Capítulo 1




Os pedregulhos no solo e os galhos das árvores machucavam meus pés descalços e meu corpo nu, mas eu não me importava — o que me afligia era o som dos passos deles se aproximando. Eu descobri naquele dia o que era ter medo: a sensação paralisante à qual eu me recusava a ceder; os sentidos em alerta me preparando para lutar ou fugir; a voz sussurrando na minha cabeça que eu deveria parar e permitir que tudo acabasse logo, mas que eu tentava ignorar enquanto corria pela floresta, perdido.

Felizmente outra voz gritava que eu não deveria desistir. Então, com a face ensanguentada e dor irradiando de tantos pontos, que eu não sabia dizer qual doía mais, continuei correndo sem rumo enquanto tentava traçar um plano.

O asfalto empoeirado que surgiu alguns metros à minha frente foi como o pote de ouro que eu tinha de alcançar no fim do arco-íris. Eu estava quase lá quando ouvi a voz dele seguida de um clique que congelou os meus passos.

Com um sorriso cruel, ele me perguntou:

— Você achou mesmo que poderia fugir de nós, fedelho? Que seria capaz de fugir de mim? — Aproximou-se e, com um movimento repentino, agarrou o meu cabelo e lançou minha cabeça contra uma árvore, me deixando atordoado, o que transformou o trajeto de volta à clareira em um borrão.

Eu ouvia vagamente as ordens que ele dava aos outros, ainda entorpecido pela pancada na cabeça, e só entendi o que a palavra estrela fazia perdida na frase ao ver uma estrela incandescente na ponta de uma haste de ferro.

— Isso é pra você não esquecer de dar o recado ao papai. Mandei fazer especialmente pra você. Se você pintar, vai ficar uma tatuagem muito foda.

O brilho sádico naquelas íris negras me fez descobrir a resposta à pergunta feita mais cedo: eu nunca seria capaz de fugir dele, não importava quanto tempo se passasse. Ele ficaria marcado na minha memória assim como aquela estrela ficou marcada na minha pele.

Além do medo, naquele dia eu também descobri o que era dor. Uma dor que extraiu da minha garganta um grito tão alto, que espantou os pássaros da floresta, mas não alto o suficiente para extravasar o desespero e a angústia que me assolaram.

Acordei sobressaltado e com o coração galopando tanto, que chegava a doer. Olhei em volta e percebi, aliviado, que estava em meu quarto e que não havia acordado os meus pais, algo indicado pelas luzes apagadas. Levei uma mão ao peito e o massageei, tentando diminuir a dor, e o toque me fez perceber o quanto a minha camiseta estava suada. Corri a língua pelos lábios e confirmei pelo gosto salubre que a minha face estava coberta de lágrimas.

O habitual desconforto que permanecia era garantia de que eu não conseguiria mais dormir naquela noite, então levantei para tomar um banho, desejando que ficar imerso na banheira me livrasse dos vestígios daquele pesadelo.

No caminho até o banheiro, um brilho dourado chamou minha atenção. Ao me aproximar, vi uma medalha refletindo a luz da lua, o que fez algumas lembranças flutuarem na minha mente: a minha imensa felicidade naquele dia, os sorrisos orgulhosos dos meus pais...

Aquilo parecia ter acontecido há muito tempo, em uma vida que não era mais a minha.



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