Fase 5: Romance

Meu coração é teu

Preciso me acalmar para poder fazer isso, como já sou de casa não bato no portão e com o coração apertado aproximo-me do que é agora  seu quarto, assim que paro a sua frente, sento e observo o ambiente, só assim iriamos ficar da mesma altura. 

— Olá amor, da última vez foi você que veio fazer as pazes e na vida precisamos aprender como ceder não é? Lembra de como nós  conhecemos? Foi um acaso do destino, já que fui transferida para a mesma escola que você estudava porque meu pai foi mandado para a filial brasileira da empresa que trabalha para averiguar o setor de contabilidade, não me adaptei muito bem já que na Polônia é muito frio e aqui é bem quente, queria ensino remoto, para não precisar socializar, mas infelizmente o Brasil não válida esse categoria de ensino, só no superior. Ao chegar na sala, a professora me apresentou e convenhamos que errou meu nome umas quatro vezes, admito que foi engraçado, você chegou atrasado no dia por isso fomos colocados em dupla. Além de mim, tinha um alemão e uma filipina, então Marcela, começou a explicar sobre a Guerra Fria. Já estudara, então fiquei quieta. Minutos depois recebi um bilhete seu, perguntando como era a Polônia e eu escrevi uma pequena redação, já que era e sou apaixonada pela minha terra natal. 

O vento batendo em meus cabelos e fazendo eles grudarem em minha boca devido ao brilho, atrapalham meu raciocínio e imagino seu sorriso ao ver essa cena.

— Nos dias que se passaram, conversamos sobre quase tudo, contou que ama anime e falei gostar bastante de dorama, pediu que assistisse Naruto, aceitei, mas em troca, você iria assistir, A Dama do General. Nas semanas seguintes, falou das batalhas e eu da formação do Time 7, do absurdo do Itachi ter matado todo o clã e das teorias do porque o Kakashi usa máscara e a bandana cobrindo o olho.

Olho para o céu, pensando em como prosseguir, já sabendo que preciso organizar a mente, os fatos são tão interessantes que fecho meus olhos, voltando a relatar e vive-los mais uma vez e ao abrir do prosseguimento.

— Chegou um tempo que saíamos juntos, sorveteria, biblioteca, shopping, até evento de cosplay, conhecíamos a família um do outro e todos acreditavam que eramos um casal, eu negava, só não entendia porque você, Alexandre, sempre ficava calado. Em casa perguntei ao meu pai e ele me chamou de lerda, falando que o garoto tinha um penhasco por mim, só eu não percebia. — esfrego as mãos. — Será verdade? Início de um novo mês, fui chamada para a direção assim que cheguei na escola, questionei mil vezes o que tinha feito, em troca só recebi o silêncio da diretora. Em sua sala começou a querer saber se estava me adaptando, a grade de ensino acompanhava o que já estudara. Expliquei tudo até o momento que um menino da minha sala vem me chamar, ela libera com um sorriso misterioso no rosto. Era loucura pensar que todos tinham perdido um parafuso? Quando entrei meus olhos abriram em choque, a sala estava decorada em vermelho e roxo, nossas cores preferidas, te procurei e logo achei, estava em frente ao quadro branco e nele estava escrito Em um gesto de amor, te darei flores e o meu coração. Cobri a boca com as mãos, incrivelmente não parou por aí. — passo as mãos em meus cabelos loiros longos e afasto uma lágrima que de teimosia insistia em escorrer. — Ajoelhou- se na minha frente e fez um dos discursos mais bonitos que já ouvi.

O silêncio entre nós se torna palpável, talvez porque estejamos relembrando.

— Eu te amo e eu te odeio são frases com um poder tão forte que não podem ser simplesmente jogadas ao vento. Você chegou do nada e gradualmente foi me cativando, o garoto que nunca quis saber de ninguém, hoje está de joelhos perante você. Acreditei que nunca veria nada mais impressionante que o brilho das estrelas e hoje sei que existe, é o brilho dos seus olhos, seu sorriso que faz minhas mãos suarem. Já pedi a benção da sua família e eles apoiaram, agora me resta saber. Natasha, aceita namorar comigo? Se aceitar não haverá traição, lágrimas só se for de felicidade e te acompanharei na calistenia.

— Após meu sim, te abracei timidamente e mesmo com a gritaria da turma pedindo beijo, pelo fato da minha mãe ser brasileira, sei que esse tipo de demonstração de afeito é normal na sua cultura, porém para mim não. Mas te beijei mesmo assim. Nossas famílias estavam eufóricas, porém pediram para não esquecermos dos estudos. Quase nada mudou, continuamos saindo e você preferiu academia de modo a ter um acompanhamento de instrutor, ainda hoje peço desculpas, porque no final do treino você simplesmente se jogou no chão e disse que nunca mais voltaria, gargalhei chamando a atenção de muita gente, murchei de vergonha, seu rosto de pardo, estava quase da cor de um tomate. — o vento traz umas folhas amareladas que do chão, ficam no meu colo, sobre o vestido preto, retiro-as cuidadosamente. — Decidimos ir aprender um novo idioma. Ainda guardo a listinha do debate.

Abro a bolsinha que estava pendurada no ombro e desdobro o papel.

Alexandre: Português (nativo), japonês (fluente), inglês (avançado).

Natasha: Polonês (nativo), português (fluente), inglês (fluente), coreano (avançado).

Idiomas em comum: Português e inglês

Interesses: Espanhol, francês, italiano e russo.

