73: white wine

– Ele me contou. – Foi a primeira coisa que Jimin falou, ao chegar em casa e encontrar seus três garotos sentados no sofá, discutindo algo irrelevante no momento. – Meu Deus do céu.

Enquanto deixava o casaco em cima da mesa, continuava repetindo a frase rapidamente, desacreditado no que havia ouvido minutos atrás, com Jungkook, no escritório.

O trio virou a cabeça em sua direção rapidamente, com os olhares arregalados.

– Ele te contou? – Foi a primeira coisa que Taehyung perguntou, apoiando uma das mãos acima do joelho. – Você aceitou numa boa?

– Não deveria? – Jimin indagou, confuso, apoiando uma das mãos na cintura. – Eu estou muito, muito, muito confuso, e ansioso. E eu nunca senti isso antes.

Jungkook continuou falando, mas quando terminou de contar, apenas baixou a cabeça e deixou o menor sem explicação alguma, enquanto apertava sua cintura e pressionava os olhos, pronto para ver a reação negativa do menor.

Mas aquilo não havia acontecido, de forma alguma. Jimin apenas agarrou sua nuca e o puxou para um abraço apertado, alegando que estava tudo bem, e que estava muito feliz pelo seu homem ter confiado em si e lhe contado algo tão pessoal.

– Como você se sente agora? – Taehyung tornou a perguntar, abrindo um espaço no canto do sofá enquanto baixava as pernas. – Venha sentar. Hoseok, pegue algo para ele beber.

– Eu tentei não demonstrar nada na hora, pra não fazer ele ficar paranoico e pensar que eu vou o deixar por causa disso. E parece que agora que cheguei, o teto está na minha cabeça. – Jimin explicou. – Eu não sei como me sentir.

– Jimin, explica direito. – Yoongi deixou o colo de Taehyung, apoiando-se no carpete e engatinhando em sua direção, sentando-se em frente á suas pernas.

– Eu estou tentando assimilar as coisas. Acalma esse fogo no teu cu. – Jimin retirou os sapatos, os jogando em qualquer canto.

Soltou um breve suspiro, logo após, chocou as costas contra o sofá macio e relaxou os músculos, descarregando toda a sua tensão momentânea, na medida que Taehyung o olhava, apreensivo.

Era claro que estava impactado. Na verdade, não fazia a mínima ideia de que o problema inicial era aquele. Nunca desconfiou. Nunca lembrou desse tipo de transtorno. Sempre fora lidado como um tabu.

Pessoas doentes psicologicamente nunca se sentem aptas á falar sobre aquilo que possuem, e agora, que Jungkook havia revelado e aberto o seu coração, tudo fazia sentido, todas ás vezes, todas as crises, todos os móveis quebrados, todos os placebos, e todas as consequências.

Tudo batia. E, na real, sentia-se um tanto cego por não ter percebido antes, por ter o julgado com a mente fechada, por ter acabado tudo antes de começar, por perder sua confiança por um detalhe significante.

Principalmente, por o acusar de agressão, quando na verdade, não sabia de nada. E quando Jungkook murmurava que ninguém o entendia, ele tinha razão. Fechou-se para o mundo com medo das reações indevidas, e tornou-se o sádico empresário, incapaz de manter uma relação estável consigo mesmo.

Jimin imaginava o porque de tanto sofrimento. Talvez a mulher de Jungkook não soubesse como lidar com todas essas crises, e então, afundou junto consigo, e deixou-se levar por insuficiência e falta de apoio.

Não iria deixar isso acontecer. Iria provar para Jungkook que estava ali por ele, que iria até o fim do mundo para vê-lo bem, e despreocupado.

Iria fazer de tudo para que seu homem pudesse se sentir o mais amado possível.

E era isso, Jimin o amava, o amava com a força de um canhão, o amava de corpo e alma, com todas as células presentes em seu organismo, e iria contra todos para ver aquele homem bem, para mostrar que seria para isso que os namorados servem. Para dar apoio um ao outro.

Jimin sentiu-se inútil esse tempo todo, e agora sabia que teria que entrar em ação. Sabia que queria sua melhora, e iria manter o relacionamento mais honesto que já teve.

– Jimin... – Taehyung suspirou, fechando os olhos. – O Jungkook tem TEI, e agora você sabe disso, é peculiar, e fora do comum, mas...

– Esse ''mas'' não existe, Taehyung. – Jimin murmurou, erguendo os braços ao aceitar o copo d'agua vindo de Hoseok. – Eu tenho que cuidar dele agora, é isso.

