Capítulo 4 - Você não sabe?

oie mores, tudo bom?

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Esse capítulo contém conteúdo sensível. Eu narro uma crise de ansiedade e pode ser que cause desconforto, cuidado ao ler.

A cena começa quando os personagens estiverem sentados para assistir o desfile.

Boa leitura

~^•^~

Externar sentimentos com palavras é um ótimo meio de conseguir alívio e existem algumas formas de usar esse recurso. O primeiro deles é a escrita, podendo ser expresso por algo mais íntimo e secreto como um diário, onde se detalha os acontecimentos do dia a dia, o segundo é contando para alguém de confiança e o último seria um terapeuta. Neste momento, ambos os recém casados usufruiam da segunda opção.

Jimin estava sentado na parte externa do café "Lunna Mochi" conhecido por ter os melhores macarons de todo país. O ômega esperava seu melhor amigo, sua perna estava inquieta e ela balançava tentando aliviar a ansiedade que dominava seu corpo naquele instante. Taehyung estava atrasado e isso só piorava tudo, já estava para pedir mais um suco natural quando ele finalmente cruzou a entrada, andando sorridente em sua direção.

— Perdão pelo atraso, mas seu irmão e Hoseok resolveram discutir como duas crianças e eu tive que intervir. — Começou a se justificar, se acomodando no assento após deixar a bolsa na cadeira ao lado. — Inclusive, seu irmão está furioso e vai comer seu fígado na próxima vez que se encontrarem.

— Não imaginei que pudesse ser diferente, mas você sabe que foi tudo muito rápido e eu não poderia correr o risco de já não estar casado quando contasse, meus livros estavam em jogo! — negou com a cabeça, mas ao ponderar um pouco, deixou um suspiro cansado despontar de seus lábios. — E pensando agora, me pergunto se fiz a escolha certa...

— Hey, você escolheu isso pelo seu sonho, a tia Jihyun vai publicar todos os seus livros. Mas me conta, o que aconteceu para você estar pensando isso? — Taehyung segurou sua mão, analisando sua expressão.

E enquanto o loiro pensava na melhor forma de explicar, seu cônjuge se encontrava com o corpo deitado de forma que com certeza acabaria resultando em dores musculares, no sofá de seu melhor amigo. Namjoon estava o encarando, a expressão fechada em tédio, sentado em uma poltrona à sua frente, com um caderno em mãos.

— Vocês brigaram? Não acha que o errado da história, nessas circunstâncias é você? — perguntou não se importando se suas palavras irritaram ou não o moreno a sua frente.

— Claro que não, o casamento também é meu e eu tinha o direito de escolher a cor da decoração. — Bufou, cruzandos os braços de forma infantil. — Acontece que ele implicou com cinza!

Na manhã de sexta-feira, o casal tinha marcado de procurar alguns locais para a cerimônia e festa de casamento e aproveitaram para conversar com a decoradora, tudo estava ocorrendo bem, pelo menos até ela perguntar sobre suas ideias.

— Então, antes de tudo, vocês têm alguma cor em mente? Tradicionalmente o branco é acompanhado da cor escolhida pelo casal, mas faremos da maneira que vocês desejarem.

— Cinza. — O alfa respondeu sem consultar o ômega, de forma automática.

— Não, eu não quero cinza. — O ômega deixou claro, seu tom saindo indignado. — Acho que já convivo demais com essa cor.

— O que você tem contra cinza? — questionou pasmo pela resposta do ômega. — É uma cor bonita e tem uma vasta variedade de tons!

— Não tenho nada contra, mas não quero ela no nosso casamento. — Deu de ombros, enfatizando o "nosso". — Prefiro qualquer outra cor a cinza e preto.

— Pois nenhuma outra cor é do meu agrado fora essas duas."

— É sério que vocês brigaram por uma cor? Não acha que já está um pouco grandinho pra esse tipo de coisa? — Namjoon queria bater no outro, pois sinceramente, brigar por aquilo era fútil demais.

Jungkook bufou, passando a língua pela bochecha, pensando em seus argumentos, tentando voltar à maturidade, enquanto Jimin terminava de contar o ocorrido para Taehyung.

— Nós meio que nos desentendemos há uns dias, tudo começou quando ele me beijou... — Mordeu os lábios ao lembrar.

Brincar com o sexto sentido não é aconselhável, pois quase cem por cento das vezes ele não falha. Normalmente beijar alguém quando só se tem atração é tranquilo para uma pessoa que não necessita de sentimentos envolvidos para realizar o ato, todavia naquele momento se sentia muito esquisito, nunca tinha sido beijado daquela forma e não é como se a ação em si fosse ruim e sim a forma como ela estava sendo executada, parecia que Jungkook não estava lhe beijando por vontade própria, como se ele não estivesse confortavel com aquilo.

Deslizou as mãos para os ombros do mais alto, lhe empurrando de forma sutil, separando-os, recebendo uma expressão confusa.

— As crianças estão aqui. — justificou, andando em direção a cozinha.

— Você simplesmente deixou ele lá? — Taehyung arregalou os olhos, se controlando para não rir alto.

— Foi muito estranho, eu não sei explicar, mas eu tenho certeza que ele não queria me beijar, eu não consegui ficar confortável, então parei. Ele tentou outras vezes, mas eu acho que o traumatizei, de alguma forma. Acredito que a discussão de hoje tenha sido fruto dessa questão mal resolvida. — Apoiou o rosto na mão, olhando para os carros que passavam pela rua. — Particularmente estou com ódio de cinza, tudo naquela casa é dessa cor e é tão mórbido, é tão sufocante ficar o tempo todo rodeado por ela e ele quer colocá-la até no nosso casamento? Eu até poderia pensar a respeito, isso se Angie não tivesse me contado que era a cor favorita da mãe dela. Posso ser compreensivo, mas aceitar tudo? Isso já é demais. Eu me sinto tão deslocado, minha vontade às vezes é dizer que eu cuido das crianças e está tudo bem em sermos só amigos.

