81: do you wanna restart?

Quando Jimin finalmente recuperou boa parte dos seus sentidos, tentou abrir os olhos e sentiu mais uma dor forte em sua cabeça.

— Ah... — Murmurou, dolorido, tentando reconhecer o local onde estava com a vasta visão que tinha.

A primeira coisa que vasculhou, foi a sensação dolorosa em sua bunda, que felizmente, não estava lá. O que significava que provavelmente nada tinha acontecido.

Pior que aquilo, quando tentou levantar-se, sentiu uma das mãos contra algo duro e gelado, dando conta de que estava realmente algemado contra a cabeceira da cama.

Grunhiu irritado, lembrando-se do que havia acontecido na mesma noite, visto que ainda estava escuro e nada agitado, com a vasta luz da lua iluminando a janela.

Lembrou-se de sentar no carro e sentir algo o agarrar pelas costas, e mesmo que tivesse tentado defender-se, sabia que não iria acabar bem.

Antes de começar a especular sobre quem diabos poderia ter feito aquilo e por qual motivo, a porta um tanto distante de sua posição fôra aberta.

Jimin viu ali, o rapaz de cabelos castanhos, orelhas grandes e lábios carnudos, entrar no quarto e fechar a porta com certa força.

Percebeu pela sua postura, reações e respiração acelerada, que ele estava de fato, com raiva.

Nada melhor.

— Park Chanyeol. — Jimin jogou a cabeça para o lado, impressionado. — Porque é que eu não estou surpreso?

— Que bom que acordou. — O outro sorriu, levantando o canivete em suas mãos.

Jimin não pôde negar que ver aquilo em mãos alheias poderia o assustar bastante, mas precisava provocar Chanyeol para provar que de fato, não tinha medo dele.

Olhou ao redor, observando o quarto bem arrumado e paredes de cores frias, neutras, corroendo seu juízo como uma maldita bactéria.

— Que lugar esquisito pra levar uma vítima de sequestro, uh? — Perguntou, abrindo um sorrisinho sarcástico. — Cadê o armazém fedorento? A cadeira de madeira? As mordaças?

— Cala essa boca, Jimin! — Chanyeol resmungou, aproximando-se da cadeira ao lado da cama.

— Eu não. — Jimin deu de ombros. — Se for pra me sequestrar, que sequestre direito, porra. Sabe nem sequestrar.

— Jimin... — Chanyeol grunhiu, por fim, sentando-se. — Não estou aqui pra torturar você.

— Ah, e uma algema que tá apertando que só o caralho não é tortura o suficiente? — Jimin perguntou, quase rolando os olhos.

— É claro que é. — Chanyeol respondeu. — Eu só vim pegar o que é do Jungkook, assim como ele pegou o que era meu.

Jimin automaticamente engoliu em seco ao lembrar do acontecido na noite anterior, sentindo o coração apertar só de pensar em não ter Jungkook como seu namorado.

Só de pensar em não ter mais a oportunidade de beijar sua boca, murmurar juras de amor e demonstrar todo o seu afeto.

Jungkook não estava mais em sua vida, naquele momento, não havia algema nenhuma que superasse as feridas deixadas em seu coração.

Os destroços causados por Jeon Jungkook, que apesar de ter sido uma decisão aparentemente certa e menos egoísta, Jimin gostaria de enfrentar todos os perigos para mantê-lo ao seu lado.

— Nós não... — Jimin engoliu em seco, tentando evitar as lágrimas que dominaram as laterais dos seus olhos. — Não estamos mais namorando.

— Oh... — Chanyeol entreabriu os lábios, tateando razoavelmente o canivete em mãos. — Além de querer me irritar, vai mentir pra mim também?

— Eu não estou mentindo! — Jimin respondeu, indignado. — Nunca mentiria sobre uma coisa dessas.

— Então prove que é verdade. — Chanyeol deu de ombros, esperando uma confirmação.

Jimin suspirou, derrotado, não estava afim de falar sobre o assunto, e era provável que Min Yoongi já estivesse revirando os quatro cantos do inferno atrás de si.

— O que... — Começou, aconhegando-se no colchão. — O que você vai fazer com esse canivete? Me matar?

— Te matar? — Chanyeol soltou uma risadinha. — Isso não, Jimin-ssi. Não sem o Jungkook aqui, não sem que ele te veja sofrer.

Chanyeol levou as mãos até o bolso da calça do menor, retirando dali seu celular, inclinando na direção do dono para que pudesse colocar a senha.

— Agora eu vou te gravar... — Chanyeol sorriu. — Quando o Jungkook souber que você está na minha cama, não vai ter castigo pior.

— Não abre a conversa, por favor! — Jimin pediu, quase implorando.

— Porque não? — Chanyeol perguntou, confuso. — Com medo que eu descubra o seu segredo?