– Você não precisa fazer dele o seu bebê – Taehyung soltou uma risadinha. – Ele não é indefeso, Jimin. E sabe do que ele tem, e sabe que precisa tratar.

– Mas ele já era o meu bebê. – Jimin deu de ombros, bebericando a agua em sua frente. – Hoseok, você tacou quantos quilos de açúcar nessa porra?

– Eu taquei a quantidade de palavrões que o Yoongi inventa por dia e descontei no açúcar. – Hoseok explicou, sentando-se no sofá.

– Então ele realmente colocou muito açúcar. – Taehyung acrescentou, arrancando uma risadinha do baixinho.

– Você está melhor agora, Jimin-ssi? – Hoseok tornou a perguntar, afoito.

– Sim. – O moreno respondeu, um tanto mais calmo. – Taehyung, o que você sabe?

– Bem... – Taehyung suspirou, um tanto nervoso. – O Jungkook desenvolveu o transtorno por volta dos quinze anos, quando estávamos no fundamental.

– Porque? – Jimin indagou, confuso. – Ele cresceu tão bem... ele desenvolveu?

– Ele desenvolveu sobre pressão e contribuição do ambiente em que vivia. – Taehyung explicou, engolindo em seco. – O Jungkook nunca teve muitas demonstrações de afeto, principalemnte em relação á si mesmo.

– Eu pensei que... – Jimin murmurou. – Eu pensei que os pais dele estivessem acompanhado ele, já que ele sempre quis assumir a empresa...

– Sempre? – Taehyung ergueu uma sobrancelha. – Jimin-ssi, o Jungkook nunca quis ser dono da Jeon's Ent. E talvez, seja por isso que ele tenha desenvolvido esse tipo de transtorno. Eu quero dizer, ele nunca teve o amor dos pais, e cresceu em um ambiente com pessoas acéfalas de mente fechada.

– Então, quer dizer que o meu sogro é... um babaca? – Jimin perguntou, novamente, fechando os dois olhos em preocupação. – Ai, Jesus.

– Basicamente sim, anjo. – Taehyung respondeu, entristecido. – O dia em que eu encontrei o Jungkook depois de uma crise, foi um dos dias mais assustadores da minha vida.

– Pesado. – Hoseok assentiu, apoiando uma das mãos na coxa do namorado. – Continue.

– Eu estava muito feliz com os resultados finais da faculdade, mas percebi que ele estava demorando... – Taehyung explicou. – Resolvi ir na sala dele, mas quando abri a porta, eu o vi.

– Como? – Yoongi indagou, confuso.

– Primeiro eu chorei, já estava chorando antes de chegar perto dele. Mas, Jimin, não era ele, definitivamente. – Jimin mordeu a pontinha do lábio inferior, ouvindo a voz de Taehyung embargar.

– Porque? Taehyung, fica calmo, bebê. – Hoseok afagou seus braços, deixando um beijinho em sua bochecha.

– Porque, Jimin, ele estava com a cabeça sangrando. E eu juro, que ele parecia estar morto. Mas, a parte que mais me marcou... Foi o sorriso sádico em seus lábios. –Taehyung murmurou.

– Ele estava... sorrindo? – Yoongi ergueu uma sobrancelha. – Caralho, bizarro.

– Ele estava sorrindo porque ele finalmente achou um jeito de se livrar de toda a dor sofrida pela crise. – Jimin respondeu, entendendo a situação. – Eu imagino que o Jungkook antigo era realmente muito emocionado, sim?

– Você não sabe o como. – Taehyung assentiu. – Uma vez eu acertei uma maçã na cabeça dele e ele fingiu um desmaio.

– Rindo, mas rindo com respeito. – Hoseok colocou uma das mãos na boca, escondendo uma risadinha.

– Eu imagino que com toda a pressão que ele estivesse passando, justamente pelo fato do desenvolvimento do transtorno, ele tenha tido uma das maiores crises da vida dele. – Jimin supôs.

– Estava tudo destruído. Ele literalmente quebrou quase todas as cadeiras da sala. – Taehyung falou, baixinho. – Eu chorei tanto...

Jimin sentia seu coração apertar somente por imaginar o moreno jogado ao chão, com a cabeça sangrando enquanto agonizava de dor. Principalmente quando a dor não era somente física, e sim, psicológica. 

