Capítulo 18 - Convite
Às vezes Merlin não entendia como fora ensinar uma aprendiza tão teimosa e negligente consigo mesma, assim que seu feitiço de isolamento funcionou, fazendo com que o veneno não se espalhasse pelo corpo, Melanie se levantou e saiu apressadamente, estava decidida a encontrar Dom e fazer o que fosse preciso para ele se tornar o novo líder saxão, disse que não tinha tempo para planejar e iria improvisar.
Suspirou, Melanie havia lhe contado tudo que se lembrava desse ponto em diante e mesmo assim, os dois não conseguiam entender, não conseguiam fazer a conexão com os motivos de Kaled a querer morta, ainda não fazia sentido e Merlin já estava farto das distorções bloquearem sua visão, desde que lhe contara queria desesperadamente mudar o destino de aprendiza, mas a cada acontecimento, acreditava cada vez menos que fosse possível.
***
Melanie respirava fracamente, felizmente já estava chegando, Dom não havia saiu do lugar onde o deixara na noite anterior, no pouco tempo que teve enquanto Dom comia a refeição que lhe trouxera, Melanie explicou para ele o que podia sobre os motivos de estar ali e o porquê de ter de fingir sua morte, também explicou seus planos para o futuro, contou tudo, exceto sobre sua morte.
Dom a ouvia atentamente, concordando de imediato com tudo que lhe era pedido, assim que terminasse colocariam seu plano em pratica, Melanie não tinha mais tempo para ser sutil, não tinha mais tempo para se preocupar com outros além daqueles que teria de proteger, não tinha tempo para sentir remorso.
Juntos, Melanie e Dominic, adentraram o acampamento saxão, exigindo uma audiência com o líder, assim que veio até eles, Dom o matou, uma lamina em cheio no coração a ideia era pega-los de surpresa, assumindo a fala, Melanie usou de persuasão para ajudar convence-los da corrupção de seu líder que estava sendo controlado por Mordred, muitos não acreditaram e não aceitariam sua liderança, quando um homem veio ataca-la Melanie suspendeu as entradas de ar, o fazendo cair no chão sufocando, teve de fazer isso com mais dois homens, até conseguir que um exército se curvasse perante Dom a temendo como uma bruxa que agora sabiam que ela era, agora, eles tinham seu exército.
***
Os pensamentos de Arthur estavam confusos, tentava entender o que acabara de presenciar, a parte da magia ele, de certa forma, havia entendido, pelo menos o pouco que Merlin se dispôs a lhe explicar, mas a presença dela, bem ainda o deixava desconcertado, o que era aquilo que ele sentira? Aquela urgência em ajudar, quando a viu ferida daquela forma... não quis nem se lembrar do momento, ainda causava arrepios em sua pele.
Se permitindo ficar sozinho alguns momentos antes de voltar para suas responsabilidades, Arthur deitado no chão do jardim suspenso de sua mãe, olhando para o céu, observando as nuvens, lembrou-se do dia que as observara com Melanie, lembrou-se do seu olhar, da sua expressão naquele momento, fechou os olhos e tentou visualizar.
As imagens vieram juntas, em um momento vira Melanie, em outro era Teresa que o olhava por trás dos olhos escuros e misteriosos. Arthur sentia em seu âmago que havia algo de estranho em tudo aquilo, algo que Merlin não queria lhe contar, algo que talvez viesse a ser muito importante.
Suspirou cansado, teria de sair logo dali, sabia que se não comparecesse ao concelho o pai mandaria procurá-lo, olhou uma última vez para as nuvens, levantou observando suas roupas elegantes de cavaleiro, roupas usadas no funeral de seu irmão, o cheiro da fumaça havia impregnando-as, o corpo de Dom fora cremado e as cinzas recolhidas e espalhadas ao vento acima do rio, como outrora fora seu desejo.
Pelo menos de tudo o que havia acontecido, uma vida eles haviam salvado, Mel estava segura novamente e naquele momento uma promessa silenciosa fora feita, ele nunca mais a deixaria, sempre estaria ao seu lado.
