Capítulo 15 - Cartas cinzas
Atenção pulguinhas o capítulo a seguir é narrado pelo Jimin. Achei interessante que vocês tivessem um pouco de como as coisas passam na cabeça dele.
O capítulo a seguir tem conteúdo sensível!
#mamaeschantagistas #ataldamark2
Boa leitura 🥺
~^•^~
Jimin
Desespero...
Era assim que eu definiria o que estava sentindo naquele momento. É complicado você imaginar que está tudo bem ao sair de casa e quando retorna, tudo desmorona. Meus sentidos estavam confusos e eu não sabia o que resolver primeiro, Wonho chorava alto, usando todas as forças que tinha em seus pequenos pulmões e Junghyun estava grudado novamente em minhas pernas. E enquanto tudo isso acontecia, meu marido estava desmaiado no quarto no fim do corredor.
A minha sorte é que não sou cardíaco.
Respiro fundo algumas vezes antes de conseguir tomar verdadeiramente uma atitude, até a emergência chegar eu tenho que acalmar duas crianças e conferir se o Jungkook ainda respira.
— Junghyun eu sei que você tá assustado, sei que você nunca viu seu pai assim, mas precisa me soltar, preciso acalmar o Wonho. — Comecei, olhando em seus olhinhos tempestuosos. Eu sabia que ele estava tão desesperado quanto eu, mas eu realmente precisava acalmar o Wonho e não conseguiria fazer isso se ele não me soltasse. — Olha só, você precisa ser só um pouquinho mais forte que o medo neste momento, está bem? Só por uns minutinhos, eu ainda vou estar aqui. Pode fazer isso, não pode?
Para minha surpresa ele concordou, se afastando com o corpo trêmulo e se sentou no chão, abraçando as próprias pernas. Com as minhas pernas livres, corri até o bebê conforto. Wonho esperneava e seu rostinho estava inteiramente vermelho.
— Meu bem, hey, tudo bem, tá tudo bem! — Repito enquanto tiro as proteções de seu corpo e o pego no colo. — Olha para mim pequeno...
Eu sabia que ele tinha sentido toda a tensão, estava muito perto do pai para seu lobinho não sentir. Naturalmente eles tinham uma conexão de matilha e se nem Junghyun conseguiu aguentar a energia toda, imagina um bebê de seis meses.
— Papai tá aqui, amor. — Comecei a balançar seu corpinho com cuidado, enquanto tentava sorrir e lhe passar conforto. — Sou eu e nada vai te acontecer. — Ele fechou os olhos e quando abriu novamente, seus olhinhos estavam cinza contornados em amarelo. Com a sua iniciativa, deixei meu ômega aparecer também e ao ver a coloração de meus olhos ele se acalmou. — Vai ficar tudo bem, amor.
Após ter certeza que ele não voltaria a chorar, o coloquei de volta no bebê conforto. Depois de ver que ele ficou quietinho, andei até o irmão dele.
— Junghyun, vai ficar tudo bem, tá bom? — Pego em sua mão, trazendo-o para perto de mim e o abraço.
Ele me abraçou forte e ouvimos uma movimentação. Evangeline subiu a escada junto do socorro e eles foram diretamente para o quarto. Tentei explicar o que eu sabia e iria deixar as crianças com a beta, mas Junghyun disse que iria comigo a qualquer custo e Wonho voltou a chorar quando me afastei, o que resultou em nós três juntos em uma ambulância a caminho do hospital.
Quando chegamos eu não tive tempo de assimilar o que estava acontecendo, me levaram para longe enquanto conduziam Jungkook para a emergência. Ficamos sentados na sala de espera e um rosto conhecido se aproximou para o meu alívio.
— Jimin? O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa com o Jungkook? — Sunhi me perguntou e eu assenti em resposta, vendo-a crispar os lábios. — Você está meio pálido...
— Foi uma situação desesperadora e eu ainda não sei exatamente o que aconteceu, mas eu preciso falar com uma pessoa.
Sunhi não fez mais perguntas e eu deixei Wonho no colo do irmão, pedindo para que ele não saísse dali, eu não demoraria a voltar. A beta me encaminhou para um telefone e eu liguei para Jiwon, precisava da ajuda dela, dessa vez não conseguiria segurar a barra sozinho e avisei que Jiwoo não poderia voltar com as demais pulguinhas para casa.
