Side Story #1


↳ ❝ [ C H Á   D A   T A R D E] ¡! ❞
Capítulo Especial 
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— Não te incomoda? — A voz de Ichika chamou minha atenção assim que saímos do carro.

— Sobre o que, exatamente?

Minha cunhada olhou para a mansão Sakusa com certo pesar, sua expressão sempre alegre, ficando levemente preocupada. A mulher esfregou o braço, soltando um suspiro em seguida e voltando a falar com certa incerteza.

— Voltar aqui, depois que tudo aconteceu.

Fechei a porta e ajeitei a alça da bolsa no ombro, é impossível não lembrar do que aconteceu comigo na casa, da facada ao empurrão na escada. Do lado de fora, a luz do sol baixa refletia nas janelas, causando uma sensação de calmaria.

— Não é exatamente culpa da casa — a tranquilizei. — Kiyo me fez a mesma pergunta, quando Haruko fez o convite, e vou dar a mesma resposta. Se algo acontecer, eu aviso, e outro, não é melhor substituir as memórias ruins, com boas, do que ficar vivendo aprisionada a elas?

Ichika cruzou o braço com o meu deixando a cabeça encostar na minha de leve — Você é boa demais para esse mundo [Nome].

Com um riso tranquilo e um balanço, nós duas seguimos para a entrada da casa. O convite chegou a cerca de duas semanas atrás, Haruka — a irmã de Kiyoomi —, havia acabado de entregar um projeto de sucesso usando seu estudo em inteligência artificial e resolveu comemorar. Refazendo o convite de chá da tarde que nunca tivemos.

Claro que depois daquele dia nos encontramos diversas vezes, mas nunca com esse propósito, de repente parecia que estava revivendo aquele dia da maneira correta. Como deveria ter sido desde o princípio.

Assim que chegamos na porta Kenichi, o pai de Kiyo nos recebeu. Cordialmente como sempre. Agora, após termos nos encontrado algumas vezes, consigo enxergar o que o filho herdou do pai, como a expressão quase sempre neutra e o formato dos olhos. Embora o tom da íris do mais velho fossem mais claros. Os cabelos do cirurgião estavam meticulosamente penteados para trás e o traje social também perfeitamente alinhado.

— Obrigada por nos receber — Ichika disse se curvando levemente.

— Haru e minha esposa estão no jardim — respondeu fechando a porta atrás de nós —, alguém precisava recepcionar os convidados. Me foi dada essa missão.

Apesar de na maioria das vezes estar sério, ele nunca havia perdido a cordialidade. Seu rosto se voltou na minha direção — Pensei que o Sr. Hisao também viria.

— O hotel acabou o chamando, ele mandou suas desculpas. — puxei uma das sacolas do meu braço. — E também um presente.

Meu sogro aceitou o pacote tomando um momento para o abrir e puxar de dentro uma garrafa de vinho, eu não entendia muita coisa, mas sabia de olhar para o rótulo ser algo com um valor muito alto. Também havia um bilhete com descrição de perfil aromático e combinações, "para ter a melhor experiência possível" nas palavras do meu pai.

Kenichi pareceu rir para ele mesmo, e sorriu — Terei certeza de agradecer apropriadamente depois. Obrigado.

— Oh, [Nome] já chegou? — do alto da escada vi a cabeça de Motoya aparecendo, respondendo com um aceno. Haruko devia ter convidado mais algumas pessoas da família para comemorar. — Vou chamar o Kiyomi.

— Nesse caso, me acompanha até o jardim srt.ᵃ Edsel?

Ichika olhou para mim como quem pedia permissão e eu sorri dizendo estar tudo bem. Enquanto sozinha, parei para olhar a sala da família, parecia diferente do que eu me lembrava, apesar de não ter passado muito tempo ali. Tinham algumas fotos dispostas, inclusive algumas com Kiyoomi pequeno, os cachos e olhos escuros herdados da mãe não havia mudado em nada. Na verdade, ele mesmo não parecia ter mudado, sequer, a expressão no rosto. Fazia sentido o que Toya dissera sobre os pais insistirem para ser amigo dele.

Andei mais um pouco olhando os quadros, isso até parar na frente de um grande espelho que refletia exatamente a base da escada. Engoli seco por um momento, vendo num lapso a minha imagem caída ali. Por um momento fiquei mais consciente a cicatriz na base das minhas costas. Mesmo através do pano podia sentir o relevo, e o peso da história que vinha com cada marca de ponto.

— Por que não me avisou que estava chegando?

Num salto me virei, batendo a ponta de uma sacola num vaso de porcelana, graças aos meus reflexos de levantadora consegui o segurar antes de derrubar no chão, chegando a prender a respiração até que ele estivesse completamente imóvel. Afastei as mãos lentamente apenas para me virar e encontrar na base da escada Motoya e Kiyoomi.

— Não assuste as pessoas dessa maneira, o que eu faria se o vaso caísse no chão?

— É só um vaso — Kiyo terminou de descer os degraus. — Não é como se fosse um tesouro nacional.