— Muito pelo contrário! — Jimin respondeu, irritado. — Não posso abrir a conversa, eu tenho que perder meus sentimentos por ele!

— Ah. — Chanyeol assentiu. — Deixe-me ver essa conversa, então...

— Você é um idiota invasor de privacidade. — Jimin fez uma careta. — Vai, diz o que ele mandou.

— "Me desculpa, meu bem, eu realmente não queria te magoar" — Chanyeol repetiu, erguendo uma sobrancelha. — "Era a minha única opção".

Jimin baixou a cabeça, tristinho com toda a situação, enquanto prensava os lábios e segurava as próprias emoções para não chorar ali mesmo.

— Só para de ler e faz o que você tem que fazer logo. — Jimin pediu, evitando olhar nos olhos alheios.

Chanyeol, ainda desconfiado, levantou-se, indo em direção ao tripé em frente a cama, buscando a câmera na estante ao lado.

— Ei, o que diabos você pensa que vai fazer? — Jimin egrueu uma sobrancelha, confuso.

— Eu não vou fazer nada de errado com você, se é isso que você pensa. — Chanyeol respondeu, baixinho. — Sou apenas vingativo.

— E então, o que vai fazer? — Jimin perguntou, ainda apreensivo. — Por mais que minha parte ruim queira que Jungkook sinta o que estou sentindo agora, ele não merece passar por todo esse sofrimento.

— Vou dar a entender, apenas. — Chanyeol deu de ombros. — Jungkook é um puta ciumento, se me ver com você, principalmente depois desse término, vai doer bem mais do que qualquer outra vingança.

Jimin apenas o observou, crente de que não haveria nada mais para fazer, senão procurar o moreno e explicar toda a situação assim que saísse dali.

Era claro que a história de ambos não acabaria ali, Jimin lutou e enfrentou vários demônios para descobrir o verdadeiro eu do homem pelo qual estava apaixonado, não podia o perder dessa forma tão grotesca.

— Sabe... — Chanyeol pigarreou. — No dia em que a Yoora morreu, no dia em que eu li a proclamação daquela carta, não teve sentimento pior que algum ser humano pensante poderia sentir.

Jimin o observou regular a câmera e caminhar em sua direção, sentando-se ao seu lado, levando os dedos largos até o botão de sua camisa, escondendo a mão algemada contra a cama atrás do próprio corpo.

— Ela era a minha irmã preferida, Jimin. — Chanyeol explicou, com os olhos cheios de lágrimas. — Perdê-la pra aquela situação foi de longe a situação mais dolorosa da minha vida.

— Porque tanto rancor, Chanyeol? — Jimin ergueu uma sobrancelha, confuso. — Você por acaso leu a carta?

— É claro que eu li! Todo mundo da família ouviu aquela desgraça! — Chanyeol gritou, irritado. — Se você acha que a porra do seu namoradinho é inocente, você está tremendamente enganado.

— O Jungkook não é mentiroso! — Jimin gritou de volta, erguendo o corpo. — Ele pode ser tudo, mas não é mentiroso! Ele é honesto, sincero, não foi culpa dele tudo que ele passou!

— Ele batia na Yoora, Jimin! — Chanyeol gritou. — Ele maltratava ela, acabava com a sanidade dela, e mesmo assim, ela sempre escolheu estar ao seu lado!

— Meu deus, bata na sua cara antes que eu bata. — Jimin revirou os olhos. — Você está realmente se escutando?

— Você não sabe de nada! — Chanyeol grunhiu.

— Nunca passou pela sua cabeça nada mais do que essa vingança idiota? — Jimin pergunto, irritado.

— O quê? — Chanyeol parou os movimentos, confuso, olhando no fundo dos seus olhos castanhos. — Do que está falando?

— Chanyeol, me escuta, por favor... — Jimin pediu, apreensivo. — Sei que você tá com muita raiva, é claro que está. E no seu lugar, eu também estaria, se não soubesse de toda a verdade.

— Que verdade, Jimin? — Chanyeol perguntou, confuso.

— Toda a verdade! — Jimin respondeu. — Ontem, hoje, sei lá, eu fui na casa do Jungkook, fomos fazer as pazes com o Taehyung...

— São meia noite e meia. — Chanyeol murmurou.

— Ai, que se foda esse horário, foca em mim! — Jimin resmungou.

— E eles já estão se falando? — Chanyeol perguntou, curioso.

— Sim, sim, claro que estão. — Jimin respondeu, assentindo. — A questão é que estávamos no meio de algo íntimo e o carro do pai dele estacionou na porta de casa.

— Jungwoo? — Chanyeol perguntou. — Outro idiota nojento.

— E como. — Jimin revirou os olhos. — Talvez você não acredite agora, mas descobrimos coisas muito importantes sobre a morte da sua irmã, e do passado do Jungkook.

