Capítulo 21 - Para mim
Sair da terapia de manhã era sempre renovador. Eu gostava de como saia mais leve, mesmo que com grandes reflexões para a próxima semana. Tinha que ter coragem para enfrentar nossos demônios internos, confesso que eu dava para trás algumas vezes, a realidade dói e ela não espera que você esteja pronto para encarar ela de peito aberto, muito pelo contrário.
Eu tinha uma missão naquele dia, por isso aproveitei que Jimin tinha saído com Wonho, as pulguinhas estavam na escola e fui ao meu ateliê, com papel e canetas na mão. Fui aconselhado a conversar comigo mesmo, mas deveria ser com o meu eu do passado e não sei que melhor maneira de fazer isso que escrevendo uma carta.
"E aí, Jungkook? Tu é um pirralho ainda, não sabe muita coisa e tá perdido nesse mundo né? Pode ser estranho, mas eu sou seu eu de vinte e sete anos e por mais que você não vá receber essa carta, precisa saber de algumas coisas.
Então vamos recapitular e refletir, está bem?
Você é o segundo filho da família Jeon, a esperança da família quanto aos negócios. Jaehwa odeia o ramo da moda e Jiwoo quer ser atriz, a bola de estilista ficou para você, parabéns! Ainda bem que você ama isso, não é?
Você sempre amou ir até a L'atelier Encanto, era o melhor momento do seu dia observar os estilistas trabalhando. Se perder em tecidos e observar os desenhos tomarem forma era como se você tivesse encontrado um diamante. Foi por conta desses momentos que você descobriu que era isso que fazia seu coração bater mais forte.
Você odiou a ideia de começar a estudar em outro país, eu sei que você preferia ficar com a mamãe, aos dez anos ainda éramos muito grudados nela. Estudar em Londres teve suas desvantagens e algumas vantagens, eu juro.
Um lado muito positivo é que você conheceu uma alfa incrível, o nome dela é Kate Evans. Kate vai ser a pessoa que vai cuidar de você, a pessoa que vai te levantar quando cair, porque você não consegue falar dos problemas que começou a ter para sua família.
O lado negativo é que você não vai saber filtrar muito bem o que é certo do que é errado. Você vai ser bem babaca em alguns momentos, dê graças aos deuses por ter Kate para te tirar das roubadas que se meteu.
Quando voltar para Paris nas primeiras férias, você vai conhecer a ômega que vai fazer seu coração pulsar com um sorriso. Sabe, você deveria ter enterrado seus sentimentos por ela, deveria ter respeitado os sinais que a vida te deu e sim, com vida quero dizer a mamãe. Tudo bem, primeiro vocês se tornaram amigos e estava tudo bem se apaixonar de longe, o importante é que você voltou pra Londres e tentou se envolver com outras pessoas.
Parabéns pelas suas primeiras experiências, pelo menos foi bom, mas você deveria ter esquecido a Yoona nesse próximo ano e não correr para encontrar ela assim que as férias de verão começaram. E você teve uns cinco verões para deixar de ser trouxa, mas não, você foi lá e fez um vestido de presente e se declarou. Quando ela disse que retribuia você amou, né? Lamento informar, tudo falso. Ela conseguiu nos enganar direitinho e aparentemente a gravidez do Junghyun não foi tão acidental assim, sabia?
Deveríamos mesmo ter escutado a mamãe, ela sabe mesmo das coisas, mas tudo bem, você deixou seus hormônios falarem mais alto e ok, logo de primeira já é pai. Ficou tudo bem, mas deveria se socar pela irresponsabilidade, sua sorte é que tem uma família maravilhosa e mamãe te deu uma casa e você pode fazer faculdade.
Ah, se não ficou claro, você deixou Londres depois que engravidou a Yoona e aí não temos mais Kate na nossa vida, pelo simples fato da Yoona implicar com ela... sim, eu tô te dizendo, a vida deu trezentos sinais, você que é lerdo! Mas calma, piora!
Depois que o Junghyun nasceu, você não segurou o Júnior no meio das pernas e conseguiu engravidar sua esposa de novo, um ano depois, de trigêmeas! Sim, o surto é bem-vindo, a sua sorte é que você já recebia um salário bom para dar conta de tudo, mas também recebia chifres em troca, lindo não?
Você estava feliz na faculdade e tinha que fugir com seus amigos para se divertir e claro, esconder um dos seus melhores amigos, já que Yoona também não gostava dele e você queria preservar a boa convivência.
