Serei seu tritão
✧ Créditos:Escrito por: 4llex
Co-Autor: PurpleGalaxy_Project e TKFlex_Rot
Betagem por: MegNovis
Design por: Hoperock
07 de julho de 2019.
No meio de um dia quente, Jimin, Hoseok, Yoongi e Taehyung estavam aproveitando o sol ardente do meio do verão. Aquele céu limpo e sem nenhuma nuvem não dava chance da pele escapar daquela quentura, e a água clara e brilhante parecia um imã que tentava fazer qualquer um entrar pra se refrescar por alguns momentos; para um dia quente como aquele, era surpreendente que a praia não estivesse simplesmente lotada e barulhenta.
Os quatro garotos estavam em cima da lancha do pai de Jimin, o jovem tinha pegado emprestado apenas para aproveitar o tempo com os amigos, e mesmo tendo o privilégio de usufruir de algo caro como aquilo, nenhum dos garotos estava realmente aproveitando. Hoseok estava com a expressão mais neutra do mundo, enquanto deitava a cabeça no ombro de Yoongi — que estava preferindo tirar fotos do cenário do que realmente aproveitá-lo —; Jimin estava deitado em um dos bancos da lancha, enquanto rabiscava algum desenho em seu caderno. Taehyung analisava a água ao mesmo tempo que se escorava na borda e pensava sobre o que eles poderiam fazer.
— Devíamos fazer alguma coisa. Sério que ninguém trouxe um jogo de cartas ou de tabuleiro, ou algo assim? Era tudo o que precisávamos agora... — Taehyung foi o primeiro a quebrar o silêncio entre os amigos.
— Imaginei que no meio da água teria algo mais legal pra fazer! — Jimin bufou, sentando-se no banco e começando a retocar o protetor solar na parte dos braços, que já estavam começando a ficar avermelhados com o sol. Mesmo que cada um tenha usado quase um frasco inteiro de protetor solar antes de pisarem na lancha, o calor do meio do verão não dava um desconto para ninguém.
— E ninguém tem uma garrafa pra jogarmos verdade ou desafio? — o Min disse, depois de finalmente deixar o celular de lado e olhar para os outros.
— Ah, mas isso é coisa de gente fraca pra brincadeira! Aqui tem que ser na base da aposta e do desafio, assim tem mais graça — Hoseok se intrometeu na conversa também, claramente deixando Yoongi incomodado por tirar a opção de escolher "verdade" dele.
Jimin sorriu com a sugestão do Jung, levantando-se e olhando para cada um dos amigos, analisando cada um até a visão parar em Taehyung. O Park era sempre o primeiro a desafiar os outros, mas também o que oferecia o valor mais alto nas apostas. Não que tivesse como esperar algo diferente dele, ou de qualquer um presente ali.
Todos eles eram filhos de homens e mulheres ricos, filhos que recebiam uma mesada farta o suficiente para não precisarem trabalhar se não quisessem; cheios de privilégios onde suas necessidades financeiras eram prontamente atendidas, permitindo-lhes uma vida sem as preocupações comuns da maioria das pessoas. Era surpreendente como eles agiam como se não tivessem o que perder mesmo assim.
— Tá bom, eu começo... Taehyung, eu te desafio a pular na água e ficar lá o máximo de tempo que conseguir.
— E eu ganho alguma coisa com isso? — Apesar de não gostar de nadar, todos tem o seu preço, e não era diferente para Taehyung.
— Metade da minha mesada tá bom pra você, Tae? Mas só se você ficar uns três minutos, por aí.
Não era uma surpresa para ninguém que o Park recebia uma mesada bem gorda dos pais, e metade dela já deveria ser o suficiente para se divertir por algum tempo, e para Taehyung, valeria a pena só de ver o biquinho de decepção de Jimin quando ele conseguisse ficar na água tempo o suficiente.
— Parece justo, acho que aguento esse tempo ali embaixo! — o loiro disse confiante, ficando de pé perto da borda da lancha.
— Só vê se não morre, Tae! Se ver que não consegue, pode voltar pra superfície — Hoseok se pronunciou, usando um tom de voz carinhoso, parecia preocupado com o melhor amigo. Pelo menos uma pessoa do grupo tinha consciência de que aquilo poderia dar errado!
— Ah tá, tá bom... — Taehyung riu levemente, olhando para a água em sua frente. Era tão bonita e brilhante, mas era difícil conseguir ver o que tinha no fundo e essa era a única preocupação do loiro. Se você não consegue ver o fundo, como sabe que não é perigoso? Se você não conhece o que tem lá, não parece certo confiar.