Taehyung mordeu os lábios, pensativo e ponderou bastante sobre como responder. Porém Namjoon não parecia estar com tanta paciência assim e estava pronto para dar um esporro em Jungkook.

— Mais cedo você mencionou que seu lobo está com raiva. — Recapitulou, se ajeitando na poltrona. — No caso ele quer agradar o Jimin e você não está conseguindo fazer isso.

— Não sinto mais muita coisa dele, na verdade é a primeira vez que ele se manifesta. Não sei por que ele se sente tão irritado, e daí que o Jimin foge da gente? Não somos parceiros, não temos um casamento normal, só não queria que as crianças notassem. — Parecia se conter para não xingar o mundo enquanto expressava seus sentimentos.

— Considerando que você vive em torno do ponto "Yoona", o que está afastando ele não é você em si, e sim as suas atitudes. Muito provavelmente está passando a mensagem errada, nossos atos dizem muita coisa e ele pode estar sentindo tudo que você esconde internamente. Você mesmo me disse que estava pensando na sua ex quando aconteceu, que fez tudo por conta das palavras da sra. Jiwon, imagino que não tenha sido uma sensação boa, até eu não te beijaria. — Riu ao final do comentário.

— Obrigada pela compreensão. — agradeceu sarcástico. — Muito gentil da sua parte.

— Mas é verdade, você tem que ver as coisas de outra forma, vai ser pior se continuar assim e não acharem uma forma de desenvolver seus sentimentos. Um casamento sem amor é horrível! — Tomou fôlego, pronto para tocar no ponto sensível de tudo aquilo. — Não se supera um amor do nada, eu sei disso, mas a Yoona não está mais entre nós, ela morreu. Não vai voltar nunca mais, ela não vai aparecer do nada na sua casa falando que foi tudo uma pegadinha. Sei que a raiz do seu sentimento é forte, vocês se conheciam a quase dezesseis anos, mas acabou. Sim, você tem todo o tempo do mundo para entender isso, mas entenda que não pode fazer isso parado, a vida não tá nem aí se dói ou não. Encare isso como um recomeço, tente ao menos e lembre-se que nos votos de casamento finalizamos com "até que a morte nos separe".

Jungkook piscou diversas vezes, impactado com as palavras do amigo, tentando assimilar tudo. Enquanto isso, Jimin ainda esperava o conselho do acastanhado, que depois de alguns segundos tomou fôlego e disse:

— Quando aceitou tudo, você já sabia que não seria fácil. E eu sei que você compreende o lado dele, mas nem todo mundo recebe informações da família, antigamente ninguém comentava essas coisas e sei que por conta do que aconteceu a sete anos atrás não é simples para você, mas quem corre risco de vida é ele. Acredito que com uma boa conversa, tudo se resolva e na verdade tem que resolver, não é? Vocês tem que criar algo além do atrativo, seu lobo não pode rejeitar o dele, vai acabar com o que sobrou do bichinho. Sabe como um lobo que já marcou outro fica, os perigos que isso envolve, não é brincadeira Jimin, estamos não só falando da morte de uma vida, mas sim de uma alma.

Residência Jeon
21/04 - 13:56

Após uma conversa que ajudou a arejar os pensamentos, o ômega chegou em casa se sentindo mais leve. Ainda era um pouco estranho entrar ali e pensar que estava de volta em seu lar, se perguntava se um dia essa sensação sumiria. Chegando na sala, Evangeline estava sentada de frente para Angie, a pequena estava extremamente concentrada montando um quebra cabeça, estando no começo.

— Você voltou! — constatou empolgada e se levantou de forma ágil, correndo em sua direção. — Bem vindo de volta, papa!

— Demorei muito? — perguntou pegando a pequena no colo.

— Não, Evangeline soube me distrair bem. — Abraçou o pescoço do ômega. — Como foi o almoço com seu amigo?

— Muito bem e você já almoçou? — Colocou a menina de volta no chão, olhando ao redor, procurando pelo caçula da família, encontrando-o deitado sobre o sofá, desperto e envolto por várias almofadas para não caísse enquanto mordia um brinquedo em formato de ursinho.

— Angie comeu tudo direitinho e o Wonho quis somente meia mamadeira, senhor. — A beta relatou, se levantando de onde estava sentada.

— Estou orgulhoso, Angie. — Sorriu para a pequena, logo voltando a dirigir a palavra à morena. — Evangeline, muito obrigado por olhar eles e me desculpe bagunçar a sua rotina de trabalho.

— Sr. Jimin, que isso! Estou aqui para lhe servir, eu ganho para isso. — Sorriu tímida e pediu licença antes de subir as escadas para continuar a organizar a casa.

— Evangeline é muito fofa, não é? — Angie voltou a se deitar no chão, de barriga para baixo, procurando pela peça que encaixa com as que já tinha conseguido montar. — Pensei que você fosse voltar só no fim da tarde. Quando a mamãe saia, ela normalmente demorava.

— Eu disse que não ia demorar. — Acomodou-se no sofá, observando Wonho se babar inteiro, provavelmente eram os dentinhos coçando e tentou não estranhar a informação que a pequena tinha lhe dado. — Você deu trabalho para sua irmãzinha, Wonho?

— Ele é quietinho. — Ela contou orgulhosa. — Dawon e Jiho choravam o tempo todo.

— Eles são agitados. — A atenção do ômega estava em brincar com o bebê, Wonho vivia lhe olhando, como se estivesse encantado. — Você gosta de ter muitos irmãozinhos, Angie?

— Gosto, ao menos eu não fico só até crescerem. — Estava concentrada entre duas peças, analisando-as indecisa. — Papai veio aqui almoçar... vocês brigaram?

— Não, por quê? — Jimin respondeu sem olhá-la.