O lance é que três anos depois, você já tava lindamente formado, coisa mais linda, estrelinha em ascensão, mas aí vieram os gêmeos e Yoona achou que seria uma ótima ideia acabar com o seu psicológico e ainda fazer você achar que não era um bom estilista, ela rasgou a sua coleção na sua frente, gratuitamente e você deixou. Mais uma vez, agradeça que seu pai quis que você assumisse a parte administrativa da L'atelier Encanto, mesmo depois de você brigar com ele por ele tentar te alertar que Yoona estava passando dos limites após saber o que aconteceu com a coleção que era para estar na mesa dele.
Sim, durante cinco anos você definhou, teve crises de ansiedade que você não sabia que eram crises e sentiu sua alma ser destroçada pela traição e mesmo assim não percebeu, tudo bem, eu sei que você pensou que era tudo por amor, que ela fez a sua cabeça, eu sei que você foi a vítima.
Mas sabe, tem como piorar, pega uma água e respira fundo. O Wonho nasceu e logo depois a Yoona morreu, é... ela morreu. Praticamente te levou junto, você ficou três meses morto dentro do seu escritório, com seus filhos sozinhos lidando com o luto. Olha só, pai do ano, parabéns campeão! E tudo bem, hoje você reconhece que errou e tenta não fazer de novo, isso é o importante.
Como você não conseguia dar um jeito na sua vida, sua mãe tomou as rédeas, ela te forçou a se casar. Sim, você imaginou que era protagonista de um filme de comédia romântica e que a pessoa seria o pesadelo na vida dos seus filhos, cara, você viajou muito. Pois diferente de nós, mamãe sabe escolher pretendentes!
Jimin foi a luz na sua vida, a sua sorte nesse caso é que ele quis muito realizar o sonho dele e aceitou se casar contigo. Ele é compreensivo, aguentou muita coisa para estar ao seu lado, foi uma batalha bem complicada, sabe? Você continuou cego por bastante tempo.
Nosso loirinho é o ômega mais cheiroso que existe e acredite, Yoona pode não ser a pior pessoa do mundo, mas ela não te amava e mostrar o que é ser amado de verdade, foi Jimin quem fez. Com as pulguinhas não foi a parte mais fácil do mundo, mas a gente deu conta e hoje posso dizer que conseguimos estabilizar tudo.
Você teve um ano complicado, não foi fácil lidar com o seu lobo, foi ao hospital diversas vezes e mais do que foi em toda vida. Você se apaixonou de novo e é bom, é muito bom ser amado e cuidado..."
Parei ao não saber como continuar, ou terminar. Olhei para o ateliê e os rascunhos soltos pela mesa. Ainda tinha muita coisa para fazer para a coleção de primavera e por um lado eu estava animado, pelo outro desesperado. Lalisa era legal, mas muito rigorosa quanto às suas ideias e como queria as coisas, normalmente argumentamos por horas até entrar em um consenso, o que nos fazia perder muito tempo.
Soltei um suspiro, começando a trabalhar em novos esboços para mostrar para ela e criei alguns aleatórios, as pulguinhas estavam precisando de roupas novas de inverno e eu precisava de um estilo livre. Passei um bom tempo esboçando, até que a porta foi aberta e tomou minha atenção.
— Seu almoço, senhor. — Evangeline entrou com uma bandeja em mãos. — Achei que não ia gostar de comer na mesa sozinho, então pensei em trazer para o seu lugar favorito.
— Evangeline, você é tudo para mim, sério. — Sorrio para ela, enquanto me levantava para tirar a bandeja de suas mãos e a coloquei na mesa.
— Senhor, mais uma coisa, tem que ir buscar a Angie na academia às duas. Quando se tranca aqui você esquece que o tempo passa.
— Sério, Evangeline, você é tudo na minha vida!
Ela negou com a cabeça, revirou os olhos e saiu. Eu pude apreciar a feijoada do almoço em paz e o resto do meu dia se resumiu em brincar com a Angie depois de buscar ela na academia, ajudar as pulguinhas com a lição de casa depois de voltarem e ficar teorizando sobre onde o Jimin se meteu.
Depois que as crianças foram para o quarto após o jantar, eu voltei para o ateliê e tentei terminar uma calça que a Somin tinha me pedido.
Minha cabeça estava realmente nas nuvens, a preocupação aumentando enquanto as horas passavam e não havia sinais de Jimin voltar. Suspirei cansado e aliviado quando Evangeline veio me avisar que ele tinha chego, então larguei tudo e corri para o quarto. Me aproximei com cuidado e passei meus braços ao redor de sua cintura, abraçando-o com carinho.