– O que o Jungkook tem, afinal? – Yoongi perguntou, ainda tentando se situar naquela situação.

Jimin apenas olhou para teto e colocou as duas mãos na barriga. De forma alguma gostaria que esse assunto viesse á tona com ele por perto, principalmente levando em conta o quão delicado ele era.

Agora tinha a total certeza do por que Jungkook nunca ter contado. Digamos que Park Jimin não tinha controle sobre a liberação de palavras e sentimentos em momentos muito melancólicos, mas até que dessa vez, ele havia reagido bem.

– Ele tem TEI. – Respondeu, baixinho. – É um transtorno que provoca desordem comportamental e psicológica, onde a vítima tem dificuldades em controlar seus impulsos agressivos.

– Só que no caso do Jungkook, é um tanto diferente, sabe? – Taehyung acrescentou. – Ele já passou por tanta coisa, Jimin-ssi, tenho certeza de que tudo que ele deseja agora é que fique do lado dele.

– E eu vou. – Jimin respondeu, firme. – Eu não vou deixar o meu homem ficar daquela forma novamente.

– Mas ele vai. – Hoseok falou, receioso. – Não vai?

– Não. – Jimin negou. – Eu sei dos tratamentos dele, eu sei que ele frequenta centros terapêuticos, e sei também, que com o meu consentimento ele vai se sentir muito mais livre para falar sobre esse assunto.

– Você perdeu a confiança dele
uma vez... – Taehyung murmurou. – Não a perca de novo, pode não ter volta.

– Sabe, Taehyung... – Jimin falou, cruzando os braços. – Eu sempre tive uma dúvida cruel.

– Qual? – O outro indagou, abrindo um sorrisinho cúmplice.

– Vocês tiveram algo? – Jimin perguntou, firme e sem vacilar.

Sempre havia isso. E sempre desconfiou disso. Taehyung e Jungkook costumavam ser bastante apegados, apesar do moreno estar apaixonado pela Yoora, coisas assim ainda poderiam acontecer.

Ou, talvez, Taehyung e Jungkook fossem apenas irmãozinhos que nunca haviam tido nada e nem pensado em algo em relação ao fato.

– Não. – Taehyung negou, com as sobrancelhas erguidas. 

– Nem uma vezinha? – Hoseok indagou, desconfiado.

– Eu juro que não! – Taehyung falou, erguendo as mãos.

– Como assim você nunca tirou uma casquinha? – Jimin ergueu as sobrancelhas, indignado. – Qual é? É o Jungkook, anjo.

– Ele não fazia meu tipo. – Taehyung fez uma careta. – Muito romântico. Muito intenso. Muito preocupado. E pagava de hétero.

– Não fale assim. Ele amava a Yoora. – Jimin murmurou, um tanto tristonho.

– Mas agora ele ama você. – Yoongi o interrompeu. – E é isso que importa, sim?

– Jungkook é um cara muito confuso – Taehyung deu uma risadinha. – Existiam tantas mulheres naquela escola, tantas outras mulherões da porra, e o Jungkook foi se apaixonar logo pela mais difícil.

– Taehyung... – Hoseok o parou. – Não. Ele fica tristinho. – Murmurou, meneando a cabeça em direção a Jimin, que cutucava as unhas.

– Mas, já faz muito tempo disso, sabe? – Taehyung encobriu. – Ele te ama, Jimin. De verdade.

– Sim. – Hoseok assentiu. – Dá pra ver nos olhos dele.

– Os olhos são a janela da alma. – Yoongi falou, com uma expressão debochada. – Desculpa, essa frase é brega.

– Vocês já pararam pra pensar que nós somos todos bem bregas? – Jimin ergueu uma sobrancelha, levantando-se da cama. – Precisamos parar com isso, é muito mico pra uma trupe só.

– Querem sair pra comer? – Hoseok perguntou, já levantando e procurando a chave do quarto.

– A Hyosun tá ai, seu doido. – Yoongi adivertiu.

– Pensei que ela estivesse na Somin. – Jimin respondeu. – Hyo! Vem pra sala!

– Essas crianças de hoje em dia, não podem ver um tablet que já ficam o dia todo no quarto jogando qualquer coisa. – Yoongi resmungou. – Na minha época não era assim.

– Eu saía de casa e soltava pipa o dia todo. – Hoseok comentou. – Bons tempos.

– Eu rolava na grama do quintal de casa e depois tomava banho de mangueira. – Taehyung soltou uma risada.