— Jimin. — Chanyeol o chamou, passando uma das mãos pelos cabelos. — Não minta pra mim, por favor. Eu sei que eu posso ter feito o que fiz, mas... Eu não sou um assassino, eu só... Tenho medo. Eu fiquei sozinho.

— Não estou mentindo, Chanyeol. — Jimin assentiu, mordendo o lábio inferior. — O pai do Jungkook... Foi ele.

— Ele o quê? — Chanyeol perguntou, levando o canivete até o chão, mais acomodado.

— Foi ele quem matou sua irmã. — Jimin respondeu, baixinho. — Sei que você passou a sua vida toda acreditando na letra daquela carta, mas, Jungwoo a obrigou a escrever aquilo antes de empurrá-la janela abaixo.

— Jimin... — Chanyeol grunhiu, confuso. — Droga, não posso acreditar nisso, você ao menos tem provas!

— Eu... Eu... — Jimin olhou ao redor, procurando alguma solução. — É claro que eu tenho! Isso! É isso!

— O quê? — Chanyeol perguntou, esperando uma declaração.

— Levante a minha camisa. — Jimin pediu, seguro de si.

— Que? Mas foi você quem disse pra eu não tocar em você! — Chanyeol contestou.

— Levante a porra da minha camisa, Chanyeol. Na região estomacal. — Jimin pediu. — Preciso que tire fotos também.

— Certo, mas... — Chanyeol assentiu, confuso.

Levou os dedos até os últimos botões, exibindo seu abdômen, arregalando os olhos ao ver a marca arroxeada ali, prensada de tanto sangue.

— Meu deus do céu, quem fez isso com você? — Chanyeol ergueu uma sobrancelha, confuso. — Você quer que eu pegue alguma coisa? Sei lá! Algo que possa te tratar?

— Eu levei um soco, Chanyeol! — Jimin grunhiu. — Foi o Jungwoo que me deu esse soco! Se fizermos exames, tirarmos as digitais, posso provar que foi ele quem tirou! E então, você pode ficar do meu lado!

— Eu acredito em você, Jimin. — Chanyeol assentiu, ainda exasperado pela quantidade de arroxeado presente ali. — Como isso aconteceu?

— Ele ia bater no Jungkook e eu... — Jimin fez menção de se jogar. — Eu me joguei na frente, levei esse murro também.

— Você é retardado mental, Park Jimin? — Chanyeol perguntou, indignado. — Jungkook tem muito mais estômago pra aguentar uma pancada dessas. Porque diabos você se jogou?

— Porque eu o amo! — Jimin respondeu, simplista. — Faria tudo para que ele não saísse machucado, mas... A briga se agravou e acabou dando tudo errado. Nós terminamos.

— Porque estavam brigando? — Chanyeol perguntou, baixinho.

— Porque ele havia confessado... — Jimin respondeu. — Além do que fez com a Yoora, também torturou o Jungkook para que pudesse fazer o que ele mandasse. Sua irmã nunca sofreu agressão pelo Jungkook, e sim... pelo pai dele.

— Pelo pai? — Chanyeol indagou, confuso. — Como assim, Jimin?

— Transtorno Explosivo Intermitente, — O menor explica. — É isso que o pai dele tem, é isso que o filho desenvolveu. Jungkook pode sim ter sido agressivo, mas ele nunca encostou um dedo na sua irmã, ele foi incriminado, drogado e claramente influenciado, Chanyeol!

— Sim, claro! — Chanyeol assentiu, perplexo. — Então o Jungkook não... Fazia por querer?

— Não, claro que não! — Jimin respondeu, óbvio. — Jungkook é a pessoa mais dedicada que eu já conheci, ele nunca perderia a paciência com alguém assim, logo naquele tempo que estava supostamente fazendo o tratamento.

— Jesus... — Chanyeol murmurou, assustado e surpreso com todas as declarações, levantando-se da cadeira.— Fique aí, eu volto já.

Jimin o observou ir em direção a porta e sair na velocidade da luz, a deixando razoavelmente aberta.

— Não tem bem como eu sair daqui, seu idiota! — Resmungou, levando o olhar até o arroxeado em sua barriga, lembrando-se do ex sogro. — Filha da puta.

Chanyeol rapidamente voltou, com uma pequena chave em mãos, e uma caixinha de primeiros socorros, apoiando a mesma em cima da cama.

— Deixe eu ver essas algemas. — Pediu, observando o menor erguer o braço. — Me desculpa por te algemar, Jimin.

— Tudo bem, você só me algemou. — Jimin deu de ombros. — Acontece todo dia, sabe? Tô acostumado.

— É só que... — Chanyeol pediu espaço para sentar-se ao seu lado, abrindo a caixinha. — Situações desesperadas, pedem medidas desesperadas.