***
Mesmo temendo não ser seguro deixa-lo sozinho novamente com o exército, Melanie não teve escolha, Dom teria de ficar, pelo menos Melanie causara-lhes tanto medo que não ousariam atacar, por outro lado Dom ainda era muito gentil e cativante, logo os conquistaria por si próprio.
Não sabia se estava tomando todas as decisões certas, mas da forma que o tempo corria não poderia parar e analisar suas ações, participaria do conselho junto a Merlin, o bom era que ainda podia se lembrar do que falara na época em que ouviu Teresa, assim que o conselho terminasse, voltaria para buscar Dom, agora com o nome de Mortimer. Tudo parecia correr como antes.
***
Sorria fingindo despreocupação.
"Um conselho para enfrentar, um plano louco para apresentar, céus, ainda não tenho ideia de como convencê-los, você sabe Mo... hum... Mortimer, ainda tenho de me acostumar com os nomes, não posso me esquecer e chamá-lo de, você sabe... bom ele logo estará aqui e como convenceremos o rei sem ter que contar tudo?"
Melanie se recusava a fraquejar, sua vida não importava mais, era como se a dor houvesse clareado sua mente.
"Sim, não será uma tarefa fácil, precisaremos de ajuda, como disse antes, não precisa fazer tudo sozinha."
Perdeu o controle da expressão por um momento, não era justo Merlin mencionar Arthur.
"Merlin..."
"Eu sei, eu sei, mas talvez seja a única solução, sem contar que depois de tudo acabar Mortimer precisará de ajuda para voltar, será bom ter alguém que saiba de toda a verdade."
"Mas, por que ele?"
Merlin sorriu em uma expressão que demonstrava obviedade.
"Como pode não saber? Sempre foi ele... sempre esteve e sempre estará ao seu lado, sei que quer poupá-lo, mas veja, tudo isso também lhe diz respeito, Arthur tem o direito de saber a verdade. Tem o direito de ajudar."
Sentiu-se quebrar por dentro, mesmo não querendo admitir, Melanie sabia que precisava de Arthur, sempre precisou.
***
Arthur estava indeciso, andava de um lado a outro do quarto, dormira melhor à noite, mas algo o perturbava, a presença de Teresa no conselho o inquietara, Arthur não tinha mencionado que já a conhecerá, não disse nem a Ben, antes queria perguntar a ela o porquê de também não mencionar que o ajudará aquela noite.
Primeiro ao acordar decidiu ver como Mel estava, somente para encontrar Marion em seu quarto que lhe explicou o que tinha pedido a Mel, Arthur aguardou a chegada de Doris com o chá para sair. Tomando coragem caminhou até o quarto onde Teresa estava hospedada somente para descobrir que também não estava lá.
Um pouco frustrado, Arthur ficou sem saber o que fazer, resolveu então ir até os estábulos para pensar um pouco e para evitar ser encontrado por Lady Catelyn, a quem não via desde o ataque.
A ideia de ter os saxões ao seu lado o empolgava e assustava ao mesmo tempo, por um lado tivera o ataque que tirou seu irmão e quase matou Melanie, por outro a traição veio de dentro, Correl, como Arthur queria ter acabado com ele quando teve a chance, sabia que quando Ben descobrisse, talvez nem as barras da cela o protegeriam de sua ira.
Escovou primeiro Dama, depois Avalon olhando entristecido para a baia vazia onde ficava Spirit, eles ainda não o haviam encontrado, sabia que Mel ficaria triste com isso.
Não soube dizer quanto tempo passou quando finalmente viu Mel e Ben seguindo juntos para o castelo, Arthur sorriu, feliz por saber que ela havia conseguido tirá-lo de sua casa, terminando de escovar os cavalos, Arthur guardou as ferramentas e seguiu para o castelo, foi em direção ao quarto de Mel, mas eles não foram para lá, depois passando pelos corredores perguntou para as empregadas que lhe disseram que eles estavam na sala de visitas, passou por Dario e Julianna que vinham de lá, chegando somente viu Ben e Marion se afastando de um abraço, Mel não estava lá, mesmo assim Arthur esperou, tinha de falar com Ben sobre o conselho que não participara.
Assim que pareceu que Ben e Marion já tinham acabado sua conversa, Arthur se aproximou, olhou significativamente para Ben.