Em alguns minutos recebi a notícia de que Jungkook precisou ser encaminhado para o centro cirúrgico e eu quase surtei em frente ao residente, mas mantive a calma pois não podia assustar Junghyun. Jiwon chegou pouquíssimo tempo depois, totalmente angustiada.
— O que foi que aconteceu? — Jungmin perguntou, tão preocupado quanto a esposa.
— Eu não sei exatamente, fui para casa do meu cunhado no início da tarde e quando eu voltei, tudo já tinha acontecido. Evangeline só me disse que eles tinham ido arrumar o quarto da Yoona e foi lá que aconteceu...— Contei o que eu sabia e eles assentiram. Jungmin me entregou uma bolsa térmica com mamadeiras para o Wonho. — Obrigado...
— Jun, você está bem, querido? — Jiwon se aproximou do neto e ele assentiu. — Já tem notícias do Jungkook?
— Faz pouco tempo que me avisaram que ele foi encaminhado para o centro cirúrgico. Fraturou uma das costelas e disseram que algo estourou, não entendi muito bem o que era. — Soltei um suspiro.
— Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo... — Jiwon começou a repetir, andando de um lado para o outro.
— Meu bem, respire, por favor. — Jungmin segurou em seus antebraços. — Ele é um lúpus, é forte! Tem que continuar acreditando nele, querida.
— Estou com medo... — Confessou abraçando o marido. — Eu pedi tanto aos deuses, tanto pra não vê-lo entre a vida e morte... eu tentei tanto e... eu falhei...
— Papai vai morrer? — Junghyun, depois de horas sem dar sequer um pio, olhou com os olhos cheios d'água para a avó.
— Não, não vai. — respondo por Jiwon, ela não tinha condições de ocultar suas emoções naquele momento. — Ele vai ficar bem, pequeno.
— Minha mãe também ia... — Me olhou com os olhos cheios d'água. — Ele vai ser tirado de mim como ela foi, não vai? Eu não quero ficar sem ele...
— Nem eu pequeno, mas vamos pensar que tudo vai ficar bem e logo a gente vai poder ver ele. Prometo que tudo vai melhorar...
Eu não deveria prometer algo que não estava ao meu poder, mas não queria que ele pensasse pelo pior, eu mesmo não queria. Mesmo ao ver o estado do quarto e saber que o lobo de Jungkook entrou em agonia, eu queria ter esperança de que o quer que seja que tenha desencadeado a reação, ele conseguiria passar por mais essa.
Olhava Wonho adormecido nos meus braços e queria tanto chorar, mas eu não podia, ele já estava com lobo em alerta e Junghyun não acreditaria nas minhas palavras, por hora meus sentimentos teriam que ser sufocados.
Não entrava na minha cabeça como as coisas aconteceram, em um momento eu estava na casa do meu melhor amigo, compartilhando meus últimos dias com ele e no outro o desespero inundou tudo. Será que eu não poderia ter um momento de paz sem estar o tempo todo em uma corda bamba? Afinal, o que eu fiz de tão grave em outra vida para ser punido dessa forma? Meu primeiro amor me abandonou no altar e a pessoa que eu amava poderia morrer a qualquer momento. Como eu podia ser tão amaldiçoado?
A essa altura do campeonato minhas preocupações deveriam ser os últimos detalhes do meu casamento. Jungkook não deveria estar em um centro cirúrgico, deveríamos estar rindo na L'atelier Encanto, enquanto provamos as roupas que vamos usar na cerimônia, exatamente como foi a alguns dias atrás.
"— Me fala porque você quis que eu viesse para cá tão tarde... — Cruzei os braços ao passar pela porta. — São uma da manhã, Jungkook.
— Acontece que por questões de viagem e falta de saúde, eu não tive tanto tempo para fazer o vosso traje, alteza! — Me respondeu com um sorriso no rosto. — Felizmente eu terminei a parte mais importante, só faltam os ajustes.
— Então tá pronto? Eu vou poder ver? — Me empolguei, me aproximando dele.
— Sim, hoje é a sua primeira prova... — Seu tom saiu como uma mistura de nervoso e euforia. — Mas só vai ver depois que já estiver no seu corpo.