– A gente deveria fazer isso. – Hoseok lhe lançou um olhar malicioso, que fora bem recebido.

– Credo, gente, aqui não. – Jimin resmungou, indo em direção ao quarto. – Hyosun, se você não sair desse quarto eu vou tomar o seu tablet!

– Não! Eu já estou indo! – Ela resmungou, levantando-se da cama, aproximando-se da porta.

– Teimosa. Nem veio dar boa noite pro papai! – Jimin fez um drama, recebendo um abraço apertado da menor. – Nós vamos sair pra comer, e você vai com a gente!

– Eu não gosto de sair com vocês... – Ela fez uma careta. – Vocês só tem papo de adulto.

– Eu vou te largar no chão. – Jimin respondeu com outra careta.

– Deixa ela, Jimin. Quando ela crescer ela vai entender. – Hoseok soltou uma risada. – Mais cedo ou mais tarde você estará na mesma mesa, velha que nem todos nós.

– Deus me livre. – Ela soltou uma gargalhada.

– Jesus, de onde você tira essas gírias? – Jimin ergueu uma sobrancelha, indignado.

– Deve ser do amigo brasileiro dela. – Yoongi falou. – Depois essa menina aparece falando quatrocentos palavrões...

– Mas aí, meu anjo, ela vai ter aprendido com você. – Taehyung interferiu, deixando um beijinho na bochecha alheia.

– Vai tomar no... – Yoongi ergueu o punho.

– Sem violência na minha casa! – Jimin repreendeu o moreno, escolhendo uma roupinha para a menor.

– Ei, appa, pede para o Jungkook levar a Jungwa? – Hyosun perguntou, descontraída.

– Sente saudades? – Jimin indagou, retirando a camisa da menor.

– Claro que não... – Ela abriu um sorrisinho, um tanto tímida. – Só gosto de ver ela.

– Melhores amigos sempre são as melhores pessoas. – Jimin abriu um sorrisinho. – Você quer a rosa, ou a azul?

– A azul. – Hyosun apontou para a camisa, erguendo os braços.

– Certo. Azul. – Fez uma nota mental.

– Azul não é cor de menino? – Hyosun perguntou, perplexa.

– Isso não existe, meu amor. – Jimin fez uma careta. – A cor que você quer usar é a cor que você quer usar, e pronto!

– Então compra mais camisas azuis porque eu amo essa! – Ela abraçou o próprio corpo, satisfeita.

– Claro, meu amor. Agora vamos. Hoje vamos entupir nossa barriguinha de comida. 

  [break of time]   

Já faziam alguns minutos desde que os garotos comiam pedaços de pizza e conversavam de forma descontraída enquanto mastigavam e falavam palavras de baixo calão como se estivessem em um estabelecimento privado.

Jimin não conseguia fazer nada á não ser soltar risadas das imitações bizarras que Taehyung fazia, enquanto murmurava palavras desconexas e fazia besourinho com a boca.

Yoongi, pelo contrário, encontrava-se com um sorriso no rosto enquanto enrolava origamis em cima da mesa e resistia ao contato de Taehyung, que tentava lhe dar beijinhos no cangote.

Hoseok estava cochilando na mesa. E as garotas? Bem, estavam no parquezinho ao lado de fora, brincando e tendo bastante esforço físico para dar aos papais menos trabalho para dormir.

– Ah, eu mal posso esperar para o Fashion Awards Show desse ano. – Taehyung falou, passando um braço ao redor do pescoço de Yoongi.

Hoseok levantou a cabeça na mesma hora, sorrindo como um bobo ao ouvir o nome do evento. – Ouvi dizer que eles vão me indicar.

– O que é Fashion Awards Show? – Jimin perguntou, confuso, apoiando uma das mãos no pescoço.

– Você não sabe o que é? – Taehyung perguntou, com os olhos arregalados.

– Jungkook? – Jimin olhou em direção ao rapaz ao seu lado, que bebia seu refrigerante na calmaria, despreocupado.

– Hum? – Ergueu uma sobrancelha.

– Fumou maconha, cara? – Taehyung perguntou, abrindo um sorrisinho adorável. – Tá meio lerdinho, né?

– Taehyung, vai comer. – Jungkook revirou os olhos. – Desculpe. O que disse, meu bem?

– Ah. Eu quero saber o que é Fashion Awards Show. – Jimin perguntou novamente, já ansiando pela resposta.

