Cuidado



Líder de esquadrão, capitã da equipe de apoio. Parece algo importante, é algo importante, mas depois que Shadis assumiu a minha promoção publicamente parece que fico mais tento no escritório com papéis a serem assinados do que qualquer outra coisa.

Nunca fui uma pessoa muito dedicada aos estudos nos anos que o pai de Erwin estava vivo, não era incomum me ver fugindo dele escalando qualquer parede aparente. Olhei para a janela observando os campos de treinamento através dela, o meu esquadrão estava ali e mesmo que Vance mal falasse comigo, seguia as ordens.

Algumas batidas soaram na porta e logo depois que dei a permissão para entrar meu irmão adotivo apareceu. O loiro mantinha uma feição serena e parecia mais relaxado do que o comum. Erwin riu e se sentou na cadeira em minha frente.

— Não sei o que está pensando, mas seu rosto ficou engraçado.

— Parece relaxado, isso com certeza é algo estranho, achou a resposta sobre o mundo que vivemos?

O homem apoiou os braços sobre a mesa e respirou fundo enquanto balançava a cabeça — Não, mas algumas vezes me lembro que sou humano, que existe esperança, hoje é um dia desses.

— Certo — concordei me encostando na própria cadeira — E o que mais?

— Você nunca deixa passar nada, pois bem! Quero saber o que aconteceu entre você, Vance e Levi. Como sua família, não colega de tropa.

Bati a mão na mesa me levantando — Foi Arlo não foi? Aquele linguarudo fofoqueiro quando eu colocar minhas mãos nel-

— Não — ele me interrompeu com um brilho até que brincalhão nos olhos — Embora o costume seja as coisas acontecerem por Arlo dessa vez não foi. Tinham alguns soldados... Comentando sobre você.

Revirei os olhos — Como o que, que minha bunda fica bonita no uniforme? Ou que eles adorariam se enfiar no meio das minhas pernas? — Erwin me repreendeu com o olhar pelas falas de natureza chula — Escuto esse tipo de coisa desde os dias de treinamento de cadete.

— Mas parece que Levi não está acostumado, principalmente quando diz a respeito a alguém que ele se importa.

Aquele pequeno nome que saiu da boca do loiro me fez parar — Levi? O que ele fez?

— Digamos que teremos dois soldados a menos na próxima expedição, mas sobrevivem.

Levantei-me para seguir até a janela, todos os acontecimentos eram recentes e ainda não conseguia assimilar muitas coisas, mas ter o rapaz defendendo a minha honra fez meu coração bater levemente mais rápido. Porém, de olhar para a tropa, eram duas baixas.

Respirei fundo — Eu gosto dele Erwin, e é recíproco. O que aconteceu com Vance foi que ele não soube aceitar minhas escolhas.

— Entendo, se mesmo assim ele escolheu ficar no seu esquadrão é um bom sinal. É um soldado forte muitos o convidariam para suas próprias equipes, as coisas vão se ajeitar.

— Eventualmente, sei que sim.

Nossa conversa foi interrompida pelo mesmo próprio assunto dela, Levi abriu a porta e parou quando viu com quem eu estava conversando — Pensei que estivesse sozinha.

— Já estou de saída, vim só ver como minha irmã estava. Tenha certeza de a levar até a sala de jantar Levi, ouvi dizer que ela andou pulando algumas refeições — ele brincou com um aceno — E essa sim, foi Arlo que contou.

Apoiei a mão na testa, o que eu faria com aquele maldito linguarudo? Levi deixou que Erwin passasse e fechou a porta em seguida, andando em direção ao pequeno sofá que havia no canto do escritório e deixando seu corpo cair nele. A cena era comum, depois daquele primeiro dia na floresta ele sempre aparecia por aqui e me olhava trabalhar, ou lia algo acompanhado de uma xícara de chá. O peculiar é que ele agia como se não tivesse mandado dois soldados para o hospital.

Suas mãos sempre limpas tinham pequenas escoriações nos nós dos dedos, indicando que ele havia usado os próprios punhos.

— Andou brigando? — perguntei indicando com a cabeça — Suas mãos estão vermelhas.

Levi seguiu o meu olhar e abriu e fechou o punho — Sim, treino de luta.