Taehyung subiu na borda da lancha, respirando fundo e prendendo o ar antes de impulsionar o corpo para frente, mergulhando do melhor jeito que conseguia. A sensação da água fria o envolveu instantaneamente e o som das ondas foi abafado automaticamente.
Ele nadou o mais fundo que conseguia e demorou um pouco para ter coragem de abrir os olhos, pois tinha medo de se desconcentrar e esquecer há quanto tempo estava lá. Ao abrir, o Kim teve a visão de um cenário praticamente vazio e levemente embaçado, mas a paisagem ainda conseguia ser linda e podia transmitir tranquilidade. Afinal, a paz não é definida pela quantidade de elementos ou detalhes em um lugar, às vezes ela é estabelecida pela falta deles.
Não vinha nada de ruim em sua mente naquele momento, e o rapaz só conseguia pensar em como era privilegiado de poder ver aquilo. Se ele pudesse, ficaria por ali até se tornar parte da areia, só para viver em paz, sem nenhum incômodo ou sentimento negativo, mas o loiro ainda não tinha coragem de deixar tudo para trás, e afinal, esse "tudo" não deixaria de envolver seus amigos e entes queridos. Essa ideia ainda era algo para se pensar.
Depois de alguns segundos, apenas tentando esquecer o tempo que teria que ficar por lá — como um jeito de se distrair—, olhou e notou que não tinha muito o que ver além de algumas grandes pedras que faziam parte do recife raso do local, e mesmo que tivesse algo realmente curioso para enxergar ali, não era muito fácil por causa da vista meio turva. Aquele cenário não trazia muito além da sensação de estar sozinho, o que estava sendo um sentimento satisfatório para Taehyung.
Ainda prendendo a respiração com destreza, o Kim começou a considerar a ideia de voltar para a superfície, mesmo sem saber se já tinha ficado embaixo da água por tempo o suficiente. Não tinha como não ter passado pelo menos três minutos ali! Na cabeça de Taehyung, parecia que tinha se passado mais tempo do que isso, mesmo que na realidade, não tivesse mais de dois minutos que ele estava naquele lugar.
Enquanto se preparava para tomar um impulso para subir mais rápido, o Kim Taehyung pôde ver algo roxo pelo canto de olho, parecia mais uma sombra ou um vulto, mas, de certa forma conseguiu chamar a atenção do loirinho. Ele parou, mal se mexendo enquanto tentava enxergar melhor
Com um pouco de dificuldade, foi possível ver um tritão de cauda violeta passando por trás das pedras subaquáticas, o meio-humano também percebeu o Kim naquela mesma hora, o que gerou um breve contato visual entre eles. Tal ação assustou o tritão levemente. Com Taehyung, além daquilo ter sido um choque, a situação ainda fez o Kim considerar que poderia ter enlouquecido. Ninguém falava sobre a possibilidade de sereias e seres místicos naquela praia há muitos anos.
O momento de espanto fez Taehyung soltar o ar que guardava em seus pulmões para tentar gritar, então bolhas de ar subiram à superfície, mas nenhum grito foi ouvido por causa da água que abafou seus sons, deixando um silêncio ensurdecedor no lugar da voz do loiro.
Percebendo o que tinha acabado de fazer, o Kim se debateu um pouco antes de começar a tentar nadar para cima, parecia que a água tinha ficado mais densa de repente, ou talvez fosse a sensação do medo dominando seu corpo magro.
Jungkook, o tritão de cauda violeta, sentiu-se péssimo somente ao pensar em não ajudar o humano, mesmo sabendo que não devia nada para ele; os humanos não faziam muito além de atrapalhar seus passeios diários e atrapalhar seus planos, mas o peso na consciência ficaria por algum tempo, e afinal, ajudar não iria custar nada além de tempo.
Rapidamente, Jeon começou a nadar em direção ao humano, impulsionando a cauda com força e cortando as ondas que se formavam com uma velocidade empolgante, seu corpo ágil e musculoso parecia quase deslizar pela água. Ele segurou o loiro firmemente em seus braços, colocando-o junto ao peito antes de usar um grande impulso da cauda, começando a ir para a superfície.
O meio-humano nadou em direção a uma grande pedra que se erguia acima da água, a mesma pedra subaquática de alguns minutos antes. Quase sem cuidado nenhum, Jungkook colocou Taehyung em cima da pedra, garantindo sua segurança e ao mesmo tempo presenteando-o com alguns arranhões; talvez o tritão não soubesse exatamente como deveria agir enquanto tocava em um humano.