– É uma premiação. Basicamente, a mais importante do ano. Porquê? – Indagou. – Eles já anunciaram os indicados?

– Vocês vão ser indicados? – Jimin arregalou os olhos, surpreso.

– É claro que sim, meu anjo. – Taehyung respondeu, orgulhoso. – Nós somos o quarteto profano.

– Ele, o Jungkook, o Seokjin e o Namjoon são indicados todos os anos para uma das maiores categorias da noite. – Hoseok explicou. – É muito legal, você vai adorar. E eu ainda nem falei de After Party!

– Opa! – Jimin abriu um sorriso. – Festas?

– Com muita bebida! – Hoseok acrescentou. – E muitos famosos! Até as angels foram no ano passado!

– Victoria Secrets? – Jimin já estava boquiaberto, naquela situação. – Meu Deus, elas são reais.

– Não são grande coisa... – Jungkook murmurou. – São todas do mesmo jeitinho, com o mesmo gênio.

– Que feio, Jungkook! Não fale uma coisa dessas! Elas são tipo minhas ídolas. – Jimin cruzou os dedos, ainda entorpecido pela situação. – Quer levar um murro?

– Hum, então acho que vai ficar muito feliz no dia da premiação! – Jungkook falou, arrumando a franja com a ponta dos dedos.

– O quê? Como assim? – Jimin perguntou, perplexo.

– Cuidado com o burrinho... – Yoongi riu. – Você vai na premiação, Jimin. 

– Eu vou? – Jimin abriu um sorrisinho, logo depois, olhou na direção de Jungkook, que assentiu, reprimindo um sorriso. – Tem dedo seu nisso, não é?

– Meu? – Jungkook soltou uma risadinha. – Eu juro que não. É só que... Você fica muito bonitinho quando tá animado.

– É, eu sei. – Jimin concordou.

– Tão bem estimado que nem vale a pena elogiar. – Yoongi revirou os olhos.

– Vocês podem ir pagar a conta? Eu tô com preguiça. – Taehyung jogou o dinheiro em cima da mesa.

– Ei, garçom! – Jungkook o chamou, abrindo a carteira.

– Boa noite. Vão querer mais alguma coisa? – O rapaz se aproximou, segurando o bloquinho de anotações.

– Como assim? – Jungkook perguntou, confuso, ainda com a conta estendida em sua direção.

– Vocês podem pedir mais alguma coisa, já que a conta foi paga. – O garçom explicou. – Aliás...

Jimin o observou girar o papel em suas mãos, logo depois, retirar o vinho, seguido de uma flor acima da bandeja em que segurava.

– Isso aqui é para o senhor Park Jimin. – Colocou a garrafa em cima da mesa, voltando à sua posição inicial.

– O quê? – Jimin ergueu uma sobrancelha, confuso. – Eu não pedi isso! Muito menos paguei a conta!

– Está no nome daquele rapaz ali no canto da sala. – O garçom meneou a cabeça, apontando a direção.

– Oh... – Jimin colocou uma das mãos na boca, olhando para Jungkook de soslaio. – Diga a ele que eu não preciso que pague por mim. Eu e meus amigos iremos pagar.

– Ele tá dando em cima de você, cara. – Hoseok falou, sendo óbvio.

– Nós nem sequer aceitamos o procedimento da conta... – Jimin murmurou.

Jungkook apenas soltou um breve suspiro, olhando fixamente para o vinho à sua frente, antes de voltar o olhar para o rapaz sentado no fundo da sala, tomando um gole em sua taça e olhando para Jimin com um sorriso em seu rosto.

– Iremos pagar pelo vinho também. – Foi a primeira coisa que Jungkook disse. – E você vai entregar esse dinheiro na mesa dele.

– Jungkook, não precisa disso. Só vamos aceitar o maldito vinho... – Jimin tocou seu braço, mas, Jungkook mordeu o lábio inferior, indicando que estavam em público.

– Não, Park. – O moreno meneou a cabeça para o lado, colocando a quantidade certa de dinheiro em cima da mesa, próximo ao vinho.

– Jungkook...

– Aliás, quando for entregar, diga à ele que Park Jimin prefere o vinho branco do que o tinto. – O maior falou, objetivo.

Jimin observou o garçom assentir rapidamente e retirar-se dali, curvando-se e apressando o passo, buscando sair daquela situação tensa.

Jungkook coçou a nuca, observando todo mundo que ainda continuava calado, quando, em questão de segundos, a voz das menores soaram mais altas que seus pensamentos e esvairam a tensão constrangedora.

