguir as coisas nas mãos sem precisar se esforçar muito.
Sentei na ponta da mesa e Chio-fu sentou-se na outra ponta. Os guardas de confiança estavam ao nosso lado. Bom, Tian-Ti estava atrás de mim, senti seu calor me aquecendo, era reconfortante. É incrível como Chio-fu confia em Tian-Ti tão cegamente a ponto de deixá-lo me proteger. Sinto pena dele por estar escondendo essas coisas que faço, mas se ele descobrir, vai mandar Tian-Ti para o mundo humano e eu nunca mais poderei vê-lo.
Tian-Ti começou a se balançar inquieto. Ele estava cansado de ficar em pé, passou a noite em vigília pelo reino, de vez em quando sentia seu cheiro de terra molhada pelo meu quarto.
Levantei-me chamando sua atenção e puxei uma cadeira para ele, sorrindo.
— Pode sentar e comer com a gente, Tian-Ti.
Ele ergueu um breve sorriso e olhou para Chio-fu.
— Se o jovem Herdeiro permitir.
Chio-fu assentiu.
— Claro, até porque você ficou de vigia a noite toda. Deve descansar um pouco para os próximos eventos.
— Obrigado, senhor. — Tian-Ti agradeceu fazendo uma breve reverência. Ele passou por mim e fez questão de passar raspando o seu corpo em mim, o que me causou um arrepio. Eu o olhei como um aviso e ele respondeu com um sorriso convencido.
Ele puxou a cadeira para eu sentar novamente antes de sentar-se à mesa. O guarda que estava ao lado de Chio-fu fuzilou Tian-Ti com o olhar, pois ele também queria sentar-se à mesa conosco, mas Chio-fu nem considerou a ideia.
— Tome. — entreguei-lhe uma fatia de pão fresquinho do mundo humano.
Amo cuidar dele como se fosse meu filho, assim como ele cuida de mim e me trata tão bem.
— Obrigado. — senti sua perna roçar na minha, Tian-Ti brinca com o perigo.
Eu o chutei como aviso.
— Ai... — Ele reclamou.
— O que aconteceu? — Chio-fu olhou curioso para Tian-Ti.
— Nada, mestre. Eu bati na minha perna sem querer. — as últimas palavras ele tratou de dizer, direcionando o seu olhar para mim.
Revirei os olhos e continuei oferecendo as coisas a Tian-Ti.
Esse dia parece não acabar. Queria terminar rapidamente esse casamento e ter Tian-Ti por perto à noite, mas não sei como ele planeja fazer Chio-fu esquecer de mim na nossa noite de núpcias.
A movimentação no palácio era grande. Todos os empregados estavam voltados para a festa de casamento, e nem é com o casamento em si. Eles querem mostrar que Wenzayh é o melhor reino das estações, que dá as melhores festas e apresentações de casamento.
Chio-fu saiu novamente para a vila, então aproveitei e fui procurar por Tian-Ti. Corri pelos corredores em busca do meu guarda, porém não o encontrei. Talvez ele esteja focado nas apresentações. Ele tem essas ambições de ser melhor que os outros. Somente encontrei a minha criada, que parecia estar à procura de alguém.
Ela era encarregada de me ajudar em tudo: a me arrumar, a me maquiar e até mesmo a preparar a minha banheira com perfumes de rosas. Ela é a única com quem compartilhei o meu segredo sobre Tian-Ti.
Ela acenou para mim e sorriu um pouco empolgada, fazendo reverência a mim.
— Jovem Herdeira, preciso que você me acompanhe. Precisa arrumar-se ou o Jovem mestre me mandará para o mundo humano. — O medo cruzou o seu olhar.
Suspirei pesadamente. Não tinha realmente um momento de paz depois que fui designada como Herdeira da Lua.
— Eu sei, mas você sabe o quanto eu estou tentando adiantar esse compromisso.
Ela sorriu e bateu palmas alegres.
— Por que está contente ao ver essa desgraça? — perguntei. Era incrível vê-la fazendo isso bem na minha frente.
— O jovem guarda pediu para eu avisar que ele virá te ver depois que estiver pronta. — ela contou.
Meu rosto se iluminou ao ouvir a notícia. Ele seria o primeiro a me ver realmente como noiva.
— O que estamos esperando? Vamos. — Comecei a caminhar, puxando-a pelo pulso para seguir o ritmo da minha caminhada.
O vestido era vermelho com listras brancas, desenhos de rosas e luas em diferentes fases. Ele cobria todo o meu corpo, sem deixar nenhuma parte nua. Sentei em um banco em frente à penteadeira de carvalho e vi meu reflexo no espelho. A vontade de sumir do reino era grande. Será que eu, a Herdeira da Lua, realmente precisava me casar com o Herdeiro do Sol? Por que este reino tinha que ser tão difícil?
Minha criada prendeu uma boa parte do meu cabelo. Ela aplicou algumas presilhas de ouro e o pente dourado foi colocado no aplique que eu usava. Minha maquiagem foi feita levemente para chamar a atenção. Um batom vermelho nos lábios e uma base no meu tom de pele, com uma lua minguante desenhada com pigmento vermelho no meio da testa.
Minha criada foi até a cômoda e pegou o véu, que era vermelho com desenhos em dourado e estava preso a uma tiara. Fiquei cabisbaixa para que ela pudesse colocá-lo, mas o véu acabou ficando para trás. Não quis colocá-lo para frente, pois queria ver Tian-Ti antes de abaixar o véu.
— Eu sei que você não quer se casar com o rei, mas tem certeza de que quer levar esse relacionamento com o Guarda Chin adiante? — ela perguntou.
Eu ergui a cabeça e franzi o cenho.
