Capítulo 3
A semana foi extremamente cansativa. Mirela precisava desesperadamente de uma dose de romance no cinema. O filme do momento era Cinquenta Tons de Cinza. Suas amigas tinham assistido e comentavam sem parar ao ponto de deixá-la extremamente curiosa. Precisava saber o que tinha de tão especial nele, a não ser, é claro, o Jamie Dornan sem camisa, sem outras coisas e todos os outros spoilers que Karen fez o favor de soltar.
Depois de um bom banho, ela estava pronta para qualquer coisa. Pelo menos não estava cheirando a nenhum fluido derivado de combustível.
Com o ingresso comprado, sentou-se para aguardar. Tirou o celular da bolsa, abriu seu Instagram e pôs-se a ler os comentários das quatro últimas fotos que faltavam. Estava lendo os posts da penúltima quando um comentário do próprio Renan lhe chamou atenção... Sério que era o número do celular dele? Mirela o anotou nas costas do panfleto do cinema e depois salvou. Abriu o aplicativo de mensagens e deu gritinhos de felicidades quando digitou o nome nos contatos e foto de Renan, com um sorriso perfeito, apareceu. Ele estava "online", mas a coragem dela não foi suficiente para puxar conversa.
A sessão começaria em poucos minutos. Ela entrou na sala e escolheu o melhor lugar. Colocou o celular no silencioso e o guardou dentro da bolsa. Olhou em volta e notou que a sala estava abarrotada de mulheres loucas para verem o ator gostosão, ela riu do último pensamento.
Para sua surpresa, também via muitos homens. Talvez fosse pelas cenas quentes protagonizadas pela Dakota Johnson.
Mirela quase foi apedrejada pelas suas amigas quando não conseguiu terminar o livro porque discordava de alguns fatos abordados. Ela decidiu ver o filme apenas para provar para as amigas que sempre esteve certa, a história era um porre, mas também pelo ator principal, que foi perfeito no papel do caçador em "Once Upon a Time" e ela entrou em crise existencial quando ele morreu na primeira temporada.
O filme estava começando quando um panaca desavisado, usando um boné cinza de aba reta, entrou na sala com um balde gigante de pipoca em uma das mãos. Todos começaram a reclamar, e ele tratou de procurar um lugar para sentar. O único vago era uma cadeira ao lado dela. O cara saiu pisando nos pés das pessoas, tropeçando nas cadeiras e, quando finalmente chegou, se desequilibrou e caiu por cima de Mirela, derramando o balde de pipoca nela.
— Seu babaca, olha o que... — Ela arregalou os olhos e parou no meio da frase ao reconhecer a pessoa que lhe causou constrangimento.
Renan Barbieri estava paralisado a olhando, como que por um encanto. O cheiro dele a deixou tonta. Ele usava uma calça branca, uma camisa jeans manga longa. Conseguia ser mais gato do que ela se lembrava! Pela proximidade, pensou, por um momento, que talvez fosse beijá-la. Então, uma pessoa atrás deles gritou.
"Vocês não vão nem esperar o filme começar pra dar início à pegação?"
— Tem pipoca no seu cabelo — ele disse, sentando ao seu lado, com um sorriso arrebatador. A voz mansa e compassada lhe causou arrepios. — Me desculpe pela bagunça, moça, mas assistir a este filme não era uma das minhas prioridades. Aquela atendente desatenta me vendeu o ingresso errado. Fiz o maior barraco na fila de entrada, mas eles não trocaram e nem me devolveram o dinheiro. Não perco meus vinte reais nem a pau! A propósito, sou Renan Barbieri.
— Mirela, sem sobrenome de rico mesmo. — O homem riu e ela estendeu a mão para ele que a apertasse. De repente, a sala lhe pareceu estar pegando fogo. — Se você tirar esse balde de pipoca de cima de mim, posso até pensar se desculpo!
— Ok! — ele disse, pegando o balde e tirando algumas pipocas espalhadas pela cadeira que acabara de sentar. — Admita, a minha entrada foi inesquecível.
— Cale a boca, você está na sessão errada, mas eu não.
"E pare de sorrir, por favor!", queria acrescentar, mas achou melhor ficar calada.