Jimin amoleceu o braço, girando os pulsos, resmungando de dor. — Tá dormente, vai se foder.

— Me desculpe... — Chanyeol suspirou, procurando o remédio adequado ali dentro. — Vou te dar um relaxante muscular e podemos conversar mais um pouco.

— E como eu vou saber que essa porra aí não é veneno? — Jimin perguntou, desconfiado.

— Jimin, eu sou médico. — Chanyeol o olhou, com a maior cara de tédio do mundo. — Será que podemos?

— Tá. Vai. — Jimin meneou a cabeça para o lado, assentindo.

Chanyeol retirou um pequeno algodão de seu kit, molhando com álcool antes de passar em seu ferimento, lubrificando a região.

— Agora eu vou passar esse gel muscular e você vai sentir uma pequena dormência, ok? — Chanyeol explicou.

— Certo. — Jimin assentiu. — Ai! Cão! Que porra é essa? É gelado!

— Sh... — Chanyeol pediu silêncio, espalhando por toda a região. — Relaxe, Jimin.

— Tô tentando. — Jimin resmungou, ofegando pela região dolorida.

— Agora engula isso aqui. — Chanyeol pediu, lhe entregando o comprimido e um copo de água. — Por favor, não quebra esse copo na minha cabeça.

— Eu não vou. — Jimin respondeu, nervoso. — Acredite em mim, estou tão irritado quanto você nessa história.

— É uma merda. — Chanyeol respondeu, baixinho. — Descobrir tudo isso agora...

— Eu sei que é. — Jimin assentiu, levando uma das mãos até o ombro do maior.

Chanyeol rapidamente levou o copo até o chão, sentando na lateral da cama com as duas mãos apoiada nas coxas.

— E eu fiz isso com você também... — Chanyeol mururou. — Me desculpe, Jimin, espero que você não me denuncie.

— Eu não vou. — Jimin soltou uma breve risadinha, encolhendo-se contra a parede mais próxima. — Vamos denunciar o Jungwoo juntos.

— Vamos? — Ele indaga, surpreso.

— Chanyeol, isso que fez comigo foi errado de tantas maneiras que eu nem consigo explicar, — O menor rebate, irritado. — A única coisa que me impede de não quebrar esse copo na sua cabeça agora é a minha sede de vingança. Então, de certo modo, eu vou precisar de você como testemunha.

— Não tem como. Não temos provas. Você tem alguma prova? — Chanyeol perguntou, com a voz baixa.

— Bem, sobre isso... — Jimin juntou as mãos contra o corpo, sorrindo amarelo. — É...

— Jimin! — Chanyeol o chama novamente. — Por favor, não me denuncie, por favor, por favor, por favor...

— Eu não vou te denunciar se você for minha testemunha nesse caso — O outro rebate. — Você é irmão da Yoora. Seu tratamento vale muito mais do que o meu, Chanyeol.

Por um segundo, Jimin parou de falar, apenas para ouvir as lamúrias e o barulho baixinho de ofego saindo da boca do moreno, apoiado em seus joelhos.

Suspirou, um tanto desconfortável com a situação, já que aquele rapaz estaria supostamente o sequestrando segundos atrás, e agora estava chorando que nem uma criança quando lhe tomaram o doce.

— Chanyeol... — Jimin murmurou, tomando a cabeça para o lado. — Não chore, por favor!

— Não chorar? — Chanyeol apertou as mãos em punho, irritado. — Eu passei toda a minha vida achando que o homem que matou a minha irmã era inocente, culpando a pessoa errada, julgando o Jungkook sem ouvir sua versão da história, eu sou horrível!

— Ai, me poupe dessas baboseiras, Chanyeol. — Jimin grunhiu, começando a se irritar também. — Se me permite dizer, sua irmã também não era a virgem maria santíssima, ouvi coisas bem feias ao respeito dela.

— Yoora não era o tipo de pessoa gentil e humilde... — Chanyeol assentiu. — Mas ela tinha um coração enorme, apesar de tudo.

— Não pareceu bem que ela tinha um coração quando aceitou manipular o Jungkook pra ganhar dinheiro do pai dele. — Jimin tombou a cabeça para o lado, tentando entender a situação.

— Ela não tinha muita escolha. — Chanyeol murmurou. — Mamãe estava doente... Não conseguiríamos dinheiro de forma limpa. Os negócios do papai não eram muito bem vindos na cidade, ele era corrupto.

— Então você está realmente... Sozinho? — Jimin perguntou, mordendo a pontinha do lábio inferior, sentindo o coraçãozinho apertar.

