Capítulo 9

AURORA

Prendo o fôlego e me mexo desconfortavelmente no assento quando escuto a professora de Biologia dizer quem é minha dupla para o trabalho de Reprodução Humana.

Justo o Patrick!

Tudo bem... é um trabalho.

— Podem ir se agrupando para começar o projeto. — Cláudia diz e começa a folhear um livro clássico.

Patrick em um único movimento se senta ao meu lado. Por um momento, ele apenas fica em silêncio, cogitando o que dizer.

— Parece que sempre acabamos juntos, não é?

Patrick me defendeu, mas ele também me viu passar por uma crise e de alguma forma eu estou me sentindo envergonhada. Contudo, não parece se importar com isso. Na verdade, ele é bem gentil e não toca no assunto.

— Nossa, que sorte a minha! — Respondo de modo sarcástico ao encará-lo com um sorriso torto nos lábios.

Como ele não diz nada dou um suspiro e prossigo.

— Você escreve sobre a anatomia dos órgãos genitais e eu escrevo sobre fecundação. Certo? Depois juntamos os dois manuscritos e pronto. — Faço um gesto para enfatizar essa última parte.

Patrick concorda sutilmente com a cabeça. Ele parece distante.

— Você entendeu? — Indago para ele que parece distraído — Patrick?

— Sim... — Ele murmura ao passar as mãos pelo cabelo e desvia o olhar — Entendi.

— Tudo bem pessoal, podem ir guardando o material. Continuem o trabalho fora da escola.

Já se passou uma aula inteira, não pensei que seria tão rápido, mas de qualquer forma, quero ir atrás da mulher para fazê-la mudar de ideia sobre o trabalho. Porém, algo no rosto da professora diz que nada a fará mudar de opinião. Ainda assim, não foi tão ruim fazer o trabalho com Patrick. Na verdade, até que foi bem legal, mesmo que eu não vá admitir isso em voz alta.

— Onde podemos continuar o trabalho? — Patrick pergunta. Ele está em pé, arrumando o material na bolsa.

Reflito um pouco antes de responder.

— Pode ser na minha casa?

Minha mãe não importará, apesar de que ficará interessada, pois nunca levei ninguém lá. Ainda mais um menino. Mas ainda sim, é melhor do que ficar na casa de um estranho.

— Tudo bem. — Ele diz e me entrega o papel em que escreveu o número de seu telefone.

— Até mais, Aurea. — Patrick murmura. Meus pelos começam a se arrepiar quando de repente uma lembrança aparece em minha mente. Meu peito começa a se agitar de dor e tristeza.

Aurea...

FLASHBACK ON

Michael contava histórias para Aurora dormir.

— Papai, porque meu nome é Aurora? — Perguntou a linda menina de olhos castanhos-dourados.

— Significa "Aquela que brilha como o sol" — Respondeu seu pai com um sorriso no rosto — Eu e sua mãe escolhemos ele, pois desde o momento em que a vimos sabíamos que você seria a luz das nossas vidas.

Você é minha luz, Aurea.

Aurora abraçou seu pai quando o sono a atingiu por completo e a fez dormir como um anjo. Desde aquela noite, a menina passou a amar seu nome.

FLASHBACK OFF

O mundo para. Meus pés paralisam no chão. Sinto meu peito se inflamar. É como se algo dentro de mim tivesse aberto e afundado. Quase me esqueci do apelido que meu pai me deu quando criança...

Enquanto eu estava na companhia de Patrick eu me esqueci de tudo... Eu até sorri.

Saio apressadamente da sala de aula não conseguindo conter as lágrimas. Com passos firmes corro direto para o banheiro feminino sem nem ao menos olhar para trás. Escuto Patrick me chamar, mas não consigo me conter.

Também escuto uma voz doce me chamar repetidas vezes, e passos determinados soarem atrás de mim, mas tudo o que quero é fugir dali. Queria poder fugir da minha mente também.