Se não estivesse sentada, ela com certeza estaria escorada em alguma parede, porque suas pernas estavam bambas e a voz dele lhe causava arrepios. Usou todo seu autocontrole para não fazer nada idiota. Concentrou-se na tela, no protagonista gato correndo sob um céu cinza, escolhendo a gravata cinza, vestindo um terno cinza, entrando num carro cinza. Como é o nome do filme mesmo?
— Vem cá, esse cara é alguma espécie de deus? Porque ele, puft, aparece em todo lugar do nada.
— Olhe para ele, Renan, é um gato milionário e com o helicóptero particular. Isso dá a ele o direito de aparecer onde quiser. O que eu não entendo é como um cara que pode pegar até a Angelina Jolie quer essa tapada e atrapalhada? Tudo bem que ela tem esses olhos perfeitos e esse corpo invejável, só que fala sério, né?
— Silêncio! — um casal na fileira da frente ralhou.
Eles se calaram, olharam um para o outro e seguraram o riso.
Continuaram observando cada cena atentamente, até que Renan começou a cochichar no ouvido dela.
— Que merda é essa? Por que esse homem precisa de um contrato assinado pra "foder" essa mulher?
Ela riu, sentindo os cabelos em sua nuca eriçarem e suas mãos gelarem com a proximidade.
— Talvez porque tenha gostos peculiares — ela cochichou de volta.
— Mirela, esse filme é uma puta sacanagem com as mulheres — ele disse quando Grey mostrou o quarto de jogos e todas as moças presentes na sessão suspiraram, achando ele um fofo. — Passaram anos lutando pela liberdade, por direitos iguais, para voltarmos a isso? Se alguém me contasse, eu não acreditaria que o sonho secreto de toda garota é ter um cara que bate nelas. Que isso?! E a lei Maria da Penha, onde fica?
— Por favor, retire meu nome dessa sua lista do sonho secreto de todas as mulheres...
— Fala sério. Isso é machismo barato... O quê? Ele dá umas palmadas nela porque não aceita o carro de presente? Se me der um carro, Grey, pode bater em mim o quanto quiser...
Renan deu uma gargalhada alta e Mirela não conteve os espasmos de riso.
Foi assim que ambos acabaram sendo expulsos da sessão do filme.
— Onde é que eu estava com a cabeça quando decidi assistir a esse filme para não perder o meu dinheiro?
— Eu nem queria assistir esse filme besta mesmo... — ela disse, fingindo indiferença ao caminharem para fora do cinema.
Encantada, seria a palavra correta para descrever o que estava sentindo. Apesar de terem sido expulsos, foi bem divertido. Quando achou que iria se despedir, o cara a surpreendeu mais uma vez.
— O que acha de debatermos mais sobre esse filme tomando um milk-shake?
— Ok! Quer me fazer ser expulsa do shopping agora?
— Prometo que não vou tropeçar ou cair em cima de você e nem fazer com que te expulsem do recinto.
Um deus grego que ria e a fazia rir como uma louca. Por essa realmente não esperava!
Haviam sentado em um banquinho minúsculo no meio do shopping, as pernas se tocando a cada movimento, e isso a deixou tensa.
— Deixando o filme de lado, faz muito tempo que mora aqui, Mirela?
Renan falava seu nome de uma maneira engraçada, o que só piorava as coisas.
"Oh, céus! Ele tinha que ser bacana? Por que ele não é um ogro? Ainda existe a possibilidade de que seja gay!"
De qualquer forma, isso ajudaria em nada mesmo.
— Sei lá, acho que uns vinte anos. Só não nasci aqui, viu?!
— Sério? Quando você disse vinte anos pensei que estava exagerando. Uma adolescente com senso de humor, só isso.
— Uma adolescente? Eu? Fico lisonjeada, mas passei a maioridade há um bom tempo. Tenho vinte cinco anos.
— Brincadeira! Tenho vinte e sete anos, nem sou tão velho assim, mas não convidaria uma adolescente para sair. Onde esteve escondida esse tempo todo? Porque praticamente nasci nessa cidade.
— Sempre estive por aqui. Talvez nós andássemos distraídos demais... Você mora há muito tempo na cidade?
— Não moro aqui. Me mudei há quatro anos, mas sempre venho nas férias para visitar meus pais, que continuam morando aqui. Agora só a minha mãe. Talvez tenha conhecido o meu pai, ele faleceu há quase um mês. — Ela viu uma nuvem de tristeza passar pelos olhos dele.
— Sinto muito!
->|��=��,
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top