BÔNUS_ FELIPE E GAEL

FELIPE

Estou bebendo suco de laranja, enquanto tomo banho de sol. Solto um suspiro conforme encaro as ondas do mar se quebrando no limite da praia. Vou andando para o bar, para comprar mais suco de laranja, pois pretendo passar o resto do dia assim. Quando eu entro no estabelecimento quase levo as mãos para minhas orelhas devido ao som ensurdecedor das conversas.

Há todos os tipos de pessoas aqui, mas o lugar é amplo o suficiente para ninguém ficar espremido.

— Mais um suco de laranja, por favor. — Digo com um sorriso, para a garçonete.

— Certo. Espere um minuto. — Ela diz e sai.

Me acomodo mais na bancada e fico esperando, mas o lugar está cheio, e já se passaram mais de "Um minuto". Passo as mãos pelo cabelo quando sinto uma presença ao meu lado. Me viro e encontro um garoto, que aparenta ser apenas alguns anos mais velho que eu. Ele tem cabelo colorido, mais voltado para o roxo, e olhos verdes. É bonito.

— Ora, ora. — Digo com um sorriso lupino nos lábios — O que temos aqui... — Levo meus óculos de sol para cima da minha cabeça, apenas para encará-lo melhor.

— Qual seu nome? — O rapaz pergunta, um meio sorriso em seus lábios.

— Sou o Felipe. E você?

Bem na hora que ele iria responder, a garçonete se aproxima de onde estamos, e me dá o suco que eu pedi.

— Aqui está — Ela diz com um tom neutro — E você? — Questiona para o homem ao meu lado. Vendo-a assim, me lembro de quando eu trabalhava no garçonete Briar. Velhos tempos aqueles, mas agora...

— Algo mais forte. — Ele pede, com a voz grave.

A garçonete dá uma pequena confirmação e caminha em direção às portas duplas do restabelecimento, onde fica reservado os alimentos.

— Então... — Me viro novamente para ele — O que você está fazendo aqui?

— Só de férias... E você?

— O mesmo. Acho que vou me divertir muito hoje  — Digo, com um sorriso sacana. O menino de cabelo roxo e olhos verdes abre a boca para responder, porém algumas vozes nos interrompe.

"Eu já disse que não estou interessado." — Escuto uma voz masculina dizendo.

"Mas é só uma bebida... você é homem e eu sou uma mulher... Somos bonitos e jovens. Vamos!" — Continua uma voz, agora feminina.

"Sinto muito, de verdade, mas não estou interessado." — Responde a mesma voz, firme, mas, ao mesmo tempo, contida.

Essa voz...

Eu conheço essa voz.

— Olha — Me viro para o menino ao meu lado — Esquece o que eu disse. Eu tenho que ir agora. Espero que você se divirta.

Sem mim, não preciso dizer.

O garoto, cujo nome não sei, me enncara com olhos confusos e posso dizer que levemente magoados, mas a garçonete trás bebida dele, ele pega e vai embora. Quando encarei ele novamente, pude perceber que já estava dando em cima de outro garoto.

Solto um suspiro e bebo um gole da minha bebida, apenas um, mas é suficiente. Caminho em direção às vozes que estava escutando. Logo encontro um moreno de cabelos escuros, a sua frente se encontra uma menina de cabelo loiro, ela parece bêbada. Ao lado dela, há outras duas garotas, suponho que suas amigas. As três estão em volta dele. Como se ele fosse uma espécie de presa.

A loira agarra o pulso de Gael, ela está com ad bochechas vermelhas de tanto beber, e suas amigas também.

Como ele chegou a essa situação?

Me aproximo de onde Gael está. Ele não percebe que me aproximei. Não conversamos desde que nossas mãos se tocaram na casa de Aurora, na véspera de ano novo. E, faz tanto tempo, e mesmo assim... Esse sentimento só cresce cada vez mais.

— Ei! — Digo com uma voz mais séria que o normal — Seguro o pulso da menina e afasto ela para longe de Gael — Ela me encara supresa, ri e passa a mão pelo cabelo.

— Quem é... você? Quem pensa é? — Ela tropeça nas palavras devido o alto consumo de álcool.

— Eu sou o namorado desse rapaz que você não para de encher o saco! — Digo, mas ainda assim há um pouco de raiva na minha voz, tanto que até eu poderia acreditar ser verdade.

Sinto Gael ficar tenso ao meu lado. Ele parece estar prendendo o fôlego. Não me encarou desde que cheguei.

— Namorados? Vocês... dois? — Ela ri de novo, tropeça e quase cai com em cima das garotas — Besteira. Vocês dois são homens.

Passo a mão pela meu cabelo e solto um suspiro cansado.

— Algum problema nisso? Há algo de errado nisso? — Pergunto, tentando manter a calma. Não estava esperando uma resposta decente, de qualquer forma.

A mulher sorri. Quase de modo assustador.