— E como vai fazer isso? — Mordo os lábios, curioso.
— Com isso! — Mostrou uma fita, daria certinho como uma venda. — Eu vou colocar em você, tirar a sua roupa e colocar a que vai te deixar mais lindo que um príncipe.
— Sabe o nome que dão quando você venda uma pessoa e tira a roupa dela? — questionei risonho.
— Uhum, mas não vamos fazer nada do tipo, eu tô trabalhando, ok? — Jungkook me advertiu, fazendo uma expressão inocente, andando na minha direção e arrumou a venda em meus olhos. — Está vendo alguma coisa?
— Não — respondi com sinceridade, pois além da venda, meus olhos estavam fechados.
— Ótimo, vou guiar você até o provador. — Senti com calma ele me despir e depois colocar as roupas em mim. Sentia como se ele pensasse que eu era de vidro, pois fazia tudo com tanto cuidado que estava me agoniando. — Eu não sei se é a roupa ou tudo que você coloca no corpo fica perfeito mas... Está magnífico.
— Posso ver? — Pedi, me sentindo ansioso.
— Espera só mais um pouquinho. — Jungkook terminou de arrumar alguns detalhes e em seguida, tirou a venda dos meus olhos, mas eu ainda continuei com eles fechados. — Pode abrir. Não é nada tradicional para um casamento, mas você em si não é como os outros ômegas, então achei justo fazer uma roupa que combinasse com a sua personalidade.
— Jungkook... — Não conseguia crer no que eu via. Realmente não lembrava nada das roupas tradicionais de um casamento.
A parte de cima era uma blusa de mangas longas, coberta por outra que era como um colete, mas cheio de diamantes, que era a parte que marcava a cintura. A calça era preta, com uma listra de preto com brilhos no lado.
— Se você não gostar dos diamantes, eu fiz uma versão com espartilho também. — Contou atrás de mim. — E também acho que vou ter que fazer um ajuste na cintura. Se você não gostou, eu faço outro, não tem problema, tá?
— Eu amei... — Me afastei virando no meu próprio eixo. Não era nada extravagante e eu gostava dessa forma. — Eu amei, você conseguiu pensar em algo que saísse do tradicional, mas que combinasse comigo!
— Então você gostou? — Seus olhinhos brilharam e eu me virei para ele.
— Meu amor, eu amei! Amei, amei e amei! — O puxei para um abraço. — Vou dar um show naquele altar!"
Jungkook me apertou tanto naquela madrugada, tudo porque eu tinha amado uma criação sua. Eu amava ver o quanto os olhos dele brilhavam quando ele estava desenhando e costurando uma nova criação. Era precioso demais e ele não merecia nada do que tinha acontecido com ele, não deveria estar entre a vida e a morte por culpa de alguém que nem sequer o amou.
Conforme as horas passaram, eu me sentia cada vez mais sufocado. Ninguém vinha dar notícias e minha cabeça explodiria a qualquer instante.
— Jimin, querido... — Jiwon me chamou e eu a olhei. — Me dê Wonho um pouco e vá comer alguma coisa, pelo menos tomar uma água.
Eu quis negar, mas meus braços já estavam cansados e precisava ficar um pouco sozinho, chorar escondido talvez. Entreguei o bebê em seus braços e pedi licença, passando a andar pelo hospital, eu não sabia se podia fazer isso, mas do lado de fora chovia e eu não iria para lá.
Até Abril na minha cabeça, minha vida se resumiu em pensar em formas de como eu seguiria. De certo modo eu sentia falta da floricultura, da calmaria das plantas e de estar sempre debaixo da proteção do meu pai.
Zona de conforto é uma droga, às vezes precisamos sair dela e eu me joguei de cabeça para fora quando escolhi me casar para publicar um livro. Durante sete anos eu me recusei a criar laços românticos para em uma proposta eu aceitar, se me contassem em janeiro, eu riria.
Não sei exatamente o que me fez aceitar, nunca soube. Eu poderia ter continuado sozinho e procurado uma editora disposta a arriscar, não estaria passando por essa situação, mas não consigo me arrepender.
Como eu conseguiria viver sem sete pulguinhas me atormentando e tirando o sono e principalmente, como ficar sem o pai delas? Jungkook me mostrou que talvez, contos de fada realmente não existam, mas podemos torná-los reais da nossa forma. Não precisa ser perfeito, só precisa de compreensão e respeito.
