72: false need

Jungkook's point of view

Outubro, 2004.

– Você acha que o gostosinho do curso de direito me daria uma chance? – Jungkook ouviu Taehyung perguntar, lhe lançando seu famoso sorriso quadrado.

– Eu não sei. Você acha? – Jungkook soltou uma risadinha. – Ele parece meio... Difícil.

– E eu sou fácil. – Taehyung deu de ombros. – Acho que combinamos perfeitamente!

– Belo casal, uh? – Jungkook fechou o livro de história, o enfiando dentro da bolsa, desajeitadamente.

Taehyung checou os horários em seu relógio, logo depois, soltando um suspiro e revirando os olhos, quase chocando a cabeça contra a mesa de pedra da faculdade.

– O que foi? – Jungkook tocou seus cabelos, os puxando para cima logo em seguida.

– As aulas do Jin acabam agora, ele já está vindo aqui. – Simulou um tiro contra a cabeça.

– E o Namjoon? – Jungkook retirou um sanduíche de dentro da bolsa.

– Também. Você acha que aqueles dois desgrudam? São piores do que chiclete quando gruda no cabelo. – Soltou um resmungo.

– Já grudaram chiclete no seu cabelo? – Jungkook ergueu uma sobrancelha, soltando uma risadinha.

– Não. – Taehyung levantou a cabeça, piscando somente um olho. – A questão é que é fim de semestre, vamos pegar o resultado dos cursos hoje, eu tô estressado, meu irmão me estressa também, e meu pai também me estressa.

– Você acha que foi bem? – Jungkook indagou, dando uma mordida no sanduíche.

– Mais ou menos. – Taehyung deu de ombros. – Vou passar porque colei.

– Que exemplo. – Jungkook riu.

– O próprio Einstein. – Taehyung completou. – Falando em Einstein, você já viu os alunos do curso de física?

– Só alguns. – Jungkook respondeu. – Não me interesso muito por qualquer pessoa, que nem você.

– Esse é o meu espírito. – Taehyung deu de ombros. – Tem um garoto tão bonitinho naquele curso.

– Quem? – O outro indagou.

– Eu não sei o nome dele. Sei que ele tem uma boca muito bonitinha e é bem branquinho. – Taehyung detalhou.

– Você devia é focar nos teus estudos. – Jungkook suspirou. – Estamos ficando mais velhos, Taehyung. Você tem que parar com essa putaria.

– Eu não. – Taehyung revirou os olhos. – Quem é Taehyung sem festas e bebidas?

– Um imprestável. – Jungkook respondeu, sincero. – Foca nos estudos, TaeTae, se não vai ficar difícil de assumir a empresa do seu pai.

– Você vai assumir a do seu pai? – Taehyung perguntou, curioso.

– Não sei se devo. Sou meio desbocado pra essas coisas. – Jungkook riu.

– Jungkook, você não é. Nós fomos criados pra isso! Não é como se não servíssemos. – Taehyung deu de ombros.

– Você tem razão. – Jungkook concordou. – Mas, eu ainda acho que sou péssimo.

– Para com isso. Você vai ser um chefe muito homão da porra. – Taehyung sorriu. – E o melhor, vai poder pegar quem você quiser.

– E o que faz você pensar nisso? – Jungkook ergueu uma sobrancelha, indignado. – Eu não quero sair ficando com todo mundo que nem você!

– Tá, tá. Já entendi, você é romântico, né? – Taehyung zombou.

– Não. – Jungkook revirou os olhos. – Só procuro alguém que possa me entender e ficar comigo por um longo tempo, e não uma foda de um dia.

– Do que estão falando? – Ouviram uma voz um tanto mais fina, e Taehyung automaticamente, jogou o guardanapo em direção ao rapaz.

– Seokjin, bom dia. – Jungkook falou.

– Como é que eu vou ter um bom dia, quando eu tenho isso como irmão? – Meneou a cabeça em direção a Taehyung, que revirou os olhos.

– Eu tô cansado, minha mente tá cansada. – Namjoon resmungou, sentando ao lado do moreno. – Então, por hoje, me poupem das falatorias de vocês.

– Porque isso? – Jungkook ergueu uma sobrancelha, confuso.