— Isso é uma.... piada? Qual o problema de vocês? — Ela tropeça mais uma vez em seus próprios pés — Não tem graça.

É claro que não tem graça.

Aperto meu passo em direção à ela. Tento controlar minhas respirações, mas tudo o que eu sinto é raiva. Raiva das pessoas que não entendem que o amor é livre. Que somos livres para amar quem quisermos.

Mas antes que eu continue ao encontro dessa menina, sinto um aperto em meu pulso. Me viro e vejo Gael me encarando como se dissesse "Deixe isso para lá." Ele está todo de preto, mesmo aqui.

— Eu não preciso aguentar isso. — Respondo frustrado. Ele ainda segura meu pulso — Nem você.

— Eu sei... — Gael responde com a voz baixa, um pouco triste — Eu também não. Mas não vale a pena. — Ele levanta os olhos para a menina que desmaiou de tanto beber — Isso não vale a pena. Sempre terá pessoas querendo dizer quem devemos ser. Querendo nos mudar. Mas não devemos nos importar. — Ele coloca as mãos no bolso — Se nos importamos significa que eles estão certo. E, acredite, eles não estão.

Assinto lentamente, ainda refletindo sobre suas palavras. No entanto, ele está certo. Não vale a pena convencer as pessoas de quem somos.

— Eu só quero sair daqui. — Gael murmura e desvia o olhar.

Ele deve estar se sentindo desconfortável, e com razão. Diferente de mim, Gael é o tipo de pessoa que gosta de passar despercebida. Ele não gosta de atenção e lugares lotados.

— Algum problema aqui? — Aquele menino de cabelo roxo reaparece — Me desculpe pelo o que minha namorada causou a vocês — Continua, envergonhado, desviando do meu olhar.

— Namorada? — Questiono confuso.

— É. — Ele dá de ombros e aponta para a menina de cabelo loiro que agora a pouco estava fazendo um escândalo.

Encaro-o, tentando entender a situação, mas decido não pensar muito nisso. Algumas pessoas simplesmente tem medo, por isso elas figem ser alguém que não são. Eu entendo, mesmo que não pareça eu já fui assim também. Sinto Gael se aproximar mais de mim. Agora sou eu quem prende a respiração.

— Tudo bem. — Gael diz para ele — Ja estamos de saída. Ele segura minha mão e encaro-o surpreso devido o toque.

Por fim, me puxa para mais perto e sinto meu coração acelerar. Olho uma última vez para o garoto de cabelo roxo, ele encara nossas mãos entrelaçadas com tristeza. Talvez esteja se lamentado por algo que quer, mas tenha medo do que isso possa significar. Das consequências. Ou das opiniões negativas que isso possa gerar.

Mas eu não.

Eu sei muito bom o que quero.

Gael me puxa para um lugar afastado da multidão. Ele se aproxima mais de mim, apenas uma figura envolvida pela penumbra. Consigo sentir sua respiração quente em meu rosto.

— Por que fez isso? — Questiona.

— Isso o quê? —  Pergunto, não respondendo sua pergunta, mesmo sabendo do que se trata.

— Falou que éramos namorados? Por quê?

Ele estava tão perto que era difícil me concentrar.

— Qual o problema disso? Não acha eu atraente o suficiente? — Minha voz é sarcástica, com uma ponta de mágoa.

Gael fica em silêncio. Ele parece estar travando uma batalha consigo mesmo.

— Só me diga, por favor. Isso é real? Ou é coisa da minha cabeça? A gente... esse clima. Esse sentimento...

Gael se aproxima mais e sinto todo meu membro se enrigecer. Engulo em seco. Esse lugar escuro, Gael está tão próximo... Eu não consigo me controlar.

— Me responda... — Diz novamente, com a voz tensa. Gael segura meu rosto. Meu mundo para. Ele se aproxima mais.

— Eu me segurei por muito tempo. Mas você faz com que eu me sinta livre. Com você eu posso ser assim.

Fico em silêncio, sem saber o que dizer. Mas não precisei. Gael se aproxima e me beija.

— O que você está fazendo? — Pergunto, à medida que afasto ele, confuso.

— Esse tempo todo eu venho pensando em você. Você não tem noção do quanto tentei lutar contra isso. Mas não consegui, não poderia. — Gael passa a mão pelo meu cabelo — Eu estive me reprimindo por muito tempo. Eu estive em luto pelo meu ex-namorado por muito tempo... Mas agora eu sei o que eu quero. E não é apenas uma noite. Eu quero você amanhã, e depois de amanhã. Ele beija minha clavícula e pescoço. — Felipe, você não tem noção do efeito que causa em mim. Você é como uma droga, e, eu estou tão viciado.

Estremeço. Não consigo me conter, seguro seu colarinho e o puxo para mais perto. Agora, quem o beija ele sou eu.

Pelo visto, realmente, vou me divertir hoje a noite.

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