— Fiquei preocupado... — Digo baixinho contra sua nuca, deixando vários beijinhos sobre a derme de seu pescoço e ele inclinou a cabeça para o lado oposto, me dando mais espaço. — Aconteceu algo?
— Acabei passando a tarde com o Taehyung, perdi meio que a noção do tempo enquanto conversamos. — Jimin explicou, soltando um um resmungo de prazer ao me sentir beijar o local da marca e sua mão direita subiu para minha nuca, puxando alguns fios de cabelo. — Me desculpe por não ter avisado.
— Não, tudo bem! Eu só realmente fiquei preocupado já que você foi levar o Wonho ao médico e não voltou. Sabia que eu amo seu cheiro?
— Sabia sim, mas você pode falar o quanto quiser, da mesma forma que pode ficar falando que me ama. Eu não vou reclamar.
— Certo, meu príncipe. — Virei seu corpo de frente para mim. — Veja bem, você vai ser todinho meu agora.
— Quando é que eu não sou todinho seu? — Indagou em um sussurro contra os meus lábios, após passar os braços ao redor do meu pescoço.
— Quando eu tenho que te dividir com as crianças e principalmente lutar pela sua atenção com o Wonho. — Beijei os lábios cheinhos demoradamente. — Só preciso saber se está cansado...
— Amor... eu... tenho uma coisa para te contar. — Ele desviou o olhar e engoliu em seco.
— O que seria?
— Você vai ser pai de novo.
Ele falou direto e firme e eu arregalei os olhos, piscando várias vezes em seguida.
— Você... você está grávido? — Eu precisava saber se tinha entendido direito. — Tipo, tem um bebê dentro de você?
— Na verdade... tem dois. — Jimin mordeu o lábio, engolindo em seco.
Minha boca se abriu e fechou algumas vezes, mas nenhum som saia. Não era uma notícia esperada, eu chutaria qualquer coisa, menos isso. Não que seja uma notícia ruim, só... como assim?
— Isso é... meu Deus, amor! — O abracei apertado, tentando processar o que ele me disse. — Vamos ter mais duas pulguinhas?
— Vamos sim... — Ele não demonstrou muita empolgação ao confirmar.
— Você não me parece muito feliz com a notícia, o que houve?
— Eu só não processei a informação ainda e estou me sentindo mal por não estar contente com a notícia. Eu pensava que outros bebês fossem vir mais para frente, daqui uns oito anos talvez? Nós vamos estar cada vez mais ocupados e meio que isso muda todos os planos que a gente tinha feito, além de que não sei se eu tô pronto para as mudanças no meu corpo. — Desabafou, enterrando o rosto no meu pescoço, deixando sua voz de forma abafada. — Desculpa não estar feliz, Jungkook...
— Meu amor, vem cá. — O separei dos meus braços e o guiei para se sentar na cama ficando de frente para ele. — Você tem uma escolha e eu não vou tirar ela, minha opinião é o que você achar melhor, o corpo é seu. Porém, eu acho que a gente dá conta, podemos contratar alguém para ajudar a cuidar das crianças e bom, pelo visto adiantamos eles em oito anos. Não tem problema você não estar pulando de felicidade, não é da mesma forma pra todo mundo.
— Eu não sinto a sensação que falam e eu me sinto errado por isso... — Fungou e as lágrimas começaram a acumular nos seus olhos.
— Você vai sentir, pode não ser agora, pode não ser durante a gestação e nem no dia em que nascer, pode ser que essa felicidade que você espera só chegue no dia a dia em que você conviver com eles. Tá bem? Não tem nada de errado com você. — Segurei em seu rosto.
— Se eu não quiser prosseguir, você vai ficar bem com isso?
— Não, não sou indiferente. Mas para mim, o mais importante é você. Eu presenciei quatro gestações e eu sei que não é fácil. Então, se for a sua escolha, vou respeitar. Só quero que saiba que eu estou muito contente com a notícia, é fantástico saber que você já tem dois dos cinco que eu queria.
— Jungkook, eu não sou um coelho para parir tanta criança! — Fez bico.
— Mas amor, se já veio dois agora, na próxima já vem os outros três. — Brinquei beijando seu rosto repetidas vezes e ele negou com a cabeça. — Você tem que decidir o que vai querer, pois não vai ser tão fácil esconder isso das pulguinhas.