– Os resultados de hoje... – Namjoon suspirou. – E, tô resolvendo uns problemas com o cargo do papai.

– Como assim? – Taehyung indagou, confuso.

– Parece que ele só quer que eu administre a Chanel da França. – Namjoon suspirou. – Mas, não sei se devo aceitar o cargo.

Todos na mesa automaticamente olharam para Seokjin, que batucava os dedos contra a mesa e olhava para o centro dela, mas quando percebeu a movimentação, olhou para todos.

– O que? – Seokjin arregalou os olhos, confuso.

– Você é praticamente o namoradinho do Namjoon. Não vai dizer nada? – Taehyung perguntou, indiscreto.

– Você é indiscreto. – Jungkook o acusou, arrancando uma risadinha de Namjoon.

– Eu sou mesmo. Convivo com essa coisa! Tenho o direito. – Taehyung deu de ombros.

– Não tenho muito o que falar. – Seokjin falou, baixinho. – O Namjoon tem que fazer o que é melhor pra ele sempre, não se deve deixar levar por apenas uma paixão.

– Tem certeza disso? – Namjoon indagou, mordendo a pontinha do lábio inferior, surpreso com a resposta completamente insensata.

– Tenho sim. – Seokjin sorriu, sem mostrar os dentes.

– Até parece. – Taehyung revirou os olhos. – Vocês dois são carne e unha, é impossível ter uma falta de sentimento.

– Vocês precisam ter maturidade e aprender que a vida não é só os ficantezinhos de vocês. – Seokjin explicou. – Eu vou assumir uma empresa, o Namjoon também, e ambos sabíamos que isso iria acontecer.

– Se um dia você tivesse que desistir da empresa pra ficar com alguém que você ama, você desistiria? – Taehyung indagou, em aberto.

– Não tenho certeza. – Namjoon murmurou. – É o meu futuro, sim? O que a outra pessoa teria a me proporcionar?

– Amor? – Jungkook respondeu, confuso.

– Amor é bobagem. – Seokjin suspirou. – É limitado. Acaba.

– Amor não é limitado. – Jungkook revirou os olhos. – Quando você ama alguém, você só ama, independente de tudo. E nada mais importa, mesmo que seja uma empresa.

– Você desistiria, Jungkook? – Taehyung ergueu uma sobrancelha, surpreso.

– Sem dúvidas. – Jungkook soltou uma risadinha. – Mas, não acho que isso vá acontecer, eu preciso ser cauteloso, segundo meu pai.

– Ah, ele não quer que você tenha relacionamentos? – Namjoon indagou.

– Na verdade, sim. Mas, ele quer que eu arranje uma garota bonita, que saiba ter postura do meu lado, e todas essas coisas. – Jungkook revirou os olhos.

– Você vai achar, só não uma objetificada pelo seu pai machista – Seokjin sorriu. – O Jungkook é bem romântico, não acham?

– Estávamos falando disso quando vocês chegaram. – Taehyung assentiu.

– O que você acha da Minsoo? – Namjoon indagou, apontando para a garota sentada em uma das mesas da área, conversando com suas amigas.

– Ela é... – Jungkook respondeu, negando. – Não me atrai. Não sei.

– Dahyun? – Seokjin citou outra opção, esperançoso.

– Não vou me casar com uma garota que gosta de outras garotas. – Jungkook fez uma careta. – Deixa ela arranjar a dela.

– Seulgi? – Taehyung perguntou, indignado. – Qual é, Jungkook! Você não pega ninguém, e quem te quer, você não pega!

– Não é minha culpa! – Jungkook se defendeu, soltando uma risada, que foi diminuindo aos poucos, quando algo lhe chamou atenção.

Cabelos escuros e longos, olhos amendoados e orelhas largas, da mesma forma. Carregava sua bolsa de lado enquanto trajava um vestido branco, e sandálias baixas.

Não demorou muito para que Taehyung notasse, e cutucasse Seokjin, que cutucou Namjoon, e ambos voltaram a atenção para a garota, que mantinha a atenção no celular.

– A Yoona não, cara. – Namjoon fez uma careta.

