De Volta ao Lar
Quando finalmente vi a Torre do Porto de Kobe passando no horizonte caiu a ficha que estava realmente de volta a Hyogo, mas ainda tínhamos um caminho para chegar até a Inarizaki já que ela não ficava exatamente na capital da província.
Foram quase três horas dentro do shinkansen para fazer o caminho Tóquio para Kobe e depois disso Hide ainda alugaria um carro para podermos transitar dentro da cidade. Não pretendíamos ficar o dia inteiro, então partimos bem de manhã e para voltar no fim da tarde.
Hide e Ichika estavam no banco da frente enquanto Hayato estava do meu lado completamente apagado. Ele estava animado desde o dia anterior parecendo uma criança, até passou na Itachiyama no fim do dia pra me buscar – ao contrário do que eu tinha combinado com Hideki que ele me buscaria pela manhã – no final quase tivemos uma noite do pijama.
Olhei para o lado de fora vendo que a velocidade estava diminuindo e que nos aproximávamos da estação, bati na perna do meu irmão o acordando. Hayo abriu apenas um olho e suspirou voltando a se aconchegar na cadeira – Espere o trem parar.
Ri da atitude infantil e peguei o celular, o "boa viagem" ainda sendo a última mensagem que havia trocado com Kiyoomi. Voltei um pouco a conversa vendo a mensagem que mandei alguns dias atrás, concordando em encontrar com a família dele, o que seria amanhã.
Joguei a minha cabeça para trás, seriam dois dias bem intensos. Mas uma boa coisa é que teria um tempo para conversar com Ichika, ela praticamente gritou que eu devia aceitar o convite quando comentei com ela o meu dilema pelo telefone.
O trem parou, e Hide se levantou acompanhado da minha cunhada, não sendo tão gentil na hora de acordar o gêmeo como eu fui. Logo estávamos andando pela estação.
Hayato me mantinha como apoio com o braço jogado pelos meus ombros – Então senhor arquiteto qual o itinerário?
-Vamos alugar o carro e seguir direto pra cidade, vamos parar em Kansai para tomar café da manhã.
-Kansai? – perguntei me animando – Vamos encontrar com Tarui-san?
A padaria do Tarui foi um dos lugares em que meu pai trabalhou logo no início da carreira como chefe, viu o lugar passar de um negócio local para uma rede de franquias. Uma boa parte das receitas que o chef Hisao criou ficou no cardápio mesmo depois dele sair para atender os hotéis.
Agora ele era um senhor que não colocava tanto a mão na massa, mas costumava ficar as manhãs na padaria para atender pessoalmente os clientes. Sem falar que as delícias que vendiam na padaria continuavam a ser um sucesso como sempre.
-Hisao-san fez uma ligação – Ichika disse se virando e piscando um olho pra mim – Sempre quis voltar lá, Tarui-san disse que ficaria feliz em nos receber.
-Eu estou feliz em receber as comidas dele no meu estômago – Hayo bateu na barriga – Foi uma boa coisa não comer no caminho.
-Como você vai sobreviver no Brasil sendo assim? – perguntei.
Meu irmão riu e beijou o topo da minha cabeça – Não se preocupe, o time já fez alguns ajustes. Até vou ter aula de português quando chegar lá.
-Boa coisa que pelo menos uma coisa nós temos em comum – Hide apontou para a testa, antes de se apoiar no balcão de locação de veículos. E realmente era verdade o que ele disse.
Contra todos os estereótipos possíveis, Hayato podia ser um gênio, se ele quisesse, na escola sempre tinha boas notas. Não porque entendia, mas porque tinha medo de ficar sem jogar e ser cortado do time.
-Nós temos o mesmo rosto se ninguém te avisou. – ele retrucou de volta não recebendo nada além de um revirar de olhos – Andei pesquisando algumas coisas sobre a cidade e o estado, como as coisas funcionam. Cara, estou animado.
-Continue animado dentro do carro então – Hide balançou as chaves no ar – Temos horários.
A conversa continuou dentro do carro e o, agora ex-jogador do MSBY, contou alguns detalhes da reunião que ele teve com os brasileiros. Surpreendentemente um deles falava japonês e elogiou o jeito que Hayo jogava. Como parecia livre na quadra e como o time para quem ele trabalhava estava procurando alguém exatamente como ele.