Ele não me respondeu e eu avisei que iria tomar banho. Rezava internamente para ele me dizer que iríamos continuar, pois seriam mais duas pulguinhas, duas pulguinhas que poderiam ter a cara do Jimin, era uma notícia boa demais. Dentro do banheiro eu me permiti fazer dancinhas de comemoração, pois:
— Eu vou ser pai de novo, eu vou ser pai de novo!
Meu corpo acompanhava o ritmo debaixo do chuveiro e eu fiz minha própria performance. Nada me abalaria naquele momento, quer dizer, isso se eu continuar a "ser pai de novo". Ai, duas pulguinhas, duas...
Suspirei com o pensamento e depois pisquei confuso, porque sempre vinham a mais? Só duas vezes vieram somente com um, mas não vou reclamar, podia ser quatro. Meu Deus, se fossem quatro de uma vez? Acho melhor repensar o plano de cinco filhos, já pensou quatro bebês de uma única vez? Se for cinco? Não, não, tá repreendido.
Voltei para o quarto depois de quase ter uma crise pelo medo que me possuiu das crianças se multiplicarem e me vestir. E encontrei Jimin debaixo das cobertas, me olhando.
— Tudo bem, coisa linda? — Perguntei ao apagar a luz, o quarto agora sendo iluminado pelos abajures e me deitei na cama, sendo aconchegado pelos cobertores.
— Vai ficar. — Foi o que respondeu ao se virar para mim. — Tenho que assumir a responsabilidade pelas minhas atitudes.
— Hum? — Eu realmente não tinha entendido o que ele quis dizer.
— Quando eu decidi que passaríamos o cio juntos, eu sabia que por mais que a gente se cuidasse, existia a possibilidade de engravidar. Eu podia ter tomado os supressores, mas não, eu preferi ouvir o fogo no cu e sinto que vou me arrepender se eu interromper a gravidez.
— Então vamos até o fim?
— É o plano, a gente dá um jeito, não é? — Deu um sorriso fraco. — Não estou ansioso por isso, mas vou deixar para pensar no depois, depois.
— Tem certeza?
— Na verdade não, mas eu confio que a gente dá conta, mesmo com as nossas responsabilidades. Vou precisar de ajuda de alguém e você vai ter que ficar menos no trabalho. — Me olhou sério.
— Tudo bem, eu já estou pensando nessas coisas. Meu pai vai ficar feliz, ainda bem que tenho tempo de terminar duas coleções e usar o dinheiro delas pelo tempo que parar. — Já comecei a fazer os cálculos mentais. — Vai ser tão lindinho você promovendo seu livro barrigudinho.
— Eu vou virar uma bola! — Falou de forma sôfrega.
— Você vai ser a bola mais linda que existe, meu amor. — Tratei de afirmar, puxando-o para os meus braços. — Vai continuar lindo e é só por um tempo.
— Eles podiam ser discretos né, me deixar o menos redondo possível...
— Meu bem, são dois, eles vão precisar de espaço. — Falei e me abaixei debaixo das cobertas, até chegar na altura de sua barriga. — Seus espertinhos, não deram um sinal de que estavam entre nós. De quantas semanas estamos?
— Nove... — Ele respondeu entre risos por eu ter começado a beijar sua barriga. — Para, para, faz cosquinha Jungkook!
— Papai tá tão feliz nenéns, sério, vocês não fazem ideia. — Falei para a barriga, acariciando abaixo do umbigo. — Vocês vão ser duas menininhas, né?
— Duas meninas? — Ouvi sua voz confusa.
— Eles são univitelinos?
— São.
— Então serão do mesmo sexo, espero que sejam duas meninas, já tenho quatro meninos, preciso de meninas.
— Mas você tem três meninas também.
— Sim, mas só acompanhei uma gestação de meninas e tá faltando ômega na família também... ah, a Angie vai pirar quando souber. Sabia que a irmã de vocês é doida por um irmãozinho ômega? Vamos lá, deixem ela feliz.
— Jungkook, tadinhos! Eles mal têm tamanho e você já exige tanto deles?
— O que vier tô no lucro, independente do que eles forem, vou amar, mas se forem meninas e pelo menos uma for ômega, vai ser maravilhoso. Depois que nascerem e crescerem, ai se identifiquem com o que quiser, só não aceito criminosos na família.
— Meu Deus, você já tá pensando neles adolescentes? — Jimin parecia realmente assustado.