Coloco as duas mãos na borda da pia conforme mordo os lábios para cessar o choro. Percebo o pingente de bolsa com a escrita "Aurea" em dourado. Meu pai me deu alguns dias depois daquela noite, pois ele percebeu o quanto eu fiquei animada por saber o que meu nome significava. Patrick provavelmente viu e imaginou ser meu apelido.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não consigo controlar o choro, então, deixo as lágrimas caírem livremente.

— Eu sinto tanta falta dele.

— De quem? — Uma voz doce questiona em um sussurro, e escuto que passos lentos se aproximam para onde estou.

— Você não precisa fazer isso. — Digo em meio ao choro.

— Fazer o quê? — Laura pergunta.

— Fingir que se importa.

Laura se aproxima, mas a contenho.

— Mas eu me importo.

— O que você quer, hein? Quer ficar com meu irmão por isso tá fingindo ser minha amiga?

Minha voz contém armadura e dúvida.

Se bem que não é primeira vez que isso acontece. Contudo, na mesma hora, me arrependo amargamente do que disse. Sei que Laura não tem culpa. Sei também que ela nunca faria isso. Mas, não consigo controlar as palavras antes que cheguem à minhabboca. Eu estou magoada, triste e com saudade, e quando estou assim desconto em qualquer pessoa que eu vejo pela minha frente.

Não acho isso, mas de alguma forma, quero acreditar naquela voz da minha cabeça que diz que não mereço nada disso, que não mereço a amizade dela, que não mereço ser feliz, que tenho que ficar sozinha. Nãoo posso me dar o luxo de ter o coração partido de novo. Não quero mais sentir essa sensação.

Mas, eu sei, no fundo, sei que não é minha culpa. No entanto, quando estamos sozinhos, nossos pensamentos vagam para lugares que não devem ir. Lugares sombrios. Às vezes, somos nossos piores inimigos. Temos que saber distinguir a verdade e a mentira na nossa mente.

Laura está paralisada. De relance, posso ver tristeza e mágoa lampejam em seus olhos verdes como jade. Ela engole em seco, claramente desconfortável com a situação.

— Olha só, eu não sei o que você está pensando — Ela respira fundo — Mas eu nunca faria isso. Eu não quero nada em troca, apenas sua amizade.

— Eu sei,— Digo em meio ao choro — Desculpa.

Laura vem até mim e me abraça.

— Meu pai... ele morreu em um acidente de carro. — Minha voz está começando a ficar embargada — Justo no dia em que iríamos jogar Beisebol juntos.... Ele disse para eu esperar por ele. Ele não voltou. Nunca vai voltar. Mas... Eu ainda estou esperando. Sempre vou estar.

É um esforço até mesmo para falar, mas ela não me pressiona. Em algum momento, levanto meu olhar para encara-lá. Ela se aproxima à medida que passa a mão pelo meu ombro.

— Sinto muito pelo seu pai.

— Me desculpe por te envolver nisso. — Sussurro arrependida.

— Sabe, é muito triste que as pessoas morram — Laura levanta meu rosto para que eu possa encara-lá. — Mas só acontece. Não significa que seja sua culpa ou de qualquer outra pessoa... Esse é o ciclo da vida. Todos teremos que ir em um dado momento. Então, por favor, não peça desculpas, e nem se sinta culpada.

Não consigo ver pena nos olhos de Laura, apenas compreensão e tristeza, pois é um sentimento puro de alguém que está sofrendo pela dor de outra. É incrível como a menina ao meu lado sempre parece me acalmar e estar presente nos momentos em que eu mais preciso.

— Obrigada. — Consigo dizer, com meus olhos brilhando com lágrimas, sinto um pequeno sorriso se formar em meus lábios.

De alguma forma, a dor no peito se torna mínima enquanto os longos minutos se passam. Laura apenas fica aqui comigo, conforme massagea meu ombro em um gesto suave e carinhoso.

— Agora vamos lavar esse rosto e tomar um ar, ok? — Ela aperta minha mão em sinal de solidariedade — Você não precisa ser forte o tempo todo.


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