Tadaima
De volta à escola depois de alguns dias no mínimo conturbados, havia perdido algumas aulas mas Taya e Kiyoomi se encarregaram de me ajudar com essa parte. E devo dizer que esse segundo estava mais do que empenhado na tarefa, a ponto de rever as minhas anotações e cópias depois que eu tinha feito.
Não chegamos a conversar muito sobre o assunto, mas o "acidente" tinha o deixado em alerta para outras coisas e não de um jeito ruim.
Ele caminhava ao meu lado enquanto seguiamos em direção ao ginásio do time, parece que já fazem meses que eu não ia para o treino. Komori andava do outro lado dele com as mãos cruzadas preguiçosamente atrás da cabeça.
-Não acho que devia estar aqui – Kiyoomi comentou – Seu ferimento ainda está cicatrizando.
-Eu sei – respondi – Mas ainda sou a gerente, preciso pelo menos da permissão do treinador para ser dispensada. E outra, o nacional é esse fim de semana, tem coisas que eu posso fazer sem necessariamente precisar me mexer... Muito.
Ele não pareceu se convencer muito julgando pela careta, dei um passo a mais e parei me virando de frente pra ele – Kiyoomi, eu estou bem – levantei a mão para seu rosto e coloquei o indicador entre sua sobrancelhas – Pare de franzir tanto vai te deixar com rugas.
Pressionei de leve o local, quase pude ver ele revirar os olhos mas não o fez. Apenas suspirou audivelmente e voltou o olhar para o meu – Vou confiar em você, mas prometa que se sentir qualquer coisa vai avisar.
Fiz menção de bater continência – Sim, senhor.
Pareceu o suficiente para ele, já que continuou andando. O líbero parecia sorrir e ficou parado mais um tempo – O que foi Komori?
-Só um pensamento – ele respondeu balançando a cabeça – Vocês dois parecem... Mais vocês.
Minha expressão de confusão deve ter sido mais do que o suficiente para indicar que precisava continuar a explicação.
-Como eu explico... – ele cruzou os braços na frente do corpo enquanto voltava a andar – É como se até agora tivesse algo segurando vocês, mas sumiu. Acompanho Kiyoomi desde que éramos crianças e isso é de longe o mais sincero que eu já vi ele sendo.
-Você traz o que tem de melhor nele [Nome], de verdade.
Encarei as costas do ace que andava a alguns metros na nossa frente, confiante e em seguida para a própria palma da minha mão – E ele em mim, acho que isso é uma das definições de amor não é?
-Talvez – o líbero jogou o braço em cima dos meus ombros e riu – Enquanto vocês estiverem felizes eu também estou.
-Você é um romântico no fundo, não é?
Ele levou a mão livre até a boca – Nosso segredo.
Balancei a cabeça e subi as escadas do ginásio junto com ele, me abaixando apenas para fazer a troca de sapatos e em seguida me dirigir até o treinador e os técnicos. Mantive as mãos coladas na lateral do corpo – Me desculpe pela ausência.
O treinador cruzou os braços – Me insulta você pensar que eu te culparia por alguma coisa [Nome], sabemos o que aconteceu. Nos deu um susto criança.
-Aparentemente eu ando causando esse sentimento em várias pessoas – um dos técnicos não aguentou e gargalhou antes de colocar a mão no meu ombro.
-É bom te ver de volta [Nome]. – dito isso ele saiu para passar as instruções de alongamento.
O treinador sorriu de leve – Nunca negaria a sua presença aqui mas tem certeza que está bem?
-Bem e operante senhor. Só não posso carregar coisas pesadas.
-Muito bem, pode distribuir os coletes, vamos fazer um set de aquecimento – ele deu as ordens – Depois disso vamos sentar e rever a nossa chave do intercolegial. Recolhemos o material oficial e precisamos começar as análises, pode me ajudar com isso não?
Balancei a cabeça concordando e andei na direção do depósito, foram alguns dias mas eles já tinham tirado a maioria das coisas do lugar. Teria que arrumar depois. Peguei um set de coletes enquanto ouvia as contagens de alongamento.
Me sentia animada novamente.
Arrumei o pano nos braços e assim que o técnico separou os times eu me aproximei.
-Gerente-chan! – Kurosawa-senpai andou na minha direção de braços abertos como um furacão, apenas para ser impedido pelo capitão e por Elijah-senpai que se colocou na minha frente me protegendo com um braço.
-Não dê mais nenhum passo – o segundo disse.
-Desculpe [Nome], sabíamos que ele faria algo idiota – Iizuna comentou o segurando pelo pescoço.
-Sem danos, sem problemas – balancei a mão livre e em seguida joguei um colete pra ele. Kurosawa se livrou rapidamente do capitão e pegou o colete, joguei um em cima do ombro de Elijah que também estava na minha frente.
Iizuna riu e colocou as mãos na cintura – Já que estão todos muito animados, acho que podemos fazer desse aquecimento um set memorável não? Em comemoração e votos de melhoras para nossa gerente.
Senti o meu rosto ficar vermelho quando todos concordaram, e não pude deixar de olhar para Kiyoomi, diferente das outras vezes que ele parecia irritado e com ciúmes dessa vez o ace parecia ter um leve sorriso no rosto. Ele andou na minha direção e pegou um colete da minha mão deixando que nossos dedos se tocassem propositalmente.