Cheguei de algum modo no refeitório, não sentia vontade de comer nada, acho que no momento eu até passaria mal, por isso, apenas me sentei em uma das mesas, passando as mãos pelo rosto.
— Não tem ninguém aí... — Uma voz feminina chamou a minha atenção e olhei para o lado, me dando conta que tinha sentado em uma mesa que não estava vaga.
— Me desculpa, eu já-...
— Não, pode ficar, de verdade. — A moça deu um sorriso triste, mexendo em seu copo. — Está aqui há muito tempo?
— Umas cinco horas, eu acho... — Solto um suspiro. — E você?
— Desde de manhã, minha esposa sofreu um acidente de carro... — contou, engolindo em seco. — Ela está no centro cirúrgico.
— Meu marido também, o lobo dele entrou em agonia. — Ela me olhou com pena. — Eles demoram para dar alguma notícia?
— Só avisam se tiver alguma complicação. — Bebeu um pouco do líquido. — A gente ia viajar amanhã... um caminhão veio com tudo e... e agora ela está lá.
— Sinto muito, por ela, moça. — Não havia muito o que eu pudesse dizer sobre.
— Consegui conversar com ela antes dela entrar em cirurgia, ela ainda estava consciente, sabe? — Assenti. — Olha me desculpe, eu só-...
— Só quer conversar com alguém, tudo bem, pode dizer. — Eu teria segurado a mão dela, mas não consegui ser tão invasivo.
— A alfa dela conversou comigo e ela... ela rompeu nossa ligação. — contou com a voz embargada. — Ela me disse que se morrer, não quer que... que eu sofra as consequências pela morte.
— Meu marido está lá porque a falecida esposa dele não fez isso... — Mordi os lábios, olhando para minhas mãos. — Acredite, é um gesto de amor.
— Sinto muito por ele... mas eles vão ficar bem.
— Vão sim, você vai ter que renovar a sua marca e vão estar juntinhas novamente.
— Uhum e você vai ganhar a sua. — Ela sorriu e eu também.
Continuamos em silêncio, até que decidimos voltar juntos para a sala de espera. Me deparei com a minha mãe, eu não esperava que ela estivesse ali, mas quando ela abriu os braços, não hesitei em me atirar contra ela e ali, em seus braços, não consegui mais conter as lágrimas. Desabei ali mesmo, envolto por seu cheiro.
— Mamãe está aqui, amor. — Ela fez comigo o mesmo que eu tinha feito com Wonho mais cedo. Encostou a testa nas minhas e as íris azuis me encaravam com ternura. A alfa dela sempre seria meu ponto de refúgio, assim como o ômega do meu pai. — Enquanto você foi, trouxeram notícias do Jungkook.
— E como ele está? — Minhas pernas perderam a força e se não fosse os braços de minha mãe, eu teria facilmente caído no chão.
— Estável, conseguiram conter a hemorragia e ele saiu do centro cirúrgico, agora ele está na UTI e vamos ver como ele vai evoluir nas próximas horas. — explicou calmamente. — Jiwon me ligou e me pediu para te levar para casa. Você precisa tomar um banho, comer algo e descansar.
— Mas mãe o Jungkook e a Jiwon-... — Ela negou com a cabeça, me interrompendo.
— Mas nada, Jimin. Jiwon vai ficar com o filho pelas próximas horas, você vai descansar um pouco e depois vocês trocam, ela vai e você fica. — Ordenou. — Você fica aqui, eu vou pegar o Wonho e nós já vamos.
Como não me foi dada outra escolha, apenas confirmei com a cabeça e ela se retirou. Me sentei em uma das cadeiras disponíveis e dei tchau para a moça que estava a alguns assentos longe de mim, ela sorriu de forma singela, e logo um médico veio conversar com ela. Eu pedi para que ela tivesse boas notícias, mas pela forma como ela começou a chorar e expressão no rosto do médico, as coisas não ocorreram como deveriam e ela havia perdido a esposa. Pensei em ir até lá e abraçá-la, mas o médico começou a guiá-la para longe dali.
