Capítulo 34

PATRICK

— Você está bem? — Pergunto ao parar ao lado de Aurora. Ela assente que sim. — Quer ir pra casa?

— Eu quero ficar mais um pouco com Laura, mas os médicos disseram que vão fazer uma pilha de exames e que será melhor eu ir descansar. — Ela diz com suspiro cansado.

Assinto, sem saber ao certo o que falar. Caminhamos para fora do local. Caio logo atrás.

Os dois parecem cansados.

Abro a porta do táxi para ela, entrando em seguida. Caio senta no banco da frente. O caminho não foi muito demorado, mas foi assustadoramente silencioso. Consigo observar a casa já conhecida quando saio do automóvel, com Aurora na minha frente. Ela tem dificuldades para abrir a porta com a chave, mas consegue.

Entro pelo local aquecido, e escuto sons de latidos. Desvio o olhar e noto uma figura dourada correndo em nossa direção. Star balança seu focinho quando nos avista. Me abaixo e fico quase de joelho, para acariciar seus pelos dourados, enquanto ela se aninha mais perto de mim. Dou um sorriso, e me levanto com uma última carícia na cachorra.

— Como você cresceu. — Digo com um sorisso.

— Querem alguma coisa para comer? — Caio pergunta da cozinha.

— Tô de boa — Respondo ao colocar as mãos no bolso.

Aurora não diz nada. Ela começa a subir às escadas sem nem olhar para trás. Não tenho tempo de ver a expressão de Caio enquanto a sigo pela escada de mármore.

O que Alice pensaria se visse eu no quarto dela nessas horas da noite?

Procuro não pensar muito nisso. Se bem que não é a primeira vez que estou em seu quarto, mas agora é diferente de certo modo. Tento afastar o pensamento da cabeça à medida que encosto a porta do quarto dela atrás de mim.

Ela ficou em silêncio o tempo todo.

Meus pés rapidamente se movem em sua direção como se não conseguissem ficar parados. Estou me aproximando do seu banheiro quando ela bate a porta na minha cara, o que me faz parar subitamente, quase batendo a cara na porta.

Patrick Pervertido, quer me ver tomar banho, é?

Não consigo impedir meus lábios de se curvarem em um sorriso.

— Não seria um problema para mim. — Murmuro com a voz rouca enquanto passo as mãos pelo cabelo.

Escuto uma pequena risada soar do lado de dentro, algo dentro do meu peito se aquecendo ao som. Aproveito o momento para ver melhor seu quarto, mesmo com o breu noturno, consigo discernir os objetos.

Observo a escrivaninha desarrumada. A fotografia do falecido pai. Ao lado um espelho que dá para ver o corpo todo. Tem sapato por todos os lados, Star deve ter aprontando isso - observo o rastro que a cachorra deixou.

Me sento na cama macia, e sinto cheiro de âmbar roçar levemente em meu nariz. Tento não pensar no fato de Aurora estar tomando banho a poucos metros de mim e o efeito que isso causa em meu corpo. Massageio meus músculos doloridos conforme dou um suspiro de alívio. Não consegui dormir direito esses dias, a não ser quando Aurora está ao meu lado.

Por um momento, fico apenas em silêncio. Como se fosse até meu próprio quarto, praticamente é, pois passo mais tempo aqui do que nele próprio.

Da última vez em que estive aqui, Aurora estava bêbada em meus braços, eu estava com tanta raiva que poderia destruir um prédio inteiro. Tento afastar o pensamento na mesmo hora em que Aurora abre a porta do banheiro, e sai de lá, vapores de água quente reverberam pelo local, enquanto ela caminha em minha direção.

AURORA

Tiro o restante da minha roupa deixando-a no chão, com suspiro de alívio entro na água quente, ficando submersa. Não escuto nem um ruído vindo do quarto. Há apenas o som da água caindo em minha pele. Pego meu sabonete líquido de âmbar ao massagear na pele; os músculos doloridos reclamam ao movimento, mas se tornam ágeis.