Motoya riu e deu de ombros resmungando algo como "colher de ouro", abaixei a cabeça por um instante fechando os olhos, sentindo o coração batendo rápido, se era pelo vaso ou pelas lembranças daquele dia, honestamente não sabia dizer. Senti os dedos de Kiyo correrem a lateral do meu rosto e ajustar os fios de cabelo atrás da minha orelha, soltei os ombros relaxando com seu toque e enfim ergui a cabeça para encontrar seus olhos.

— Você está pálida.

— O vaso parece ser caro.

Meu namorado olhou por cima do meu ombro, encarando a peça — Se quebrar alguma coisa, diga que fui eu. Embora acredite que nenhum dos meus pais tenha muito apresso pela decoração.

Encostei a testa em seu peito o abraçando pela cintura — E se pedirem para você comprar outro?

— Tenho dinheiro.

— É claro que sim, senhor elite — Motoya cruzou os braços. — Agora que tal irmos para o jardim?

Kiyo fez uma careta para o primo, franzindo o meio da testa por um momento antes de relaxar o rosto. Tomei um momento para o observar, realmente as melhores roupas dele ficavam em casa, se me dissesse que acabara de sair de um ensaio de modelos, acreditaria. Parecia estranhamente vestido como no dia do noivado de Ichika, calça e blazer azul, com uma camisa branca.

Sua mão encontrou a minha quando pediu para eu deixar que ele levasse as sacolas. — O que é isso?

— Presentes, para a sua mãe e irmã. — respondi enganchando o braço no seu e o acompanhando.

— Não é aniversário de nenhuma delas.

— Não precisa se esperar uma data especial para dar um presente — levantei a mão livre para o colar que ele havia me dado no Dia dos Namorados. — Na verdade, meu pai mandou um vinho para o seu, já que ele não pode vir. O de Haruko é para comemorar o fim do projeto, pensei que sua mãe ficaria chateada de ser a única sem receber nada.

Minha resposta veio em forma de um resmungo, o que geralmente não é bom. Kiyoomi, apesar de ter recebido vários presentes meus, costuma reclamar depois que não tem necessidade de eu ficar gastando dinheiro com ele.

— [Nome]! — Haruko veio de encontro a mim com um sorriso, os cabelos soltos se movendo no ar junto com seus passos. Ela me abraçou pelos ombros segurando meu rosto entre as mãos. — Obrigada por vim.

— Eu que agradeço pelo convite — respondi, olhei para a mão de Kiyo e peguei uma das sacolas. — Sei que estava enrolada nesse projeto por algum tempo, então trouxe algo pra comemorar o sucesso.

Os olhos dela se iluminaram, apesar de serem escuros como os do Ace-kun, ela abriu a embalagem vendo dentro um bonito caderno de escrita com um pequeno cartão com a frase "para novos projetos de sucesso" escrito a mão. Lágrimas vieram aos olhos dela e mais uma vez me abraçou agradecendo.

— Se algum dia existir a possibilidade do caçula te deixar, me avise, vou colocar o senso de volta na cabeça dele. Não existe ninguém melhor do que você querida.

Senti as bochechas esquentarem e então, mais pessoas vieram para nos cumprimentar. Os pais de Motoya, tios de Kiyoomi, que conheci pela primeira vez e também mais alguns parentes. Não foi nenhuma surpresa ver que era uma família grande, mas relativamente quieta e bem postada. A maior diferença estava na minha sogra, que estampava um genuíno sorriso no rosto e me recebeu com braços abertos. Assim como a primeira filha, agradeceu o presente, um bracelete de prata fino com uma pedra tão escura quando seus olhos, escolhido em conjunto com Ichika. Imediatamente ela tirou as pulseiras e colocou meu presente com a ajuda do marido, admirando na luz o acessório.

— Vamos começar a servir daqui a um tempo — disse —, Kiyoomi, por que não a leva para conhecer o jardim?

— Já ia fazer isso.

Respondeu de maneira afiada, mas sem qualquer outro sentimento senão a naturalidade. A área atrás da casa parecia tão grande quanto a residência, além do jardim e do caminho impecável de flores tinha até mesmo uma fonte e uma quadra poliesportiva.

— Você passa muito tempo aqui? Parece um bom lugar. — comentei me sentando na beirada da fonte, havia desenhos no fundo dela, círculos de pedras e azulejos coloridos.

— Não muito — respondeu se mantendo de pé na minha frente. — Se tivesse que escolher um lugar para dizer passar mais tempo, diria ser a quadra. Mas apenas depois que Motoya me levou para o primeiro treino de vôlei.

Coloquei a bolsa de lado e cruzei as pernas, apoiando o cotovelo no joelho e em seguida o rosto na mão.

— Ficou chateado que eu não te trouxe um presente?

Foi um movimento mínimo, mas minha resposta positiva estava bem ali, ainda que tivesse dito que não.

Suspirei — Sabe, não tem problema você ser um pouco mais sincero. Ainda que pense ser uma bobeira, se eu tivesse que adivinhar...

Resmunguei e ajeitei a postura cruzando os braços — Ficou com ciúmes da sua família, mas sabe que diversas vezes disse que não precisava de presentes e subitamente se arrependeu.

