Fase 2: Ficção científica
Entre mundos
Finalmente chegou o tão temido dia da prova de passagem, onde todos que completaram quinze anos são obrigados a participar.
Meninas para serem consideradas mulheres, precisam sobreviver a uma semana dentro de uma floresta, com os conhecimentos de raízes, plantas medicinais e um canivete.
Meninos teriam que passar o mesmo período, apenas com habilidades de caça e pesca, uma lança seria seu instrumento.
Eles se foram e eu estou perante um tonakim — tribunal — porque sou diferente dos habitantes desse lugar.
Sou humana.
Perdi contato com o meu planeta aos quatro anos, meus konoto — pais — falaram que fui abandonada em um ambiente quase deserto, encontraram-me na nave, bem distante da galáxia e a única opção viável foi trazer-me ao meu atual lar.
Sem condições de realizar a mesma prova que eles, minha pele é muito sensível, falta resistência a certos venenos e força para enfrentar os animais daqui.
— O que faremos com ela? — um dos tonakirins — juízes — me encara de cima a baixo. Sou relativamente pequena se comparada aos outros, tenho 1,56 de altura, pele pálida, magra com os cabelos castanhos em duas tonalidades, escuro e claro, olhos próximos a cor de mel. — Se ela não realizar nenhuma prova, nunca será considerada mulher e então não poderá casar.
— Um problema na nossa sociedade. Lembra o nome da sua galáxia? — o segundo extraterrestre questiona, poucas coisas os tornam diferentes. Aqui, as cores das roupas que simbolizam sua posição social.
— Via-Láctea, senhor. Planeta Terra, terceiro planeta mais afastado do Sol. — todos são muito altos, chegando a 2,50. As crianças têm por volta de 1,68. Sua pele é de um azul bem escuro, olhos pretos como a escuridão.
— O que lembra sobre ele? — a resposta deveria ser óbvia, mas responder com grosseria, tem punições severas, nunca toleraram atos de rebeldia.
— Quase nada senhor. — o ambiente é quente, possuem sangue gelado e a temperatura alta ajuda a manter o equilíbrio corporal.
— Nós dê alguns minutos, tomaremos a decisão. — Assenti com a cabeça e afastei-me. As paredes não são decoradas, minhas roupas simples, dificultam o contraste. Blusa de manga longa rosa e calças de um tecido conhecido por aguksu, servem para manter-me resfriada.
Fecho os olhos e início a primeira canção que aprendi após chegar aqui.
Ateru ah, onihutsoru, imoresa
…
Pequena escuta, é importante, você é especial para nós.
— Arthemis venha aqui! — Chegou a hora e admito que não estou preparada. Retorno para perto da bancada.
— Desde que chegou, tem conhecimento das suas origens diferentes e seria injusto te obrigar a ir para floresta. Então chegamos à seguinte conclusão: por dois anos, irá embora desse lugar, terá que viver entre os da sua raça, adquirir conhecimentos e então tomar a decisão final. Retornará conosco ou ficará com os seus?
Ir ficar com outros humanos? Meu conhecimento do idioma é muito raso, haverá desconfianças, contudo, negar a prova, significa ser rejeitada pela minha família daqui.
— Irei como solicitado. — dispensam-me com a mão e saio, a passos lentos, volto para casa, o casal que me adotou foi muito paciente, ensinaram o idioma, costumes e tradições. Nunca fui excluída das atividades, porém, precisavam ter muito cuidado comigo, um osso quebrado, dependendo do local, ocasionaria a morte pelo sangramento.
As residências parecem castelos, devido à altura deles, entro na casa e fui direto à área adaptada para mim. Tudo de 1,55. Pego a pequena mala sem saber o que levar.
— Filha. — viro-me, meus pais estão chorando, um líquido amarelo sai de seus olhos. — Soubemos da decisão e não importa a sua escolha. Para sempre te amaremos humana. — essa palavra nunca foi usada de modo pejorativo, faziam questão de lembrar que apesar das diferenças, sou importante.
— Gtsenla e Washniyer, amo vocês. Se pudesse ficaria aqui para sempre, mas se não aprender sobre meu passado, será impossível pensar no futuro. — se ajoelham e perco-me naqueles braços acolhedores. Painho me coloca em seu colo e mainha vai ajeitar o que preciso levar.
As horas passam rápido demais, vamos dormir e quando a luz adentra a morada, sei que chegou minha hora. Beijo seus rostos, pego a mala e entro na nave que me aguarda do lado de fora, a roupa vai me proteger da velocidade, o capacete dará oxigênio.
O que será que aconteceu no meu planeta de origem?
— Podemos ir? — um alien olha para mim quando aperto o cinto.
— Que nada de ruim aconteça. — falo baixinho. — Sim! — não posso falhar.
O que pode acontecer comigo?
Será que poderei ao menos ter aliados?
A nave flutua e em segundos ultrapassamos a velocidade da luz. Uma loucura incrível.
Quais conhecimentos precisarei adquirir?
Se forem iguais os daqui, será política, acordos de paz, tratados, evolução, talvez sobre aqueles que são contra o governo, fauna e flora.
De que país vim mesmo? Brasil. Não lembro o continente.
— Durma, quando chegarmos lá, precisa estar descansada. — obedeço, fechando os olhos e relembrando a infância.
Alguma coisa gelada tocou meu ombro, encaro assustada.
— Não posso ultrapassar o limite para não ser rastreado pelos satélites humanos. Entre naquela máquina. — Minha mala já está lá. — Até breve. — Sem tempo para pensar, sumo.
Reapareço em meio a diversas pessoas, com o rosto pintado, bandeiras pretas e gritos incompreensíveis de protesto.
Onde estou? O que está acontecendo?
Preciso ser rápida, vou para um lugar vazio, não tenho ninguém por aqui. Os prédios são diferentes daquilo que lembro, tem árvores de diversos tamanhos e uma palavra diferente, sorvete, roupa nova? Será que é isso?
— Menina, está perdida? — um cara com pelos na cara me olha, bem mais alto do que eu, isso é a coisa mais fácil do mundo, negro e cabelos de tranças.
Nunca vi um homem de cabelo grande e esses pêlos na cara? Fazem parte deste ambiente?
— Sim. Onde estou? — a gritaria aumenta, pontadas na cabeça me fazem encolher no canto.
— Em uma manifestação de anarquismo libertário. Vem, vou te tirar daqui. — me leva até alguns homens de preto, chamados de policiais.
Anarquismo? Povo pra gostar de palavras incompreensíveis.
Vou iniciar a missão, agora, por qual lugar? Eis a questão.
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