Taehyung tossiu e respirou fundo várias vezes, buscando desesperadamente recuperar o ar, enquanto o Jeon o encarava com uma careta confusa. O moreno desviou o olhar por um instante, certificando-se de que não tinha ninguém vindo na direção dos dois, ou qualquer coisa parecida com isso, mas nada foi encontrado. Ambos apenas teriam que depender da sorte para não serem vistos pelos amigos de Taehyung.
Jungkook sabia que o loiro gritaria quando recuperasse o fôlego, mas não tinha certeza de como lidar com os seres humanos em tal situação — ou em qualquer outra, para ser sincero. A única coisa que passou em sua mente naquele momento, foi tapar a boca do loirinho com a mão, impedindo-o de gritar e de se recuperar completamente.
— Tá tudo bem! Não vou fazer mal pra você, eu juro... — A voz do acastanhado saiu um pouco rouca, dando para Taehyung a impressão de que o tritão não falava há algum tempo, o que poderia fazer sentido se ele vivesse sozinho.
Devagar, Jungkook tirou a mão do rosto do Kim, deixando ele respirar normalmente enquanto os dois se encaravam, ninguém sabia exatamente o que fazer ou o que dizer, mas eles sabiam que deveriam elaborar algo o mais rápido possível. Enquanto eles não pensavam em algo, Taehyung se afastou levemente, conseguindo leves arranhões na palma da mão e na coxa ao se distanciar do meio-humano, e foi só então que ele parou para analisar a aparência do moreno.
Sua cauda tinha escamas que cintilavam como ametistas sob a luz do sol e que conseguiam ter destaque mesmo quando submersas na água. Seu cabelo castanho, escuro como a noite, caia em mechas onduladas sobre seus ombros largos e musculosos, o rosto tinha uma feição perfeita e gentil, e era impossível olhar a face e não reparar em seus olhos castanhos, quase pretos; exalavam uma curiosidade genuína.
Taehyung não conseguiu não olhar e precisou admirar o corpo do tritão, pensando e, como ele parecia ter sido esculpido por algum deus, ou então a própria força das correntes marítimas, pois ostentava músculos definidos, que tinham destaque na pele bronzeada pelo Sol. Era estranho estar tão perto de um desconhecido, mas pelo menos ele podia se entreter admirando a beleza dele.
Jungkook estava curioso demais para olhar de perto todas as partes daquele ser humano. Ele tinha certeza que o rapaz devia se destacar no meio de uma multidão por causa de sua beleza discreta. Seus movimentos, cada gesto, quase emanavam uma luminosidade própria, atraindo o olhar de Jungkook como um poderoso magnetismo.
Seus cabelos não se encontravam só loiros e lisos, mas também bagunçados e molhados; as mechas caíam sobre a testa dele, revelando um rosto com uma expressão suave e visivelmente confusa, ele ainda parecia um tanto assustado por causa da situação anterior. Seus olhos castanhos, profundos e expressivos, transmitiam uma certa desconfiança, o que faria sentido considerando tudo o que acabara de acontecer e ainda estava acontecendo. Jeon não conseguiu não se lembrar da vez que ouviu um humano dizer que "os olhos sempre denunciam o que o coração tenta esconder". Talvez isso estivesse acontecendo com o loirinho.
O tritão sabia que para os humanos não era educado olhar para o corpo dos outros, então ele fez isso do jeito mais discreto que conseguiu, reparando no corpo esbelto e de proporções delicadas. Ele não exibia músculos volumosos demais, mas isso parecia fazer parte do charme de sua aparência. Sua cintura era fina e destacava a harmonia de suas formas, contribuindo para sua aura de charme inabalável.
Naquela hora, a situação começou a ficar desconfortável por causa do silêncio entre os dois; era preciso agir rápido, encontrar algo para dizer — qualquer coisa que preenchesse o vazio e afastasse a sensação de constrangimento que ameaçava tomar conta de ambos. Jungkook resolveu falar primeiro, antes que alguém conseguisse ver a dupla.
— Desculpe, não era a minha intenção olhar tanto... Eu sou Jungkook, e sinto muito que estejamos nos encontramos logo assim na primeira vez. Ah, e eu gostaria de saber se você está bem — o moreno disse baixo, não parecendo muito confiante de tentar iniciar um diálogo agora.
— Estou vivo, e acho que é o que importa! — Taehyung riu levemente. — Obrigado por me ajudar lá embaixo, esqueci completamente de como nadar... E já que você comentou, meu nome é Taehyung.
Jungkook sorriu levemente, contente por ter conseguido ajudar Taehyung de alguma forma, antes que algo pior tivesse acontecido. Houve outro silêncio desconfortável entre os dois, mas dessa vez o Kim que começou a falar.