– Mas... – Jungkook suspirou. – Já sei, vocês vão começar a falar que desde o começo do período, quando eu chamei ela pra sair, ela me negou, e que nunca ia ser recíproco, e...

– Eu ia falar isso mesmo, não vou negar. – Seokjin deu de ombros.

– Jungkook, eu sei que ela é a garota que você supostamente ama desde o começo dessa porcaria de faculdade... – Namjoon suspirou. – Mas, ela não te retribui, cara.

– Você precisa achar alguém que goste de você também. Na mesma intensidade. E não vai cair do céu, você sabe. Mas, precisa esperar um pouquinho. – Seokjin falou, compreensivo.

– Que esperar o que! – Taehyung revirou os olhos. – O Jungkook precisa transar! Vai ficar nessa vida até quando? Se você quiser, eu compro os anéis de castidade. – Zombou.

– Quando eu tiver o meu amor, eu vou passar a notícia bem na sua cara, e depois eu vou rir. – Jungkook socou seu braço, abrindo um sorrisinho logo depois.

– Ah, cara... – Taehyung suspirou. – Eu nem acredito que o último período está acabando. O que será de mim sem vocês?

– Um mendigo. – Namjoon respondeu, sincero.

– Vira essa boca pra lá. – Taehyung riu. – Já que é óbvio que o Seokjin vai assumir a empresa, eu vou encontrar um sugar daddy e ser a ovelha negra da família.

– Eu posso sustentar você, maninho. – Seokjin tocou seu ombro, abrindo um sorrisinho.

– Sei disso. – Taehyung sorriu de volta. – Eu odeio você, mas eu amo também. Pra caralho.

– Sei disso. – Seokjin imitou a voz grossa do irmão.

– Ainda não sei o que eu supostamente deveria ser. – Jungkook suspirou. – Sei que tenho que administrar a empresa, fazer tudo que o papai já fez, e muito mais.

– O que você quer de verdade? – Namjoon perguntou, confuso. – Você não pode estar no curso de administração à toa.

– Basicamente isso. – Jungkook riu, de nervoso. – Eu queria mesmo é abrir um restaurante. Ter minha própria vida. E não viver de uma empresa.

– Seu pai nunca aprovaria isso. – Taehyung negou. – Nem em um milhão de anos.

– É claro que eu sei disso. – Jungkook revirou os olhos. – Mas é o meu sonho.

– Então, siga ele. – Namjoon falou. – Easy, easy, man.

– Bilíngue. – Taehyung riu.

– Eu queria. – Jungkook suspirou. – Quem me dera...

– Tenta falar com ele... – Taehyung tenta argumentar. – Ou você assume a empresa e depois abre o restaurante...

– Eu acho que o resultado dos testes já saíram. – Seokjin olhou o relógio de pulso, assentindo consigo mesmo.

Jungkook sentiu sua barriga revirar no mesmo instante. Não era como se fosse reprovar no curso, ou algo do tipo, sempre foi um bom aluno, empenhado e estudioso.

Acontece que não era isso que ele queria de verdade. Não queria ter que administrar uma empresa para sempre. Queria ter sua vida seguir seu sonho, ser um adolescente normal.

Queria encontrar o amor da sua vida e ter uma vida. E, não, ter que empenhar sua vida toda em um futuro montado e arranjado por uma família extremamente abusiva.

Desde pequeno, sempre teve que ser obrigado a ouvir coisas como:

"Jungkook, estude bastante para administrar a empresa."

"Jungkook, você precisa arrumar a mulher ideal."

"Jungkook, você precisa ser um rapaz que nem o seu pai foi na sua adolescência."

Mas, não queria nada disso. Não queria ter que seguir os passos de um homem no qual nunca se orgulhou, no qual nunca teve um pingo oportunidade para se espelhar.

Jungkook só queria poder ser ele mesmo, sem rancor, sem barreiras, ter seu restaurante, viver honestamente, mesmo que aquilo custasse mais do que assumir a porcaria de uma empresa.

Pensar naquilo o deixava estressado, deixava sua mente cansada, e o pior de tudo, era que sua raiva, em certas ocasiões, vinha de forma intensa, e ele não podia controlar.