— Ah amor, eu sou precavido, se duvidar já imaginei eles me dando o maior orgulho sendo formados no que amarem, me dando trinta netos se quiserem... ai, estou ansioso para conhecer a personalidade que vão ter. Lindos, lindos, minhas pulguinhas! — Beijei a barriga de Jimin mais algumas vezes. — Meus bebês, os três.
— Três?!
— É gatinho, você é o primeiro. — Esclareci voltando a estar na altura de seus olhos, saindo debaixo das cobertas. — O mais bonito deles.
— Você não existe, Jungkook. — Jimin gargalhou, fazendo carinho no meu rosto. — Eu amo esse seu jeitinho, amo muito mesmo.
— Ai, mamãe vai ficar feliz, Jaehwa só deu um neto pra ela e Jiwoo não quer ser mãe, eu compensei pelos três. — Me aconchego na cama, puxando Jimin para se deitar no meu peito.
— Minha mãe não vai acreditar. O Taehyung quase não acreditou...
— Você contou para ele primeiro? Que traição foi essa?
Nova residência Jeon
15/01 - 08:30
A noite para mim tinha sido tranquila e pelo que eu senti, para Jimin também. No momento eu observava ele se arrumar, iríamos até a casa da minha sogra e depois na minha mãe e de noite quando todas as pulguinhas estivessem em casa contaríamos para eles também.
Eu me aproveitava do fato de que agora a intimidade era tanta entre nós, que ver um ao outro sem roupas não era algo que nos surpreendia. Sempre ficava admirando o corpo maravilhoso que Jimin possuía, eu tinha soltado uns vinte suspiros pelo processo, enquanto estava abraçado ao travesseiro, fingindo ser ele. Sim, eu sou completamente boiola por esse homem.
— Sabe, você me olhando assim me deixa sem jeito. — Ele saiu do closet, arrumando os piercings em sua orelha. — Você já está pronto?
— Uhum. — Respondi suspirando bobo mais uma vez quando ele parou de frente para o espelho, analisando seu reflexo e arrumando os cabelos. Está tão lindo naquela blusa de mangas longas branca, feita a mão por mim, minha avó teria inveja pelo "tricô" que fiz. Eu sabia que apesar de jeans ele estava usando uma calça térmica por baixo, o que ajudava a marcar suas coxas e usava uma bota preta de salto.
— Jungkook, para de olhar assim! — Pediu me olhando repreessivo, mas seu tom estava descontraído além de ter soltado uma risada na última palavra. — Estamos juntos a menos de um ano, eu ainda não me acostumei com essa admiração toda na minha direção. — Justificou, vindo até mim e tirando o travesseiro ao qual eu estava abraçado, substituindo pelo seu próprio corpo.
— É bom não se acostumar mesmo, eu pelo menos sei que não vou, afinal amo a sensação de borboletas que você causa. — Dei a resposta com um sorriso pequeno nos lábios e vi as bochechas dele ficarem rosadas. — Eu te deixo sem jeito?
— Sempre deixou. Por que está flertando comigo a essa hora do dia?
— Porque é sempre hora de mostrar que eu sou caidinho por você e uma ótima oportunidade para te convencer a me mimar. — Dei de ombros e ele pareceu pensar no que eu disse.
— Queria ter te conhecido quando era adolescente... — Contou baixinho, como se fosse um segredo que só eu devesse saber.
— Deus foi generoso em não fazer isso, amor. Eu não era lá muito responsável, não tinha nada a ver com o que eu sou hoje.
— Eu também não, mas seria interessante te encontrar mais jovem, será que você teria se apaixonado por mim? Eu era bem bobinho pelo amor, vivia pensando nos contos de fada e provavelmente me apaixonaria muito fácil por você.
— Imagino que seu primeiro beijo tenha sido com o tal Dongha. — Comentei e ele negou.
— Meu primeiro beijo foi com uma ômega. — Contou desviando o olhar.
Eu fiquei de fato um tanto surpreso, digamos que não seja muito aceito pela sociedade que tirando os betas, pessoas da mesma classificação se envolvam. Não que eu compactue com isso, quem sou eu na fila do pão para julgar quem pega quem?
— Se me julgar ou me dizer que tem preconceito, tenha certeza que a minha mão vai acertar esse seu rostinho lindo com força. — Avisou devido ao meu silêncio, tive que rir.
— Eu nunca senti vontade de ficar com um alfa, mas quem sou para falar um A sobre a vida dos outros? Me conta como foi?
