Capitulo 46
Autora: Prestem atenção, pois há personagens novos!!
MELISSA
Já faz algumas semanas, desde que me despedi de Laura e vim para Floriana para ficar na casa da minha tia Rosiane. Não iria aceitar a proposta, claro, até porque Laura só quer ficar mais tempo com Aurora sem ninguém para incomodá-las.
Mas talvez eu esteja errada, porque quando Laura cuidou de meu ferimento na noite em que Richard havia me esfaqueado achando que era Patrick… Eu soube que eu estava completamente errada.
Abaixo meu olhar apenas para observar minha nova cicatriz, localizada no lado inferior da minha barriga, passo suavemente as mãos pela pele marcada. Essa cicatriz que sempre vai estar aqui, me fazendo lembrar daquela noite e da decisão que tomei. Uma recordação da minha renúncia e coragem. Uma renúncia da dor e da mágoa e coragem para seguir em frente.
Laura acreditou em mim quando ninguém mais acreditou. Então vou fazer isso nem que seja por ela, pela nossa amizade, que ainda pode ser reconstruída. Tudo pode ser diferente dessa vez. Eu preciso ao menos tentar.
Sei que nada disso mudará meus erros: o sequestro, a ligação e o atropelamento. Não estava apenas me quebrando por dentro ao fazer essas coisas, mas também outras pessoas. Uma delas, Laura: A pessoa que eu mais quero proteção e amizade.
É irônico. A vida é assim, às vezes.
Richard. Não quero nem pensar nele. Ele disse que se eu fizesse todas aquelas coisas eu iria conseguir o que eu queria e tudo voltaria ao normal. Ele me usou, manipulou e fez com que eu achasse que aquilo tudo era minha culpa. Mas não foi. Pelo menos, não totalmente. Richard se aproveitou da minha fraqueza.
Mas não quero pensar nisso. Não agora.
Minha tia Rosiane me recebeu bem, aqui em Floriana. Desde então, estou ajudando no que posso. Não tive mais crises nem ataques paranóicos, isso se devido ao tratamento e remédios que tenho tomado com frequência aqui em Floriana, coisa que negligenciei em Porto Real.
— Você pode comprar alguns ingredientes para o ensopado que vou fazer na janta? — Minha tia pergunta.
Assinto. Até porque estou muito entediada. Agora, estou caminhando pela estrada movimentada de Floriana. Diferente de Porto Real, é uma cidade grande e movimentada. Observo um Campo de Futebol, parando apenas para observar o lugar.
Não consigo dar mais que dois passos quando sinto algo bater e reverber em minha cabeça e quando vejo já estou no chão. Dor lateja pela lateral da minha cabeça, conforme resmungo de dor. Levo as mãos para o local atingido, minha visão embaçada, mas consigo encarar uma figura masculina que se espreita à minha frente.
— Você está bem? Eu não tinha te visto.
Recuso a oferta de mão do rapaz. Ele tem cabelo como fogo, assim como o meu, os olhos são de um tom safira e usa um traje específico de futebol.
Tento levantar, quase caindo em meus próprios pés.
— Você é cego por acaso?! — Minha voz contém sarcasmo e meus braços estão cruzados em frente ao meu corpo.
— Eu nunca te vi por aqui antes. — É tudo o que ele responde.
De alguma forma, acabo me lembrando de quando coloquei o pé para a Aurora tropeçar no corredor do colégio. Sei que não foi legal da minha parte, mas, até agora, não tinha percebido o quanto deveria ter sido desconfortável para ela. Assim como está sendo comigo.
— Claro que não. Se tivesse visto não teria acertado a bola na minha cabeça! — Exclamo, exaltada, enquanto sinto minhas bochechas esquentarem.
— Peço perdão. — Ele faz um comprimento com a mão. Mas abaixa quando não correspondo — Não foi minha intenção. Sinto muito.
Não me permito responder. Já estou me afastando do lugar, quando o rapaz segura meu pulso, impedindo-me de passar, encaro-o confusa devido ao gesto.
Quem ele acha que é para fazer isso?
