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CAPÍTULO QUINZE:

꧁ Aquele projeto de trasgo ꧂

— Eu fiz o movimento arriscado, eu finalmente a chamei!— Gina veio correndo e gritando até mim, empurrando várias pessoas para o lado no meio do corredor lotado e atraindo muitos olhares tortos para si sem se importar. Tive de aparar sua corrida segurando-a pelos ombros.

— Calma aí, foguenta!— dou risada, surpresa. Os olhos dela estão brilhando tanto que corro o risco de ficar cega se encarar por tempo demais— Do que você tá falando?

— Chamei a Luna para sair e ela aceitou!— ela disse e nós duas começamos a dar gritinhos e a pula de mãos entrelaçadas.

— Oh! Espera!— a obrigo a parar, uma breve preocupação me ocorrendo— Você especificou que estava a chamando para um encontro, não é? Que sua saidinha teria um teor romântico.

— Claro! Eu não esqueceria disso!— ela diz sem me passar muita confiança. Meus ombros caíram e eu a encarei com pesar.

— Você esqueceu, né?

Gina bate o pé e solta um gemido frustrado.

— Que merda, esqueci!

— Amiga, você sabe que tem que ser muito clara e objetiva quando for falar com a Luna! Principalmente quando o assunto for sério.

— Eu sei.— a ruiva choraminga, apertando minhas mãos.

Nós duas sabemos que a Luna é meio... desligada, por mais inteligente que seja. Ela não tem nem a menor malícia para interpretar o que Gina deve ter lhe dito.

— Deve ser por isso que ela perguntou se você também ia.

Eu deixo escapar uma risada e a minha melhor amiga me olhou torto.

— Desculpa.— cubro a boca para abafar o riso, o que só piora minha crise. Gina dá um tapa no meu braço.— Au! Amiga!— reclamo porque doeu.

Ela cruza os braços e me dá as costas, emburrada.

— Você não devia rir de uma coisa dessas.— ela censura e eu dou uma corridinha breve para alcançá-la.

— Eu só estou fazendo meu papel como sua amiga.— dou de ombros com um sorrisinho no rosto.

— Que péssima amiga, hein!

— Ah, para de choramingar.— eu enlaço meu braço no seu. Gina não abandona o biquinho.— Isso pode ser consertado sem problema algum! Agora, me diga, quando vai ser o seu encontro?

Ela sorri, mas como não quer que eu veja, vira o rosto para o lado.

— No próximo final de semana.— resmunga.

— Por que não nesse?— pergunto. A ruiva une as sobrancelhas para mim.

— Porque é seu final de semana, ora! Onde já se viu? Eu nunca perderia um aniversário seu por causa de um encontro. Mesmo com a Luna.— ela responde com seriedade e eu dou um sorriso, empurrando-a com o ombro na direção da cozinha que era pra onde eu pretendia ir, para início de conversa. Preciso mastigar alguma coisa antes de ir para a próxima aula.

— Não tenho problemas com isso.— falo com sinceridade— E o final de semana não é todo meu. Meu aniversário é no sábado. Podemos cortar um bolo e abrir presentes pela manhã, depois, à noite, você leva Luna para um jantar sob a luz de velas.— ofereço a alternativa.

Gina sacode a cabeça, contrariada.

— Você já me fez diminuir o seu aniversário para apenas dois dias, não ouse me fazer aproveitar apenas um!

Até um tempinho atrás, Gina gostava de transformar todo o mês de outubro em algo feito para mim e especialmente para mim. E, ok, por mais que eu ame ser paparicada como qualquer ser humano na face da terra, ela pode passar dos limites as vezes ao me mimar no meu mesversário. Foi uma luta até chegarmos nas "quarenta e oito horas da Adhara". Uma luta e tanto.

— Você não tem que ir resolver uma coisa?— pergunto para ela assim que chegamos nas escadas que nos levariam para a cozinha. Gina parece confusa por um instante.

— O que?

Levanto as sobrancelhas para ela e espero que minha garota chega a conclusão sozinha.

— Ah, santo Merlin, a Luna!— ela diz, se soltando de mim. Eu fiz isso tanto para ela já dar um jeito nessa pequena confusão, quanto para fugir desse assunto. Como diria Lilly Evans: dois coelhos numa cajadada só.— Tenho que esclarecer as coisas, nos vemos depois!?

