Capítulo 5

AURORA

— Parece que você vai chorar a qualquer momento. — Diz uma voz doce ao meu lado, o qual me faz sair do transe em que me encontro. Quase dou um grito de susto enquanto me viro para encarar quem disse aquilo. Com rapidez, levo a mão ao peito.

— Você me assustou! — Sussurro sem fôlego, com meus olhos arregalados.

— Olá, você está bem? — Ela cumprimenta de modo simpático — Meu nome é Laura. Desculpe ter te assustado. Não foi minha intenção.

Devo mesmo estar no mundo na lua pafa não ter notado a menina...

— Espera aí. Você é a menina de hoje mais cedo no corredor. A que perguntou se eu estava bem?

Laura assente com um sorriso.

— Sou eu mesma. Fico feliz por ter lembrado de mim.

Como esquecer? Afinal, Laura é linda. Morena, cabelos cacheados e possui lindos olhos esverdeados. Além do mais, é gentil.

Engulo em seco, sem saber ao certo o que dizer, meus pés estão paralisados no chão e uma enxaqueca surge em minha cabeça. Mas, Laura, continua:

— Eu vi o que aconteceu... Mas não se preocupe. Melissa é assim mesmo.

Melissa? Esse é o nome da menina ruiva?

— Vocês se conhecem? — Questiono.

— É uma longa história... Quem sabe algum dia te conto.

Encaro-a confusa, mas opto por não dizer nada. Assinto com a cabeça e consigo dar um meio sorriso para Laura. Meu peito que estava apertado, está desacelerando.

— Não ligue para o que ela diz.

— Eu não ligo. — Digo rapidamente, mesmo sabendo que é mentira.

Laura me encara com uma cara que diz o contrário. Porém, antes que eu possa dizer ou fazer qualquer coisa, sinto minha visão embaçar e me apoio mais na parede.

Por um momento, eu me esqueci de tudo. Até da situação em que me encontro.

— Ah, Meu Deus, você está bem?! — Laura coloca suas duas mãos em meu ombro — Espera aqui. Vou pegar um copo de água para você, Ok? — Ela murmura e começa a se afastar.

Quero dizer que não precisa, mas ela já foi buscar. De repente, eu não quero mais ficar sozinha.

A tempestade está de volta, mais forte, que me assusta. Tenho medo de algo que não consigo ver, mas consigo sentir, está no limite. Achei que tinha ido embora, mas, pelo visto, não foi. Fico preocupada que, de alguma maneira, eu possa desmaiar, aqui no corredor do colégio.

Depois de alguns minutos, Laura volta e me entrega o copo com água. Dou dois goles antes de devolver.

— Obrigada. — Eu me sinto envergonhada, mas, de certa forma, agradecida — Eu sou Aurora. É um prazer te conhecer.

— Eu sei — Laura me analisa pensativa.

Arqueio minhas sobrancelhas em sinal de confusão.

— Você é garçonete do restaurante Briar, não é? — Laura esclarece — Meu primo trabalha lá.

— Ah — É tudo o que consigo dizer — Sou eu, sim. — Quem é seu primo?

— Gael.

Assinto distraídamente.

— Sabe... — Laura apoia a mão em meu ombro esquerdo — Você não parece muito bem.

— Eu tô bem. — Digo rapidamente — É só minha pressão. Acontece, às vezes.

Laura me encara desconfiada, mas não insiste no assunto, pega minha mão e me guia para sentar. Ficamos lado a lado. Não há o que dizer. Ela provavelmente deve ter ficado com pena por ter me visto desse jeito no meio do corredor e veio me ajudar.

— Qual série você estuda? — Laura pergunta com a voz calma.

— Primeiro, e você?

— Segundo.

Observo que há um lindo colar com uma estrela adornada em ouro no pescoço de Laura. Fico encarando-o. É um pingente muito lindo.

