Heroína


Não sabia exatamente como agir, mas fiz o possível pra deixar Kiyoomi mais confortável. Troquei a roupa de cama quando ele terminou de se vestir, precisando explorar um pouco pelos outros quartos da casa para conseguir achar novas peças e depois disso sugeri mudar a cama dele de lugar, coisa que ele prontamente aceitou me ajudando.

Tudo que Masako havia tocado estava numa sacola de lixo.

Encarei meu reflexo no espelho do banheiro enquanto lavava as mãos, alguns fios finos soltos e a presilha que Ichika tinha colocado para segurar o penteado já fora do lugar. Soltei o ornamento e organizei meu cabelo num coque no topo da cabeça, seria melhor assim.

Sakusa estava parado encostado à porta do banheiro mas não olhava para mim, mantendo o olhar para o chão. Os braços cruzados e o maxilar travado.

- Kiyoomi – o chamei – Fale comigo, você vai fazer um buraco no chão se continuar o encarando tão intensamente assim.

Ele se mexeu soltando os braços e olhando para mim com a testa franzida – Não é possível.

Sequei as mãos e andei até ele segurando seu rosto – É uma expressão – ele se inclinou no meu toque encostando a cabeça com a minha. Encarando o fundo dos meus olhos, e então com um suspiro ele se afastou.

Ele me puxou para sentar ao seu lado na cama, segurando forte a minha mão entre as suas.

-O casamento deles aconteceu rápido demais – Kiyoomi começou a falar, no ritmo dele – Mas Koji não pareceu se importar, acho que no fundo ele só queria uma companhia para as festas da empresa.

-Eles não se amam? – perguntei.

-Se suportam – disse antes de virar para encontrar meu rosto – E não parecem ligar para o resto tem benefícios dos dois lados.

-E porque... - a minha voz travou na minha garganta pelo nó que se formou, o pensamento dela mais velha se insinuando para ele era simplesmente nojento.

-Não sei – ele não precisava de mais para entender o que eu perguntava – Me ignorava no começo mas agora parece sempre estar por perto. [Nome] acredite em mim, eu nunca sequer cheguei perto dela.

- Kiyoomi eu sei disso, confio em você – senti meus olhos arderem – Mas precisamos falar para alguém, não quero pensar nisso mas... E se ela te dopa e faz coisa pior, não é normal uma situação dessa.

Normalmente ele seria uma pessoa bem certa de seus sentimentos e desejos, mas provavelmente ter sido colocado numa situação dessa forçadamente. O deixou confuso e diria até que com medo de como agir. Afinal o que aconteceria? Que provas tinha?

-Vou buscar Ichika e Haruko – comentei – Podemos falar para elas juntos o que aconteceu certo?

Ele assentiu sem falar nada e me levantei não antes de beijar sua bochecha e lhe afagar o rosto.

Andei para fora do quarto dele e me mantive apoiada contra a porta por alguns minutos, se não eram as meninas da escola com ataques e assédios verbais, agora ele sofria com isso dentro da própria casa e era absolutamente horrível e tão errado. Me deixava com raiva que o próprio irmão dele parecia fechar os olhos para isso.

Mas a irmã parecia ser uma pessoa mais digna e Ichika com certeza acreditaria em mim.

Afastei-me com passos firmes e apressados mas assim que virei o corredor apoiada contra o corrimão da escada Masako estava parada com os braços cruzados. Pelo menos estava vestida agora, bem ou quase isso.

Cerrei meus olhos e andei na direção da escada a ignorando, mas a cobra sussurrou meu nome com veneno.

-[Nome] Ishihara, bem que Ariku me disse que você era uma covarde, ou melhor deve conhecer a minha prima por Yoshida.

Coloquei a mão na parede para não perder o equilíbrio – Agora as coisas se encaixam, o que é isso um plano para que eu termine com o Kiyoomi e ela tenha uma chance? Eu disse para ela e vou dizer pra você, ele não chega perto de lixo.

-Ela fala no fim das contas, e não é tão burra assim. – Ela deu um passo na minha direção – Era o que pensávamos, no começo mas ela fala tanto sobre Kiyoomi isso e Kiyoomi aquilo... Koji não é feio, mas o irmãozinho...

Num gesto horrendo ela passou a língua pelos lábios – Parece ser tão delicioso.

-Você é doente – retruquei – Não chegue perto de Kiyoomi.

Masako riu, baixo numa tentativa de me amedrontar – E quem vai me impedir? Você? O que sabe sobre a vida [Nome]-chan? Um homem continua sendo um homem, só é preciso mostrar a ele o que ele quer.

-Só um cego ou um ignorante conseguiria ter algum desejo por um verme como você – a olhei de cima a baixo – Quais outras sujeiras você esconde embaixo da pele? Roubo? Fraude? Parece o tipo de coisa que você faria.

A mulher fechou os punhos ao lado do corpo – Você não tem ideia de com quem está falando.

Dei um passo em sua direção, raiva borbulhando pelo meu corpo – Não, você que não sabe com quem está falando. Eu convivi com meus próprios demônios e virei amiga deles.