— Era uma amiga da minha irmã, ela brincava lá em casa direto. Eu tinha doze anos, a família dela foi almoçar lá em casa por conta do aniversário da Hyosun. Ela tinha pedido para esconder o presente da minha irmã no meu quarto e eu deixei. Digamos que eu achava ela uma ômega muito bonita e simpática, paixão de criança, pelo menos da minha parte, já que ela era mais velha. — Ele parecia com medo das minhas reações. — Ela tinha treze anos e sim, Hyosun é mais velha que ela. Bom, daí no quarto eu fiquei vermelho pela proximidade que ela estava de mim, ela me beijou e eu retribuí. Tudo bem que eu demorei um tempinho para entender como fazia, mas ela era bem paciente e me "ensinou" como fazer.
— E vocês namoraram?
— Não, mas eu beijei ela mais algumas vezes. — Explicou brincando com os botões da minha blusa. — Comecei a namorar o Dongha com 16 anos, até antes disso, foi somente a boca dela que a minha tocou e não vou mentir, a bichinha beijava bem!
— O que te impediu de ficar com ela? Pois mesmo que não seja regra, você não me parece que não gostava dela.
— Meu pai. Ele olhava um pouco torto para a forma com o qual Yoongi se portava perto do Hoseok e ficava no ouvido da minha mãe. Digamos que o Yoongi não fale muito com ele por conta disso.
— Mas nessa época eles já tinham um relacionamento a três?
— Não, nessa época Taehyung já era meu melhor amigo, mas eles começaram a namorar quando a gente tinha quinze anos. Assim, o Tae sempre gostou dos dois, o Hoseok era o melhor amigo do Yoongi. O Tae vivia lá em casa, todo dia ele estava lá, a gente não desgrudava um do outro, unha e carne, sabe? — Fiz que sim com a cabeça. — Como eu disse, Hoseok era o melhor amigo do meu irmão, então eles sempre estudavam em casa, consequentemente eu e o Tae ficávamos em cima deles pedindo para eles ensinarem o que tinham aprendido. O Yoongi na verdade gostava do Hoseok, só que o Hoseok gostava do Taehyung.
— E como ficou os três juntos?
— Olha, Yoongi foi meio idiota, ele soube que o Hoseok ia se declarar pro Taehyung e ele no auge dos dezesseis anos, pensou que seria uma ótima ideia fingir que gostava do Tae e foi na frente do Hoseok. Nesse dia o Taehyung correu para me contar que estava namorando o meu irmão. Minha reação foi: "não, pera... como assim?" Eu sabia a verdade e não sabia como contar pra ele. Daí no dia seguinte o Hoseok tava puto lá em casa e o Taehyung perguntou porque ele estava daquele jeito e o Hoseok falou que o Yoongi era um talarico. Daí o Taehyung sugeriu que ficassem os três juntos e eles aceitaram.
— Tá mas qual a lógica do Yoongi namorar o Taehyung? Não faz o menor sentido.
— Concordo, ele disse que queria provocar o Hoseok, mas é aquilo, não dá para entender a cabeça de um adolescente. Meu pai não gostou nada de toda essa festa, se dois alfas juntos já era um absurdo, um relacionamento a três era a morte dele. — Negou com a cabeça, revirando os olhos. — O Yoongi meio que cagou e a mamãe nunca ligou para essas coisas, ela tem a Rose et Violet para se preocupar, quem os filhos dela namoram não é problema dela. Só eu que demorei demais depois do Dongha e ela teve que se meter.
— Sabe, talvez fosse melhor você ter seguido o exemplo do Yoongi e ficado com a ômega, duvido que ela te abandonaria no altar.
— Algo me diz que não e preferia que eu tivesse amado ela. — Mordeu os lábios pensativo, soltando um suspiro. — Mas aconteceu porque tinha que acontecer, senão como eu teria me casado contigo? Foi só um pouquinho de sofrimento para ser recompensado depois. Agora me diz, como foi seu primeiro beijo?
— Ah Jimin, eu não lembro nem do rosto da menina. — Neguei com a cabeça. — Mas era uma ômega e não foi ruim, apenas isso que eu me lembro. Marcante mesmo foi a minha primeira vez, eu até me casei com a pessoa.
— Eu quase casei.
— Que sorte a minha que ficou só no quase, não é mesmo? — Brinquei, apertando ele. — Melhor a gente ir, temos que voltar antes das duas da tarde para buscar a Angie.
Jimin respirou fundo antes de me soltar e levantar. Eu fui até o quarto dos meninos tirar o Wonho do berço, ele ainda estava capotado e não sei se ele não dormiu na tarde passada, mas parece que ficou bem cansado. Peguei a bolsa que Jimin tinha deixado pronta mais cedo enquanto eu levava as pulguinhas para a aula.