– Appa! – Hyosun gritou, colocando a cabeça para fora da porta do local onde as crianças estavam. – Venha brincar comigo! Jungkookie também!

– Vamos. – Jimin assentiu, deixando um tapinha no ombro do moreno, que  levantou da cadeira sem dizer uma única palavra.

Jimin seguiu até Hyosun, coçando a nuca em nervoso, sabendo que dessa vez, ficaria à sós com Jungkook, então, seria apenas questão de tempo até que ele terminasse de brincar e ir perguntar ao moreno se ele estava bem.

Na verdade, Jungkook nunca havia reagido tão bem em relação às rapazes aleatórios que demonstravam interesses pelo seu garoto, e, dessa vez, havia sido um tanto diferente.

Não era como se o moreno fosse levantar da cadeira e exigisse uma explicação, ele apenas matou com bondade, da melhor forma possível, e aquilo realmente havia indicado mudança.

Já faziam cerca de quatro mêses desde que ambos estavam namorando, fora o tempo em que ficaram pendentes com o pedido de namoro, e não havia acontecido uma única briga.

Fora as brigas bestas por comida, e assuntos que nem importavam direito, como o cabelo que ficava melhor em um idol, ou Jungkook dormir durante uma conversa.

O problema, era que Jungkook trabalhava demais. Jimin sabia que o moreno era workaholic nesse sentido, e se esforçava demais.

Eles tinham o meio tempo dividido, trabalhavam pela manhã e tarde pela semana, e quando desse, se viam pela noite, além dos fins de semana e afins.

Jimin nunca exigiu muito do moreno nesse quesito, nunca quis que ele se esforçasse demais e acabasse com o seu estado psicológico mais afetado.

Jungkook não podia se estressar muito. E Jimin tinha que andar no limite sobre essas situações, levando em conta de que o transtorno também afeta no que o moreno é.

Jungkook precisa estar sempre calmo, e é isso que ele veio fazendo durante um tempo, o que levou o menor à pensar que as terapias nas quais o moreno havia mencionado realmente estavam dando certo, justamente pelo fato de tudo estar tomando níveis mais intensos.

Jimin sempre pensava em Jungkook, em todas as ocasiões, e não importava o que estivesse fazendo. Era estranho ter que pensar assim, porque era tão constante quanto Hyosun.

Era tão constante quando os sorrisos e as imagens fixadas em sua mente do seu namorado tendo um dos momentos de sua vida, sem preocupações e sem exigências.

Jimin até mesmo sorriu ao ver Jungkook ajoelhado, com os braços abertos no fim do escorregador, esperando Jungwa descer com um sorriso feliz no rosto.

Era isso. Jimin sabia que havia o mudado, sabia que havia trazido o Jungkook antigo de volta, e sabia que até mesmo Jungwa precisava disso.

E sabia que esse Jungkook merecia o mundo. E não, ficar enfurnado naquele prédio dia e noite, esperando que seus negócios cresçam e agradem um pai totalmente inconstante é apagado.

Não sabia o que ele queria de verdade. Mas, tinha certeza de que havia algum tipo de trauma naquela situação pelo simples fato do moreno ficar inconstante e irritado enquanto trabalhava por horas seguidas.

Quando passamos à vida sentindo-se na obrigação de que teremos que escolher um bom curso, de que teremos que agradar o que os nossos pais querem para nós, quando nos escondemos atrás de véus tentando proteger o verdadeiro eu para que ele não seja afetado, isso acontece.

Jungkook nunca escolheu o curso que desejou, nunca teve a chance de experimentar e presenciar uma noção do curso que queria fazer, por que, em toda à sua vida, havia sido privado disso, e havia se tornado o que era.

Jungkook não era um profissional ruim. Muito pelo contrário, tinha muita seriedade no que fazia e dominava um dos três rankings mundias das empresas de moda, mas, infelizmente, não era aquilo que ele queria.

Mas, Jimin, pelo contrário, havia se encontrado nessa carreira de uma só vez, como se fosse predestinado à isso, e, além de tudo, vivia sem preocupações porque sabia que amava o que estava fazendo e era aquilo que importava, o seu bem estar.

E, vendo Jungkook ali, se divertindo e arrancando sorrisos das suas pequenas, Jimin sabia que queria ter aquele homem até o fim da sua vida, sabia que queria acordar e olhar para os mesmos olhos castanhos e cabelos negros, sabia que queria compartilhar todos os seus momentos com aquele homem.

