Capítulo 6 - Primeiros encontros


Aquela manhã Arthur acordou sem vontade de se levantar, passou mais da metade da noite em claro pensando, tinha os pensamentos confusos em relação a tudo e ao mesmo tempo a nada em particular.

À medida que crescia sabia que sua vida em algum momento iria mudar, sabia que teria de assumir responsabilidades, das quais, somente ouvia os irmãos dizerem. Todos pensavam que sendo um príncipe, filho do grande rei Arthur, tudo seria fácil, tudo seria simples e alcançável, mas essa não era a realidade.

Como príncipe, Arthur não teria somente que apresentar uma boa imagem, pelo contrário, a imagem era o que menos importava, segundo seu pai uma boa primeira impressão contava muito, mas um bom conteúdo era muito mais apreciado.

Arthur sempre deu o seu melhor, foi treinado pelos irmãos na arte do combate, ensinado pelo pai a exercer a diplomacia e instruído pela mãe para se tornar um curandeiro. Sua mãe. Sempre que pensava nela, Arthur se entristecia e seu peito doía em um vazio que achava que nunca seria preenchido, não sabia o que era pior, ter lembranças dela e tê-la perdido ou assim como Lize, perdê-la e não se lembrar dela, pensou que a segunda opção era pior, pois por mais triste que estava ele teve a sorte de conhecê-la, de sentir seu abraço, de ter seus beijos e sentir seu calor junto da lareira. Ele sabia o quão sortudo era e mesmo assim não conseguia deixar de se entristecer.

Vencido, Arthur finalmente se levantou, esticou os braços, colocou os pés no chão sentindo a pedra fria para despertar, viu o sol no horizonte o saudando, era uma bela manhã de outono, sempre gostou do outono, apesar do verão ainda ser sua estação favorita.

Levantou para se vestir ainda em um ritmo lento, quando já estava vestindo somente terminando de calçar os sapatos, sua porta foi escancarada subitamente e uma Elizabeth saltitante adentrou.

"Arthur, Arthur, Arthur! Hoje é o dia que vocês prometeram me levar para passear perto do rio e me deixar cavalgar sozinha!"

Arthur já achava que era uma má ideia desde o começo.

"Lize..."

A pequena criança girava e girava com suas saias pelo aposento.

"Oh Arthur, mal posso esperar para ir e mostrar como melhorei e posso montar sozinha."

Ela correu até o irmão se jogando em seus braços o beijando na bochecha, sempre foi assim com Lize e Arthur, eles eram os mais jovens e por isso os mais próximos, Arthur amava a irmãzinha e sempre tinha tempo para estar junto dela, diferente dos irmãos, mas pensou tristemente que logo não teria mais tanto tempo assim.

Evitando que Lize o visse com a expressão triste, Arthur se levantou a girando, depois segurando em sua pequena mão eles foram tomar seu café da manhã.

***

Nenhum dos príncipes queria ou se sentia à vontade assistindo a pequena e delicada irmã em cima de um animal que era quatro vezes o seu tamanho e que poderia derrubá-la facilmente em um movimento.

"Vamos Lize, deixe-nos leva-la, por favor, não monte sozinha ainda."

Dom praticamente implorava tentando convencê-la, sendo o mais velho e já estando casado com sua esposa grávida, Dom se via aflito ao ver qualquer criança ao seu redor correndo algum risco, mas Elizabeth o ignorou empinando o nariz no alto de seus sete anos, já estava pronta para sair, se equilibrava e segurava as rédeas como a pequena dama que era.

"Vamos Dom, não conseguiremos impedi-la."

Dario dizia sorrindo para o irmão, Dom olhou para Arthur que levantou os ombros rendido, Dom o encarou com uma expressão triste como se tivesse sido traído, respirou fundo, esfregando as têmporas, para seus irmãos era algo natural, as expressões, a preocupação de Dom, os apelos, tudo era normal para eles, mas para quem visse de fora pareceria estranho ver um homem daquele tamanho choramingando para a irmã descer do cavalo, porém Dom não se importava com o que pensavam, rendido disse finalmente.

"Tudo bem, certo, você poderá ir montada em Avalon, mas andará ao nosso lado e em nossa velocidade, certo."

"Mas Dom..."

Lize fez beicinho e Dom a encarou sério, se esforçando para não ceder.

"Certo, Liz...?"

Bufando com um pouco de irritação, entretanto ainda feliz, Lize concordou.

"Tudo bem."

"Ótimo, Dario esperará com você até eu e Arthur estarmos montados, depois esperaremos por ele, certo?"

"Sim."

Respondeu de má vontade, ás vezes era o que fazia quando não faziam o que queria, Lize não era uma criança mimada entretanto, mas tinha seus momentos.