— Me desculpe por dizer, mas... meu Deus, você é tão lindo — Taehyung expôs, ainda admirado com a aparência do meio-humano. Eram diversos pequenos detalhes que faziam a diferença quando eram notados.
Aquele elogio deixou o Jeon sem reação, ele realmente esperava que a conversa acabasse ali mesmo, mas os humanos sabiam surpreender, ainda mais quando estamos falando de Kim Taehyung. Aquela frase saiu da boca do loiro de uma forma genuína, o que conseguiu deixar Jungkook um pouco tímido, fazendo-o pensar se todos os humanos agiam assim. Eles elogiavam os outros dessa forma? Algo repentino assim?
— Obrigado... eu acho.
Foi possível ouvir o barulho dos amigos de Taehyung se aproximando com a lancha, e Jungkook foi rápido em afundar mais o corpo na água, buscando refúgio na água e evitando ser visto pelos outros três garotos.
— Eu deveria ir. Fico feliz de conseguir te ajudar de alguma forma. Sinto muito por essa conversa tão... curta — o moreno despediu-se rapidamente, afastando-se da pedra em que o Kim permanecia sentado.
— Eu entendo! E obrigado... por tudo — Taehyung respondeu e sorriu para Jungkook, que retribuiu no mesmo momento.
— Espero te reencontrar algum dia, Taehyung.
Foi a última declaração de Jungkook, e então, em um mergulho fluido e silencioso, a cauda violeta cortou a água com elegância, deixando um falso rastro de brilhos cintilantes em seu trajeto. O Kim presenciou a superfície do mar se fechar sobre o tritão, parecendo um véu de mistério, deixando apenas um enigma encantador em seu lugar, atiçando a curiosidade de Taehyung e fazendo ele querer descobrir mais. Sua partida era apenas uma promessa de retorno para o loiro; afinal, ninguém se encontra antes de se desencontrar
Yoongi, Hoseok e Jimin chegaram perto de Taehyung junto com a lancha poucos segundos depois. Eles pareciam preocupados, e Jimin estava levemente emburrado, já que no fim das contas, ele tinha perdido a oposta e, consequentemente, metade da sua mesada.
Os rapazes ajudaram Taehyung a voltar para o veículo aquático, e ele parecia totalmente perdido nos próprios pensamentos, mal respondendo as perguntas de Yoongi e Hoseok, que estavam realmente preocupados com o amigo e ansiosos para saber o que aconteceu, e também se de fato aconteceu algo.
12 de julho de 2019
Depois do ocorrido, o tempo e a terra não pararam e continuaram rodando, fazendo cerca de cinco dias passarem em um abrir e fechar de olhos. Infelizmente, ou felizmente, dependendo da interpretação de cada um, Taehyung não se esqueceu nem por um único dia do que aconteceu na praia naquele dia. Foi inédito, inesperado e único...
Isso prendeu a atenção do loiro de um jeito que fez ele começar a estudar toda a região daquela praia, vendo cada detalhe, procurando informações para saber se era loucura ou verdade, mesmo já estando ciente que não acharia nada verdadeiramente útil naquele diversos livros, sites, jornais e todas as outras coisas.
Frequentemente, Taehyung pensava coisas do tipo: "Lá vou eu de novo. Deus, por que eu deixei ele ir embora sem pensar duas vezes? Eu nunca poderia ter deixado ele me deixar". A pergunta martelava em sua mente, sem resposta, alimentando a culpa que o consumia. Ele se amaldiçoava por sua impulsividade, por ter cedido à frustração no momento em que mais precisava manter a calma.
O que ele queria mesmo era que Jungkook tivesse beijado ele intensamente antes de ir, e assim Taehyung evitaria estar triste no meio do verão. Ele desejava que Jungkook pudesse saber desse sentimento. Era estranho como parecia que Taehyung iria sentir a falta dele para sempre, assim como as estrelas sentem falta do Sol nos céus da manhã. Eles teriam se visto por cerca de dez, ou então quinze minutos, no máximo, e o Kim estava derretendo enquanto lembrava da sua voz gentil e um pouco rouca e do seu corpo forte.
Naqueles cinco dias que se passaram em um segundo, o humano visitou a mesma praia todos os dias em diferentes horários, fez as mais diversas anotações, mergulhou e nadou em lugares próximos daquele em que se encontraram no dia sete, na esperança de avistar o tritão mais uma vez.
