Capítulo 25
PATRICK
Entro pela janela do quarto de Aurora com ela em meus braços, tentando controlar a raiva que cresce em meu peito. Richard é um desgraçado por sequer pensar em fazer aquilo. Eu teria o matado se ela não estivesse presente.
Melissa foi quem me chamou. Ela disse que era urgente, que precisava de ajuda. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, nem como ela tinha meu número...
O quarto está totalmente escuro, a não ser pelos feichos de luz que entram pela janela. Aurora apoia seu corpo semi-inconsciente em meus ombros, e tento não tropeçar no chão enquanto a carrego. Ao chegar na cama, a coloco suavemente sob o colchão macio.
— Patrick... — Aurora sussurra ao aninhar-se confortavelmente na cama.
Olho para ela demoradamente ao levantar da cama e ando de um lado para o outro pelo quarto.
— Por que você foi naquela festa? Por que você foi com ele? — Pergunto, sem contornar minhas palavras.
Ela solta um resmungo que não consigo identificar, então me sento ao seu lado.
— Aurora, se algo acontecesse a você, se eu não tivesse chegado a tempo... — Não me permito completar o raciocínio.
Meu coração está apertado dentro do peito, e sinto um nó se formar em minha garganta enquanto passo a mão por meus fios do cabelo.
— Patrick... — Ela murmura novamente, puxando-me para si. Aurora parece diferente... a voz arrastada, quase sexy. Sinto um imediato cheiro de âmbar quando ela se aproxima ao ponto de me beijar, mas a impeço segurando seus braços.
Richard deve ter batizado a bebida dela.
Desgraçado. Mil vezes desgraçado.
— Eu quero te b-beijar — Aurora sussurra tropeçando nas palavras. Ela solta um risinho e meus olhos se arregalam em seguida.
Estamos tão próximos, que posso sentir seu hálito roçar-me a pele. Meus batimentos cardíacos aceleram dentro do peito, e algo dentro de mim se abranda diante da ideia...
Mas não é certo.
— Não. Você está bêbada. — Digo firme ainda segurando-a.
— Mas... eu quero. — Ela me encara com olhos brilhantes, cheios de expectativas.
Eu suspiro e a afasto carinhosamente uma última vez.
— Acredite. Eu também quero... Muito. Mas não agora.
Noto um brilho de decepção em seus olhos castanhos-dourados. Quando ela não diz nada, puxo suavemente a coberta para cobri-la. Aurora resmunga um som indecifrável antes de suas pálpebras se fecharem e ela dormir profundamente.
Beijo sua testa e a observo dormindo. As feições dela se suavizam. Não deixo seu lado por nenhum segundo... Não até ter certeza de que ela está bem.
AURORA
Acordo com uma dor latejante na cabeça. Me levanto rapidamente para ir ao banheiro, chegando a tempo de vomitar toda a bebida de ontem. À medida que os minutos se passam eu vou me recordando do que aconteceu... Do que o Richard queria fazer comigo. Do que eu queria fazer com o Patrick.
Massageio as têmporas para suavizar a dor, e quando tenho certeza que não resta mais nada para vomitar, levanto-me com cuidado e vou tomar banho.
O banho foi duradouro. Uma tentativa de limpar as mãos e a boca de Richard em minha pele.
Não deveria ter ido àquela festa...
Desço as escadas e vejo Star balançando seu focinho animada. Também encontro meu irmão sem camisa na cozinha preparando algo para comer.
— Muitas garotas da escola gostariam de ver essa visão. — Revelo para meu irmão, me referindo ao seu peito nu.
— Pelo visto você gostou da festa. — Caio abre um sorriso ainda me encarando — Tá até de ressaca.
Resmungo ao me sentar. Qualquer tentativa de controlar meu humor se evapora devido ao comentário.
— E essa panqueca? — Pergunto quando encaro a comida na frigideira.
— É minha, mas se você quiser eu faço uma para você.
— Não obrigada. Eu tô sem fome.
Ele me encara por longos minutos com cautela. Dou de ombros.