— Ah, não, não, essa parte era drama. — Chanyeol limpou uma das lágrimas que escorria em sua bochecha, negando com a cabeça. — Mamãe se mudou com medo, depois que foi curada, e papai não está mais entre nós. Por isso o testamento da casa deixou pra mim a mansão ao lado da casa do Jungkook.

— Chanyeol, me desculpa, mas... — Jimin ergueu o corpo para apiar-se nos tornozelos. — Se você mora tão próximo, porque nunca fez nada? E pelo amor de deus, onde estamos? Não me diga que você me trouxe pra outra cidade ou algo do tipo.

— Não, não. — Chanyeol negou. — Para ambas. Eu tenho toda essa estatura e sou meio ogro, mas não machucaria nem uma mosquinha, Jimin. Se você me pedisse pra te soltar eu lutaria contra os meus sentidos.

— Você é médico, afinal. — Jimin assentiu. — Você tecnicamente foi criado para cuidar das pessoas, não matar.

— É uma metáfora, você coloca a coisa que mata entre os dentes mas não dá a ela o poder de te matar. — Chanyeol o olhou de canto.

— Tá, Ansel Elgort, agora me conta a verdade, sim? — Jimin pediu, tentando permanecer sério.

— Estamos no único parimônio que a minha irmão deixou pra mim depois de morta. — Chanyeol explicou. — Achei que ficaria mais dentro do contexto.

— Então... — Jimin olhou ao seu redor, impressionado. — Você quer vingar sua irmã quando ela te deixou esse cafofo cafona pra morar? Sinceramente, se você ficar pobre vai ter que morar na rua. Eu não vingaria.

— Você quer parar de fazer piada de tudo que eu falo? — Chanyeol quase riu, observando o menor abrir um breve sorriso.

— Fazer piadas alivia a tensão do meu corpo. — Jimin deu de ombros. — Imagina se eu acumulo e quebro esse projétil de apartamento em pedacinhos?

Chanyeol negou rapidamente, curvando o cantinho dos lábios, alegando que Jimin era realmente impossível e que talvez aquela fosse a razão pela qual Jungkook também estaria completamente apaixonado por ele.

— Mas, então... — Jimin engoliu em seco, erguendo as pernas para sentar-se ao lado do maior. — Me ajude a desconstruir sua irmã, já que você quer tanto.

— Jungkook e Yoora se conheceram na faculdade, você já deve saber, uh? — Chanyeol perguntou. — Começou aí.

— Como diabos Jungwoo sabia que Jungkook era apaixonado por ela? — Jimin ergueu uma sobrancelha, confuso.

— Ele sempre sabe de tudo, pelo visto. — Chanyeol deu de ombros. — Depois de toda essa fodida e falsa história de amor, houve o casamento, Taehyung apareceu bêbado, falou algumas merdas que eu não consigo lembrar, e...

— Eu lembro. Continue. — Jimin assentiu.

— E depois disso, tudo foi apenas flores. — Chanyeol continuou. — Era o que parecia, de fato. Yoora chegava em casa mês após mês com lotes do dinheiro limpo de Jungwoo para pagarmos o tratamento. E agora eu entendo porque a troca foi tão ''justa'', não propriamente dito, é claro.

— Porque o dinheiro limpo era de fato, em troca da sanidade mental do seu filho. — Jimin assentiu. — Essa parte me deixa com tanta raiva, Chanyeol. Eu preciso estrangular esse cara!

— Yoora era preciosa. — Chanyeol fez o mesmo biquinho nos lábios. — Ás vezes eu acho que esse luto nunca vai realmente chegar ao fim. Ela parecia asquerosa, mas ela nunca quis ser uma pessoa má, eu acho.

Jimin prensou os lábios mais uma vez ao ver o mar de lágrimas escorrer dos olhos de Chanyeol mais uma vez, enquanto o mesmo afagava o rosto contra as suas prórpias mãos.

— Sabe, Chanyeol... — Jimin ousou pousar uma das mãos nas costas alheias, fazendo um breve carinho ali. — Eu também perdi alguém, já perdi antes, e perdi hoje.

— O Jungkook? — Chanyeol perguntou, soltando um breve soluço.

— O amor da minha vida, sim. — Jimin assentiu. — Eu pareço bem, mas, toda vez que eu pisco, ou paro de me distrair, o olhar que estava em seu rosto quando ele se aproximou de mim volta com tudo.

— Eu entendo... — Chanyeol assentiu.

— Ele é tudo nessa terra que pode ser capaz de me destruir, mas, também é parte de uma das coisas que mais podem me fazer feliz. — Jimin murmurou, lubrificando os lábios ao olhar para cima, evitando chorar. — Eu o amo, e dói como um inferno, assim como você amava a Yoora.

— Me desculpa, Jimin... — Chanyeol fez um biquinho, começando a realmente, chorar alto.