Ele não conseguia encontrar uma explicação para aquele sentimento, e o agoniava só de pensar na possibilidade de nunca mais ver Jungkook na vida. Taehyung queria saber o dia, onde e também o horário
O loiro tinha noção de que desenvolver essa sensação tão rápido era estranho, principalmente considerando a situação em que aconteceu, e por isso ele não contou para nenhum de seus amigos. Todos eles pensavam que Taehyung tinha apenas estava se sentindo mal fisicamente depois do que ele teve que fazer, então deixaram ele voltar apenas quando se sentisse melhor, e quase nem questionaram sobre aquele assunto.
O Kim estudou sobre todas as coisas possíveis, ele sentia que qualquer coisa podia ser útil, então fez questão de ver até mesmo sobre alguns fenômenos do mar, como o redemoinho aquático, a névoa do mar, a bioluminescência. Não, ele não sabia exatamente como usar os estudos para descobrir alguma coisa sobre Jungkook, e afinal, ninguém saberia o que fazer nessa situação.
Não tendo seus melhores amigos para contar das coisas que percebeu e pensou enquanto tinha sua sessão de estudos, o loirinho começou a escrever tudo que podia em um diário, para diminuir a solidão de alguma forma, mesmo que fosse mínima. Na sétima folha daquele caderno de capa azul-royal, Taehyung escreveu: "Se eu contasse sobre o tritão de cauda violeta, diriam que eu estou maluco, e se olhassem para todas as minhas pesquisas, diriam que eu estou tentando provar para o mundo que as sereias são reais. Agora, tudo que eu queria, era provar pra todo mundo que eu não preciso provar nada pra ninguém.
Quero não só ver Jungkook de novo, mas também sei que quero uma explicação para o que eu sinto.
Sinto como se estivesse à beira de um redemoinho aquático quando penso naquele tritão moreno. Sua beleza hipnotizante me atrai como um farol na noite, e sei que, se eu me aproximar demais, serei sugado para dentro de seu centro. Como uma mariposa em volta da chama; corro o perigo de ser sugado para dentro do redemoinho, de me perder em seus encantos e nunca mais retornar à superfície.
O redemoinho é uma força da natureza, uma corrente de água implacável que se move em torno de um ponto central. Ele atrai tudo em seu caminho, puxando-o para baixo, para um destino incerto e tem tendência a manter o que conseguir naquele círculo infinito. E é assim que me sinto em relação a Jungkook: como se ele fosse um redemoinho aquático. Irresistível, curioso e perigoso ao mesmo tempo. É esquisito, mas não consigo evitar a comparação. Sua presença me deixou tonto, meus pensamentos girando em torno dele como a água em torno do vórtice. Sei que deveria me afastar, mas sou incapaz de resistir à sua atração. Sou tentado a pular na água e me entregar à sua corrente. Ficar ali, em sua companhia, mesmo que isso signifique ser arrastado.
E se eu o encontrar no meio daquele tanto de água? Sei que não vou conseguir me conter. Vou me afogar em seus olhos, em seu sorriso, em sua gentileza. E, mesmo que isso signifique minha perdição, não vou me arrepender. No fundo, sei que já estou perdido... Estou perdido em um redemoinho de amor e desejo, no qual Jungkook é o único centro.
Ele é tão bonito que doi, uma atração irresistível, uma mistura de fascínio com uma necessidade ardente. Eu entendo que isso não é exatamente bom pra mim, mas é ele quem eu quero, mesmo que isso signifique ser arrastado para as profundezas.
Quando me lembro de seu rosto, é como se o resto da minha visão ficasse embaçada, deixando-me focar apenas nele, o que me faz lembrar da névoa do mar, outro fenômeno que estudei.
Ela acontece quando os ventos quentes tocam a superfície do mar, e isso pode colocar alguma tripulação que estiver por ali em risco, porque pode bloquear a visão de todo mundo. Jungkook parece ser como a névoa do mar, bloqueando minha visão, deixando-me focar apenas nele. É uma sensação que nunca experimentei antes, e, embora reconheça o perigo que ela representa, não tenho vontade de fugir.
Meu medo é que Jungkook faça o mesmo que a bioluminescência marinha. É um outro fenômeno, usado por seres vivos para sua própria sobrevivência, atraindo presas ou afastando os predadores. Temo que ele possa me ver como presa frágil e fraca, ou que ele me veja como um predador e me afaste de algum jeito. Apesar dos meus medos, não consigo nem pensar em me afastar de Jungkook! Sua luz me atrai demais, e sei que as coisas seriam melhores com ele por perto.
Desculpe. Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?"