— Claro que sim. Não tenho medo do que está por vir. — resmunguei.
— Mas você não tem medo de levá-lo para o caminho da morte? — ela questionou.
Eu bati minha mão contra a madeira de carvalho da penteadeira.
— Como ousa falar de tal assunto?! — encarei-a com raiva.
A criada encolheu os ombros timidamente.
— Perdão, jovem herdeira. Não quis mencionar isso para atingi-la, apenas estava questionando.
Suspirei pesadamente. Era óbvio que eu tinha medo de levar Tian-Ti à morte, mas não iria demonstrar essa fraqueza diante dos meus criados.
— Eu entendo, mas não ouse tocar neste assunto novamente. É uma ordem.
— Sim, perdão, jovem herdeira.
— Não se lamente. Eu não gosto disso. Apenas não comente mais.
— Tudo bem. Eu já terminei o meu serviço. A senhorita está pronta e está linda. — Ela sorriu satisfeita com o seu trabalho.
Olhei-me novamente no espelho. Meus lábios estavam muito chamativos. Com certeza, essa seria a primeira coisa que Tian-Ti iria perceber.
— Obrigada por me ajudar.
— Faço tudo para agradá-la, mestre. — ela se curvou brevemente e sorriu.
— Está linda... — a voz doce e aveludada ecoou pelos quatro cantos das paredes. Virei-me para vê-lo: Tian-Ti estava me fitando e sorrindo como nunca, seu rosto iluminou-se. — Minha doce Mas-ayu.
— Com sua licença. — a criada curvou-se brevemente para mim e começou a caminhar, passando sem olhar para Tian-Ti.
Tian-Ti deslizou para dentro do meu quarto e veio em minha direção.
— Que tentação... — Sussurrou, deslizando seu olhar até meus lábios. Fiquei vermelha e cabisbaixa. Ele sentou-se ao meu lado na cama.
— Desculpa... — Disse quase inaudível.
— Pelo quê? Mas-ayu, está me deixando preocupado. — Sua mão pegou a minha e apertou em conforto.
— Eu não queria ter nascido Herdeira da Lua, queria ter vivido nas vilas de Kewondn, e eu poderia ter me casado com você, não com Chio-fu. Tian-Ti, eu queria ser feliz com você.
— Você passaria por muitos desafios lá... É melhor que seja assim. Eu estou aqui com você e nunca te abandonarei, mesmo que isso me custe a vida. — ele levou sua mão ao meu rosto e acariciou minha bochecha. Seu olhar brilhava apaixonado, e sorri sentindo o calor de sua mão macia.
— Você é minha, doce Mas-ayu, e eu sou seu, todinho seu.
Sua mão boba pulou para minha coxa e deslizou devagar até chegar em uma zona perigosa. Levei minha mão ao encontro da dele e apertei, reprimindo um gemido desejando o seu calor. Ele sorriu satisfeito com o resultado, aquele sorriso lindo.
— Obrigada por me apoiar, eu te amo.
— Eu aposto que te amo muito mais. — ele cutucou meu nariz com o dedo, me arrancando uma risada e fazendo-o rir junto comigo.
Levantei da cama e sorri, oferecendo-lhe a minha mão para ajudá-lo a levantar-se.
Ele aceitou e, com minha ajuda, levantou-se.
— Quer fazer as honras? — perguntei, pegando meu véu que estava atrás da minha cabeça.
Aqui está o texto revisado:
— Só se eu puder tirá-lo depois. — ele sorriu malicioso.
— Para. — dei um tapa bobo nele.
— Eu prometo que vou tirá-lo depois. Vejam só, suas bochechas estão tão vermelhas. Que fofa. — ele apertou minha bochecha e riu.
— Para, bobo. — sorri abobada.
— Já parei. — Ele revirou os olhos, erguendo os seus braços só um pouco para pegar o véu vermelho. Ele não fez nenhum esforço, já que sou um pouco mais baixa que ele. Ele parou antes de largá-lo sobre o meu rosto.
— Mas-ayu, eu tenho um pedido a fazer, mas só quando eu te encontrar depois do casamento. — seu olhar misterioso me deixou intrigada.
— Esse pedido é especial? — perguntei curiosa. Tian-Ti nunca foi de pedir coisas, deve ser algo especial.
Ele assentiu, largando o véu para acariciar meu rosto. Ele aproximou o rosto do meu e depositou um beijo caloroso em minha testa. Sorri, sentindo o calor deixar minha testa quando ele se afastou.
— Te vejo depois, minha doce Mas-ayu. — seu sorriso desfez-se e a tristeza cruzou seu olhar. Ele pegou o véu novamente, pronto para baixá-lo sobre meu rosto. Impedi colocando minha mão em seu rosto.
— Preciso do beijo do meu noivo. — sussurrei, me aproximando vagarosamente. Magicamente, como um ímã, ele aproximou seu rosto e sorriu quase colando nossos lábios.
— Como não ceder ao pedido da minha doce... Doce... Mas-ayu? — sua mão arrastou-se perigosamente para trás do meu pescoço, me arrancando um arrepio e um gritinho bobo quando ele me puxou, colando nossos lábios em um beijo lento e caloroso.
O beijo começou a se intensificar. Me afastei e sorri.
— Vai com calma! — soltei uma risadinha. — Assim o batom vai manchar.
Ele riu e passou o dedo no canto da boca para limpar o batom. Voltou a me ajudar com o véu.
— Até depois do casamento...
— Até meu guarda.
Seu sorriso foi a última coisa que vi e logo o pano do véu cobriu o meu rosto inteiro, agora só Chio-fu poderia levanta-lo, a pior pessoa que eu poderia odiar.
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