Meu irmão parecia tão feliz apenas falando que ele não ficou quieto pelos próximos quarenta minutos até que chegássemos ao nosso primeiro destino.
- Parece que não mudou nada – Hide disse fechando a porta do motorista mirando a fachada cor de caramelo da padaria. Ela se erguia como uma flor no centro cinza e caótico da cidade, os detalhes das colunas cor de creme faziam um belo contraste com o resto do tom mais escuro.
Mesmo do lado de fora era possível ver as esferas de luz amareladas que davam ao local uma atmosfera tranquila e delicada, passamos pela porta e o cheiro de canela automaticamente me atingiu. Meu pai passou muito tempo aqui.
-Mas veja só o que eu tenho aqui, um bando de crianças que não são mais crianças. Com exceção de um – Tarui-san saiu detrás do balcão assim que colocou os olhos no nosso pequeno grupo – Ainda consigo ver Hayo-kun roubando rosquinhas da cozinha.
Não pude deixar de dar risada – Você está absolutamente certo Taru-san.
O mais velho se aproximou e nos cumprimentou com abraços e apertos de mão – Quando Hisao disse que vocês viriam para a cidade foi como receber a notícia de uma visita da família. Olhe só para vocês, mesmo fazendo pouco menos de um ano parecem tão diferentes.
-Especialmente você jovem – ele segurou as minhas mãos entre as dele – Parece mais vibrante, feliz. Consigo ver nos seus olhos um brilho que já fazia um bom tempo que não encontrava.
Sorri e respondi o aperto – Sabe o que vai me deixar mais feliz? Atacar aquela mesa de café da manhã. Estou faminta.
Ele gargalhou alto – A casa é de vocês, a mesma mesa de sempre no mesmo lugar.
Andamos dentre as mesas, lembranças invadindo a mente, eu me lembro de correr entre elas até alcançar a porta da cozinha no fundo. Não podia entrar então sempre algum dos funcionários me levantava para espiar pela janela redonda meu pai trabalhando nas massas.
Enquanto isso minha mãe estaria sentada na mesma mesa no canto da padaria com um copo com uma bebida quente apenas esperando que desse o fim do turno para que pudéssemos voltar juntos para casa, Hide e Hayo estariam na mesa de trás fazendo as tarefas da escola com a ajuda de um dos gerentes da casa, e melhor amigo do meu pai Daiki.
-Gostaria de ter um segundo estômago para comer mais. – Hayato comentou.
-Eu tenho que concordar – Ichika respondeu – Porque tudo é tão bom?
-Porque Hisao se empenhou em fazer as melhores receitas do mundo – uma nova voz disse – Palavras dele não minhas.
-Daiki-san!
O homem se aproximou nos cumprimentando, em seguida puxando uma cadeira para se sentar – Realmente não era mentira, é bom ver vocês por aqui crianças. Como está o velho?
-Trabalhando, como sempre – Hide respondeu – Mas bem acima de tudo.
Daiki riu baixo – Bem, parece com ele. Ouvi dizer que vocês vieram se despedir da cidade, se importam em explicar.
Hayato encheu o peito – Fui contratado por um time brasileiro, resolvi me despedir antes de partir.
O gerente, ou melhor diretor, pareceu surpreso mas abriu um sorriso – Quer dizer então que o pequeno Hayo finalmente vai conseguir conquistar o outro lado do mundo... Fico feliz por você, merece. E você Hide?
Eles ficaram conversando por algum tempo até que desse a nossa hora, para a alegria dos meus irmãos e talvez um pouco de receio meu. Nossa próxima parada era o treino da Inarizaki.
O que me lembrava uma certa coisa.
-Daiki-san – chamei o mais velho – Pode separar algumas coisas pra mim?
Ele me olhou e sorriu, chamando um dos atendentes – Pegue tudo o que essa jovem pedir e prepare para viagem.
Daiki me lançou uma piscadela – Por conta da casa.
Peguei meu celular e imediatamente abri a conversa com um certo meio de rede de olhos esverdeados.
<Espero que esteja com fome.
N/A: Até! Xx
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