Enquanto segurava a caneta depois de fazer uma longa anotação sobre a praia da região, Taehyung se viu perdido nos próprios pensamentos. Ele não sabia o que o fazia querer encontrar o meio-humano, era realmente como se estivesse no meio de um redemoinho aquático, incapaz de se afastar
Era difícil saber se aquela era uma boa escolha, se os estudos valeriam de alguma coisa, se ele iria se reencontrar com o moreno algum dia. Uma pergunta ecoava: o conhecimento o aproximaria do moreno ou o aprisionaria em um mundo que não era seu? A resposta era inacessível, enquanto ele se afundava em pensamentos, buscando um alento que parecia nunca chegar.
Tinham dias em que o Kim ia dormir com a grande esperança de que tudo daria certo, para, no fim, acordar e passar o resto do tempo lamentando, pensando que tudo seria falho e que ele nunca encontraria Jungkook. Sua mente entrava em desespero, e ele precisava respirar fundo por algum tempo para não acabar chorando por causa de algo que nem mesmo aconteceu.
27 de julho de 2019.
As coisas pareciam não fazer sentido, e as pilhas de papeis e o número de sites acessados por Taehyung aumentavam cada vez mais, mas nenhuma descoberta útil era feita. Existiam sim relatos de moradores da região, mas todos eles eram chamados de loucos, e era difícil saber quem eram os que realmente viram uma sereia e os que eram realmente mentirosos.
A mente do loiro entorpecia, incapaz de formular um plano para confirmar a veracidade do que presenciara. A dúvida o consumia, lançando um véu de incerteza sobre a realidade. Sem ninguém para confidenciar suas angústias, ele se afundava em um mar de perplexidade.
Sem poder falar sobre o tritão de cauda violeta, Taehyung escreveu o seguinte na vigésima terceira página do seu diário: "Mal consigo me lembrar de seu rosto agora, apesar do nosso encontro ter sido muito impactante pra mim, a memória se esvazia como areia entre meus dedos. Tentei desenhar ele alguns dias atrás, mas só consegui esboçar Jungkook, mesmo querendo me lembrar do seu rosto do jeito mais perfeito que eu conseguisse.
Por um momento, enquanto encarava aquela folha, pensei que ele estivesse aqui, mas percebi que não era verdade, mais uma vez. Minha própria mente resolveu se enganar, e eu só me afogo em mentiras. Sinceramente, ainda faço questão de fingir que não sei que mentir para mim mesmo é sempre a pior mentira.
Hoje, quando tentei me lembrar da sua expressão gentil, o que veio em minha mente foi uma lembrança nebulosa, como a névoa do mar. Ele é uma espécie de abraço perdido? Então, eu estou apaixonado por uma mera ideia? Jungkook é apenas um sonho meu? Ele é meu mistério, mas mesmo que eu não saiba nada sobre ele, ele me mantém preso e me faz mergulhar cada vez mais nesse pensamento de querer me reencontrar com ele. Ele me puxa para baixo como um redemoinho. Nessa altura do campeonato, nem sei se estou me referindo a algo real. Quem é Jungkook? Eu gostaria de saber todas as verdades.
Não quero parar de acreditar, desejo acreditar que em algum lugar ao longo do mar, ele estaria sentindo o mesmo amor imortal que eu, ansiando vir para mim. O problema é que já sei que isso é impossível de acontecer.
Hoje será o fim dessa história toda! Me afoguei em pensamentos (e quase me afoguei de modo literal alguns dias atrás) e sonhei com o momento de me encontrar com ele, e se isso não acontecer hoje, vou abandonar a ideia de ficar correndo atrás dele, principalmente quando eu não tenho mais certeza se o que eu vi é real. O meu horizonte desmorona enquanto tento entender tudo, e quando penso que descobri algo sobre seus segredos, vejo que me enganei e que ainda há muito mais para descobrir."
Com o coração decidido a sepultar a obsessão que o consumia, Taehyung saiu de casa no meio da tarde e trilhou um caminho pesado até a praia onde tudo teve início. Era ali, naquele mesmo lugar, que ele daria um fim à sua busca incessante.
Cansado de se rebaixar a um mero bobo em busca de um tritão moreno, Taehyung já havia aceitado que reencontrar Jungkook era um sonho que jamais se tornaria realidade. A ideia de encontrá-lo agora, quando finalmente estava pronto para seguir em frente, era ilusória e sem sentido.
A praia, que antes era um refúgio de esperança e desejo, agora se apresentava como um palco de despedida. Em passos lentos, Taehyung foi em direção a um dos cantos da praia, sentando-se perto de algo parecido com uma parede de pedras, ficando em silêncio e contemplando o horizonte infinito, que parecia mais um espelho da vastidão de sua alma
Nos primeiros dias em que buscou pelo meio-humano, ele sentiu como se estivesse dançando sobre as águas. Ele se sentiu vivo e, sobre isso, Taehyung não pôde reclamar, pois foram dias que trouxeram uma chuva de emoções e sensações que o faziam se sentir humano, mas aquela tempestade de emoções se tornou algo cansativo muito rápido, agora ele só queria voltar para a casa onde pertencia. O loiro não aguentava ficar nisso por mais tempo.