Como se fosse necessário ter que ficar com raiva, necessário ter que agonizar e esperar que alguma coisa acontecesse. Alguma coisa quebrasse. Alguma coisa o destruísse por completo.

Estava completamente quebrado, e não havia ninguém que o ajudasse a juntar seus pedacinhos, já que o mesmo, não conseguia.

Mas, Jungkook sabia fingir bem. Sabia fingir para os pais, e até mesmo, para os melhores amigos de infância, nos quais sempre o ajudaram com muito prazer.

Tinha certeza que se um dia, desistisse da empresa, um dos três teria o prazer de o abrigar, lhe dar comida, carinho, e até mesmo, oportunidades.

Jungkook simplesmente não conseguia, se via preso, sem saída, e mesmo que de certa forma houvesse várias, não queria ter que viver as custas de alguém, queria fazer sua própria vida.

E aquilo, o deixava mais irritado ainda. O fato de que por mais que tentasse, não iria conseguir. Não iria conseguir ter seu restaurante, não iria conquistar a garota que amava, e não iria viver a felicidade que todos sempre esperam.

Não iria ter nada disso. E ainda, teria que cobrir todos esses sentimentos com pensamentos sem fundamentos e felicidade falsa. Isso não era vida. Não mesmo.

Jungkook soltou um suspiro, antes de começar a caminhar pelo Campus com Taehyung tagarelando qualquer coisa aleatória ao seu lado, fingindo que estava escutando e sendo um bom amigo.

– Meu prédio. – Taehyung apontou para o prédio cujo curso era moda, deixando um beijinho na cabeça alheia e se despedindo rapidamente, ansioso.

Jungkook seguiu em direção ao seu prédio, caminhando de cabeça baixa, com os dedos presados contra a barra do moletom, o acariciando e tentando controlar sua ansiedade.

Mesmo que já soubesse o resultado, não poderia deixar de ficar ansioso e imaginar o pior. Jungkook já estava cansado disso tudo.

Quando adentrou o corredor, conseguiu ver vários alunos jogando conversa fora e saindo da sala com sorrisos no rosto, já outros, com lágrimas nos olhos e feições tristes.

Jungkook conseguiu ver Yoora logo a sua frente, trocando conversa com uma das amigas, segurando um papel nas mãos e mantendo um sorriso no rosto.

O moreno a achava tão bonita, que chegava a doer. Gostava de como ela piscava os olhos e sorria largo, de como ela passava as mãos pelas pontas do cabelo macio, ou de como seu gloss labial a diferenciava pela quantidade em que passava, deixando sua boca ainda mais atraente.

Mas odiava o fato de que outros homens já haviam provado dos seus sentimentos, de como ela olhava para ele com desprezo, de como seus sorrisos não eram direcionados a si, de como estava apaixonado, e aprisionado por um garota.

Esperou na porta por alguns segundos, apenas esperando um grupo de garotas saírem da sala por último, esperando ver seu resultado sozinho e sem ninguém para atrapalhar.

O grupo logo tornou-se presente no meio do corredor, enquanto uma das meninas olhou para si de soslaio e levantou os dedos, acenando.

Jungkook apenas sorriu sem mostrar os dentes, antes de inclinar-se contra os pés e entrar na sala com o coração saindo pela boca.

Observou o anuário, e logo após, um único papel em cima da mesa, com seu nome e um selo escuro e vermelho no canto da folha.

Sentiu-se feliz por ter a oportunidade de ler "Aprovado" no canto da folha, e a apertar contra o peito, suspirando profundamente e não conseguindo evitar de sorrir o máximo que podia.

Deu alguns pulinhos pela sala, sentindo a felicidade ocupar sua mente e o deixar com os pensamentos puros, feliz por todo seu esforço ter sido recompensando de boa forma.

E pra falar a verdade, essa era a primeira vez em meses que Jungkook sentia-se feliz dessa forma, como se estivesse livre, e que agora, só teria mais uma etapa à seguir.

Apertou o papel contra as mãos e o dobrou, enfiando de forma desajeitada contra o bolso externo da mochila, sorrindo mais uma vez ao sair da sala.

Jungkook queria correr e contar a alguém que havia passado, e aquela talvez, fosse a primeira vez em que poderia puxar um assunto digno com Yoora.