— Porque ele ficou bravo por não te ver por aqui, questionou a Evangeline e quase assustou o Wonho. — Balançou as pernas no ar, enquanto encaixava a peça. — Ele fica assim quando briga com alguém. Eu pensei que fosse com você.

— Não brigamos, fique tranquila. — respondeu e durante segundos sufocantes, tudo ficou em silêncio. — Que horas seus irmãos chegam dos cursos? — Mudou de assunto.

— Acho que às quatro, é quando a Evangeline serve o café.

Foi uma surpresa para o loiro saber que aos sábados os cinco alfinhas faziam cursos de língua e treinavam esportes, ele pensou que pelo menos aos sábados descansariam um pouco mais.

— Eles têm uma vida tão legal, podem estudar e brincar de formas diferentes, treinam para isso e eu fico aqui em casa, é injusto, por que só eu sou ômega? — desabafou chateada. — Queria ser uma alfa!

— Ora Angie, ser ômega não te limita em tudo. Quando você crescer mais um pouquinho, vai entender o que é sociedade e o que ela infelizmente faz conosco, mas as coisas estão mudando, sabe? Tenho esperanças que em breve uma revolução aconteça, na Era dos Humanos acontecia algo parecido com as mulheres e elas conseguiram conquistar seus direitos, sabia? Um dia ômegas poderão fazer tudo que alfas fizerem, tudo que precisamos é dar um passo de cada vez e se você não pode estudar numa escola, eu vou te ensinar tudo que eu sei. — Se levantou, vendo uma xuxa de amarrar cabelo na mesinha de centro, agarrou e se sentou ao lado da loira. — Sinta orgulho do que você é, pois você trás muita alegria para essa casa por ser você.

— Como não limita, Jimin? — Ela abaixou o olhar. — Eu não posso estudar nada fora de casa.

— Na verdade, pode. Você pode ser bailarina, cantora e musicista. — Penteou os fios loiros com os dedos para cima, amarrando com a xuxa. — Pronto, não vai mais te atrapalhar.

— Você acha que o papai me deixaria fazer essas aulas? — questionou com os olhinhos brilhando em expectativa.

— Acredito que sim, e tenho certeza que depois que aprender a ler, vai se destacar mais rápido!

— Você é o melhor presente que eu ganhei nesses três meses, papa! Obrigada por amar o papai! — Sorriu banguela e Jimin quase derreteu de amores.

Quatro horas em ponto, as crianças atravessaram a sala com toda energia, correndo para deixar as mochilas na sala e logo correram para a sala de jantar, sendo impedidos por Evangeline de comer até higienizar as mãos. Depois de estarem os cinco de barriguinhas cheias, encontraram Jimin e Angie sentados na sala e a pequena se distraia com uma animação que passava na televisão.

— Bem vindos de volta. — O loiro sorriu para eles. — Vocês têm algum dever? Querem ajuda?

— Mas você é um ômega... — Jiho comentou, segurando a mão de seu irmão gêmeo, estranhando a situação.

— Sim, mas eu sou um pouquinho diferente, meu bem. — Tombou a cabeça para o lado.

— Você sabe falar espanhol? — Junghwa acabou por se aproximar.

— Não é o meu melhor domínio, mas sim. — Assentiu vendo a pequena pegar seu caderno.

— Estou confusa com algumas conjugações.

— Você pode me ajudar também? — Dawon se aproximou com os olhinhos brilhando.

— O Jimin pode ajudar em tudo, ele é incrível! — Angie declarou, batendo palminhas animadas.

Enquanto Jimin passou a ajudar os pequenos com o dever de casa, tendo o embalo seguido por Somin e Jiho, Junghyun ficou de cara fechada, fazendo os seus sozinho, o mais longe possível. Ele não acreditava que seus irmãos se vendiam por tão pouco, como poderiam trair a própria mãe? Não podiam aceitar tão facilmente alguém para substituí-la assim? Era muito revoltante.

Quando os deveres ficaram prontos, foi a hora do banho, um momento em que os gêmeos usaram para aprontar um pouco, deixaram o banheiro praticamente alagado. Jimin sorriu amarelo para Evangeline, mas conseguiu dialogar com os pequenos com calma e eles pediram desculpas, controlando a vontade que estavam de correr nus pela casa e já vestindo os pijamas como seus outros irmãos, exceto pelo mais velho.

— Vou tomar banho quando quiser e não por que você mandou! — Deu a língua para o loiro, entrando no quarto e fechando a porta.

Jimin ponderou e até bateu na porta algumas vezes, tentando dialogar com o pequeno, mas seus esforços foram em vão. No fim, preferiu dar espaço e tentar novamente em algum outro momento, quando Junghyun estivesse pronto.

Quando Wonho adormeceu, o loiro aproveitou para ir se arrumar, sabia que os gêmeos e as trigêmeas estavam brincando e Evangeline estaria observando de longe. Iria para um evento importante, definitivamente se perguntava qual seria a melhor opção de roupa e no fim, optou pelo famoso simples, mas chique.

Desceu as escadas já pronto, segurando o casaco com o braço esquerdo, entrementes, Jungkook adentrou a residência acompanhado de uma moça baixinha, corpulenta, de cabelos loiros e rosto muito jovial, não aparentava ter mais de dezessete anos. Ela tinha uma grande semelhança com a mãe do alfa, provavelmente era irmã do lúpus.

— Estou de volta! — Jungkook anunciou atraindo a atenção das pulguinhas, quando Jimin já estava no último degrau, sorrindo para a cena.

Houve uma grande onda de empolgação por parte das crianças, mas não por conta do pai e sim por conta da loira, os cinco em uníssono gritaram animadamente "tia Jiwoo!". Durante alguns longos segundos ocorreu uma sessão de abraços e ela parecia tão feliz quanto eles.

— Eu estava com muita saudade de vocês, meus bebês, mas poderiam dar uns minutos para a titia? Eu gostaria de conhecer o novo membro da família, logo vou brincar com vocês. — Ela garantiu, colocando Jiho no chão.