— Jesus, como você é chorão. — Jimin meneou a cabeça para o lado, abrindo os braços. — Venha aqui, me dê um abraço. Vai ficar tudo bem.

— Eu vou testemunhar... — Chanyeol responde, com a voz de choro. — E fazer terapia.

— Vai mesmo, viu? — Jimin responde, claramente absorto. — Você precisa de terapia, cara. Tá fazendo absurdos.

— Chanyeol, o jogo acabou! — Ouviu a voz familiar ecoar pelo corredor, erguendo a cabeça em direção a porta.

— Eu tenho uma frigideira e não tenho med de usá-la! — Ouviu dessa vez, o grito de Yoongi, mais alto que o normal. — Ela é da polishop!

Segundos depois, a porta fôra aberta sem aviso prévio, revelando um Yoongi com o rosto completamente inchado de lágrimas, um Taehyung confuso, um Hoseok vestido de mulher com sua filha nos braços, e um porteiro completamente encantado com três figuras da moda no mesmo quarto.

— Mas que porra está acontecendo aqui? — Yoongi gritou, abismado.

— Puta merda, é Park Jimin. — Foi a primeira coisa que o porteiro murmurou, impressionado.

— Papai! — Hyosun gritou, esperneando-se para deixar o colo de Hoseok e ir em direção ao seu pai.

Jimin jurou que não choraria ali, mas, quando o abraço apertado da sua filha o envolveu, sentiu como se nada mais importasse ali, como se ainda houvesse alguém que o amasse verdadeiramente, sem limites.

— Meu amor... — Jimin murmurou, enterrando o rosto nos cabelos macios da menor. — Papai sentiu tantas saudades.

— Oi, senhor orelhudo. — Hyosun acenou para Chanyeol, que sorriu em sua direção, sem graça.

— Oi, Yoongi. — Jimin quis rir da boca aberta do maior, o observando com a frigideira em mãos.

— Agora a madame vai se fazer de desentendida? — Yoongi perguntou, cruzando os braços.

— Não faz isso. — Jimin negou. — Temos muita coisa pra conversar, muita mesmo.

— Felizmente, nós temos. — Taehyung sorriu, aproveitando-se para jogar-se na cama acolchoada.

— Com licença, mas, não tem mais nenhum sequestro acontecendo aqui não, né? — O porteiro perguntou, confuso.

— Não, cara! — Hoseok bufou, jogando os saltos em qualquer canto do quarto.

— Hoseok, meu anjo, porque você tá vestido de mulher? — Jimin perguntou, confuso.

— Porque ele é a nossa mamãe agora. — Hyosun deu de ombros.

Jimin arregalou os olhos e ergueu o queixo um pouco acima, sem palavras. — A.

— Alguém pode me explicar porque eu não tô na minha cama dormindo agora mesmo? — Yoongi perguntou, indignado. — Isso poderia ter sido tão simples! Que merda, Jimin!

— Calma, deixa eu explicar, ok? — Jimin suspirou, passando as mãos entre os fios escuros.

— Você tem mesmo. Antes que eu dê com a minha panela na cara desse projeto de dumbo aí. — Yoongi fez careta.

— De início, eu fui sim sequestrado. — Jimin começou. — Mas, nós descobrimos algo muito perpicaz entre nós dois, algo que pode mudar o nosso futuro em relação ao Jungwoo.

— Sequestrado? — Yoongi indagou. — E porque não estamos na delegacia denunciando esse filho da puta?

— Ele vai depor — O menor respondeu. — Esse foi nosso acordo. Ele vai me ajudar com o caso do Jungwoo.

— E fazer terapia... — Chanyeol murmura, baixinho.

— Cale a boca! — Yoongi o repreende, morto de ódio.

— Finalmente alguma coisa produtiva, o que vocês descobriram? — Taehyung perguntou, ansioso.

— Nada que você já não saiba. — Jimin deu de ombros. — Mas, os meninos precisam saber também.

— Que o Jungwoo matou a Yoora? — Hoseok perguntou, confuso. — Ah, já sabemos. Taehyung contou no caminho.

— Nossa, que frieza. — Yoongi ergueu uma sobrancelha.

— Falou o dono do polo norte. Menos oitenta graus. — Jimin rebateu.

— Pra ser sincero, eu nunca gostei da sua irmã mesmo. — Hoseok deu de ombros. — Mas, eu sou respeitoso e digo que precisamos sim, fazer justiça. Por ela, e pelo chefinho.

— Falando nela e no chefinho... — Jimin ergueu uma sobrancelha em direção a Chanyeol. — Eu tenho mais uma pergunta.

— Ah, pode perguntar. — Chanyeol concebeu, atento.

— Porque o Jungkook nunca foi um bom pai? Mesmo depois da morte da Yoora, ele não a tratou bem. — Jimin explicou. — Porque?