Arthur sorrindo junto do irmão que somente pode sorrir ao virar as costas para Lize para ela não ver o orgulho estampado em sua face, sim Dom sentia muito orgulho de sua garotinha destemida.

Dom seguiu para Sagaz, seu grande e temido corcel negro, que de longe já mostrava sua imponência, já Arthur seguiu para sua ágil e gentil Dama, sua égua branca como a mais branca neve, acariciando sua crina que fazia questão de escovar todos os dias, a égua demonstrou seu afeto bagunçando seus cabelos num misto afetuoso de mordida e fungada, Arthur riu enquanto selava sua fiel montaria.

Seguindo logo atrás de Dom, Arthur se posicionou ao lado esquerdo de Lize e Dom ao direito, enquanto esperavam por Dario. Dos estábulos Arthur podia ter uma visão quase tão boa do rio que serpenteava até a floresta quanto a do castelo, a visão o animou um pouco, como um pressentimento, um pressentimento bom.

Assim que Dario estava a posto em seu lugar, todos seguiram trotando em um ritmo lento que no começo não a agradou, mas à medida que se distraia já podia-se ver um grande sorriso por estar montando sozinha de certa forma e esses momentos, os pequenos momentos que passava junto da família, eram tudo para Arthur, tudo que importava.

Ao atravessarem os grandes portões do muro que cercava a vila e o castelo, todos concordaram que poderiam aumentar a velocidade um pouco, pois mesmo querendo ir mais rápido, sabiam que Lize não conseguiria fazer Avalon aumentar a velocidade, eles a treinaram muito bem para seguir um ritmo lento para a irmã.

Quando finalmente ficou satisfeita com a distância do castelo e a proximidade do rio, Elizabeth começou a parar, Arthur e os irmãos a haviam deixado seguir na frente, por isso Lize teve de esperar para eles chegarem a seu encalço e a ajudarem a descer.

Arthur foi quem desmontou primeiro, entregando as rédeas a Dario, ergueu os braços para ajudar a irmã a descer, por que subir era fácil, mas descer não, Lize sempre dizia que parecia que Avalon dobrava de tamanho quando a montava, mas Arthur sabia que para uma criança tão pequena qualquer altura pareceria alta demais, lembrava que sentira o mesmo quando cavalgou pela primeira vez com a mãe quando tinha quase a idade de Lize.

Assim que os pezinhos balançantes de Lize tocaram o chão, já saíram saltitantes pela relva ao lado do rio.

"Lize, não se esqueça: fique somente na margem, nunca entre no rio, as correntezas são fortes e podem te levar!"

Arthur teve que quase gritar a última frase, pois Lize já saltitava para longe dali, sorrindo virou-se para os irmãos por alguns segundos, Elizabeth podia não aparentar em certos momentos, mas realmente era muito educada e respeitosa quando se tratava das preocupações dos irmãos, por isso eles confiavam vigiá-la de longe, numa tarde tão bela como aquela, nenhum preocupação os afligiria.

Pelo menos foi o que Arthur pensou.

Não havia passado muitos minutos quando a face de Dom empalideceu, Arthur e Dario olharam para ele por um momento sem entender até suas próprias faces empalidecerem assim que olharam para trás e viram a pequena irmãzinha no momento em que caia de um tronco que cruzava o rio direto para as águas revoltas ao mesmo tempo que um vulto branco e preto passou correndo e pulou na água atrás dela.

Não, não, não! Lize! Arthur entrou em pânico, como puderam ser tão descuidados! Dom foi mais rápido que todos e já estava na margem do rio quando Arthur começou a correr com Dario ao seu lado.

Aliviado, Arthur viu Dom puxar Lize da água e a erguer para margem e logo em seguida também puxava uma mão extremamente pálida de dentro do rio, Arthur nem a olhou duas vezes correu para Lize a abraçando forte.

"Lize, Deus, você nos assustou tanto! Nunca mais faça isso conosco!"

Arthur ergueu a irmã enquanto Dario colocava a manta que trouxera de seu cavalo sobre os ombros da irmã, depois se afastou se aproximando de Dom para ver com que ele falava. Arthur ficou afastado ainda apertando forte Elizabeth contra seu corpo, não conseguia nem imaginar uma vida sem ela.

Ficou embalando a irmã por algum tempo até se tranquilizar, depois voltou sua atenção para quem quer que fosse que seus irmãos conversavam, ficou atrás de Dom e reparou que ele havia tirado sua capa e colocado sobre os ombros do estranho, não conseguindo impedir sua curiosidade, Arthur se aproximou mais, bem no momento em que o estranho falava.