— Qual seu nome? — Ele pergunta, com a voz firme. Logo em seguida, solta meu punho e leva a mão ao cabelo.
Foi apenas um toque, mas foi o suficiente para eu sentir um calor entre minhas pernas. Fico um minuto em silêncio, apenas observando.
— Não te interessa. — Digo calma, com a voz fria.
Não me importo com quem ele é. E ele não precisa saber quem eu sou.
A essa altura já deveria ter comprado os ingredientes do ensopado. Além do mais, não tem motivo para ficar conversando com esse menino que nunca nem vi na vida. Perda de tempo.
Me solto do seu aperto e continuo caminhando, tento não olhar para trás para ver se ele continua me observando. Ainda estou me afastando do campo, consigo escutar alguém o chamar por Matheus.
Esse será o nome dele? Matheus?
Balanço a cabeça para afastar os pensamentos. Não vim aqui para me relacionar com garotos — Mesmo que sejam garotos bonitos e sarados — Não posso me envolver com mais ninguém, não no meu estado atual, não com minha doença. Não quando tudo pode se repetir. Não posso arriscar.
Depois disso, vou ao mercado e compro os ingredientes da sopa que minha tia necessita para o jantar. Não demora muito até que passo novamente pelo campo verde de um tom vibrante, mas dessa vez não encontro aquele garoto. E, no fundo, mesmo que eu não admita, sinto uma pontada de decepção.
MATHEUS
Era um dia comum como qualquer outro, talvez nem tão comum assim devido uma garota de cabelos ruivos e uma língua afiada. Estava jogando futebol com meus amigos, até que sem querer acabei acertando essa menina. Pedi desculpas e ofereci minha ajuda para se levantar, mas ela recusou, emburrada, virou as costas e foi embora.
Ela nem ao menos disse seu nome.
— Você não pode ver um rabo de saia né? — Felipe pergunta, ao se aproximar de onde estou.
Apenas balanço a cabeça em negação. Dou um sorriso para ele.
— Se você gostasse, entenderia.
Conheço Felipe há mais de três anos. Ele sempre foi da minha classe, excluído, incompreendido e sozinho. O mundo nunca entendeu quem ele é de verdade. Sempre tão alegre, feliz e sem medo de ser quem é.
Até que um dia resolvi conversar com ele. Não entendia porque as pessoas tinham tanto ódio dele sem que ele fizesse nada de mal a ninguém, pelo o que eu sabia. Puxei conversa e depois disso, passamos a passar os intervalos juntos. Descobri que Felipe tem um potencial no futebol e como capitão do time não perdi tempo. Desde então, passamos a nos conhecer melhor.
Felipe se assumiu homossexual não faz mais que seis meses. No começo achei que era brincadeira, porém quando vi que é verdade eu disse que ele não deveria ter medo de ser quem é, que não tem nada de errado. Ele chorou e cobriu os rosto com as mãos. Depois disso, eu o abracei e disse que não importa quem ele é, sempre terá minha amizade. Sempre será assim. Fico feliz que ele tenha confiado em mim para dizer isso. Apoio meu amigo e quero que ele seja feliz, com mulher ou não, isso não importa.
Felipe é como um irmão para mim. Já que sou filho único, Eu o considero meu irmão mais novo, por isso sempre vou protegê-lo e cuidar dele.
— Cuidado, hein — Felipe lança um sorriso ousado — Sei os seus maiores segredos.
É verdade. Nossa amizade sempre foi uma amizade sincera. Nos meus dois últimos relacionamentos fui traído. Quem me ajudou? Felipe. Nos embebedamos até não aguentarmos mais e fomos para várias festas para esquecer dos problemas. Desde então, me fechei completamente para relacionamentos sérios. É claro que fico com outras garotas, mas apenas por prazer.
Feridas emocionais são difíceis de cicatrizarem.
— Sempre desconfiei que você tivesse uma quedinha por mim — Exponho com um sorriso para o loiro. Ele leva a mão ao peito, ofendido.
— Você sabe que meu tipo são morenos.
Balanço a cabeça em negação e lanço uma risada sincera para ele.
— E você sabe que meu tipo são ruivas.
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