— Ah... — Chanyeol engoliu em seco. — Bem...

— Bem? — Jimin ergueu uma sobrancelha, esperando uma resposta.

Chanyeol olhou em direção a Taehyung, quase como um pedido de socorro, e Jimin não custou em seguir sem olhar e observar Taehyung ficar um tanto afoito com aquele pedido.

— Porque eles nunca tiveram uma boa relação, é claro. — Taehyung contestou, um tanto nervoso. — A menina nasceu e teve que lidar com o pai a rejeitando, com sua mãe brigando com o seu avô, com diversos desconfortos ao longo da vida dela. Jungwa sofreu muito, Jimin. Parte disso por conta do pai do Jungkook. Algumas coisas nela o fazia lembrar das coisas que eles passaram.

— Nós precisamos levar esse maldito até a cadeia, ou pior! — Chanyeol grunhiu, irritado. — Ele não pode escapar ileso!

— Não, ele não pode... — Jimin respondeu, baixinho.

— Mas não temos provas! Não tem como ele ser condenado! — Hoseok se manifestou, indignado.

— Sobre isso...

Tudo ficou no repleto silêncio, até que Jimin levou o olhar até Taehyung, que soltou uma breve risadinha e levantou-se da cama, tateando os bolsos, até erguer o celular em direção a todos, abrindo o gravador de voz, revelando um único áudio com a voz de Jungwoo presente ali.

— Parece que vamos sim pegar esse filho da puta. — Taehyung sorriu, sacana.

— E dessa vez, com uma edição melhor de celular. — Jimin completou, sorrindo cúmplice. 

— E eu sou um porteiro horrível. — O porteiro completou, encostando a cabeça no ombro de Hoseok.

— O que importa é o coração, amigo. — Hoseok respondeu, sincero.

[break of time]

Jimin suspirou pela milésima vez naquela noite, abrindo a porta de forma desleixada, enquanto chutava os sapatos para dentro de casa.

— Felizmente, essa noite terrível acabou. — Hoseok suspirou, sacudindo a peruca em suas mãos.

— E pelo visto, a coitada da Hyosun vai dormir sem tomar banho. — Yoongi comentou, apontando para a menor com a cabeça enterrada na lateral do pescoço do pai, no décimo sono.

— Ainda bem que não é muito tarde. — Jimin suspirou.

— Uma da manhã não é tarde não? — Taehyung perguntou, confuso. — Quer dizer, quase duas, né.

— Não estava falando de horário. — O menor revirou os olhos. — Vou passar na escola da Hyo amanhã, justificar a falta dela.

— Não acho que ela vá querer faltar. — Taehyung coçou a nuca, um tanto desconfortável.

— E porque não? — Jimin perguntou, confuso.

— Amanhã é aniversário da Jungwa. — Hoseok deu de ombros. — Aliás, você pode nos contar o que aconteceu entre você e o Jungkook?

— Ah, sim, claro. — Jimin coçou a nuca, desconfortável. — Deixa só eu colocar a Hyo pra dormir que eu já volto.

— Enquanto isso, vamos no quarto, vou tirar sua maquiagem. — Yoongi tocou os cabelos do moreno. — Vem também, TaeTae.

Jimin revirou os olhos, soltando uma vasta risadinha ao imaginar a técnica de desestresse de Yoongi depois de toda aquela correria.

Acariciou os cabelos de Hyosun e abriu a porta do quarto devagar, tomando cuidado para não chocar a cabeça da menor contra a porta, fechando em seguida.

Levou seu corpo até o colchão fofinho em cima da cama, puxando um travesseiro para aconchegar sua cabeça no tecido azul do lençol.

Suspirou, observando o rostinho da menor contorcer-se levemente devido ao sonho, e suas mãozinhas se movendo em direção ao rosto, coçando os olhinhos.

— Me desculpe, meu bem... — Murmurou, tocando a pontinha do polegar na bochechinha alheia. — Tenho sido um pai tão terrível, não mereço nem ser perdoado.

Hyosun murmurou alguma coisinha desconexa, piscando os olhos algumas vezes, enquanto continuava na mesma posição.

— Eu queria poder te compensar por tudo que eu fiz, sabe? Eu sei que eu trabalho muito, Hyo, mas o papai precisa juntar dinheiro pra te dar um futuro melhor, anjo. — Jimin murmurou. — Me perdoe, eu tô fazendo o meu melhor.

— Appa? — A vozinha de Hyosun soou baixinha, sonolenta, como se estivesse enfim, desperta.

— Oi, meu bem. — Jimin quis morrer de vergonha, desviando o olhar. — Não sabia que você tava acordada.

— Eu só queria ouvir você se desculpar mais um pouquinho... — Hyosun soltou uma risadinha breve. — Mas, minha consciência pesou.

