— E então para escalar uma fenda usamos um formato de concha — e curvei a mão mostrando como fazer — A parte de trás da mão dá apoio e os dedos a força, uma atrás da outra e conseguimos subir.

— [Nome] você é incrível, eu quero tentar! Né Brandon, podemos tentar!

Briana levantou na cama e ergueu os braços no alto, depois que as coisas se acalmaram um pouco era comum eu receber as visitas das duas crianças e os ter como companhia pelo dia.

— Bri não fique de pé, pode cair em cima da [Nome] — o mais velho pegou a irmã no colo e a colocou no chão — Levi não ficaria nada feliz com isso.

Coloquei a mão na frente do rosto disfarçando uma risada, Brandon era um ótimo garoto assim como a irmã, mas com a personalidade completamente inversa. Era quieto, observador e inteligente sempre que eu contava histórias ou explicava mais sobre as habilidades especiais que estava desenvolvendo ele me encarava com seus grandes e brilhantes olhos cor de mel.

A menina me interrompia com constância, mas ele esperava sempre eu terminar de falar para perguntar, questionamentos válidos e pertinentes. O tipo de coisa que eu esperava do meu grupo de treinamento, certo dia quando ficamos sozinhos por algum tempo ele me perguntou sobre a tropa de exploração.

— Pretende se tornar um soldado e seguir os passos do seu pai Brandon? — Girei o restante do chá no fundo da xícara antes de beber. Virou um hábito ter aquela bebida por perto, mesmo quando Levi estava longe.

— Como meu pai não, [Nome]. — o garoto olhou para as próprias mãos — Hum... Como você.

-Oh. — aquela informação me pegou desprevenida, acreditava ser normal as crianças tentarem seguir os passos dos pais, por influência ou afinidade. — Me sinto lisonjeada, mas porquê?

— Porque você salva pessoas. — num ato de coragem o menino ergueu a cabeça, seu rosto estava levemente corado, mas tinha determinação — Quero dizer, sei que a tropa sai para descobrir como lutar contra os titãs. Mas você protege eles, essa é a função da sua equipe não é? Diminuir as baixas.

— É o objetivo, muitas coisas podem acontecer além de ser atacados por titãs. Brandon, não é um caminho fácil é necessário sacrificar muito e-

— Eu sei, estou pronto.

Mesmo que diferente, as chamas da vontade de Ronan iluminavam o fundo de seus olhos com determinação.

— Se é o que realmente quer... — Balancei a cabeça e sorri. — Seis meses antes de entrar no alistamento venha me procurar.

A porta se abriu, era Ally também já curada, provavelmente veio acompanhar as crianças na volta para casa.

— Mas já? — Briana reclamou se agarrando na saia do vestido da mãe — Quero ficar mais com a [Nome], ela está nos ensinando a subir paredes com as mãos!

Ri alto com a explicação dela — Obedeça sua mãe Briana, já está tarde. Tenha certeza de que tem um soldado acompanhando vocês.

— Tá! Vamos conversar mais amanhã então!

A menina ergueu a mão para acenar para mim, mas desviei o olhar para as minhas mãos não respondendo. Na manhã seguinte, ao nascer do sol, seguiríamos viagem rumo ao quartel da tropa de exploração, não estava completamente curada apenas o suficiente para montar num cavalo seguir uma viagem devagar.

— Você vai embora - Brandon concluiu sozinho observando a minha reação.

Realmente uma mente afiada e perceptiva.

— Sim, partiremos assim que o sol se erguer. Já não temos mais objetivos em Yakell precisamos retornar a nossas funções. Vou me recuperar melhor estando com a tropa.

— M-mas — pela primeira vez desde que conheci Briana ela não terminou uma frase, ela soltou Ally e correu aos tropeços em minha direção se jogando contra mim num abraço. Não liguei para a dor que veio com esse movimento, acariciei seus cabelos enquanto esperava as lágrimas cessarem.