Minha mãe voltou um pouco depois com Wonho nos braços, meu bebê estava desperto e assim que me viu, estendeu os bracinhos. O peguei no colo e mesmo contrariado, pois queria ver Jungkook, sai do hospital junto a minha mãe, entrando no carro e ela dirigiu em silêncio até em casa. Eu estava feliz pela cirurgia ter ocorrido bem, ao menos Jungkook estava estável, minha mãe não quis me dar muitos detalhes, não sei se porque ela não sabia, ou porque queria me poupar.
— Meu senhor, está tudo bem? E o senhor Jungkook? — Assim que entramos, Evangeline me perguntou, estando aflita.
— Ele teve que fazer uma cirurgia e agora está na UTI, em observação. — contei o que eu sabia e ela assentiu.
— Moça, me perdoe, não sei o seu nome, mas você poderia fazer algo para ele comer? Algo com sustância. — Minha mãe pediu.
— Claro, senhora, eu me chamo Evangeline. — Evangeline sorriu para ela.
— Park Jihyun, mãe do Jimin. — Mamãe se apresentou.
— Ele é muito parecido com você.
— Obrigada, eu sei que esse forninho só faz bolo bom. — Ela riu.
— Vou tomar um banho, fica com o Wonho, mãe? — Pedi e ela assentiu, pegando o bebê. — Evangeline, já passou do seu horário, não precisa fazer nada elaborado e depois me cobre um adicional no seu salário.
Antes de ouvir uma resposta, subi as escadas e fui em direção ao último quarto do corredor, não era o meu, mas eu iria procurar o que tinha desencadeado a crise em Jungkook. Ao entrar no quarto, observei tudo que estava revirado, não encontrei nada que chamasse a atenção no quarto em si, então passei para o closet, de todo o local, era o que mais que estava corrompido. Procurei entre os panos rasgados e encontrei diversos envelopes, dois abertos e amassados e estes foram os primeiros que eu li. A ficha caiu assim que eu li as primeiras frases...
— Wonho não é filho do Jungkook? — Arregalei os olhos, achando impossível, meu pequeno é uma miniatura do pai, assim como as outras pulguinhas.
Vasculhei os demais papéis, focando minha atenção em dois envelopes cinza, não pensei duas vezes antes de abri-lo, a caligrafia era meio estranha, mas não era feia.
"Jungkook, peço desculpas desde já se minha caligrafia não for das melhores.
Você deve estar confuso, se perguntando quando eu aprendi a escrever, não me orgulho, mas certas circunstâncias me forçaram a aprender. Por meio desta carta, pretendo te pedir desculpas.
Muitas coisas aconteceram desde a primeira vez que nos vimos, com onze anos de idade. Eu tinha juntado dinheiro para comprar um vestido da L'atelier Encanto, eu tinha amado tanto ele e meus pais me ajudaram. No dia em que eu comprei, você estava lá e veio falar comigo, lembro do lindo sorriso que me deu e eu me encantei com ele, o seu jeito doce e gentil me conquistou, mesmo que até os meus dezesseis anos eu tenha me negado a me envolver com você, tudo porque nossos mundos eram diferentes. Eu era uma moça do campo, com um pai problemático que estava tentando a vida em Paris, até eu me cansar daquela tortura e te dar uma chance, nisso tivemos Junghyun, não é?
Um ano depois eu engravidei das trigêmeas, o que foi desesperador, mas você deu um jeito de estabilizar isso. Três anos depois vieram os gêmeos e tínhamos decidido parar por aí, com medo de vir quatro, você se lembra? Então esse ano, olha só, temos mais uma pulguinha no forno, Wonho felizmente é só um!
Eu queria estar mais feliz com essa gestação, eu amo meu filho, claro que eu amo, assim como nossas outras seis pulguinhas, mas eu não amo você. Eu nunca amei, você era apenas a chave que eu tinha para abrir a porta do céu, mas você merece ser amado, eu te faço tanto mal e você ainda é maravilhoso para mim.
Talvez eu nunca consiga te entregar essa carta, meu bem, talvez eu não consiga te deixar, pois como vou tirar as suas pulguinhas de você? Eu não sou um monstro para conseguir fazer algo assim, mas eu vou tentar.