Mas seu sorriso fôra diminuindo na medida em que saiu da sala e a viu; no entanto, não conseguiu. Não conseguiu porque já haviam chegado primeiro que ele.

Jungkook sentia tanto. Tanto.

E então, o rapaz se aproximou e a beijou, suavemente. E eles pareciam tão felizes. Ele tocava as madeixas dos seus cabelos, Jungkook amava suas madeixas. Agarrava sua cintura e a puxava contra si. Jungkook amava tanto a sua cintura que doía.

Seus lábios. Seus lábios nos quais haviam tido tanta atenção vindos do moreno estavam sendo tomados por outra pessoa, bem na sua frente.

É claro que Jungkook já havia ouvido histórias sobre ela ter começado a namorar, mas nunca havia o visto pessoalmente, principalmente sorrindo em sua direção com um olhar apaixonado.

Jungkook sentiu seu sangue ferver, todas suas veias queimarem, suas pupilas dilatarem, e seu sorriso se esvair ao mesmo tempo.

Sabia que algo desse tipo iria acontecer. Porque nunca, nunca, nunca, havia uma única chance para Jeon Jungkook ser feliz por mais de quinze ou vinte minutos.

Algo sempre acontecia, seu humor sempre oscilava, sua cabeça sempre enchia de situações aleatórias, seu coração sempre acabava doendo como um inferno.

Se sentiu tão insuficiente. Amava o fato de que ela estava feliz. Mas, odiava ser insuficiente, odiava não cumprir as expectativas de ninguém; odiava se sentir inútil. Jungkook se odiava.

Doze meses do ano. Jungkook passava seis meses feliz como um adolescente normal, se arriscando e se metendo em situações nas quais sempre quis se meter, mas também passava o resto dos outros 6 meses enterrado embaixo dos lençóis como uma garotinha com medo do mundo.

Sua cabeça doía como um inferno, quando o mesmo arrastou o pé para dentro da sala e em um flash de luz, fechou a porta, escorregando contra ela.

Agarrou o diploma, visto que haviam cópias dele no site oficial da faculdade, observando o nome, e aprovação, que agora, pareciam não ter sentimento algum.

Ele não queria aquilo. Não queria aquele curso. Não queria aquele família. Não queria ter sido criado para aquilo. Não queria aquele destino. Odiava ser tão insuficiente.

Engoliu em seco, deixando as lágrimas caírem pelos seus olhos, enquanto as próprias unhas passeavam pelo tecido da calça e quase rasgavam por devida força aplicada.

Suas costas bateram contra a porta. Uma. Duas. Três. Quatro vezes. Até que o moreno finalmente, levantou-se de uma vez.

Sentindo uma dor absurda, no peito, nas pernas, nas costas, na cabeça, no psicológico, e no coração.

Muitos diriam que seria exagero, mas as pontadas em seu coração só aumentavam na medida em que sua mente formulava tudo que há de negativo em sua mente.

E Jungkook conseguiu se ver, sentado contra as cadeiras daquele escritório enorme e sádico, com um sorriso no rosto, expressando toda a sua falsa felicidade, enquanto seus órgãos e sentimentos se esvaiam dentro do corpo, se viam se motivos.

Jungkook queria morrer, destruir todos os cômodos daquela sala e nem mesmo sabia o porque, mas sabia que devia, sabia que seu ódio só se esgotaria se fizesse isso.

Sabia que iria parar. Precisava que isso parasse, pois, já não aguentava mais a dor de viver às custas de uma identidade falsa.

De falsos sorrisos, falsos sentimentos, falsas metas, e falsa vontade de querer estar onde estava, em uma empresa, em um local completamente oposto do que queria.

Com os dedos agarrados nos fios dos cabelos, os puxando, quase os arrancando, mordeu o lábio inferior e levantou-se, sentindo a visão ficar turva por alguns instantes.

Abafou gritos agonizantes e sacudiu o corpo, colocando as duas mãos ao redor da cabeça, chorando e murmurando palavras desconexas.

Não sabia o que merdas era aquilo que estava sentindo, mas, sabia que sempre sentiu aquela sensação. Dessa vez havia voltado mais forte, com mais avidez, com mais toxinas.