Enquanto pensava sobre o que tinha feito até ali, Taehyung se lembrou das vezes que agiu como se fosse o dono daquela praia, mas depois de mais de vinte dias olhando para o mar, qualquer um iria perceber que aquilo é mentira.
O Kim voltou a pensar na areia, no fundo daquela água toda, assim como quando esteve ali no começo do mês. Ele ainda tinha vontade de afundar até se tornar parte da areia, assim ele se livraria das preocupações e sentimentos ruins que conseguiu nos últimos dias e se tornaria algo que tem paz, mas a motivação acabou virando outra
Quase dez minutos mais tarde, Taehyung ouviu um barulho diferente vindo da água e olhou pelo canto do olho, podendo ver Jungkook começando a sair da água, arrastando-se levemente na direção do loiro. Não demorou para Taehyung lembrar de que a praia não estava vazia, então ele rapidamente se levantou e correu em direção ao meio-humano, fazendo com que ele não precisasse sair totalmente da água e consequentemente não deixar a cauda visível para os outros.
— Jungkook! Meu Deus, não esperava te encontrar de novo... — O loiro se ajoelhou perto do tritão e a água molhou uma boa parte das roupas dele em alguns instantes.
— Eu acho que talvez tenhamos algum assunto pendente, certo? — o tritão disse com uma voz levemente rouca. — Você não quer me explicar essa... "perseguição"? Bem... talvez essa seja uma palavra forte demais, mas você entendeu.
Os olhos de Taehyung se arregalaram no mesmo segundo. Ele ficou sem palavras até para pensar sobre o que responder. Ele sabia que não deveria ter esperado uma reação diferente vindo de um tritão que viu apenas uma vez na vida, mas era difícil.
Pensar e falar é sempre mais fácil do que fazer.
O Kim ficou envergonhado, sabendo que aquilo significava que Jungkook tinha o visto na praia pelo menos uma ou duas vezes para estar falando algo desse tipo e nesse tom de voz, pois ele parecia totalmente ciente e seguro das palavras que estavam saindo da sua boca.
— Então... eu devo assumir que você me viu por aqui algumas vezes?
— Uhum, sim — Jungkook fez uma pausa, pensando por alguns segundos que pareceram os mais longos do mundo para o loiro. — Eu te vi por aqui várias vezes, anotando coisas da praia em um caderno, nadando na água e naquela lancha junto com algumas pessoas, mas no lugar de você prestar atenção no que eles falavam, você só... parecia perdido e pensativo, procurando por algo. Talvez tenha sido precipitado da minha parte, mas tenho quase certeza que você estava tentando me achar.
— Desculpe! É tão complicado de explicar — Taehyung pediu com um tom de voz baixo, parecendo inseguro de repente. — Eu nunca senti algo igual ao que senti naquele dia em que nos encontramos, foi uma atração tão forte e inexplicável que eu não consigo arrumar palavras boas o suficiente pra te contar tudo. Meus sentimentos se misturaram de repente, senti como se tivesse jogado tudo em um redemoinho... — o Kim interrompeu por alguns segundos, respirando fundo antes de continuar. — Agora que estou perto de você, eu sei que não poderia focar em nada, mesmo se eu quisesse, pois você me trás o mesmo efeito que a névoa do mar traria para um grupo de navegadores, não me deixando ver o que está longe de mim e... me fazendo ficar confuso.
Taehyung esperava uma careta, um olhar de desprezo ou desentendimento, mas acabou recebendo um leve sorriso que esbanjava empatia, o entendimento. O loiro ficou surpreso com a reação e seus olhos se arregalaram levemente, enquanto ele olhava para Jungkook, claramente parecendo muito confuso.
— Tudo bem. Entendo que essa mistura de emoções deve ter confundido sua cabeça de alguma forma, foram coisas demais acontecendo naquele dia, então compreendendo o fato de você nem saber como descrever seus próprios pensamentos. — Ele deu outro sorriso gentil, fazendo Taehyung corar um pouco. — Mas eu preciso dizer, vocês humanos conseguem ser confusos. — Jungkook riu baixo. — Você é parece de um mundo completamente diferente do meu, eu realmente não entendo uma boa parte das palavras, mas... é legal, entende? Acho surpreendente o jeito que mesmo tendo ações estranhas, vocês apenas continuam aparentando ser da forma que vocês são.