De forma muito educada, as pulguinhas obedeceram, voltando para a sala e se entretendo. Jimin sorriu gentilmente se aproximando, entendendo a mão para a ômega.

— Você deve ser o Jimin, não tem noção do quanto minha mãe fala de você! — Jiwoo contou, depois de soltar a mão do ômega. — Muito prazer em te conhecer, eu sou Jiwoo.

— Ela é minha irmã mais nova, Jimin. — Jungkook se apressou em explicar, algo dentro de si dizia que deveria esclarecer a questão. — Como vamos sair e eu não queria chamar uma babá, Jiwoo se ofereceu para fazer companhia para os sobrinhos.

— Eu não sou uma tia desnaturada afinal de contas! — Sorriu orgulhosa.

— Estou encantado em conhecê-la! — Jimin respondeu rindo baixinho.

— Eu vou tomar banho e me trocar, volto em alguns minutos e podemos ir. — Jungkook avisou antes de subir para o segundo andar.

— Jiwoo, você gostaria de comer algo? Se não me engano, a Somin pediu para que Evangeline fizesse uma torta de morango. — Jimin perguntou de forma educada, guiando a loira para se sentar na sala.

— Não obrigada, Jungkook e eu passamos em um café antes de virmos. — contou. — Yoona deve se revirar no túmulo em momentos como esse...

— Por que diz isso? — perguntou confuso.

— Ela era muito chata, gostava muito de sair ditando regras sobre tudo. Ela dificilmente deixaria Somin sair da rotina de alimentação, não sei porquê ser tão rigorosa. — Revirou os olhos, negando com a cabeça. — Estão se dando bem?

— Quem? — Gostou do fato dela ter mudado de assunto, mesmo após a informação.

— As pulguinhas.

— Wonho e a Angie são os mais próximos, os gêmeos e a Junghwa e Somin acho que estão sendo bem neutros... quem tem me preocupado um pouco é Junghyun, mas acho que com o tempo ele vai lidar melhor com a situação.

— Compreendo, ele é um pouquinho mais difícil, com jeitinho você conquista ele. — Deu de ombros. — Mas me conte um pouco sobre você.

~*~

Quando Jungkook voltou ao térreo, Junghyun estava ao seu lado, descrevendo todo o seu descontentamento com toda a situação para o pai e quando chegou à sala, o pequeno odiou ver Jiwoo aos risinhos com o mais novo intruso na família.

— Por que está com essa cara maninho? — Jiwoo perguntou ao irmão, já notando toda a situação. — Espero que o Junghyun não tenha mentido sobre nada para você, afinal ele é o meu menino de ouro.

— Nem tanto, tia. Ultimamente ele tem se recusado a fazer coisas básicas, como tomar banho e jantar. — Angie dedurou. — Ele não gosta muito do Jimin e faz isso por implicância.

— Cala boca, Angie! — Rosnou para a irmã que se encolheu para a atitude.

— Junghyun! — Jungkook lhe repreendeu. — Não pode rosnar para sua irmã, isso é feio! Não entende que machuca ela dessa forma?

— Ela me irrita!

— Isso não é motivo para rosnar! É uma atitude muito mal educada, o que sua mãe faria se visse isso? Acha que ela ficaria feliz? — Colocou as mãos na cintura. — Peça desculpas a sua irmã.

— Mas pa-...

— Nada de mas, você sabe que está errado. — Dessa vez cruzou os braços. — Jun!

— Ah, está bem! — Bufou. — Desculpa, Angie...

— Jun, será que a tia pode conversar com você? — Jiwoo andou até o pequeno, pegando em sua mão. — Vejo vocês mais tarde! — Piscou para os outros dois.

Após se despedirem e estarem andando pelo jardim, o silêncio se tornou extremamente incômodo. Estavam com uma situação mal resolvida e tinham de conversar sobre aquilo, Jimin até mesmo pensou em tentar iniciar o diálogo, mas hesitou com medo de que as coisas ficassem piores e não tinha ideia de quando aquele evento acabaria.

Melhor não arriscar. Foi o que ele pensou, entretanto, Jungkook não parecia compartilhar da razão naquele momento e tomou uma das piores decisões de sua vida levado pelo estresse de toda a situação.

— Muito responsável da sua parte deixar duas crianças sozinhas para ir almoçar fora. Bom saber que não posso confiar em deixar meus filhos com você. — As palavras simplesmente pularam de sua boca e, de certa forma, surpreenderam Jimin.

— Engraçado, eu não deixei eles sozinhos. — argumentou calmamente. — Muito pelo contrário, antes de sair eu conversei com a Angie e expliquei os motivos de não levá-la comigo, ela sendo muito inteligente e compreensiva me entendeu e disse que tudo bem, que eu deveria me divertir. Eu somente não levei o Wonho porque não queria estressar ele e veja bem, demorei menos de duas horas para voltar. E eu talvez deva te lembrar que não deixei eles sozinhos, estavam sob a supervisão de uma das suas funcionárias mais antigas. Me diga, Jungkook, em que momento eu fui irresponsável?

Tomado pela raiva por ter sido refutado, praticamente bufou e novamente, falou sem pensar no peso de suas palavras:

— E se acontecesse algo com eles? Deixei eles sobre a sua supervisão, Evangeline não é paga para ser babá e se fosse para ela cuidar deles, eu estaria casado com ela, não acha?

O teor alfista em suas palavras foi um choque para si mesmo, pois após terminar de pronunciar, o peso de tudo caiu sobre si e ele até mesmo não se reconheceu. Arregalou os olhos e antes que tentasse consertar, ouviu um riso irônico e o ômega ao seu lado revirou os olhos, negando com a cabeça.