Jungkook sentia-se aprisionado em um mundo montado, feito de marionetes, onde tudo que podia fazer é desejar quebrar todo aquele palco, e toda aquela tela.

Mas tudo que podia fazer, é ficar sentado atrás, observando seu corpo ser manipulado, e sua vida ser montada através de um futuro infeliz.

Nesse momento, tinha total certeza de que sua marionete estava agonizando e perdendo todas as forças que usava para se mover. Porque ele estava, simplesmente, casado demais para esboçar alguma reação.

Involuntariamente, a necessidade de querer acabar com tudo possuiu seu corpo, e, com as pupilas dilatadas, Jungkook apoiou as mãos em uma das cadeiras e as jogou contra a parede no fundo da sala, gritando e pairando sobre a dor.

E aquilo o aliviou, o aliviou de forma ensurdecedora. O aliviou como a porcaria de uma cadeira sendo jogada contra a parede.

O aliviou porque imaginou sua cabeça no lugar daquela cadeira. Imaginou todos os seus problemas acumulados, esvaindo através da liberação de raiva em limites extremos.

Jungkook estava tendo a porcaria de uma crise e nem sabia o porque daquilo acontecer, mas sabia que sentia, sabia que era intenso demais, mais intenso do que poderia aguentar.

E corroía o seu corpo, corroía sua mente, suas veias, e cada célula atômica presente em seu sangue, fervia calorosamente e saltava contra seus músculos.

Saltava contra seu corpo, interligava à sensações horríveis indescritíveis, que gerava raiva nos limites extremos de uma camada fina que era o seu corpo.

Jungkook era fraco, apesar de tudo, era fraco, indefeso, inseguro, e um ansioso nato. Não possuía forças psicológicas o suficiente para sustentar tudo aquilo sem ter um surto psicótico.

Porque aquilo era sim, psicótico, afetava sua mente, destruía suas barreiras saudáveis, e ele não sabia lidar, a não ser gritar e tentar esvair toda aquela dor em seu corpo.

A cadeira encontrou o chão, assim como Jungkook, que escondeu as lágrimas com as duas mãos acima do rosto, enquanto juntava as pernas e chutava em qualquer direção que não fosse à si mesmo.

Por mais que desejasse ter sido espancado, para que não podesse espancar. Que desejasse ter sido corroído, para que não pudesse corroer. Que desejasse ter sido morto, para que não pudesse matar.

E no chão daquela sala, Jungkook soluçou, e chorou, procurando alguma coisa que pudesse acabar com o seu sofrimento de uma única vez, até por fim, levantar-se e destruir tudo que podia naquela sala.

Seu barulho não parecia incomodar, pelo fato de que não havia mais ninguém rondando por aqueles corredores. Mas tinha a total de que seus amigos iriam procurar por si em alguma hora.

Jungkook não queria ser encontrado, queria ser deixado ali, no chão, liberando sua raiva, esvaindo todo aquele estresse para fora do corpo.

Falsa necessidade. Era o que sentia.

Sentia a falsa necessidade de jogar todas aquelas cadeiras contra as paredes, e achar que de alguma forma, aquilo aliviaria seu sofrimento, sua dor.

E o pior, era que não conseguia parar, sentia-se sufocado, sua mente ansiava por mais, mas seu corpo só queria a porra de um descanso.

E Jungkook não teria um descanso, nunca teve, e não seria agora que iria ter. E acabaria assim por um longo período de tempo, enquanto assumia a empresa do seu pai e passaria noites em claro naquele escritório.

É claro que seu pai não notaria nada disso. Nunca notou nada que não fosse a porcaria do seu esforço nos estudos, que não fosse o seu empenho em assumir a empresa, que não fosse, sua utilidade em serviços profissionais.

Jungkook desejava o amor dos seus pais, e era por isso, que de alguma forma, não sentia tanto esforço profissional vindo de sua mãe, que nunca fez nada além de lhe dar tudo de bom e do melhor para que tivesse uma boa condição de vida, que sempre desejou que arranjasse uma boa esposa e lhe desse lindos netos.