Desci as escadas com o bebê adormecido nos meus braços, Jimin e Evangeline estavam conversando.
— Já contou para ela? — Perguntei ao estar perto deles.
— Contar o que, senhor? — Ela nos olhou confusa.
— Você vai ter mais dois pestinhas para destruir a casa. — Anunciei e ela nos olhou surpresa.
— Oh, que Nossa Senhora abençoe os seus bebês, sr. Jimin. — Ela falou sorrindo docemente. — Meus parabéns, meus senhores. Eu só peço que sejam mais calminhos que o Dawon e o Jiho.
— Nós também, Evangeline, nós também. — Jimin cobriu a mão para rir. — Pretendemos voltar para o almoço, não esquece que a Angie tá implicando com os brócolis.
— Vou doar essa menina, onde já se viu não gostar de brócolis? — Neguei com a cabeça descrente.
— Eu vou substituir o brócolis do prato dela, senhor. — Evangeline garantiu. — Que Nossa Senhora os acompanhe.
— Obrigado, Evangeline.
Agradecemos e após Jimin colocar Wonho no banco de trás e ficar por lá, liguei o carro e dirigi inicialmente para a casa dos meus sogros. Era mais longe de casa, mas da minha mãe para cá é caminho, então vamos para o que demora mais para chegar. Não sei porque os pais do Jimin moram no outro extremo de Paris, mas felizmente o caminho foi tranquilo e sem trânsito. A torre Eiffel estava cheia de turistas e Jimin riu de um que acabou escorregando na neve.
Meu sogro não deveria estar de bom humor, seu jardim não estava em suas melhores condições e Jimin me contou que ele odeia o inverno. Que ótimo, ele já não gosta muito de mim, vai ser ótimo, claro que vai...
Fomos recebidos pelos empregados e assim que chegamos na sala, pude ver minha sogra largada em moletons em cima do sofá, o cabelo preso de qualquer forma e óculos grandes de grau em seu rosto. Era muito estranho vê-la assim, normalmente ela estava impecável.
— Estou honrada com a visita! — Ela se levantou, vindo na nossa direção e abraçou um de cada vez, roubando Wonho, que agora estava acordado, dos braços de Jimin. — Lindinho da vovó, olha Sun, como ele tá fortinho!
— Bom dia, pai. — Jimin desejou quando ele veio abraçá-lo.
— Bom dia, querido. — Afagou as costas de Jimin e se afastou, se sentando ao lado da Jihyun.
— Bom dia, Sr. Park. — Cumprimentei e Jimin me puxou para sentar do outro lado, no sofá oposto ao que eles estavam.
— Me perdoe por ele, Jungkook. Ele é insuportável assim mesmo. — Jihyun pediu e eu neguei com a cabeça, estava tudo bem. — Tem algum motivo por trás dessa visita além da saudade?
— Temos um anúncio para fazer. — Jimin respondeu, um pouco nervoso, apertando a minha mão.
— O divórcio? — O senhor Park perguntou de forma esperançosa.
A sra. Park o olhou de forma mortal e Jimin suspirou alto, me olhando como se estivesse buscando forças e eu não soube muito o que fazer, além de sorrir, assentir e reforçar seu aperto.
— Não, pai, claro que não. Jungkook só se livra de mim no caixão. — Tentou descontrair. — Na verdade, a gente queria contar que por mais que vocês tenham ganhado sete netinhos ano passado, vão ser avós novamente...
— Pelos deuses, Jimin você... você está? — Jihyun tinha um sorriso no rosto que me deu medo. — Vou ter mais um netinho?
— Na verdade, mais dois, são gêmeos! — Fui eu quem respondi.
Minha sogra se levantou e correu em nossa direção com Wonho nos braços e nos parabenizou emocionada, deixando vários beijos pelo rosto de Jimin e me abraçou apertado. O pai de Jimin abraçou apenas ele, sorrindo como eu nunca vi ele sorrir.
Depois disso, foi Jimin tentando desviar dos detalhes profanos que sua mãe queria saber. Após tomarmos café com eles, fomos para a casa dos meus pais e como esperado, não houve uma festa como na casa dos Park, mas eles nos parabenizaram com alegria e muitos abraços, com a Jiwoo me agradecendo por povoar o mundo no lugar dela.
— Pode ser coisa da minha cabeça, filho, mas Jimin não me parece tão feliz com essa gestação. — Minha mãe comentou, enquanto cortava os legumes para fazer o almoço.