— Tem certeza? Você adora minhas panquecas.
— Eu disse que não quero! — Falo um pouco alto demais.
— Aurora?! — Meu irmão grita de volta, mas já estou subindo para meu quarto.
Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas sinto tanta raiva e frustração que preciso descontar em alguém. Mesmo que essa pessoa seja meu irmão e que ele não tenha nada a ver com isso.
Por sorte, Richard faltou à aula. Quando saímos da sala de aula para o intervalo, Patrick me perguntou como eu estava.
— Eu tô bem, Patrick. — Digo para o menino sentado ao meu lado, no fundo da escola.
— Tem certeza? — Ele pergunta pela milésima vez, o que me faz encará-lo com raiva.
Flashbacks de ontem à noite vêm à minha mente. Me aproximo mais dele.
— Sim. — Engulo em seco antes de prosseguir — Obrigada por ontem.
Entrelaço as mãos em frente ao corpo e sinto minhas bochechas esquentarem. Patrick sempre me defende quando preciso. Ele apenas assente lentamente enquanto me analisa com sua expressão indecifrável.
— De qualquer forma, não preciso que você me defenda. — Repito as mesmas palavras de quando nos esbarramos no corredor do colégio.
Patrick também parece se lembrar do momento.
— Não foi o que pareceu. — Ele responde risonho em um tom provocativo.
Em seguida, revelo um sorriso, o qual ele retribui.
— Quando nos esbarramos no corredor... — Murmuro de repente ao encarar meu moletom favorito, sem nenhuma mancha de mostarda agora — Eu estava escutando "Fragile" de Kygo e Labrinth. Gosto muito dessa música.
— Posso escutar?
Assinto e pego meu celular. Seleciono a música e entrego um fone para ele. O outro coloco na minha orelha esquerda. Patrick engole em seco e se encosta mais no assento, fazendo com que nossos braços se toquem devido à proximidade. Aperto o play.
" 'Cause baby I'm fragile, fragile, fragile...
— De agora em diante é minha música preferida.
Sorrio. E ele parece fazer o mesmo.
— Sobre ontem... — Ele começa, inseguro depois de um silêncio constrangedor — Sobre você querer me beijar...
Fico em silêncio.
— O quê?
— Você sabe o quê, Aurorinha. — Ele se aproxima mais, o que faz minhas sobrancelhas arquearem — Você queria mesmo me beijar?
Engulo em seco.
— E se eu quisesse?
Apenas uma suposição...
Patrick me encara surpreso, como se não esperasse por essa resposta. Ele fica em silêncio, com seus olhos escuros levemente arregalados.
— Eu lhe concederia. — Ele sussurra perto da minha orelha quando se recompõe — Se for o que você realmente quer... Eu o farei com muito prazer.
O hálito quente dele roçando de leve minha pele.
Pelos deuses...
— Por quê? — Pergunto subitamente, acabando com o clima — Por que se importa tanto comigo?
Eu realmente quero saber. Não consigo imaginar alguém gostando de mim. Ainda mais alguém como Patrick.
— Aurora... — Ele sussurra depois de um suspiro — É tão difícil acreditar que alguém goste de você? Que alguém realmente se importe com você?
Prendo o fôlego na garganta. Não tem como fugir dessa conversa, mas apenas o observo, sem saber o que dizer.
— Eu quero isso. — Ele continua quando percebe que não me oponho
— Sinto que você também quer. Mas eu vou respeitar sua decisão se a resposta for não.
Já se passou tanto tempo desde que nos conhecemos. Meses. Patrick sempre esteve ao meu lado, me apoiando e protegendo.
— Patrick, o que eu falei ontem é verdade. Continua sendo. Eu só precisei de um pouco de álcool para ter coragem de falar. Mas é o que eu sinto.
O menino ao meu lado me encara com seus olhos negros significativos, mais brilhantes que as estrelas. Ele abre a boca para dizer algo. Mas logo fecha como se não soubesse ao certo o que falar.
— Quero te levar para um lugar. — Ele diz por fim, com um sorriso nos lábios.
— Você e seus lugares...
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