Mal sabia que estaria incluindo o filho na maior cilada familiar que poderia imaginar. E não iria acabar nada bem.

E então, Jungkook chorou novamente, empurrando o corpo contra o birô, e chocando a cabeça contra a beirada da mesa, tocando em seus fios e observando o sangue sair de forma um tanto aglomerada.

Não conseguiu evitar um sorriso sádico que apareceu em seus lábios, enquanto observava a si mesmo sangrar, e realmente esperava sangrar  a porcaria da crise corpo a fora.

E foi assim, que seu corpo fôra encontrado naquele dia. Desacordado, sangrento, e caído contra o chão de uma sala de aula. Completamente destruída.

Destruída como a porra do seu estado psicológico.

Jungkook, que só desejou ter uma vida normal, acabou se perdendo nas luxúrias de um universo governado pelos mandamentos de um mandachuva acéfalo.

Delirando e suprindo emoções tóxicas. Suprindo e bombinando como a granada, capaz de explodir à qualquer momento.

Mas infelizmente, nunca teve a chance de explodir, porque foi desarmado, e coberto de combustão, para que pudesse passar a vida toda sofrendo e corroendo.

E nunca passaria disso. Porque havia sido programado para passar por isso, mesmo sabendo, que nenhum dos seus parentes ou a si mesmo, havia escolhido essa opção.

E quando Taehyung entrou naquela sala e o viu completamente desacordado, com uma poça de sangue abaixo do corpo, gritou e aproximou-se sem hesitar, agarrando o celular, e teclando o número da ambulância com os dedos trêmulos.

Não demorou muito para que Jungkook acordasse no hospital, mas quando um dos homens adentraram a sala, Jungkook conseguiu ver que ele não era um médico para lesões físicas, e sim, um pisiquiatra.

Quando olhou para baixo, entreabriu os lábios ao ver que ao tentar se mover, suas mãos estavam atadas à maca, o impede de fazer qualquer movimento brusco.

– P-porque eu estou atado? – Jungkook indagou, com a voz cansada e sôfrega.

– Olá, Jungkook. – O homem falou, calmamente, sorrindo sem mostrar os dentes em sua direção, apenas curvando os lábios. – Como você se sente?

– Eu quero que você me desamarre. – Jungkook murmurou. – Está me incomodando. Por favor.

– É claro que sim. – Assentiu. – Mas antes, você precisa saber de coisas extremamente essenciais para todo o seu desempenho.

– Meu desempenho? – Jungkook ergueu uma sobrancelha. – Eu não preciso disso! Eu sou normal!

– Jungkook. – O homem chamou sua atenção. – Se você me ouvir, eu prometo que irei te desamarrar, e que você poderá até levantar-se dessa maca cansativa.

E logo após o posicionamento, observou o homem sentar-se na cadeira ao lado, e começar a lhe explicar sua ficha calmamente, enquanto Jungkook apenas ouvia, e tentava assimilar tudo aquilo.

Seus olhos desviaram para o vidro no canto da sala. E então, ele o viu. Com os olhos escuros e amendoados em direção aos seus. Seu pai observava tudo com muito cuidado. Do outro lado do vidro, como se Jungkook fosse algum monstro.

E ele realmente, havia se sentido um monstro depois de tudo que ouviu do homem. Havia se sentido uma fera, indomável, incapaz de ser confiável, e completamente fora de si.

Jungkook soube naquele momento, que teria que passar o resto da sua vida ingerindo remédios e praticando terapias diárias, dependendo da frequência das crises.

Tudo que desejou naquele momento, foi ter sido um adolescente normal, ter tido alguém para amar, desejou acabar com tudo isso, desejou fechar os olhos e chorar até inundar aquela sala psiquiátrica.

Desejou nunca ter nascido com a porcaria do TEI.

°~°

oi meus anjinhos feliz ano novo, espero que 2018 os tragam muitas oportunidades e ótimas lembranças
💕

a história já entrou em uma das minhas fases favoritas, a fase das revelações e de ver vocês ficando surpresas com as coisinhas que estão lendo, eu amo isso aaaaaaa

eu diria que estamos quase iniciando a reta final (infelizmente) e que daqui à alguns meses vocês poderão dar tchau a redemption :(

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