— Só podia ser minha filha mesmo. — Jimin soltou uma risadinha. — Você me ouviu, uh? O que você acha?

— Bem... — Hyosun suspirou, coçando os olhos mais uma vez. — Você tá trabalhando duro, papai...

— Eu estou sim, por você, pra você. — Jimin engoliu em seco, segurando suas mãozinhas.

— Mas, você não fica mais comigo. — Hyosun fez um biquinho. — Eu amo tudo que você faz por mim, papai, mas o nosso tempo tá ficando muito muito muito curtinho.

— Me deixa compensar, tá bom? — Jimin pediu, observando os olhos castanhos e marejados da menor. — O papai vai compensar.

— Tudo bem, papai. Eu amo você. — Hyosun abriu um breve sorrisinho.

— Também amo você, pimentinha. — Jimin sorriu de volta.

Por um momento, sentiu a mesma sensação que havia sentido anos antes, antes de mudar-se para Seoul, antes de sair da sua antiga casa e tentar algo diferente.

Jimin não conseguia mais suportar toda aquela situação, e agora percebia que também estaria comprometendo o futuro de Hyosun, precisava tomar alguma providência.

Sempre ouviu inúmeras histórias de como uma mudança faria efeito na vida de duas pessoas, e talvez, recomeçar naquele momento fosse a melhor opção.

— Hyo? — Jimin pigarreou. — Você sabe o significado da palavra recomeçar?

— Recomeçar... — Hyosun murmurou, atenta. — Não, appa. O que é?

— Recomeçar é fazer tudo de novo, ter uma nova chance, entende? — Perguntou. — Acho que deveríamos fazer isso.

— Deveríamos? — Hyosun perguntou. — Vai ser melhor?

— É claro que vai. — Jimin assentiu, nem sabendo o motivo de toda aquela falsa convicção. — Vamos pra um lugar diferente, sim? Só eu e você, recomeçando. Você quer isso?

— Se o papai quiser, eu também quero. — Hyosun murmurou, assentindo. — Eu estou com sono, appa-ya.

— Ah, certo. Tudo bem. Eu me distraí. — Jimin abriu um sorrisinho.

— E appa, eu quero ir pra escola amanhã. — Hyosun falou mais uma vez, antes de fechar os olhos. — Boa noite...

— Eu entendo. — Jimin assentiu. — Mas fique sabendo que dormir tarde não vai virar um hábito, certo? Boa noite!

Hyosun soltou uma risadinha fraca, enquanto Jimin apenas se esforçava para não chorar em sua frente, levantando-se da cama na velocidade da luz.

Quando fechou a porta, tateou o celular e buscou por Kim Namjoon na lista de contatos, encostando-se na parede do corredor, pensativo.

Iria vingar-se de Jeon Jungwoo, talvez Jungkook tivesse sua liberdade, e só talvez, não fosse a pessoa que precisava ser naquele momento.

Estava magoado, rejeitado, sentindo a ineficiência de um pós-termino, e como um ser humano pensante de coração partido, fez a maior loucura que conseguiu pensar, discando o número e apoiando o celular no ouvido.

— Alô? — A voz grossa de Namjoon fôra ouvida, segundos depois.

— Oi, Namjoon hyung. — Jimin falou, um tanto sem graça. — Me desculpe por ligar tão tarde, imagino que estivera dormindo.

— Não. Você sabe, as noites francesas nunca acabam. — Namjoon soltou uma risadinha. — Do que você precisa, Jimin-ssi?

— Eu liguei pra perguntar se aquele acordo que você me ofereceu ainda está de pé. — Jimin murmurou, embolado. — Sei houveram conflitos entre nós, mas eu gostaria de recompensar tudo isso, e me desculpar devidamente.

— Ah, não se preocupe com isso. — Namjoon soltou uma risada. — Seokjin também é impulsivo, que nem você.

— Mas, eu tenho uma condição, certo? — Jimin falou, ainda embolado. — Precisamos reformular o contrato, estou fazendo isso pela minha filha, quero um tempo pra nós dois, apesar de tudo.

— Como você quiser, Jimin. — Jimin quase sentiu o sorriso rasgante de Namjoon do outro lado da linha. — Ligaremos depois para acertar os últimos detalhes, sim?

— Sim, claro. — Jimin assentiu, engolindo em seco. — Obrigado pela oportunidade.

— Eu que agradeço. — Namjoon falou, antes de desligar.

Jimin suspirou, ouvido a linha cair no mesmo instante, encostando o celular contra o peito, com a sensação cortante em seu peito.

Estava indo para França em alguns dias.

°~°

oi, não esqueçam de votar e comentar por favor!!!11 agora que já tá no final da história é bem importante rsrs

parece q por essa ngm esperava né, é 1 pena mas vida que segue odeio terminar com itálico

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