— Você pode esperar até se curar por completo! Divido o meu quarto com você e meus doces!

— Obrigada Bri, mas as coisas vão além disso. — passei o polegar pela sua bochecha — Chegou a hora de ir, mas não significa que sumiremos.

— Você promete? Que não vai esquecer de nós, você tem que vir no meu aniversário! E Levi também, mãe quando é meu aniversário?

Ally riu e se apoiou na porta — Em alguns meses.

— Então promete que vem me visitar em alguns meses — ela ergueu o dedo mindinho para selar a promessa.

— Prometo.

— Vou sentir sua falta [Nome].

Apertei a criança em meus braços não conseguindo conter meus próprios sentimentos — Eu também, agora vá. Antes que fique tarde.

O garoto ficou receoso em me abraçar então só apertou a minha mão numa despedida formal envergonhada. Ally não disse nada apenas me deu um aceno de cabeça que foi mais que o suficiente para demonstrar sua gratidão e então os três partiram me deixando apenas com o silêncio do quarto e algumas lamparinas.

Coloquei os pés no chão e me levantei para ver o grupo indo embora pela janela, mesmo da rua eles acenaram e eu acenei de volta. Fiquei velando suas figuras até que deixassem meu campo de visão, levaríamos um bom tempo para nos encontrarmos de novo.

Fiquei por mais algum tempo observando o cenário noturno, isso até que batidas soaram na porta, pedi para entrar e Levi apareceu.

— Porque dessa cara?

— Briana e Brandon descobriram que vamos embora — Expliquei e sai da janela, puxando a cortina em seguida — Foi pouco tempo... Mas acho que sentirei falta.

— Entendo. Não podemos ficar aqui para sempre. — ele cruzou os braços e se encostou na porta. Seu olhar mirou o chão como se estivesse pensando em algo.

— Queria ter se despedido não é? — perguntei e é claro que ele negou a princípio — Não precisa fingir que não se importa Levi, as crianças te lembram dos seus antigos companheiros não? Isabel e Farlan.

O pensamento pareceu ter o pego de surpresa, foi fácil de perceber já que ele sempre parecia ficar distante em algum ponto.

— Convivi pouco com eles, mas consegui enxergar semelhanças nos comportamentos. Imagino que deve ter sido mais evidente para você, mas se te ajuda eles queriam esperar só ficaria tarde demais.

Ouvi um riso escapando da boca dele — Claro que sim.

— O que me lembra de uma coisa — me aproximei e estendi o mindinho para ele — Aqui.

Levi me olhou confuso, e me atrevo a dizer ser a mesma feição que fazia quando Hange começava a explicar os titãs.

— Enlace seu dedinho com o meu — disse rindo — Briana me fez prometer que voltaríamos para o aniversário dela, estou passando para você.

— E desde quando isso sela um compromisso?

— Pare de ser chato Levi. — reclamei, e peguei seu pulso contornando seu dedo com o meu — Pronto, agora é uma promessa.

Levi ergueu a mão ainda sem soltar o meu mindinho, e seu aperto aumentou. Aquela reação era uma que eu não esperava — Levi?

Seus olhos encontraram os meus e então ele soltou minha mão, se virando rapidamente e saindo do quarto em seguida — Sairemos pela manhã, se não estiver acordada vou te deixar para trás.

O segui fechando a porta atrás de mim — E isso é uma promessa?

Antes mesmo que eu pudesse pensar, a resposta já escorregou para fora da minha boca. Levi parou e virou. Seu olhar afiado e levemente irritado parecia me perfurar, sabia que ele geralmente se enfurecia fácil com piadas e provocações, entretanto não era nada que particularmente ligava. Culpo a Arlo por sempre ter uma resposta na ponta da língua e me influenciar a fazer o mesmo.

Com passos firmes ele eliminou a distância entre nós e da mesma maneira que fiz antes pegou meu pulso e curvou o dedo com o meu — Agora é.

N/A: Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!