— Ele já tem sete crianças pra cuidar, Wonho é pequeno e ele queria aproveitar um pouco essa fase, vamos estar muito ocupados e uma gestação muda completamente nossos planos.
— A cabeça dele deve estar uma bagunça. Muitas das minhas amigas passaram por isso, de não querer e de não amar o bebê desde a barriga. Muitas aprenderam a amar com o tempo, criaram o vínculo conforme os dias foram se passando. Eu amei você e seus irmãos desde o momento em que soube da gravidez, mas existem casos e acasos, amor é algo que não tem fórmula.
— Ele se sente culpado... — Cruzei os braços, me encostando na parede e soltei o ar cansado.
— Não deveria, não tem como forçar o amor. Nenhum sentimento tem como ser forçado, na verdade. — Observei a silhueta dela se mexer, até colocar os legumes junto ao frango.
— Engraçado a senhora dizer isso. — Meu tom saiu mais ácido do que eu planejei.
— Ah, Jungkook... — Tomou fôlego e se virou para mim. — Pensei em te pedir desculpas, mas eu não me arrependo de nada do que fiz, então não faz sentido. Não me considero errada, fiz o que eu tinha que fazer. Talvez eu tenha exagerado, mas você me ouviria se eu pedisse com jeitinho? Claro que não, com a Yoona você nunca me ouviu. Foi drástico, mas necessário. Era sua vida que estava em jogo, você e seus irmãos são o meu bem mais precioso, te perder não era uma opção. Então, só posso pedir desculpas por não me arrepender.
— Você não precisa me pedir desculpas, hoje eu entendo, mãe. Quem te deve desculpas sou eu, me desculpa por não ter te dado ouvidos, por ter inclusive brigado contigo diversas vezes e muito obrigado por nunca desistir de mim. — Falei e ela me encarou com os olhos marejados, desligando o fogo e me puxou para um abraço em seguida.
— Eu te amo tanto, meu filho, tanto. E o que eu mais desejo pro seu futuro é paz e felicidade. — Sentia que uma culpa saiu dos ombros dela, enquanto seus braços quentinhos me envolviam com ternura. Agora eu sentia que não existia mais ressentimentos, estávamos zerados e em sintonia novamente.
— Eu também te amo muito, mãe. Obrigado por ser essa mulher incrível.
Nova residência Jeon
15/01 - 21:45
— Por que estamos todos reunidos na sala, pai? — Dawon perguntou impaciente.
— Eu quero brincar! — Jiho fez bico.
— Calma, vocês já vão ser liberados, é que a gente tem uma coisa para contar para vocês! — Jimin riu, mordendo os lábios.
— O que é, o que é? — Somin perguntou empolgada.
— O Wonho não é mais o caçula da família, agora ele foi promovido a irmão mais velho! — Contei a abraçando Jimin por trás. — Vocês vão ter dois irmãozinhos!
— Mentira pai! — Junghwa segurou na mão de Junghyun. — Junghyun, mais irmãos pra você cuidar!
— Gêmeos! — Se empolgou junto a irmã.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus! — Angie gritou, repetindo diversas vezes e veio na nossa direção. — Vão ser ômegas, eu vou ter irmãozinhos! Vocês encomendaram, vocês encomendaram!
— Sim, encomendamos! — Rimos ao nos lembrar dela perguntando como pedia um bebê a alguns meses atrás.
Foi uma farra, as pulguinhas pularam na gente e ficavam falando com a barriga de Jimin, fazendo carinho e deu o que fazer para conseguirmos fazê-los tomar banho e ir se deitar.
Eu segui para o ateliê, sentindo que agora eu sabia como terminar aquela carta.
"Você teve um ano complicado, não foi fácil lidar com o seu lobo, foi ao hospital diversas vezes e mais do que foi em toda vida. Você se apaixonou de novo e é bom, é muito bom ser amado e cuidado de verdade. Nós erramos muito, mas os erros tornaram você uma pessoa melhor. Fomos muito egoístas e eu me sinto culpado por todas as brigas, por ter deixado as pulguinhas na mão, mas nem tudo foi uma catástrofe. Podemos não ter amado Jimin no primeiro beijo e mesmo que no começo o amor não existisse, o futuro nos compensou, acredite.
Eu me perdoo, espero que você também. Para você eu desejo força, para mim que consiga viver um dia de cada vez e para o nosso eu futuro, que ele conheça mais de si mesmo, que eu nesse momento.
Jeon Jungkook"
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