Mas ela sai correndo antes que eu responda. Sorrio e balanço a cabeça, indo invadir a cozinha sozinha. Pelo menos era minha intenção, no entanto, quando passo pela passagem, vejo que os elfos já estão ocupados com outras pessoas. Um bando de garotos que eu já conheço.

Urgh.

Cruzo os braços e solto um suspiro. Vejo Aspen, Louis, Joseph e até mesmo Ian sendo paparicados e servidos pelos elfos ansiosos da cozinha abafada. Eles trabalham a todo vapor, erguendo bandejas cheias de aperitivos e limpando a sujeira que os garotos causam no chão e nos próprios uniformes como se eles fossem bebês enormes.

— Black!— Louis, o garoto de traços coreanos, é o primeiro a me notar, jogando a mão para cima para me cumprimentar, a boca melada do que deve ser geleia. Assim que os elfos percebem minha presença, vem me cumprimentar com todo o carinho do mundo. Sorrio para eles e aperto as mãos de cada um. Não venho muito aqui, mas todas as vezes que boto os pés na cozinha sou muito bem tratada. Não teria como esperar qualquer outra coisa dos elfos domésticos mais prestativos do mundo bruxo.

— Olá, bom dia, bom dia!— fico repetindo enquanto eles empurram minhas pernas para que eu me sente ao lado dos garotos numa mesinha pequena que só pode pertencer a eles.

— Que está fazendo aqui, Black?— Aspen me pergunta, à minha esquerda. Sorrio para ele.

— Esta virou uma zona privada e eu não estou sabendo?— retruco na brincadeira e os garotos agem como se eu tivesse metido os dois pés na cara do Greengrass. Dou risada e enlaço o braço do garoto que faz biquinho para mim.

— Você é muito cruel.— ele diz, se debruçando na mesinha.

— Não seja bobo. E cadê o Potter?— pergunto olhando ao redor. Nem sinal do diabo.

— Ele foi fumar.

— Ele está se atracando com uma garota da Lufa-Lufa no dormitório.— Louis e Aspen falam ao mesmo tempo e trocam olhares. Louis fica confuso ao passo que Aspen parece censurá-lo. Franzo a testa sem entender, mas a real justificativa não me interessa em nada. É bom que ele esteja ocupado e longe de mim.

— Senhorita?— um elfo de voz esganiçada me estende uns muffins de blueberry e eu aceito de bom grado.

— Muito obrigada, meu bem.— digo e o elfo baixa as orelhas abrindo um sorriso torto.— Quais os planos de vocês para esse final de semana?— volto a me concentrar nos rapazes.

— Sei lá.— Joseph responde, brincando de malabarismo com algumas maçãs.

— Nenhum. Quero estar livre para ir aproveitar seu aniversário.— Aspen me empurra de leve com camaradagem e eu dou risada.— Vai se tornar adulta, e quer saber de uma coisa? Daí pra frente só piora.

— Adorei o otimismo.

— Isso não foi muito legal.— Ian faz careta do outro lado da mesinha entre Louis e Joseph e quando o encaro, ele sorri.— É seu aniversário, e então? Pretende fazer uma festa?

— Não tenho certeza ainda.— admito, pensativa— Estou muito tranquila, então pode ser que seja algo bem pequeno e rápido. Só os amigos, sabe?— dou de ombros, dando uma mordida grande no muffim. Hm, está uma delícia.

— Você diz isso todo ano.— Aspen zomba. Termino de mastigar antes de responder.

— Não é culpa minha. Vocês que me fazem mudar de ideia sempre.

— Fala como se não fosse a coisa mais fácil do mundo.

— Está bem. Se você insiste, eu não faço nenhuma festa esse ano.— provoco. Os garotos na rodinha me vaiam.

— Qual é, vai ser a primeira festa do ano!— Louis reclama— Ninguém do último comemorou a volta às aulas e o Halloween ainda está longe.

— Você tem que aprender a deixar o Halloween para as crianças, mano.— Joseph zomba, levando um murro no ombro de resposta.

— Eu sou um bruxo, o que você quer que eu faça? É dia das bruxas, otário.

Nós rimos e nos distraímos enchendo a boca.

— Se você... não for fazer uma festa de aniversário, vai fazer o que?— Ian pergunta para mim. Outra vez me encontro pensativa.

— Não sei. Quem sabe... tricotar. Estou pensando em fazer um par de luvas para o meu pai!— admito empolgada.

— Boooo, entediante!— Aspen vai e eu dou um soco na sua coxa, rindo.

— Você tem inveja porque não é nada habilidoso.