— Ah, Jungkook... — Jimin lhe olhou, sorrindo de lado. — No restaurante você me disse que nosso nível de intelectualidade era igual, mas vendo agora, eu devo discordar, visto que ao menos consegue colocar as coisas na balança, um casamento é só para ter alguém que cuide das crianças? Não era mais fácil pagar uma babá? Ou ao invés de se casar com um desconhecido, por que não casou com a Evangeline como disse? — Passou as mãos pela gravata do outro, puxando um pouco para perto do seu rosto. — Eu não estava desesperado para me casar, nunca estive. Então, se eu sou só alguém para cuidar dos seus filhos, anulamos o casamento rapidamente, sem cerimônias religiosas, sem marcas... — Apertou a o nó da gravata. — Por que não faz isso? Afinal, para ser presidente de uma empresa, você deve saber fazer boas escolhas e até o momento, não te vi mostrar essa capacidade.

Por fim, sorriu mais uma vez, tendo certeza de que o alfa não conseguiria verbalizar mais alguma coisa, pois ficou estático. Entraram no carro, não expressando sequer um ruído durante todo o caminho. Jimin estava com a cabeça erguida, sem sequer uma gota de arrependimento em seu corpo, não que ele se considerasse o dono da razão, apenas não iria aceitar ser tratado como um mero objeto. Já Jungkook se encontrava extremamente envergonhado, tinha sido injusto e ele reconhecia isso, não deveria ter falado nada com os nervos à flor da pele, mas não tinha como voltar atrás e ele pediria desculpas em algum momento, mas naquele instante era melhor deixar os ânimos se acalmarem.

Ao chegarem ao local do evento, abriu a porta para o esposo, deveria agir como um jovem apaixonado, ali estava cercado pela imprensa, tinham de manter as aparências e deu graças a Deus por Jimin agarrar em seu braço, sorrindo para as câmeras. O ômega com certeza estava com raiva, mas era um ótimo ator.

Após subir as escadas e adentrarem, foram interceptados por um homem alto, os cabelos tingidos de loiro e usava um elegante terno vinho.

— Sinceramente, achei que você não viria. — expressou com sinceridade. — Este deve ser o Jimin, muito prazer, sou Kim Namjoon, diretor executivo e estou quase me graduando em psicologia.

— É um prazer! — Apertou a mão que lhe era estendida educadamente. — Estou feliz em conhecer mais um pouco sobre o mundo do Jungkook. Não quero ser indelicado, mas por que não viríamos?

— Ah, é meio bagunçado. — Riu baixinho. — Achei que o Jungkook não viria, ele sempre foge dos desfiles.

— Não imagino porque, são divertidos. — comentou, mas naquele momento pode observar uma troca de olhares tensa entre os dois alfas.

— O Jin aceitou seu convite? — Jungkook questionou, mudando de assunto.

— Sim, ele foi ao banheiro e provavelmente vai assaltar a comida, se aproveitando do meu passe, obviamente. — contou bem humorado. — Ele não teve tempo de comer muito hoje.

— Estranho, você nunca me contou a profissão dele e-...

A fala de Jungkook foi interrompida no momento em que a alfa de cabelos tingidos de cobre, usando roupas despojadas nas cores rosa e lilás se aproximou.

— Jungkook, é bom te ver! Namjoon, quanto tempo e o senhor eu não conheço, mas olá. — Ela cumprimentou sorridente.

— Lalisa, como vai? — Jungkook respondeu educadamente. — Este é Jimin, meu esposo.

— Fico feliz em saber que já tomou esse passo, mas não vou tomar muito do seu tempo, gostaria de saber se a proposta da coleção solo ainda está de pé, eu gostaria de começar a de inverno o quanto antes, quando podemos fazer uma reunião?

— Você pode pedir para a Kim adicionar um horário na minha agenda desta segunda. Acredito que você não esteja com muito tempo agora, logo será exibida sua coleção com a Marie, podemos debater a questão depois.

— Agradeço, parabéns pelo casamento e nos vemos segunda, meninos!

— Ela não é aquela nova estilista em ascensão? — Jimin indagou curioso. — Yoongi comprou a última coleção solo dela.

— É sim, estamos com ela há dois anos, ela estagiou da L'atelier Encanto e nunca saiu. — Namjoon respondeu.

Dado assunto findado, os três andaram até o auditório, onde Jimin foi deixado sozinho por alguns instantes nos lugares reservados.

— Já conversaram? — Namjoon iniciou o diálogo, enquanto entravam no escritório.

— Não, na verdade... eu piorei as coisas. — explicou, em seguida contando o ocorrido.

— Que vacilo, fazer totalmente o contrário de conversar! — Cruzou os braços, descontente. — Seu casamento vai longe dessa forma!

— Eu sei, eu sei. — suspirou, terminando de olhar os papéis e por último, pegando um passe. — E não precisa ser irônico, eu vou conversar com ele e pedir desculpas, só acho melhor acalmar os ânimos antes.

Namjoon pareceu aprovar a decisão, mas não se poupou em lhe chamar de idiota ou imbecil mais umas duas vezes enquanto Jimin estava sentado observando ao redor, sendo surpreendido por um moço alto, bonito, os cabelos pretos alinhados usando um conjunto de roupas negro, sorrindo em sua direção. Ele sorriu educadamente, mas não tinha ideia de quem era ou quais eram suas intenções.

— Boa noite, tudo bem? — O estranho cruzou as pernas, olhando atentamente.

— Boa noite, estou ótimo e você? — respondeu com o tom neutro.

Estava com certo receio de Jungkook chegar ali e ver a cena, depois do que ouviu mais cedo, capaz do alfa o acusar de traição e ele definitivamente não gostava de pensar nessa hipótese, pois não havia sonho no mundo que o fizesse ficar com alguém assim. Seu medo maior era o simples fato de que não conseguia identificar a classificação da pessoa ao seu lado, seu cheiro era confuso, com certeza não era um beta, mas seu lobo não conseguia associar nem a um ômega ou um alfa.