"Marion, será que posso roubá-lo por um momento?"
"Claro Arthur, bem, já tenho mesmo que ir, nós precisamos nos alimentar, não é mesmo?"
Disse falando para o bebê em sua barriga. Como Doris também estava lá, Ben e Arthur não se preocuparam em acompanhá-la, Ben sentou-se se servindo de pão e queijo que estavam à mesa.
"Posso perguntar se você está bem?"
Um sorriso fraco.
"Vou ficar."
"Melanie te convenceu então? Ou te arrastou para fora daquela casa?"
Arthur disse brincando. O que era aquilo? Um rubor? Ben estava corando, ele nunca ficava assim. Arthur não entendeu o motivo. Limpando a garganta Ben pareceu constrangido.
"Bem...ah, é quase."
Arthur fechou a expressão, não com raiva, mais como se suspeitasse de algo que Ben fizera e sabia que Arthur não ia gostar, conhecia Benjamin suficiente bem para saber que estava certo.
"O que houve?"
"Você não vai gostar."
"Ben."
A pronuncia soou como um aviso.
"Oh certo, então não me culpe está bem? Foi por instinto, eu... sinto muito... simplesmente... a beijei."
Arthur tinha um quem? pronto para sair de sua garganta, quando quase engasgou entendendo.
"Você...o quê?"
Ben encolheu os ombros como que pedindo desculpas.
"Ben! Você não está me dizendo...ahh Ben."
Arthur bufou sentando-se. Sua pele queimava também, sabia que não poderia e nem ficaria com raiva de Ben, mas mesmo assim, não conseguiu impedir a pontada de ciúmes de lhe atingir e ao mesmo tempo as garras da inveje lhe envolver, quanto tempo Arthur desejava aqueles lábios, sentir a pele marfim em suas mãos, os olhos multicoloridos o encarando, estremeceu imaginando, lembrando do dia do baile onde fora o dia em que ficara mais perto de Mel como nunca antes.
Não disse nada por um tempo, somente ouvia Ben comer avidamente, já sentindo seu bom humor começar a esvair, abrindo espaço para irritação.
"Desculpe... eu sei."
O tom descontraído tinha sumido. Ben falava sinceramente, entendia os sentimentos de Arthur como ninguém. Tentando não soar de forma irritada, Arthur prosseguiu.
"Você precisa saber o que aconteceu no concelho."
Ben não se importou com a mudança súbita de assunto. Assentiu esperando enquanto Arthur tomava fôlego para começar.
***
Como o previsto, Ben saiu em fúria em direção às celas onde ficavam os prisioneiros deixando Arthur sozinho, por sorte Arthur deixou a informação da traição de Correl por último, assim Ben ouviu o relato inteiro.
Agora sozinho novamente, Arthur voltou a pensar em fazer o que havia decidido pela manhã, resolveu ir até Merlin, sabia que Teresa só podia estar lá, quando virava o corredor, viu ao fundo Melanie sair da sala de feitiços e ficou tentado a segui-la, mas resolveu que tinha de falar com Teresa primeiro antes do conselho que se seguiria mais tarde, então seguiu para a porta da sala.
Arthur a abriu sem bater, Merlin e Teresa estavam de costas para ele, olhavam em direção a janela, Arthur se aproximou hesitante, quando estava a menos de um metro viu algo a frete que nunca presenciara antes, o ar parecia distorcer como um espelho d'água que sofrera uma perturbação, os corpos de Merlin e Teresa eram sugados para o buraco ao mesmo tempo que o corpo de Arthur também fora pego pelo turbilhão, estilhaçando-se como se seu corpo quebrasse em pedaços, sua mente girava em confusão, nunca sentira algo assim.
***
Assim que Melanie saiu, eles o sentiram. Merlin congelou no lugar, encarou Melanie perguntando com o olhar se havia sentido o mesmo. Os dois se levantaram em um pulo, olharam para a janela, esperando, dela surgiu um pássaro negro feito de sombras.
"Ele sabe."
Foi à única coisa que Melanie pode dizer antes de ser sugada pelo portal que o pássaro se transformou.
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