Jungkook se sentia curioso sobre os humanos, e ele adorava ter uma interação tão direta com um.
Era engraçado como Taehyung não tinha tentado capturar ele, ou então tirar uma foto antes que Jungkook desaparecesse; e era engraçado como o Kim agia como se os dois fossem iguais, sendo que não eram.
O Jeon era suave como um líquido, ele podia quase sentir o mar correr através das veias dele, marés eram o que faziam ele se agitar por dentro, ele se sentia frio em uma onda de choque repentina, seu núcleo vibrava como se fosse uma nuvem de ópio, ele tinha uma energia diferente. Eles não tinham tantas coisas em comum.
Taehyung ainda estava chocado pela frase dita, pois o jeito como ele falou aquilo não foi extremamente gentil, mas o Kim tentou considerar que ele não devia interagir muitos com humanos, então fingiu que nem escutou nada.
— Eu não sei o que fazer... — Taehyung admitiu baixinho, fazendo contato visual com o Jeon.
— Não me parece tão difícil, apenas me escute... preste atenção, foque nas minhas palavras e tente interpretar, pois é disso que eu preciso. — O meio-humano fez uma pausa, esperando para ver se Taehyung iria manter o contato visual. — Você deveria ter deixado a memória que você tem de mim no primeiro dia em que nos vimos, seria melhor se você tivesse cortado a corda imaginária que nunca nem existiu entre nós dois. Taehyung, é como se eu fosse a sua droga, você viciou na ideia de me encontrar até isso te fazer mal. Eu consigo ver o cansaço, o estresse...
— Eu sei, mas é difícil superar o que nunca nem vivi — ele disse, num tom quase inaudível, abaixando a cabeça e sentindo o peso das palavras do moreno.
De um jeito delicado, Jungkook pegou em uma das mãos de Taehyung e segurou até terminar de falar.
— Quando você souber o que de fato é certo e bom pra si mesmo, 'cê vai conseguir me encontrar. No dia que isso acontecer, quero que pegue em minha mão, segure a respiração e me deixe contar até três, e então vamos mergulhar no mar juntos. Então, assim como o oceano dança junto com a tempestade, dançarei entre as ondas com você, prometo que vou te envolver e te manter aquecido. Acredito que não temos nada a perder, não temos nada a provar para ninguém, e por isso 'cê pode ter certeza que eu vou pular contigo, e então...
Jungkook fez uma pausa, mas não pareceu algo apenas para fazer suspense, o tritão de cauda violeta parecia estar pensativo.
— E então?... — Taehyung perguntou rapidamente, nervoso e ansioso, querendo saber a última promessa de Jungkook, pois o loiro já tinha consciência de que o próximo encontro demoraria tempo demais, ou então nunca iria acontecer.
— E então eu serei o seu tritão.
Taehyung ficou sem palavras, tentando acalmar o coração descompassado em seu peito. As palavras de Jungkook ainda ecoavam em seus ouvidos, cada sílaba carregada de uma promessa que parecia inimaginável e, ao mesmo tempo, inebriante. Ele sentiu o canto de seus olhos se encherem de lágrimas teimosas que insistiam em querer cair, e a mente de Taehyung lutava para conseguir processar todas aquelas falas, como se seus pensamentos estivessem se afogando em um mar de emoções contraditórias. Aquelas palavras foram necessárias para acabar com aquela fase ruim, entretanto, ao mesmo tempo, elas estavam agindo como uma tempestade que chegou no meio de um dia de sol.
— Creio que consegui entender... — o Kim disse depois de alguns minutos, voltando a olhar para Jungkook.
— Perfeito. Já que é assim então, eu acho que preciso ir embora, esse é o momento de cortar nossa corda imaginária. Até algum dia, Tae...
"Aquela corda que nunca existiu", Taehyung pensou.
Instantes depois, Jungkook checou se não tinha ninguém olhando e se virou, mergulhando de volta nas profundezas do mar, deixando o loirinho sozinho na praia. O humano ficou observando o mar até que o Jeon estivesse completamente fora de vista.
Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Taehyung, que respirou fundo antes de sair da água, olhando em volta e finalmente percebendo que o céu estava mais escuro do que quando chegou, e que a quantidade de pessoas naquela praia era mínima. O loiro se afastou da praia em passos lentos, deixando para trás leves pegadas que marcavam o início de uma fase nova que o levaria para um futuro incerto, mas repleto de expectativas e de uma promessa.
Uma promessa que ele tinha interpretado como algo que nunca iria acontecer.
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