-Quando eu olho pra você, não enxergo mais do que uma pilha de lama. Volte para o buraco de onde saiu, junto com a sua prima inútil.

Ela tentou alcançar os meus cabelos mas desviei, ergui as mãos na frente do rosto. Era bom que os golpes que Hayato tinha me ensinado funcionassem, ela estava vermelha e os olhos ardendo com fúria, sem enxergar para onde ia apenas avançando na minha direção cegamente. Acertei alguns socos em seu rosto, conseguindo fazer um corte em seu supercílio.

- Kiyo-

Tentei o chamar antes dela me empurrar contra a parede – Não, não, não. Isso é uma coisa que vamos resolver entre nós duas. – Masako pegou um vaso decorativo de um aparador que ficava próximo ao corrimão o quebrando em mim, consegui colocar uma mão na frente do meu rosto sentindo os estilhaços rasgando a pele embaixo dele.

Chutei a sua perna e a empurrei para trás, aquilo era ridículo, eu não era nenhuma heroína de livro de fantasia, não tiraria uma força anormal e derrotaria o vilão. Então me virei para correr pela escada quando um braço me segurou pelo pescoço e uma dor aguda atingiu as minhas costas.

– Você é ingênua demais – Masako disse e depois sussurrou no meu ouvido, fazendo com que eu ficasse à beira da escada. – Eu disse que você não sabia com quem estava se metendo. Boa viagem.

E me empurrou.


***

*Especial Ichika Edsel – POV*


Acompanhei as costas de [Nome] até que sumissem de vista, um sorriso no meu rosto – Eles são fofos juntos – voltei o olhar para Haruko – E apaixonados.

Ela também olhava para onde a jovem tinha subido – Kiyoomi nunca deixou seus sentimentos parecerem muito, cheguei a me preocupar que ele ficaria como Koji, um babaca apático. Mas depois que ela apareceu, ele simplesmente pareceu... Vivo.

-Posso garantir que é o efeito Ishihara – comentei e a acompanhei para o jardim da casa – Então o que me conta dos anos. Você nunca mais falou comigo.

-Eu? – ela reclamou – Não foi o meu número que mudou, senhorita herdeira da Edsel.

Dei risada – Ops, desculpe. Mas o destino nos juntou de novo - respondi e mudei de assunto - Ah! E aquele cara que você namorava? O engenheiro.

Haruko grunhiu – Ciúmes demais, não tínhamos nem um ano juntos e ele estava fazendo planos para uma vida inteira. As coisas não funcionam assim pra mim.

-Você tem um espírito livre Haru, difícil de domar – bati meu ombro com o dela recebendo um sorriso em resposta.

-Faz tanto tempo que eu não escuto esse apelido que parece que foi ontem que nós invadimos uma sorveteria com a missão de provar todos os sabores.

-Você ainda lembra disso? – comentei – Eu não consegui ver uma delícia gelada na minha frente por um bom tempo, nós comemos tanto.

Tinham alguns sofás brancos no jardim e uma bonita mesa disposta do lado de fora, parecia realmente um bom lugar para uma reunião. Enquanto [Nome] tinha seus momentos com Kiyoomi eu e Haru comentamos fatos do passado, pequenas brincadeiras e reuniões chatas que éramos obrigadas a frequentar juntas.

Nos interrompemos apenas por conta de um som abafado que pareceu vir de dentro da casa, logo em seguida uma voz gritando por Haruko. Ela pareceu preocupada, afinal gritos não eram coisa comum na casa dos Sakusa. A segui com um aperto se fazendo presente no meu peito.

A cena que se apresentou na minha frente fez com que as minhas pernas fraquejassem. [Nome] estava caída ao pé da escada cortes pelos braços e mãos se estendendo até o rosto, ao seu lado uma poça de sangue vermelho brilhante. Kiyoomi ajoelhado com as mãos completamente vermelhas e a mãe deles - que eu nem sabia que estava na casa - com as calças sujas no joelho falando ao telefone pedindo uma ambulância.

-O-o...

-Foi a Masako – Kiyoomi quase rugiu o nome dela. Haru estava tão petrificada quanto eu, foi quando um som vindo do andar de baixo chamou a minha atenção me fazendo virar a cabeça.

[Nome] estava sendo auxiliada pela sogra, então minhas pernas me levaram correndo para o outro lado, a criminosa tentando escapar roubando o carro da própria sogra. Tirei os meus sapatos e joguei em sua direção servindo de distração, e fechando o punho em seguida perdi para uma força maior que me desse algum poder que eu não tinha.

-Você não vai a lugar nenhum – a acertei, o som de ossos se quebrando surgindo em seguida.

-Ichika! – Haru apareceu as minhas costas ao mesmo tempo que Masako caia no chão desacordada a bolsa e o resto das coisas que carregava se espalhando pelo chão e o nariz torto completamente ensanguentado.

Segurei a minha mão perto do corpo enquanto minha amiga me segurou pelo braço ainda surpresa – Acho que quebrei a minha mão.









N/A: Zenti... Não me xinga que eu fico sentida. É o arco kkkkkkkk.

Pelo menos a Masako tomou uma sova.

Até, Xx

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