— Você batia e o outro aprendia a apanhar? — andei até a parte da frente da mesa tomando impulso e sentando nela.

Um sorriso fantasma apareceu em seu rosto — Algo parecido com isso.

— Se você for mandar todos os soldados que falam de mim pro hospital, não vamos ter gente o suficiente para cuidar dos cavalos. Pro bem e pro mau também, sei que tem muitos que não suportam a minha presença. — ele fez uma careta — Não estou falando que não aprecio a defesa, é mais que do muitos já fizeram. Só não precisa mandar eles pro hospital, só uns dias afastados já está bom.

Mesmo que fosse errado, e eu soubesse, acabei rindo. Cada pequeno sentimento que descobria de Levi fazia meu peito se encher de vida, e ver esse lado ciumento dele com certeza foi algo novo. Ergui as minhas pernas e saltei.

— De qualquer forma o boato vai se espalhar "qualquer um que falar sobre mim, estará sujeito a fúria do soldado mais forte da humanidade." — engrossei a voz um pouco — Parece romântico para mim, e lógico que eu também chutaria a bunda de qualquer um que te ofendesse na minha frente.

Então aconteceu, a coisa que Levi sempre fazia quando estava envergonhado ou não sabia decifrar seus próprios sentimentos, pegou a tira de couro do meu uniforme e me puxou em direção a porta mudando completamente de assunto. Um mecanismo de defesa que aprendi a identificar.

— Por que você sempre me puxa pelas tiras do uniforme?

O aperto ficou mais forte e demorou um pouco para que ele me respondesse, a porta do escritório ainda estava fechada e o silêncio dançava entre nós. — Tenho medo de que se pegar na sua mão você suma, tudo que encosto parece se desfazer ou morrer.

— Levi olhe para mim — chamei, segurou o rosto dele entre minhas mãos — Eu sou real, eu não vou a lugar nenhum.

O homem colocou as mãos por cima das minhas, mas não falou nada. Encostei a testa com a dele, tudo era novo. Levi compartilhara poucos pensamentos sobre a sua infância então ter de repente um sentimento forte como esse podia causar muito mais medos do que se imaginava.

— Não coloque nenhuma pressão em você baseado no que os outros falam. Se quiser me puxar pelas tiras tudo bem, se não quiser encostar em mim tudo bem também. Não é o contato físico que faz eu gostar de você.

Afastei-me e sorri — Foi aquela tarde de pôr do sol enquanto os raios dourados iluminavam seus cabelos escuros e nós assinávamos nossa sentença de morte juntos após descobrir o segredo dos Maely. E veja só você estava a uns três metros de distância.

— Cala a boca — ele desviou o rosto e abriu a porta do escritório — Continue falando esse tipo de coisa alto e então sim, vamos morrer de verdade.

Gargalhei alto e o segui para fora da sala trancando o local logo em seguida — Não pode acontecer nada até eu dar uma surra no Arlo e aquela boca grande dele.

Então outro assunto entrou em pauta, para o meu terror.

— Porque está pulando refeições? Não precisa de energia para ficar grudada na parede? 

Grunhi e guardei a chave no bolso — Foi só um dia, estava organizando as coisas, a culpa não é minha que o trabalho extra demanda muito tempo, papel e tinta.

— A próxima vez que isso acontecer virei aqui enfiar uma coxa de frango na sua garanta.

— Já entendi — concordei e soltei os ombros girando eles em seguida alongando os músculos, realmente fiquei muito tempo naquele lugar parecia até que o cheiro da tinta estava impregnado no meu nariz.

Andávamos lado a lado, mas em certo momento senti um toque leve na minha mão e olhando para baixo Levi tinha um único dedo envolto no meu, o mindinho.









N/A: Vamos lá! Aviso aos navegantes, slow burn é demorado mesmo. Não é porque que eles se confessaram que as coisas vão andar rápido né meus amores?

Respeitemos o tempo do personagem.

É reta final, não sei quanto mais capítulos vai ter mas está entrando na última parte.

Obrigada por ler até aqui. Desculpe qualquer erro, eu to mal hoje, era uma linha para três calafrios, mas dei o meu melhor.

Até mais, Xx!

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