— Eu não quero parecer intrometido ou algo do tipo, mas me diga, você entrou com o Jungkook aqui... por acaso, você é o ômega que ele se casou? — Sorriu ao perguntar, não parecendo ligar realmente para como aquilo soaria.

— Ahn... sou sim. — respondeu um pouco sem jeito.

— Oh, maravilhoso, sabia que minha intuição não estava errada! — Bateu leves palminhas como se fosse um vilão de animação que estava articulando um plano mirabolante. — Por acaso ele-...

— Resolveu deixar o buffet de lado? — Foi interrompido pela fala de Namjoon que sentou logo ao seu lado e Jungkook passou pelos dois, ficando à esquerda de Jimin. — Se sente melhor agora que comeu? Você tem certeza que não há chance alguma daquela possibilidade ser viável?

— Se você vier me encher com isso de novo, eu volto pra lá. — Revirou os olhos. — Não, não tem, fiz o teste, tudo negativo. E você acabou com a minha chance de extrair informações vergonhosas do Jungkook!

— Com um amigo desses, quem precisa de inimigos? — Jungkook perguntou passando o cordão do cartão pela cabeça de Jimin, atraindo a atenção do ômega. — Seu passe vip. — explicou ao ômega.

— Obrigado e vocês conhecem ele?

— Seria estranho me casar com quem não conheço. — Namjoon respondeu em um tom brincalhão.

— Lembra que eu perguntei de alguém quando chegamos? Então, esse é o Jin.

— Na verdade é Seokjin, muito prazer! — Ergueu a mão para Jimin, que apertou rapidamente, sorrindo de forma aliviada. — Pode me chamar de Jin, não ligo, mas não me deram tempo para saber quem é você.

— Park Jimin. — falou e logo percebeu o erro. — Na verdade, Jeon Jimin.

— Ainda bem que tanto o meu quanto o sobrenome do Namjoon são Kim, não tive esse problema de confusão, mas é mega normal. — afirmou apoiando o rosto na mão. — Você é filho da dona da editora Rose et Violet, não é?

— Como sabe?

— Ele é espião, sabe de tudo. — Jungkook brincou.

— Na verdade eu apenas me intero dos nomes da mídia!

A conversa perdurou pelos próximos minutos, até que o desfile começou e algumas coisas complicaram. Enquanto os estilistas apresentavam seus trabalhos e as modelos trajavam os exemplos, Jungkook passou a se sentir inquieto. Fazia tempo que ignorava todo aquele mundo e normalmente evitava eventos assim, não pode ignorar este por seu pai estar fora do país e ter que manter as aparências. A situação toda foi um gatilho certeiro para uma lembrança dolorosa.

Ela era clara em sua mente, como se tivesse acontecido há cinco minutos ao invés de cinco anos. Recordava de estar terminando os detalhes de um vestido, o último de sua mais nova coleção, se sentia inseguro com ela, mas ainda sim considerava ter feito um bom trabalho e estava feliz por vê-la completa, teria de apresentar ela na LE no dia seguinte e assim se inscrever para o próximo desfile.

Após terminar de colar a última pedra ouviu a porta ser aberta e sua esposa adentrar o ateliê, os olhos a princípio curiosos, mas logo toda sua expressão pareceu descontente.

— Querida, eu já estou terminando, mais uns cinco minutos e-...

— Está pensando em apresentar isso? — Ela perguntou cética, achando um verdadeiro absurdo.

— Tem algo de errado? — Engoliu em seco, sentindo o nervosismo crescer dentro de si. — Não gostou?

— Se não gostei? Bem, não me leve a mal, mas... isso aqui está ridículo, vai passar o maior vexame com isso. — Yoona foi sincera. — Estão piores que trapos, acho que você perdeu a mão.

— Como assim... trapos? Não acha que está exagerando um pouco? Pode não ser a minha melhor criação, mas...

— Eu apenas penso no seu bem, querido. — Interrompeu-o, se aproximando dos modelos. — Como sua esposa é meu dever te ajudar no que estiver ao meu alcance e isso aqui prova que você não nasceu para ser estilista, está realmente horroroso.

Jungkook não se viu capaz de formular uma resposta, estava em choque após assimilar o que lhe era dito.

— Vou tentar te ajudar, talvez se a gente tirar esses babados... — refletiu puxando o tecido do modelo com brusquidão, fazendo o alfa arregalar os olhos. — E esse aqui, sem as mangas...

Yoona começou a tirar tudo que desagradava dos modelos, no fim ela simplesmente rasgou todos, impossibilitando conserto e principalmente jogando todo trabalho do outro no lixo.

Sinto muito, mas não posso arriscar acabar com o nome da família. Ser estilista não é mais para você, sei que logo vai achar sua verdadeira vocação. Estarei esperando você se limpar para o jantar!

Lembrou de como sentiu uma profunda tristeza em ver tudo destruído, reduzido a nada e depois de ouvir sua musa dizer que era horroroso, foi como algo romper em seu interior. Chorou durante horas de madrugada, longe de todos. Depois do ocorrido, o ateliê foi apagado da casa, tornando-se apenas um cômodo vazio que ele nunca mais entrou.

Desde então ele evitava desfiles e tentava ao máximo não ver as criações de outros estilistas, pois era como uma tortura.

— Tudo bem? — Ouviu Jimin perguntar e deu atenção ao ômega, notando que tinha agarrado sua mão de repente.

Apenas assentiu, soltando a mão dele. Suas mãos estavam suando, sua respiração estava saindo do ritmo conforme seu coração batia mais rápido e uma sensação horrível tomava sua barriga. Passou a mexer a perna inquieto, sentindo o ar mais denso, como se o oxigênio não entrasse da devida maneira em seus pulmões. O nervosismo crescia a cada modelo que desfilava, sua mente repetia de maneira tortuosa o som dos tecidos rasgando e depois indo ao chão.