Porque Jungkook era simplesmente Jungkook, e Jimin não precisava que ele mudasse nenhum pedacinho de si, porque eram justamente esses pedacinhos que juntavam seu quebra- cabeças destraçado.

Não conseguia evitar abrir sorrisos encantadores e extremamente apaixonados quando olhava para o moreno, por mais que quisesse, porque, apesar de tudo, Jimin tinha medo.

Jimin tinha medo de se entregar de corpo e alma, e ser abandonado, como todos já fizeram, como todos o diluiram, e era por isso que não conseguia confessar e abrir o jogo com somente três palavrinhas.

Jimin tinha sérios problemas de abandono. Porém, tratados. Não precisava depender de alguém, não precisava encontrar sua felicidade em outra pessoa. Mas a partir do momento que dissesse que o amava, Jungkook iria automaticamente se tornar uma parte mixada com a sua, e aquilo o preocupava.

Partes mixadas. Mas, vidas diferentes. Uma pessoa com problemas de abandono nunca entenderia isso. E Jimin tinha medo de que passasse à sentir a mesma coisa após se entregar, mesmo que confiasse de olhos fechados em Jungkook.

Era mais do que um simples medo, era o teor à tudo, era o horror ao que poderia acontecer consigo se depois do apego, Jungkook o largasse em um estalar de dedos.

Era o medo de se destroçar à toa por alguém que só estava o usando esse tempo todo, do mesmo jeitinho que os seus pais haviam feito.

E ele seguia, seguia sempre o mesmo protocolo sem estregar-se por completo, sem vivenciar toda a experiência, privando-se da melhor parte.

– Jimin-ssi, você não vai falar comigo? – Jungkook perguntou, após alguns minutos caminhando pelo estacionamento do local.

Já haviam pagado a conta, todos os meninos já estavam partindo, enquanto Hyosun e Jungwa caminhavam logo à frente, discutindo sobre coisas aleatórias.

– Jungkook... – Jimin murmurou, um tanto confuso. Queria tanto lhe dizer o quanto o amava, o quanto o queria mais que tudo. Mais que um simples namorado, quanto de corpo e alma.

– Ei, amor, o que foi? – Jungkook tocou seu braço, mas logo depois, afastou-se subitamente.

– Eu preciso te falar uma coisa. – Jimin respondeu, sério.

Jungkook o observou por alguns segundos, antes de engolir em seco e tombar a cabeça para o lado. – Pode me dizer, meu bem.

– Aqui não. – Jimin negou no mesmo instante. – Eu preciso dizer, mas não sei como dizer, e nem como dizer.

– Você só precisa falar, Park. – Jungkook respondeu, abrindo a porta do carro. – Você quer ir à algum lugar? É domingo, mas, eu não sei, ainda podemos sair e curtir, deixar as meninas em casa. Você que escolhe.

– Não, Jungkookie. Não precisa disso. – Jimin sorriu, um tanto tristonho, ansiando pelo desejo de soltar aquelas três palavras. – É melhor irmos para casa descansar.

– Tudo bem, então. Você quem sabe. – Jungkook assentiu, tentando demonstrar que não havia ficado com raiva, apenas tinha sido compreensivo.

Jimin passou à viagem calado, com os dois olhos fixos em qualquer lugar que não fosse o moreno dirigindo, porque aquilo o dava tesão, e o baixinho não precisava disso agora.

Mas, sofreu internamente quando Jungkook encostou a mão em sua coxa e deixou um aperto razoavelmente insinuativo.

Jimin segurou sua mão e as entralaçou por cima, enquanto fazia desenhos carinhosos com o polegar e sorriu timidamente em sua direção.

Virou a cabeça para trás e observou as duas garotinhas dormindo feito anjinhos no banco de trás, por mais que fossem diabinhos quando acordassem.

Jungkook parou o carro no estacionamento do prédio do menor, e com medo de acordá-la, ligou o ar e trancou a porta, alegando que iria subir com o baixinho por alguns minutos.

Sabia que Jungwa dormia que nem uma pedra, se a deixasse ali, provavelmente só acordaria no dia seguinte.

Jimin deixou Hyosun na cama e retirou suas calças e todas as roupas pesadas que a menor estava vestindo, afim de lhe proporcionar uma melhor dormida, além de deixar um beijinho em sua bochecha quando saiu.