Lamento por ter te magoado tanto e provavelmente quebrado o seu lobo ao me envolver com outra pessoa, mas a gente faz loucuras por amor. Eu sei que não tive respeito algum por você e quando souber disso, vai me repudiar, mas pelo menos, se o bebê que está em minha barriga for de outro, eu vou embora, vou te deixar ser feliz e livre como você merece.
Dessa vez não consegui tirar esse filho por incerteza se era seu, não consigo me perdoar por ter matado um anjinho sem culpa de nada...
Espero que não encontre essa carta, mas se encontrar, saiba que eu sinto muito.
Yoona"
"Eu não devo ter sido clara na última carta, eu estava nervosa, acho que tendo as crises que você tem, pelo visto não é frescura como eu costumava achar e dizer.
Wonho nasceu, nós temos um filho fortinho e que tem os seus olhos, mais um alfinha!
Na outra carta eu estava nervosa e não expliquei nada, mas a sete anos eu tenho um caso e acho que tenho sido um demônio como o meu pai na sua vida desde então. Mas você nunca notou, não é? Seu amor por mim é tão grande que consegue perdoar todo mal que eu te faço.
Eu sinto raiva por você gostar de mim, raiva de ser tocada por você e fingir que gosto, seria mais fácil se você me odiasse de volta, muito mais fácil do que fingir que te amo.
Hoje é dia 12/01.
Eu decidi que hoje eu vou parar com tudo, não aguento mais uma vida dupla, por mais de sete anos eu tenho aguentado essa situação por amor aos meus filhos, mas não aguento mais a angústia. A gravidez do Wonho me abriu os olhos, não sei porque isso agora, mas parei de querer ser tocada até pelo homem que eu amo. E isso me fez pensar no tipo de pessoa que eu me tornei e eu não mereço nada do que tenho, não mereço o amor dos dois homens que me amam.
Eu julguei tanto meu pai, mas sou igualzinha a ele, te condenei ao inferno quando sai de casa e agora eu mesma vou cuidar de me mandar pra lá. Eu fui um monstro com você, eu te manipulei como ele fazia com a minha mãe, está no meu sangue e eu estou tão perturbada... eu ouço as suas frustrações, eu vejo o quão triste você está por me sentir distante e só posso pedir perdão.
Ao menos sei que você não será tão prejudicado, nossos lobos não tem mais a mesma conexão e pode ser por isso que você teve um cio durante a gravidez ou pode ser porque Wonho não é realmente seu filho.
Sinceramente eu não vou estar aqui pra descobrir.
Eu não consigo mais ser feliz, não consigo sentir felicidade por ter Wonho nos meus braços mesmo que eu o ame incondicionalmente. Que mãe eu fui pra Angie nos últimos meses? Eu parecia rejeitar a minha princesinha e eu peço muito pra que ela não tenha sentido isso, pois meu coração não aguenta mais uma coisa para se culpar.
Jungkook, ame nossos filhos, se ame e encontre alguém que dê o amor que você merece.
Você é maravilhoso, você é digno de todo amor do mundo, você é verdadeiramente um anjo e tem uma passagem vip para o paraíso. Cuide bem dos nossos bebês e se o Wonho não for seu filho, não rejeite ele, pois você é pai dele acima de tudo.
Pai é quem nos dá amor, quem cuida de nós e não quem nos tem o elo de sangue.
Se a um ano atrás eu soubesse disso, talvez eu tivesse tido o anjinho que matei.
Fique bem querido, por favor fique bem.
Eu espero já não estar mais aqui amanhã, vou dar o meu máximo pra desaparecer.
Mesmo que eu não tenha o direito de te pedir algo, por favor nunca deixe meus filhos esquecerem que eu os amo, pois eles são meu maior amor. Eu não sou forte para suportar a culpa, mas o meu amor por eles é infinito. Eu gerei cada um deles com muito carinho.
Confio em você nessa missão.
Apesar de não te amar, não sou indiferente e nem odeio você, obrigada por tudo que fez por mim...
Seja feliz!
Lee Yoona."
Eu estava perplexo, Yoona não tinha morrido, ela tinha se matado. A culpa a corroeu e ela tirou a própria vida. Ela traiu Jungkook por sete anos e abortou um bebê porque não sabia quem era o pai...
