Capítulo 54
MELISSA
Com um única mão tento procurar meu remédio ao lado da cômoda, apenas encontrando um pote de remédios vazio. Recordo-me da noite passada, quando fiquei conversando com Matheus em seu apartamento.
— Não acredito. Foi acabar justo agora! — Bufo de insatisfação conforme encaro o conteúdo vazio.
Jogo a cartela em qualquer lugar, com passos tropeçantes vou ao banheiro onde encaro meu reflexo. Os olhos de um tom claro estão suavizados. A boca parecendo uma maçã vermelha. Preciso comprar ainda hoje, não posso ficar sem os remédios. Pois caso o faço... Não gosto nem de pensar no que pode acontecer.
Ainda continuo encarando-me no reflexo do espelho.
Quando eu tinha 14 anos entrei em uma agência de modelo, pois muitas pessoas me diziam que eu era bonita e tinha um corpo igualmente lindo. Foi o que fiz, mas arrumei muitos problemas nesse meio da indústria e da moda. Então sai e procurei me focar em outras coisas.
Mas não sou uma pessoa fácil de lidar. Sei disso.
Depois de fazer minha higienização, decido me manter ocupada o máximo que posso para ver se assim a enxaqueca dininui. Contudo, não diminui.
O beijo... Eu tento ao máximo não pensar no quanto gostei e no quanto quero repetir. Mas não posso me envolver com Matheus, não dessa forma. Mesmo que eu diga isso... É tão difícil.
Mesmo que no fundo um sentimento começa a crescer em mim, não posso deixar isso ir longe demais. Nunca conheci alguém tão parecido comigo assim. Não falo apenas do cabelo ruivo. Mas... Essência e Personalidade.
É. Parece que eu não sou muito fiel ao que eu penso, pois quando vejo estou na porta do apartamento de Matheus.
Matheus abre a porta, sem camisa, o mesmo esfrega os olhos. Seus cabelo levemente bagunçado como se tivesse acordado agora. Sem dizer nada empurro ele de lado, já entrando no lugar aquecido.
— Trouxe as malas? — Ele pergunta com um sorriso. — Você praticamente mora aqui.
— Muito engraçado. — Dou uma risada fingida para enfatizar — Só vim pela comida.
Não que na casa da minha tia não tivesse comida. Mas eu precisava de uma desculpa para vir para cá novamente.
— No fundo, sei que você está com saudades, Mel.
Dou um revirar de olhos de modo brincalhão, sem responder sua afirmação. Viro meu rosto e acabo encontrando Felipe, que está dormindo no sofá. O menino de cabelos platinados parece um anjo dormindo, e parece de ressaca.
— Depois que saímos do campo ele foi curtir com alguma paquera — Matheus diz ao fechar a porta.
— Ele não deveria beber tanto.
— Concordo. Mas não é como se ele me escutasse.
— Quer algo para comer ou beber?
— Uma suco, por favor.
Tão casual, lindo e sexy.... Matheus me entrega suco de goiaba. Dou uma careta para ele.
— O quê? — Ele pergunta, confuso.
— Não tem suco de laranja? Não gosto de suco de goiaba.
Matheus revira os olhos e pega o suco de Laranja.
— Obrigada — Pego e dou um gole.
Matheus assente conforme se apoia na bancada, ficando a poucos centímetros de mim.
— E seus pais? — Pergunto, não sabendo ao certo de onde vem tanta curiosidade.
Matheus dá um pequeno suspiro.
— Estão em uma pequena cidade não muito longe daqui.
— Hm... — Murmuro á medida que bebo mais um gole do suco — Namorada? — Pergunto, mesmo sabendo sua resposta — Não que eu esteja interessada...
— Eu não namoro. — Ele dá um sorriso sem humor — Isso não funciona comigo.
— Tipo... nunca?
Minhas sobrancelhas arqueadas enquanto abro a boca para perguntar mais coisas. No entanto, Matheus me impede dizendo que eu estou fazendo muitas perguntas.
— E você, Mel?
— Eu?
— É — Ele dá um dar de ombros — Você.
— Minha vida não é tão interessante quanto pensa.
Eu nunca conheci meu pai, e minha mãe morreu quando eu era pequena. Passei a maior parte da minha infância no orfanato. Depois passei a morar nas casas dos meninos que eu ficava, como, por exemplo, Richard. Apenas para ter um lugar onde dormir. Tentei trabalhar, mas eu não era boa em quase nada. E, como já citei, não sou uma pessoa fácil de lidar.
— Sabe — Dou um dar de ombros — Nada demais.
Matheus abre a boca para dizer algo, mas nada sai de sua garganta. Ele faz menção de segurar minha mão, mas o detenho. Encaro meu relógio de pulso, e, em um pulo me levanto.
— Estou atrasada para ir em um lugar. — É a única coisa que digo antes de desaparecer pelos corredores do condomínio.
— Como você se sente? — Pergunta a mulher de cabelos castanhos e roupa social.
Desde que cheguei em Floriana, tenho buscado diversas formas de tratamento para controlar a esquizofrenia. Duas vezes por semana, eu converso com Nádia, minha psicóloga. Sei que não tem cura, mas se ao menos eu cuidar da minha mente. Melhorar... Assim pelo menos não vou precisar machucar ninguém. Não vou cometer os mesmos erros que cometi.
Eu só preciso controlar.
— Bem — Murmuro ao encarar o teto.
Eu estou me sentindo bem. Melhor do que qualquer outro dia.
— Você tem tomado os remédios? — Nádia pergunta. Ela não parece se importar devido ao meu atraso.
— Sim. Mas eles acabaram essa manhã.
Massagem as têmporas doloridas, resultado da falta de medicamentos. Os remédios ajudam meu humor e no tratamento da doença. Não posso ficar sem tomá-los por muito tempo sem que tenha efeitos colaterais.
— Pode ficar tranquila. — Asseguro ao notar o olhar de Nadia — Quando sair daqui vou comprar.
— Bom... — A psicóloga olha sua prancheta — Eu notei que você está melhorando muito. Isso é muito bom. — Me encosto mais no sofá encarando o teto branco — O que tem feito essas semanas? Com quem esteve? — Ter pessoas que te apoiam no processo é tão importante quanto os remédios.
Reflito sobre suas palavras e um garoto de cabelos ruivos e olhos safira aparece em minha mente.
— Você sempre me pergunta isso. Faz diferença? Estou melhor, não?
— Tudo bem. — Nadia dá um suspiro frustrado. Já que você não quer me dizer, pode escrever — Ela me entrega um pedaço de papel e um lápis — Escrever seus sentimentos podem fazer com que você se sinta melhor — Pode ficar tranquila, não vou ler. E esse papel pode ficar com você.
Assinto distraidamente com a cabeça ao pegar o papel e lápis. Com um suspiro entrecortado, escrevo como tenho passado essas semanas.
Abaixo o lápis e o papel que está totalmente escrito com minha letra. Um sentimento restaurador se apossa de meu peito. A sala está silenciosa a não ser pela psicóloga, que me observa com cautela a poucos metros de distância.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top