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CAPÍTULO DOZE:

꧁ Como um bom líder ꧂

Brandon Evans Potter

Finalmente minha encomenda chegou. Era uma caixa particularmente grande e depois que minha coruja a pousou na minha frente, pareceu tentada a atacá-la. A afastei sacudindo a mão e a assustando. Peguei uma faca da mesa e cortei os nós que a prendiam, quando abri a tampa vi um gatinho preto de olhos amarelos me encarando e uma coisa que eu definitivamente não queria ver tão cedo: um berrador. Assim que teve a oportunidade, ele se ergueu no ar e começou a se contorcer, entupido com um discurso de ódio. É segunda feira de manhã e eu estou no meio do Grande Salão. Vários outros alunos olham na minha direção, mas eu tento agarrar o envelope para abafar seus gritos. Não é a primeira vez que eu ganho um desses e não vai ser a primeira vez que eu não vou ouvir. São sempre a mesma coisa.

Consigo apanhar um pedacinho do envelope quando fico de pé, então ele começa a se contorcer intensamente para sair dar minhas garras e depois um berro infernal escapa dele enquanto queima e se destrói até só restarem picadinhos de papel na mesa da Grifinória. Ignoro os olhares e volto a me sentar, frustrado e com os ombros caídos. Eu sabia que isso aconteceria.

Mamãe deve estar furiosa. Olho para o gatinho dentro da caixa e solto um suspiro. É um filhote muito pequeno.

— Bom, acho que vamos conseguir te manter vivo, se você for um dos espertos.

Ele mia para mim e fica de pé na caixa, balançando o rabo lentamente. Fico quase com pena. Aspen não tem um bom histórico com bichos de estimação. Não que ele os maltrate, longe disso, mas as vezes eles fogem, o atacam ou, como aconteceu recentemente, morrem por culpa dos amigos dele.

Estendo a mão para que o gato sinta meu cheiro e ele passa a língua áspera nos meus dedos, cravando as garrinhas finas na minha pele e querendo se pendurar em mim. Não machuca.

— Aposto que você vai se chamar Kitty, sabe, seu novo dono não tem muita criatividade.— comento, o puxando para o meu colo. Fiz carinho nele e o senti ronronar contra o meu peito. Sorrio para toda aquela fofura. É tanta que deveria ser crime.— Quer conhecê-lo?

[...]

Quando entro no quarto, encontro Aspen deitado de bruços na cama.

— Cara? Tá dormindo ainda?— pergunto.

— Não.— ele responde com um grunhido— Estou só descansando a vista.

Sopro uma risada e me aproximo dele.

— Levanta, bundão.

— Só mais cinco minutinhos.— ele resmunga. Já está de uniforme. Deve ter se arrumado todo só para se jogar de volta na cama. Não posso julgar.

— Acorda, tenho uma coisa pra você.

— Não importa o que seja, não vai me fazer transar com você.— ele vira de barriga para cima e eu reviro os olhos. Quando Aspen me encara, demora até descer os olhos para o gatinho nos meus braços.

Ele se senta em um pulo.

— O que é isso?— ele pergunta tolamente, puxando o animal de mim com muito desejo.

— Não é um dragão.— respondo.— Ou, ao menos, eu espero que não se torne um, porque aí teremos  um problema.— O Greengrass revira os olhos para mim— É pra você, seu idiota.— meto as mãos nos bolsos com um sorriso maroto. Aspen me encara, surpreso e empolgado. Um sorriso brota no seu rosto e ele aninha o gato no colo como se fosse um bebê.

— Mentira!— ele acaricia a barriga do gatinho que até fecha os olhos e se espreguiça de tanto prazer que sente com o carinho.— Você vai me dar ele? Por que?

— Porque eu matei o Spider.— faço careta, me sentando do seu lado— Me senti mal e não queria que você ficasse sem nenhum animal no qual você poderia colocar um nome estúpido e simples antes dele te abandonar.

Aspen me encarou e balançou a cabeça lentamente.

— Você quase fez algo gentil sem dizer uma coisa especialmente grosseira. Estou orgulhoso.— ele sopra uma risada e eu dou de ombos, afundando as mãos no colchão atrás de mim.

— Se eu fosse completamente gentil, não seria eu.

— E eu começaria a duvidar se você é hetero mesmo. Tipo, isso foi uma atitude muito atenciosa— ele levanta as sobrancelhas, sugestivo. Cerro os olhos e ele me lança uma piscadela— E, de novo, você agiu como um bom líder.

Reviro os olhos e me levanto irritado que ele tenha retornado pra esse assunto.

— Por que está tão cismado com essa merda? Eu já disse que eu estava brincando aquele dia. Tenho tanta vontade de liderar um bando de imbecis quanto tenho vontade de ir beijar uma sereia.

— Eu sei, mas tem certas coisas sobre nós mesmos que precisam ser aceitas...

— Eu não tenho nada a ver com a liderança.

— Lógico que tem.

— Como você conseguiu transformar o meu ato de te dar um animal de estimação em uma atitude de liderança? Eu só estou fazendo um bom papel de amigo.

— Líderes bons prezam pelo bem estar do grupo. Você viu que eu estava pra baixo e tomou uma atitude pra acabar com isso.— ele levantou o gatinho para eu o olhar nos olhos. Sacudi a cabeça. Ele não está falando nada com nada.— Era o que a Nixie fazia, lembra?

— Não somos mais um grupo, caso não tenha reparado.— pontuo o óbvio— A Lupin debandou e a Weasley foi com ela. Somos só nos dois, e deixa eu te falar? Melhor assim.

Não sei porquê, mas ele está balançando a cabeça com um sorriso estúpido no rosto.

— Elas não são as únicas pessoas com quem a gente anda. Aqui no dormitório, por um exemplo...

— Cara, desiste.— o interrompo— Essa sua ideia não vai colar comigo nunca.— falo sério porque preciso que ele entenda.

Aspen cala a boca e dá de ombros.

— Só estou tentando te mostrar uma qualidade sua.— ele volta a se deitar, com cuidado, por causa do gatinho.— Nós dois sabemos que você acha que não tem nenhuma.

Abro a boca para rebater, mas fico tão ultrajado que não sei o que responder. Cacete, essa doeu de verdade mesmo que ele não tenha dito que é o que ele acha.

É verdade, mas eu nunca disse isso em voz alta. Desgraçado, como ele sabe?

— Acho que vou dar o nome dele de Kitty.— ele comenta minutos depois, erguendo o gatinho preto no ar. Seu tom é como se ele não tivesse acabado de me dar um tapa na cara.

— Que chocante.— digo sarcasticamente e me dirijo até a porta, querendo sair.

— E, Brandon, oi!— ele me chama quando minha mão envolve a maçaneta. O olho por cima do ombro.— Eu retiro o que disse antes. Com um presente desses, talvez a gente possa ter uma rapidinha.

Uma risada tosca me escapa.

— Você é patético.— eu saio do dormitório.

— Também amo você!— ele grita antes que eu bata a porta. Eu mereço.

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