Jungkook estava esperando na sala, com os olhos focados em qualquer lugar, pesados de sono. Jimin só conseguiu rir da sua carinha manhosa.

– Se continuar assim vou achar que você é meu filho, te dar um banho, e te colocar pra dormir. – Jimin abriu um sorriso, aproximando-se do moreno, que tombou a cabeça no sofá e sorriu minimamente.

  – Se continuar me mimando assim, é bem capaz. – Jungkook semicerrou os olhos, e olhou em sua direção com a expressão preguiçosa. 

Jimin quis morrer porque a beleza daquele homem era provavelmente, uma das mais peculiares no mundo inteirinho.

– Vamos, meu bem... – Estendeu as mãos para o moreno, que esticou o braço e se impulsionou para cima.

Jimin abriu a porta e sentiu as mãos de Jungkook em sua cintura, mas, logo depois, o moreno as retirou e dirigiu até a sua mão, entrelaçando seus dedos.

Eram poucos os momentos em que realmente poderiam demonstrar quem eram e andar com as mãos entrelaçadas, já que qualquer passo dos dois tinham de ser minusciosamente calculados.

Jungkook sabia que Jimin queria andar de mãos dadas todas as vezes, então, sempre que podia, tomava a iniciativa e capturava as mãos alheias, lhe oferecendo um sorriso acolhedor.

– Porque você subiu? – Jimin perguntou, curioso, já que realmente não era necessário.

– Porque... – Jungkook deu de ombros, o empurrando contra a parede ao lado do elevador, como primeiro encontro de ambos. – Porque com as meninas no carro, eu não iria poder te beijar.

– Então aproveite agora, bebê. – Jimin murmurou, colocando ambas mãos contra a nuca do moreno, que soltou um suspiro e apertou sua cintura.

Fôra questão de segundos para que Jungkook selasse seus lábios rapidamente e deslizasse as mãos até a bunda do menor em antecipação.

Jimin gemeu baixinho contra seus lábios, tendo seu inferior mordiscando na medida em que o moreno apertava e inclinava o quadril contra o seu, buscando mais atrito.

– Você quer tanto... – Jimin murmurou, separando seus lábios, mas, tendo seu pescoço em evidência dessa vez.

Jungkook enterrou a cabeça ali e deixou um breve chupão naquela região, enquanto suspirava perto do seu pomo de adão e lhe causava arrepios.

– Eu quero mesmo. – Jungkook não negou, arrancando uma risadinha nasal do menor. – Tem certeza de que não quer ir comigo? Eu posso deixar a Jungwa em casa antes.

– Jungkook, nós precisamos dormir. – Jimin respondeu, selando seus lábios mais uma vez. – Aliás, você nem chamou o elevador. – Tocou o botão.

– Queria ficar mais tempo com você. – Jungkook falou, levando o polegar até a bochecha do menor, acariciando aquela região. – Obrigado por me chamar pra comer hoje.

– Apesar daquele acontecimento, né. – Jimin revirou os olhos.

Naquele momento, Jungkook automaticamente fechou a expressão aberta e desviou o olhar, como se estivesse desconfiado de algo, mas, logo depois, sua expressão tentou suavizar.

– Não estou com raiva. Eu não preciso disso. E você não pode conter sua beleza, é lindo demais. – Jungkook continuou pechinchando, recebendo um tapinha estalado em seu peito.

– Mas, ei, o que foi isso? – Jimin perguntou, um tanto desconfiado.

– Jimin... – Jungkook suspirou. – Esqueça isso por hoje, sim?

– Eu sei que sou bonito, aliás. – Jimin murmurou, sorrindo fraco. Mesmo assim, sabia que iria dormir com uma preocupação à mais, porque, aquela expressão era preocupante.

Jungkook beijou sua bochecha, logo após, capturou seu lábio inferior com o dente, para depois o beijar com carinho.

– Acha que consegue me ver amanhã? – Jungkook perguntou.

– Acho. – Jimin assentiu, observando o elevador abrir segundos depois. – Precisa que eu leve o desnorteado até lá embaixo?

– Não tenho culpa se sua beleza me desnorteia. – Jungkook retirou as mãos da cintura alheia, logo após, entrou no elevador.

Jimin lhe ofereceu um último sorriso, antes de observar a porta fechar, e quando o elevador finalmente tomou partida, baixou a cabeça, suspirando um único:

– Acho que amo você demais.

°~°


vocês estão gostando da escrita? eu vou melhorar, eu prometo!





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