Aspen leva a mão ao peito, fazendo-se de ofendido.

— Você é uma garotinha cruel, senhorita Black.

— Eu só trabalho com fatos.

Aspen revira os olhos.

— Senhorita...— Ian me chama novamente e eu o observo. Parece estar querendo muito me falar alguma coisa.

— O que foi?— uno as sobrancelhas.

— Oi, Bruendon!— Joseph cumprimenta de boca cheia e eu reviro os olhos antes de olhar por cima do ombro e encontrar aquele projeto de trasgo, com os cachos bagunçados e uma camisa desalinhada. Seus olhos castanhos encontraram os meus e ele abriu um sorrisinho debochado. Tem um chupão no seu pescoço, que.nojo.

— Lúcifer, o que está fazendo aqui?— ele se senta no único lugar disponível, que para minha total insatisfação, é do meu lado.— Veio estragar meu dia?

— Engraçado, poderia te fazer essa mesma pergunta.— retruco e ele revira os olhos, pegando uma xícara de chá com um elfo que vinha passando.

— Do que vocês estavam falando?— ele quer saber, levando a xícara aos lábios inchados. Deve ter sido intenso o que quer que tenha acontecido no dormitório.

— Nada, você meio que atrapalhou algo que o Ian ia falar para a Black.— Joseph conta. Fofoqueiro. Brandon sorri.

— Não seja por isso, voltem de onde pararam.

Todos nós olhamos para o russo que fica escarlate.

— Tá tudo bem, Ian?— fico preocupada.

— E-eu querria saberr... já que naum prretende dar uma festa no seu aniversário...

— Não vai dar uma festa de aniversário?— Brandon corta o clima ao interromper o colega de quarto.

— Não, acho que não.— dou de ombros.

— Por que não?

— Por que isso te interessaria?

— Nunca deixamos de dar uma festa de aniversário.

— E?

— Não se cansa de ser chata, Lupin?— ele me olha com tédio, baixando a xícara.— O que é que eu vou fazer esse final de semana?

— Primeiro: não tô nem aí. Segundo: se fosse para eu dar uma festa, quem disse que eu te convidaria?— me volto totalmente para Potter.

— Eu sempre vou nas suas festas.— ele diz como se fosse a coisa mais chata do mundo.

— É! Vai pra tentar traçar uma amiga minha.

— Tentar não. Eu sempre traço.— ele diz com arrogância.— E o que que tem demais? Pelo menos eu te deixo em paz no seu aniversário.

— Sabe o que me deixaria mais em paz ainda? Se você não aparecesse.— abro um sorriso debochado.

— E por que eu faria uma coisa dessas?

— Porque eu não quero você na minha festa!?

— Pensei que não fosse dar uma festa.

— Eu não vou!— irrito-me— Estamos falando hipoteticamente.

— Se na sua festa hipotética eu não apareço, na de verdade eu vou.

— Não.

— Por que não?

— Eu acabei de falar!

— Você não me quer na sua festa de aniversário hipotética porque eu fico me pegando com suas amigas? Isso é o quê? Ciúmes? Quer um beijo de presente?

— Urgh!— levo as mãos para as minhas têmporas como se isso fosse me ajudar a conter a dor de cabeça iminente— De novo esse assunto!

Brandon une as sobrancelhas para mim.

— Eu não queria voltar pra "esse assunto"— ele faz aspas com os dedos.— Só estou falando o que parece.

— Não parece nada, deixa de ser idiota. Eu não te quero no meu aniversário porque você é insuportável.

— Grande coisa, você me aguenta todos os outros dias do ano.

— Não quero ter que aguentar no meu aniversário!— quase grito com ele.

— Gente— Aspen bufa— Vocês precisam transar.

— Cala a boca!— Brandon e eu gritamos ao mesmo tempo.— Ian, volte a falar, por favor!— continuo, mas quando olho na direção em que o Durmstrang estava, não tem mais ninguém ali. Todos nós olhamos ao redor.— Ian?— ele claramente não está mais na cozinha.— Quando foi que ele saiu?

Louis que parecia prestes a pegar no sono sobre a mesinha, solta um suspiro longo.

— Tem um tempinho.

Selei os lábios e percebi que tínhamos estragado o clima da roda toda. Me levanto, pronta para ir procurar por Romanoff.

— Satisfeito?— sibilo para o Potter que me acompanha com o olhar afiado.

— Agora que você está indo embora? Mais do que nunca!

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