Logo percebo que Laura é uma pessoa bem extrovertida, ao contrário do que sou, mas definitivamente gosto dela. A morena ao meu lado se remexe mais uma vez no banco, como se estivesse procurando algo para dizer.

Ela realmente quer estar aqui? Conversando comigo?

— Você tem irmãos? Sempre quis ter uma irmã, mas depois que a minha mãe me teve ela não conseguiu mais engravidar... — Laura suspira, como se fosse um assunto delicado.

Engulo em seco. Deve ser difícil para ela. Não consigo imaginar minha vida sem meu irmão.

— Tenho. Ele se chama Caio. — Passo a mão pelo meu cabelo — Sinto muito por isso. Pela sua irmã.

— Ah... está tudo bem — Laura gesticula com as mãos — Eu conheço seu irmão. Caio Belizardo, não é? Ele é da minha sala. — Sua expressão se torna supresa e contemplativa, como se tivesse descoberto algo essencial — Até que vocês são bem parecidos.

Confirmo com a cabeça.

Laura é tão atenciosa comigo e nem nos conhecemos direito. Quero dizer algo para mostrar a minha gratidão, mas as simplesmente palavras não saem da minha boca.

— Você gosta de comer? — Pergunto repentinamente, me arrependendo logo em seguida. Definitivamente, não sou boa em puxar assuntos com pessoas que não conheço. Deve ser por isso que não tenho muitos amigos. Mas, Laura parece não se importar, na verdade, até solta uma bela gargalhada.

— Se tem uma coisa que eu gosto e faço bem é comer! Não se deixe enganar por esse corpinho.

— Parece que temos algo em comum — Solto uma risadinha, acho que é o primeiro riso em semanas.

Laura não precisava ter feito nada daquilo, mas resolveu me ajudar. Isso é mais importante para mim do que ela possa imaginar.

Depois do que aconteceu, me abrir a novas experiências é difícil. Mas eu vou tentar pelo menos. Será uma boa oportunidade para fazer novas amizades. Não posso deixar que todas as coisas boas que apareçam em minha vida se escorram pelas minhas mãos apenas porque estou passando por um momento difícil.

Depois de algumas tentativas de me fazer rir, Laura fica conversando comigo até escutarmos o sinal soar. Nem me lembro de ter conversas tão duradouras assim... Conversamos sobre tudo. Tudo mesmo. Por fim, suspiramos dramaticamente pela interrupção proporcionada pelo sinal. O tempo passou tão rápido, como se tivesse acelerado umas três horas.

— Aqui está meu número de telefone para a gente conversar mais tarde. — Laura me entrega um pequeno pedaço de papel.

— Você sempre faz isso? — Levanto as minhas sobrancelhas — Carrega um pedaço de papel com seu número nele?

— Só para o caso de eu encontrar algum gatinho. — Ela revela com uma piscadela — E também porque não sei de cór.

Solto uma risada sincera. A tempestade já se foi por completo. Existe apenas calmaria, sorrisos e Laura.

— Sinto muito não ser um gatinho.

Laura sorri em resposta.

— Pode me chamar quando estiver passando por esses momentos... complicados. Eu posso só ficar com você. Podemos apenas conversar, comer, rir, sei lá. É melhor do que ficar sozinha.

Estou com medo de acabar me magoando, mas algo dentro de meu peito me diz que isso não vai acontecer, então vou confiar nessa pequena faísca de esperança. Além do mais, faz muito tempo que não escuto o som da minha própria risada, que não sinto o brilho de meus olhos, que não converso com ninguém além do meu irmão.

Porém, todos esses pensamentos somem da minha mente quando eu vejo a figura à minha frente. Paraliso onde estou ao encarar Patrick de longe. Ele está encostado em uma parede, as mãos repousando no bolso da calça, e ele me encara com olhos significativos. Seu cabelo está levemente bagunçado, como se passasse os dedos repetidamente pelos fios.

Ele ficou esse tempo todo me observando?


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