De ímpeto, levantou-se e saiu dali, seguindo pelo corredor até estar longe do amontoado de pessoas, sentindo um profundo desespero crescer. Afrouxou a gravata, tentando melhorar a oxigenação e passou a andar de um lado para outro, até que se virou de frente às bancadas da sala que tinha entrado, batucando as unhas rapidamente tentando espantar toda aquela sensação.

Ouviu o barulho da porta, se assustando a princípio, vendo Jimin adentrar. A presença do ômega não lhe acalmou, pois se recordou da briga, da situação em que estava e tudo piorou, ao ponto das lágrimas caírem sem ele sequer notar.

— Hey... — Jimin foi rápido e cauteloso em se aproximar, cuidadosamente lhe virando e segurando em seu rosto, analisando seu estado. — Olha pra mim. — pediu vendo a inquietude do outro, ouvindo-o soluçar. — Respira, você precisa respirar. — disse calmamente, acariciando as bochechas que estavam inchadinhas. — Inspira pelo nariz, segure um pouquinho e expire. — Fez junto do alfa, ajudando-o a se concentrar e durante dois minutos ele repetiu o exercício.

Apesar de estar dando certo, o alfa queria muito chorar e sentia que se não fizesse isso, iria sufocar, por isso envolveu a cintura do ômega, lhe puxando para perto e deixou sair, baixinho, sentindo tudo doer.

— Tudo bem, eu estou aqui. — Jimin acariciou seus fios de cabelo, ouvindo os fungares contra seu ouvido.

E durante quase dez minutos foi assim, até o desespero parecer voltar ao alfa e ele sentir que precisava interferir novamente.

— Vamos fazer uma brincadeira? Juro que é legal. — Sorriu sugestivamente.

Jungkook ficou confuso, aquele não parecia um bom momento para brincadeiras, mas não queria brigar, muito menos estava em condições de contrariar algo, por isso apenas acenou positivamente com a cabeça.

— Me fala cinco coisas que está vendo. — pediu.

— A porta... a pia... o espelho... — Soluçou, observando ao redor. — Uma máquina de costura e agulhas.

— Agora me diz quatro coisas que você pode tocar.

— Seus brincos, sua blusa, minha blusa e... seu rosto. — Tocou em cada canto que mencionou.

— Três coisas que consegue ouvir?

— A música, sua voz e os passos das pessoas do lado de fora.

— Dois cheiros que consegue sentir?

— Pêssego... — Se aproximou do ômega, sentindo a fragrância mais de perto. — E... lavanda.

— Por último, um gosto que consegue sentir.

— Enxaguante bucal, o de menta.

O que Jungkook não notou é que ele tinha que pensar nas respostas e assim sua mente saiu daquele ciclo de lembranças, sua atenção foi desviada para outra coisa, cessando o choro e consequentemente os soluços. Seu corpo estava mais relaxado, já não tremia tanto e o ar pareceu circular normalmente.

— Se sente melhor? — O loiro perguntou, sorrindo pequeno e colocando os fios de sua franja para trás. — Quer água?

— Por que você... — ponderou se realmente deveria perguntar.

— Por que te procurei? — completou ganhando um sim mudo. — Porque você não parecia estar bem.

— Pensei que estivesse com raiva.

— Não vou dizer que estamos no melhor clima, mas já somos grandinhos demais para ficar fazendo joguinhos sendo que podemos conversar. — Deu de ombros. — Você quer conversar? Se sente bem para isso?

— Quero, Jimin eu-... — O ômega negou com a cabeça, lhe interrompendo.

— Vamos para outro lugar, aqui tem muitos paparazzi e principalmente jornalistas loucos por um furo.

— Mas eu não posso deixar o evento agora, Jimin. — Protestou.

— Claro que pode, você é o CEO, pode fazer o que quiser.

— Não é bem assim, meu pai está acima de mim e eu tenho uma família para sustentar.

— Ele não vai te demitir, não por estar me agradando, afinal somos recém casados e todo ômega precisa de atenção. — Sua fala estava repleta de manipulação, é claro que ele estava apenas repetindo estereótipos colocados em cima de sua classe.

— Genial...

Bistrô da mama
21/04 - 21:38

Quando saíram da L'atelier Encanto consentiram sobre ir comer algo, como ainda não tinham jantado, encontraram um bistrô do centro e agora estavam sentados em uma mesa, esperando os pedidos chegarem. O silêncio entre eles reinava e a atenção estava na musiquinha de ambiente e nas paredes feitas para lembrar uma casa de campo de madeira, as mesinhas eram redondas e cobertas por toalhas xadrez.

Dando uma última olhada no movimento da rua pela janela de vidro, os olhos escuros do alfa caíram sobre Jimin e um suspiro saiu de seus lábios.

— Eu sinto muito por mais cedo, não deveria ter falado daquela forma e muito menos usado aquelas palavras. — Começou, realmente se sentindo arrependido. — Eu sei que pedir desculpas não muda o que eu disse, mas eu não penso daquela forma, foi realmente na hora da raiva...

Jimin ouviu atentamente, se ajeitando na cadeira e colocando os braços na mesa, tentando se sentir mais confortável.

— Não é o que você me disse naquela hora que me chateou, Jungkook... acho que eu também peguei pesado nas palavras, mas infelizmente não posso dizer que me sinto arrependido, pois não é verdade. Eu sei bem que nosso casamento não é baseado em amor, se tem algum sentimento romântico eu só consigo pensar na atração, eu imagino o que levou você a aceitar a proposta que provavelmente veio da minha mãe, mas eu não entendo, se você aceitou, ao menos esperava que você estivesse disposto a não fazer do nosso casamento o seu antigo.

O desabafo do ômega fez o alfa ficar pensativo, analisando todos os pontos para poder responder.

— Me desculpa pelo cinza, foi totalmente idiota da minha parte. — pediu inicialmente.

— Eu quero deixar bem claro que eu não desgosto da cor, mas definitivamente não gostaria de ter ela na cerimônia.