Tento não pensar muito nos acontecimentos recentes. Do outro lado da porta está assustadoramente silencioso. Abro a porta e encontro Patrick sentado na minha cama. Ele parece distraído e arregala um pouco os olhos quando me vê.

— O que você tanto olha, hein, Patrick pervertido? — Pergunto e me sento ao seu lado.

— É melhor você não me chamar assim — Patrick ameaça com humor enquanto passa as mãos pelo cabelo.

— Ou o quê?

— Ou você terá motivos concretos para tal apelido.

Patrick me lança um sorriso malicioso. Encaro-o incrédula e dou uma cotovelada nele. Tento não demonstrar o efeito que seu comentário causa em mim, e sinto um calor fervilhar por todo meu corpo, mas não dou espaço para isso.

Olho para o céu noturno que está nublado. Me recordo da primeira vez em que Patrick esteve aqui. Me pergunto como algum pude sentir medo de Patrick? Ele não faz mal a nem um inseto.

Penso no quanto nossa "amizade colorida", por assim dizer, tem evoluído. Seja lá o que temos, não é só amizade, mas não é nada oficial.

— Obrigada — Digo.

— Pelo o quê? — Patrick pergunta ao levantar as sobrancelhas.

Por ter me ajudado e ficado comigo quando a única coisa que eu queria era sumir. Por reconstruir meu coração.

— Por tudo. — Digo com sinceridade ainda encarando-o.

— Não há o que agradecer, Aurorinha. — Ele diz com humor. Mas sei que está pensando sobre isso.

Me aninho na seda macia de minha cama. Patrick ao meu lado se levanta e vai em direção à janela. Levanto meu olhar para ele à medida que observo seu corpo esguio se movendo.

— Você poderia passar a noite aqui? — Pergunto insegura — Patrick se vira É encontra novamente meu olhar. O menino de cabelos negros parece pensar um pouco, mas logo assente com a cabeça e se aproxima. Seu andar silencioso é silêncio, apenas uma figura no quarto penumbroso.

Não quero passar a noite sozinha com meus tristes pensamentos. E, Patrick, apenas tê-lo por perto faz eu perceber que nem tudo está perdido. Ele deita ao meu lado e se aninha no lençol.

— Boa noite, Aurorinha.

— Boa noite, Patrick Pervertido.

Com cuidado para não acordar Patrick me solto de seu abraço.

Caminho com passos leves para fora do quarto. Encontro Caio na cozinha. Ele está com orelhas debaixo dos olhos, como se não tivesse dormido a noite.

Meu irmão fica tenso ao notar minha presença.

— Você está chateada por eu ter mentido para você? — Ele pergunta, depois de um silêncio constrangedor.

Meu irmão para o que está fazendo e me encara com olhos cautelosos.

— Não. — Dou um pequeno suspiro — Quem sou para te culpar por isso?

Já menti muitas vezes, e não me orgulho por isso, mas foi para proteger as pessoas que eu amo. Com meu irmão foi a mesma coisa. Caio assente e parece distraído.

— Eu preciso te perguntar algo. — Digo, ao me aproximar mais da bancada.

— O quê? — Caio levanta as sobrancelhas.

— Vem cá — Pego sua mão e o guio para se sentar.

— Você conhece Laura há mais tempo do que eu, certo?

Desconfiado, ele assente lentamente com a cabeça.

— Por acaso você já viu ela com uma menina ruiva. Como se fossem amigas? — Tento parecer casual, mas minha voz treme.

Caio parece pensar um pouco.

— Sim. Eu sempre via ela no intervalo com uma menina de cabelos vermelhos como fogo... Mas isso já faz muito tempo. As duas pareciam bastante unidas.

Não consigo impedir minha boca de abrir com surpresa.

Então o que Melissa disse é verdade...


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