— Passamos um ano estudando espanhol, por ser próximo do português acreditamos que seria fácil, iludidos ou ingênuos? Os falsos cognatos deram um nó na nossa mente, nós estressando e a cada acerto trocávamos beijos e assim que terminávamos de fazer os exercícios, comíamos doces e o tempo passou, precisávamos tomar rumo na vida. Meu pai queria que eu retornasse pra Polônia, para cursar contabilidade e você queria relações internacionais. Sem querer desobedecer, conversei, me fez deitar no seu colo e iniciou um cafuné, com sua voz grave disse que iria tentar uma bolsa na Polônia e se não conseguisse, iria me esperar. Ninguém espera por quatro anos, foi minha resposta. Sorriu como se guardasse um segredo e permaneceu em silêncio. No dia do meu embarque, meu amor estava lá e me deu uma cartinha  com um enorme panda e um moletom seu para lembrar do seu cheiro. Apesar de ter cidadania brasileira, trabalhava ajudando meu pai e você trabalhava em uma livraria. Antes de passar pelo portão de embarque, abraçou-me e me deu um beijo discreto, porém carregado de saudades e palavras não ditas. — coloquei a mão na bora rapidamente, impedindo que um soluço alto escapasse.

Limpei o local que estava, para aliviar a angústia presa dentro de mim, após tudo arrumado, vejo as Nimbus se agruparem.

— Sabe que assim que o avião decolou, abri sua carta e guardo-a comigo até hoje. — pego ela que está dentro de um envelope azul, desdobro a folha. — Lia ouvindo sua voz.

Minha princesa polonesa,

Às vezes penso que nosso encontro nunca foi por acaso, foi o destino brincando de ser cupido, devagar fui percebendo que não poderia continuar nessa jornada chamada vida sem você ao meu lado, em que momento percebi?
Talvez tenha sido naquela loja em que comprei o moletom que te dei, faz mais de um ano, mas quando sai do provador e vi a forma como me olhava, pensei, é ela.
Foi você, Nath, que cuidou de mim quando adoeci, quando desmaiei por esgotamento fui parar no hospital e assim que abri os olhos, lá estava com a expressão triste, olhos cheios de lágrimas, me abraçou e implorou para que me cuidasse melhor.
Alguns meninos correriam das namoradas quando estão naqueles dias, eu batia de frente, levava chocolate e maratonei uma das séries mais chatas da minha vida, Barbie, mas sentir você abraçada a minha cintura era uma das melhores sensações do mundo.
Entendi sua decisão de não querer desobedecer seu pai, além de sentir saudades de casa e de alguns amigos que deixou para trás, pedir para que ficasse seria puro egoísmo e sendo assim, preferi te vez feliz ao partir. Mas se dentro de dois anos a gente se encontrar, posso ser seu rei?
Afinal você vive cantando que "não existe herói de quem é rainha".
Então juntos seremos grandes.

"Eu nunca vou voltar atrás na minha palavra, porque este é meu jeito ninja!"

— Uzumaki, Naruto.

Te amo.

Lágrimas escorriam sem controle e o soluço que antes tentei abafar, agora sai sem barreiras.

— Dois anos se passaram, estava no quarto período, metade da faculdade quando vi que o prazo se esgotou, ali dentro do meu coração tolo, acreditei fielmente que você encontrara outra garota para chamar de princesa ou bagunçar o cabelo toda vez que encontrava. Alguns amigos tentaram ligar para você e só dava caixa postal, pedi para deixarem o assunto morrer, porque só dali a mais dois anos, retornaria para o Brasil. — passo as mãos nos cabelos para organiza-los. — E de repente durante uma aula, um estrangeiro pediu licença, sotaque brasileiro, invadiu a sala e falou que um avião que vinha do Brasil para a Polônia caiu perto do aeroporto de Munique na Alemanha. A sala entrou em desespero e em estado de choque, fiz a discagem rápida para o celular do meu pai. Assim que atendeu, implorei para ele falar que você não estava nesse voo. A resposta veio como um soco no estômago, positivo, estava nesse voo vindo me pedir em casamento. Cai no chão gritando, implorando por qualquer milagre. As aulas foram interrompidas, todos corremos para o pátio, cada um com seu celular aguardando o governo da Alemanha se pronunciar, divulgando os nomes dos sobreviventes. O reitor mandou todos para casa, quem sabia da nossa história foi para minha casa e a cada nome, tínhamos esperança de ser você. Contudo, não aconteceu, até o último pronunciamento, semanas depois, tivemos esperança, mas quando o presidente falou que todos os sobreviventes já estavam no hospital e nenhum brasileiro sobrevivera. — um nó se forma na minha garganta e com muita dor, me forço a engolir. — Meu mundo caiu, por que você teve que insistir em vim? Depois da formatura iria voltar ao Brasil, existia distância, mas essa nova que nós separa, parece ser infinita. Mesmo hoje completando cinco anos da sua morte, três anos que me formei e voltei para casa da minha mãe, esse vazio que está em meu peito, talvez nunca será preenchido, porque você foi meu primeiro e único amor. Não desistirei de viver, odiaria saber que me rendi ao luto, afinal esse era o seu jeito ninja.

Fico em pé e em frente a lápide, consigo ler.

Alexandre Garcia Soares

09/08/2001
21/12/2021

Eterno filho, neto, irmão, amigo e namorado.

Com mil motivos pra chorar
Eu ainda vou escolher sorrir.

— Uzumaki, Naruto


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top