"Aparentemente sim. Você poderia me devolver o livro, por favor?"

Arthur respondeu automaticamente devido ao nervosismo que ainda se encontrava, quase na mesma hora em que percebia que não se tratava de um homem e sim de uma mulher.

"Deveria ser mais educada, você sabe com quem está falando?"

Finalmente Arthur entrou em seu campo de visão e somente não arregalou os olhos em surpresa quando ela o encarou, por que fora treinado para não demonstrar emoções perante momentos difíceis, aqueles olhos... os olhos dispares o arrebataram na mesma hora, no pouco tempo que teve para analisar melhor a mulher, percebeu que deveria ser mais nova que ele, seu corpo mesmo escondido sob a capa, parecia pequeno e esguio, sua pele era branca como as nuvens, seus cabelos molhados caiam tão claros quanto e aqueles olhos o olhavam aflitos e temerosos, um azul límpido e outro castanho mesclado em verde, eram lindos, se arrependeu do tom que usou no instante em que falou, Arthur ficou feliz por Dario tomar a palavra, não sabia se conseguiria dizer qualquer coisa que fosse naquele momento.

"De onde você veio? Por acaso é uma ninfa ou algo parecido? Pois seus olhos são dispares e sua pele parece não ter cor."

Sua face franziu confusa, como se pensasse que Dario era louco ao perguntar a ela uma coisa daquelas.

"Eu... não, sou humana eu... nasci assim, desculpe, mas não sei como vim parar aqui, quando acordei estava aqui... E, aliás aonde eu estou?"

Ela explicou um pouco envergonhada, como se sempre tivesse que dar a mesma explicação sobre sua aparência, sua voz tremia, Arthur não sabia se de frio ou de medo, percebeu que os três com suas expressões severas deviam estar assustando-a, principalmente quando todos pareciam ter o dobro de seu tamanho, um instinto protetor tomava conta de Arthur, que reprimiu o sentimento tentando se concentrar na conversa. Dom respondeu entusiasmado.

"Está nas províncias de Camelot e nós minha querida, somos seus príncipes e princesa."

Sua face pareceu empalidecer ainda mais, Arthur não achou que fosse meramente possível.

"O quê? Eu não posso estar em Camelot, é impossível! Você quis dizer Camelot do rei Arthur?"

Suas pálpebras tremeram, seus olhos reviravam, Arthur pensou que ela iria desmaiar a qualquer momento. Dario pareceu se compadecer pela confusão da estranha.

"Exatamente, sou o príncipe Dario, estes são meus irmãos Dom, Arthur e Elizabeth."

Ela pareceu voltar ao foco da conversa.

"Não me lembro do rei ter irmãos."

Disse tentando não olhar para Arthur, Dom riu com sua confusão, Arthur lembrava de uma história que ele lhe contara sobre ser a mãe a resolver colocar o seu nome como o do pai, dizia que era um nome bonito que deveria ser passado de geração em geração, já Arthur pensava que os grandes feitos do pai o haviam marcado para sempre e não haveria lugar para mais um Arthur na história.

"Este aqui não é o rei, mas o filho dele, o grande Arthur é nosso pai."

A estranha pareceu ponderar pensando em tudo que lhes haviam dito e começou a se acalmar, agora com uma voz mais controlada, ela voltou a falar.

"Me perdoem se fui desrespeitosa, mas é que estou perdida, se puderem me levar para Camelot, talvez eu encontre meu caminho."

Tentou lhes dar um sorriso fraco, mas seus lábios tremeram de insegurança. Já um pouco mais sério, Dom se aproximou lhe entregando um livro que Arthur nem notara.

"Não sei se podemos lhe dar nossa confiança, porém milady, salvou nossa Lize, então darei um voto de confiança, venha eu te levarei."

Dom oferecia sua mão, ela a aceitou hesitante, quando estava de pé, Arthur pode ver que estava certo em supor sua estatura, ela era tão baixa quanto esperava, notou também que suas bochechas adquiriam um tom rosado adorável, tinha de admitir.

Agora com o foco novamente na irmã em seus braços, Arthur seguiu na frente com Dario, levou Lize em Dama e Dario seguiu com Sereno e Avalon. Sabia que Dom logo os alcançaria, pois Arthur estava concentrado em Lize e Dario seguiu com dois cavalos.

Viu que estava certo assim que Dom os ultrapassou, a mulher pareceu encará-lo e Arthur não pode deixar de olhá-la com curiosidade e confusão, logo ela já com as bochechas quase tingidas de vermelho, desviou o olhar.

Depois de tudo que acontecera naquela tarde, Arthur sentia em seu âmago que algo grande estava para acontecer, na verdade, achava já estar acontecendo.

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