Esse pequeno gesto fez meu coração palpitar, como se já não estar na presença dele não fosse o suficiente para que isso acontecesse. Joguei os outros coletes para os meninos, sempre recebendo frases de melhoras ou que era bom me ver ali de novo.
Os dois times se alinharam na quadra e o treinador tomou a frente antes de dar início ao jogo.
-Quer dizer alguma coisa [Nome]-chan?
Olhei para ele antes de voltar para o meu time, sorri e com o brando mais alto que consegui disse – Tadaima!
***
Se eu conseguisse, estaria pulando de um pé para o outro tamanha animação que eu estava, aquele foi um bom dia, o melhor em algum tempo. Claro que os olhares durante as aulas foram intensos mas tudo foi compensado pelos meninos do vôlei na parte da tarde, só de lembrar da resposta deles em coro respondendo "okaeri" me deixava arrepiada.
Ainda parecia estar reverberando pelo ginásio como um eco distante, se me concentrasse o suficiente ainda podia ouvir.
-Essa é a última – Kiyoomi disse me passando a garrafa para guardar. Alguns costumes nunca mudam, como o esperado, ele ficou comigo enquanto eu arrumava o depósito. Ou melhor, enquanto falava pra ele o que mudar de lugar, já que o mesmo se recusou a me deixar fazer alguma coisa.
-Obrigada – coloquei ela no suporte – Acho que terminamos, e bem mais cedo do que o comum. Fazemos uma ótima dupla.
-Claro que sim. – concordou lavando as próprias mãos em seguida. Ele já estava de máscara mas mesmo assim o ver tão sério fazendo uma coisa tão trivial não deixava de ser deslumbrante.
-Você está me encarando – disse me mirando com o canto de olho.
-Sim – respondi colocando as mãos dentro dos bolsos do agasalho – Gosto de olhar coisas bonitas.
Kiyoomi levantou uma sobrancelha enquanto secava as mãos, mas logo em seguida soltou um riso rouco. Se aproximando e puxando a máscara para baixo apenas para que pudesse encostar nossos lábios de leve – Obrigado, mas devia se olhar mais no espelho então.
-Touché ace-kun.
Ele jogou a minha bolsa no ombro junto com a dele e depois que apagamos a luz e saímos do ginásio ele me deu o braço para que pudéssemos voltar para o prédio beta. Os pequenos momentos em que éramos apenas nós.
Por algum motivo as palavras de Komori voltaram a soar na minha cabeça, de fato me fazendo perceber algumas coisas. Se pudesse ser algo, diria que estávamos mais confortáveis do que nunca na presença um do outro, o Sakusa de meses atrás não responderia ao meu flerte.
-Kiyoomi, você está mais humano – falei sem realmente pensar.
-Como alguém fica mais humano?
Balancei a cabeça – Meses atrás se eu falasse as mesmas coisas para você provavelmente só ficaria em silêncio e iria embora. Mas agora não, você se permite ser mais emotivo. Se é que eu posso falar isso.
Ele olhou para o céu antes de me responder – Não acho que está errada, mas provavelmente é porque você está comigo. Costumava me incomodar com muitas coisas mas com você por perto é como se parassem de existir eu deixo de me preocupar com elas pra prestar atenção em você.
-Bem isso foi uma surpresa.
-Você me disse pra ser mais sincero com os meus sentimentos.
Dei risada e apoiei a cabeça em seu ombro – Sim, mas tem uma diferença entre escutar e fazer.
Isso pareceu fazer uma ficha cair na cabeça dele – Entendi. – Kiyoomi ficou um silêncio por alguns minutos antes de voltar a falar.
-Acho que com você eu me sinto... Vivo. – e continuou – Embora soe estranho porque estou vivo de qualquer forma.
-Entendi o que você falou. – olhei para o céu que começava a ficar alaranjado – É o mesmo para nós dois então.
Nossa conversa sincera acabou por ali já que nos aproximamos do prédio beta, não precisamos de curiosos ouvindo nossos pensamentos. Subimos as escadas e nos separamos apenas para que ele pudesse ir para o andar dele e eu para meu dormitório nos encontraríamos mais tarde junto com Komori para irmos ao refeitório.
A porta estava meio aberta, Taya já devia ter voltado. Abri a porta sem cerimônia apenas para encontrar uma cena um tanto quanto inesperada.
Minha amiga ruiva... Bem, estava beijando nossa outra amiga Lâmia. Assim que eu entrei as duas se separaram, Taya muito mais vermelha que os próprios cabelos.
Olhei para trás no corredor para garantir que apenas eu tinha presenciado a cena e entrei fechando a porta apropriadamente atrás de mim – Parece que não foi só a minha vida que teve um plot twist.
Lâmia colocou a mão no pescoço e sorriu sem graça – Pronta para escutar o nosso filme?
N/A: Ahhh, vocês estão sentindo esse gostinho de final? Eu estou, o wattpad me disse que esse é o 59. ACHO, que passa de 60, 62 talvez? Vamos ver.
É isso kakakakaka, eu amo esses dois sinceros desse jeito é tão lindo.
Tamia é real!
Até mais, Xx
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