Apoiei ambas as mãos ao lado e me levantei — Presentes não só um gasto de dinheiro, sim algumas vezes podem ser caros, mas os de verdade são mais uma forma de carinho, de agradecimento, de congratulação. Não queria que ficasse chateado comigo, e achasse que são presentes desnecessários.

Abracei sua cintura.

— Eu sei, fui eu que disse — confessou ainda que contra gosto —, apesar de estarmos juntos a algum tempo. Ainda não sei lidar com alguns sentimentos, não esperava ficar com ciúmes da minha própria família. Só que não quero que fique financeiramente instável por minha causa.

Levantei uma das mãos para seu rosto e apertei de leve sua bochecha — Posso não ter uma colher de ouro como você, mas meu pai é um chefe renomado. Não é como se eu fosse criar uma dívida por conta de um presente.

Vi na sua expressão que as peças finalmente se encaixaram numa epifania, Itachiyama é uma escola renomada, o trabalho do meu pai é um cargo de luxo, meus irmãos também tem bons empregos. Ainda que o chef. Hisao tivesse escolhido uma casa pequena para morar, não queria dizer que refletia sua vida financeira.

— Desculpe. Fiz julgamentos baseados em aparências.

— Bom, pelo menos já sabe que eu não gosto de você pela sua fortuna — brinquei e o soltei para pegar a bolsa. — Mas agora me colocou numa situação complicada, terei de pensar num presente.

Kiyo colocou as mãos nos bolsos da calça social azul escura — Posso pedir algo?

Essa frase me pegou de surpresa, geralmente meu namorado costumava apenas fazer o que lhe era confortável e parecia certo, o que na maioria das vezes realmente estava. Não me lembro de uma vez em que ele tenha me pedido algo dessa maneira. Por um momento, tive medo da resposta, Ace-kun já não era mais tão limitado no quesito toque físico.

— Depende — respondi com certa dúvida.

— Quero isso — ele apontou para o lenço amarrado na minha bolsa. — Motoya me apressou, não tive tempo de pegar um.

Senti o rosto esquentar pelas respostas indecentes que chegaram a cruzar a minha cabeça, e desfiz o laço ajustando o pedaço de pano no seu bolso.

— Você pensou besteiras, não foi? — perguntou com um leve sorriso convencido. — Seu rosto está vermelho.

Foi então que ambas suas mãos seguraram minha cintura — Como posso pedir por algo que já é meu? Devia ter dito isso antes de pedir o lenço? Parece o tipo frase dita naqueles livros que você e Taya gostam de ler.

— Fique quieto. — bati de leve em seu peito repleta de vergonha. Sua mão segurou a minha e em seguida, se inclinando para deixar os lábios encostarem nos meus.

Sempre era uma sensação nova, às vezes me fazendo sentir segura, outras tirando o fôlego e até mesmo o equilíbrio. Contudo, dessa vez, parecia estar criando uma nova memória preciosa.

— Devíamos voltar, antes que algum dos seus parentes venham nos procurar.

Kiyoomi deixou a testa colada com a minha por um momento, olhando no fundo dos meus olhos. Tinha um brilho divertido atrás deles, um traço que eu não via com tanta frequência. Silenciosamente ele concordou e então voltamos, diferente de quando chegamos, algumas pessoas olharam para nos até cobrindo o rosto e dando pequenas risadas.

Quando olhei para Ichika, discretamente ela apontou para o peito. Olhei para mim e em seguida meu namorado, só então percebendo o real motivo do Ace-kun querer o lenço. O simples ato de o colocar no bolso, nos fez ficar combinando, pois o tecido era praticamente igual os da minha veste.

— Em que momento pensou em pedir o lenço para ficarmos combinando? — questionei.

— Assim que te vi.

Suspirei — A chateação pelo presente foi só uma desculpa, não foi?

— Talvez — ele puxou a cadeira para eu sentar. Ainda no jardim havia diversas mesas redondas dispostas com lugares de quatro pessoas, eu não sei qual o conceito de chá da tarde de Haruko, mas realmente parecia uma festa vespertina.

— Achei que eu era a raposa dessa relação — reclamei, com uma careta. Sabendo ter caído com perfeição em suas palavras doces.

— Posso aprender uma coisa ou outra de você — Kiyo pegou a minha mão entre as suas entrelaçando nossos dedos com um sorriso vitorioso.

Dessa vez, posso deixar ele ganhar.











N/A: Bem vinds de volta!

Animada para retomar, ainda que apenas por 6 capítulos, esse casal.

Como explicado essas histórias especiais se situam depois do epílogo, são canônicas dentro do universo, e vão adiantar a história até a continuação. Que será direto na faculdade.

Também é meu agradecimento pelas 500k de views, apesar de ser já uma fanfic antiga que precisa de uma boa revisão.

A princípio todos os 6 capítulos especiais serão intercalados com as fanfics regulares, sendo atualização a cada duas semanas. Caso aconteça de eu adiantar a escrita, adianto pra vocês a atualização também. Portanto fiquem de olho nos avisos.

Por hora, é isso.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!!

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