— Eu entendo, como eu disse... foi idiota. — negou com a cabeça e perguntou o que estava lhe confundindo durante aquele tempo. — Você falou que sabe o motivo por eu ter aceitado isso... qual é?

— Não morrer. — Jimin respondeu como se fosse óbvio e se assustou ao ver Jungkook franzir o cenho, espantado. — Não é por isso?

— Como assim "não morrer", Jimin? — Piscou algumas vezes incrédulo, desde quando estava correndo risco de vida?

— Você não sabe as consequências de perder um companheiro para a morte? — Tombou a cabeça para o lado, confuso e ao receber um aceno negativo, mordeu os lábios pensando em como poderia explicar. — Um especialista em ligação seria o indicado, tudo que eu sei é baseado no que minha mãe passou... bem, sabemos que há maneiras de se anular uma marca, da forma consensual onde as duas pessoas decidem encerrar o laço e em média, seis meses depois ela desaparece.

"Mas quando a razão da separação é a morte, as coisas são um pouco mais complicadas e existem duas vertentes, no caso de ser uma doença terminal existe a opção de romper a ligação dos lobos consensualmente.

Nossos lobos são descritos como almas e como entidades que estão dentro de nós, eles não tem ética ou moral, fazem de tudo para o nosso bem estar, mas a fraqueza da paixão é algo que os cegam, quando a marca é feita e nos tornamos companheiros de alguém, eles levam muito a sério seus papéis. O motivo da ligação ser rompida em seis meses consensualmente é que eles levam o que queremos como peso final...

Mas lobos não sabem lidar com a morte, quando companheiros morrem eles entram em profunda depressão e pouco a pouco vão se degradando, consequentemente vamos ficando doentes, pois eles não querem viver em um mundo sem seu par.

É por isso que existem pessoas atualmente que são contra atar, pois não é uma decisão que deve ser tomada sem ser muito bem pensada, tem seus benefícios, mas também tem consequências.

Normalmente depois da perda por morte é comum que as pessoas procurem novos parceiros, criam laços além do atrativo e atam novamente... é a única cura conhecida, tem como retardar o efeito com remédios, mas só uma nova marca reestrutura totalmente."

Jungkook estava estático, ele nunca tinha ouvido falar naquilo. Esse era o motivo de ter sentido aquela dor dilacerante antes mesmo de ouvir dos médicos que sua esposa havia falecido? Era por esse motivo que sentia toda aquela angústia além do próprio luto?

— Ninguém nunca me falou isso, tem certeza que é verdade?

— Bom, é cientificamente comprovado e minha mãe passou por isso, eu sou filho do segundo casamento dela, o caçula da família. Gustavi, Clair e Yoongi são filhos do seu primeiro casamento, o pai deles morreu de aneurisma, há vinte e sete anos... minha mãe adoeceu uma semana depois, ela diz que era uma dor insuportável, ela desejava morrer a continuar passando por aquilo. A mente dela foi se perdendo, foi como a quase morte de sua alma, ela se casou às pressas com meu pai, eles ataram e eu fui feito. — contou, mordendo os lábios, tenso.

— Então... eu posso adoecer a qualquer momento?

— Bem, sim... — O olhou entristecido. — Eu realmente achava que o motivo de querer se casar comigo era evitar isso, pois como eu disse, é o comum.

Jungkook passou as mãos pelos cabelos, se sentindo nervoso, não era o tipo de notícia fácil de digerir. Por um momento pensou em sua mãe, na forma como ela insistia naquele casamento, em como ela pressionava para que desse certo. Aparentemente Jiwon não era uma pessoa tão ruim assim, muito provavelmente não queria lhe assustar e por isso não tinha mencionado sobre isso.

Um medo descomunal tomou seu corpo, ele não podia morrer, oras tinha sete filhos para criar, eles tinham acabado de perder a mãe e iriam perder o pai? Estava fora de cabimento, não podia deixar aquilo acontecer.

A comida chegou e Jimin parecia estar lhe dando espaço para digerir tantas informações. Comeu quase de forma compulsiva, tentando não se entregar ao limbo novamente. Não parecia estar funcionando e quando sentiu a respiração desregulada, a mão do ômega foi colocada sobre a sua.

— Hey, eu sei que não é algo fácil de ouvir e muito menos uma situação fácil de lidar, mas você não está sozinho. Eu também tenho meus motivos para ter aceitado, sabe? E eu aceitei sabendo dessa condição, sabendo que envolveria uma marca e por mais que eu não tenha mais uma visão de contos de fada sobre um casamento, eu não quero que tudo seja na base do fingimento.

Seus olhos brilhavam e estava sendo totalmente franco, usava um tom que de alguma forma acalmou um pouco Jungkook.

— Eu sei que a sua história com ela deve ter sido a mais linda que existiu, sei que não é fácil, que fazem só três meses e por mais que agora eu não saiba quais foram os seus motivos, eu também não sei quanto exatamente é o tempo até os sintomas físicos aparecerem e quanto tempo os remédios vão nos dar, mas eu espero que até lá a gente já tenha criado um laço.

Esperou para ver se o alfa iria responder algo, quando viu que não, prosseguiu:

— Jungkook a gente pode construir a nossa relação com calma, temos muito o que conhecer um do outro ainda, eu só te peço que não faça nada que você não queira fazer. — O alfa entendeu bem a indireta e acabou engolindo em seco, recordando das palavras de Namjoon. — Eu não sou o tipo de pessoa que preciso estar apaixonado para trocar afeto, mas por favor, só me beije e me toque se você quiser realmente beijar e tocar.

~^•^~

Olá meus amores, eu tardo, mas não falho. Esse capítulo é bem intenso, temos vários acontecimentos importantes. Eu gosto muito mais desse do que a primeira versão que escrevi dele, particularmente esse e o próximo tem um lugar especial no meu coração.

Me digam o que acharam

As tags do twt são #mamaeschantagistas e #ataldamark2

amo vocês e até a próxima!

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