Me perguntava como Jungkook nunca havia encontrado as cartas, estava tão mal que foi a primeira vez que mexeu nessas coisas? Ele teria entendido as coisas muito antes e não se sentiria tão culpado...
Guardei as cartas de volta em seus envelopes. Eu as entregaria assim que ele estivesse bem, tinha o direito de saber a verdade. Não sabia o que pensar, mas assim como ele não tomou as dores da minha antiga relação, eu não vou tomar as dele.
Sai daquele quarto, indo para o meu e fiz o que tinha dito à minha mãe: tomei um banho. Minha mente estava confusa, tentando absorver tantas informações, parecia que tudo só piorava. Mas eu tinha uma certeza, Wonho era filho do Jungkook, tanto sentimentalmente, quanto no biológico, não duvido que quando crescer, seja como o Jungmin quando está ao lado de Jungkook, uma versão mais velha dele.
Quando voltei para o andar debaixo, Wonho chorou para vir ao meu colo e minha mãe riu, me entregando ele. Beijei as bochechas gordinhas e ele riu, segurado no meu indicador.
— Ele te reconhece como pai dele. — Os olhos da minha mãe brilharam na minha direção.
— O lobo dele vê aconchego no meu. — Beijei sua cabecinha cabeluda. — Meu mini Jungkook.
— Eu acho ele a cara do pai. — Pegou na mãozinha dele. — Como você está com tudo isso, Jimin? Sabe, seu pai não tem falado com você...
— Papai jamais vai me entender, mãe. Ele não acredita que eu saia com o Jungkook antes e se contar a verdade ele vai fazer um escândalo. — Lamento, soltando o ar pela boca. — Eu gostaria de voltar a falar com ele, mas ele não quer até eu dizer a verdade. E eu não vou deixar o Jungkook, pois conheço o pai que tenho e sei que ele ia fazer um inferno na vida dos Jeon. Jungkook já tem problemas demais.
— Seu pai tem você como o bebê dele Jimin, ele sente sua falta. — contou, mas isso não me animou muito. — Mas ele é teimoso como eu e é por isso que você tem a personalidade tão forte. — Brincou e rimos em conjunto. — Mas e quanto ao Jungkook, seus sentimentos em relação a ele?
— Jungkook é tão fodidamente incrível que você se apaixona em menos de um mês. — expliquei e ela gargalhou em resposta. — Eu não vou mentir pra senhora, eu tô morrendo de medo de perdê-lo... Eu amo muito ele.
— Sabe Jimin, quando eu perdi o pai dos seus irmãos, eu não sabia muito bem como reagir, eu só achei que ele era muito ingrato por ter me deixado, mesmo que eu já estivesse me apaixonando pelo seu pai. Eu nunca cheguei a trair, até porque eu sempre abominei isso e quando eu perdi... eu notei o quão nos equivocamos ao segurar o que sentimos, perder tempo pensando demais é uma besteira tão grande. Ele merecia ser feliz e eu prendi ele a mim por medo e ainda fiquei brava, vê se pode. — Negou com a cabeça, rindo amargurada. — Nós erramos muito nessa vida, eu costumo pensar que a cada dia nós temos que arriscar cada vez mais, fale hoje, faça hoje, peça hoje, jogue a merda no ar hoje, porque o amanhã é incerto demais para esperar.
— O que faria se você só tivesse o sim? — A olhei de forma séria.
— Bom, eu ia me aproveitar muito e tentaria fazer a pessoa pensar como seria a vida sem mim e nisso eu sairia ganhando pois ela ia ver como eu sou incrível. — respondeu convencida, jogando os cabelos para trás. — Você é maravilhoso meu filho e eu algo me diz que o seu sim já é mais verdadeiro do que você imagina!
~^•^~
Altas emoções
Altas revelações!
Achei importante mostrar pra vocês que tem como casais marcados não serem afetados pela morte de um parceiro. No caso é o rompimento consentido do lobo antes de partir.
Yoona fez o que fez, ela realmente não amava o Jungkook, nunca amou. Ela amou apenas o amante e os filhos, mas obviamente isso não apaga o mal que ela fez ao Jungkook.
Próximo Capítulo tem uma cena que eu amo muito!
Até depois pulguinhas <3
Ps. Eu mimo vcs com att e vcs não deixam comentários para me deixar feliz, #chateada.
Amo vcs <3
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