Bom Amigo


Quando abri meus olhos me dei de cara com um ambiente desconhecido, porém com rostos familiares.

Sentei rapidamente, mas logo me arrependi pela onda de dor que eu senti era como se alguma criatura estivesse rasgando meu corpo de dentro para fora – Comandante -

Eu falei dentre pausas, Arlo que estava próximo da cama colocou a mão no meu ombro – Vai com calma.

-Maely – Shadis me chamou se sentando em seguida numa poltrona que estava na minha diagonal – Você não costuma causar problemas – ele comentou enquanto cruzava as pernas e me olhava de maneira inquisitiva - Suponho que deve ter um bom motivo pra você ter engajado com os perseguidores ao invés de evadir.

Olhei pra baixo pensando nas minhas palavras – Creio que eu deixei meus sentimentos pessoais interferirem senhor - falei e em seguida levantei minha cabeça e encarei seus olhos continuando a minha fala – Entretanto não posso falar que eu estou arrependida.

Ele manteve sua feição séria sustentando o meu olhar – Não posso me dar ao luxo de deixar você fora da próxima expedição.

Fiz a saudação da tropa – Entendido.

Comandante se levantou e em seguida saiu da sala e eu praticamente desmontei, segurar a pose na frente dele estava quase me matando - O que aconteceu?

-Antes ou depois de eu achar que você morreu? – Arlo respondeu e me ajudou a me deitar novamente se sentando na cama ao meu lado em seguida – Consegui te enfiar numa carruagem com permissão do general e te trouxe em sigilo de volta para o quartel.

Meu companheiro de esquadrão se apoiou nos joelhos e suspirou alto – Erwin vai vir falar com você, mas já adianto que vamos precisar te mantar escondida por algum tempo. Aquela pessoa ainda pode mandar outros assassinos atrás de você se é que me entende.

Ficamos em silencio, eu estava ocupada demais em tentar respirar sem sentir dor pra reiniciar o diálogo. Mas lógico que Arlo não ia deixar passar – E então vai me falar ou vou precisar ficar aqui até Erwin perguntar?

Eu abri a boca para responder mas fui interrompida pela porta abrindo.

-Não vai ser necessário – meu irmão disse ele provavelmente deveria ter ouvido do lado de fora, coloquei meu braço sobre os olhos evitando de ficar sob o olhar dele e grunhi. O loiro não era uma das pessoas que eu gostaria de ver no momento. – Pode começar.

-Arlo e eu tivemos que nos separar como o esperado já que estávamos sendo seguidos – falei – Segui para o beco mantendo a nossa estratégia original, subi num dos prédios e me livrei das vestes a fim de observar, inicialmente eram três pessoas mas logo apareceu mais um.

Os dois me ouviam atentamente sem interromper - O plano era derrubar os perseguidores sem alarde e sair para encontrar com Arlo...

Deixei a minha frase morrer no ar.

-[Nome]? – o mesmo me chamou.

Tirei o braço dos meus olhos e soltei o ar lentamente – Foi um deles que atacou e matou a Raika – imediatamente a pressão no ar se fez presente e nenhum dos homens ousou se pronunciar por alguns minutos, foi Erwin que quebrou o silêncio usando da posição de tenente dele.

-Você teve confirmação? – ele perguntou.

Olhei para o rosto dele pela primeira vez desde que o tenente tinha entrado no quarto – "deveria ter esmagado a cabeça dela enquanto tive tempo" e "Me diga o cadáver chegou bem a tropa?". Soa claro como o dia para mim.

Não eram muitas pessoas que sabiam sobre o meu passado conturbado e o peso que aquelas exatas palavras tinham sobre mim, tive certeza que Erwin compreendeu o porquê de eu ter reagido quando vi seus olhos ficarem levemente mais suaves.

– Entendo, mas de qualquer forma ele escapou. – ele concluiu - Não temos como rastrear no momento e garantir o futuro das próximas expedições é a nossa prioridade. Arlo, o documento foi entregue?

-Como solicitado tenente – meu amigo pigarreou antes de falar e continuou - Já está em posse do general Zackley.

Erwin acenou com a cabeça em aprovação e andou até mim – Vamos resolver os assuntos quando chegar a hora, trate de descansar o máximo que puder – meu irmão me disse apoiando a mão no meu ombro – Precisamos de você para o avanço da humanidade, sei que vai se recuperar logo. Hange vai te ajudar durante os dias, assim como Arlo.

-Eu? – ele exclamou – Porque?

-Não podemos ter muitas pessoas cientes da situação, confio em você. Hange vira em breve ver os seus machucados. – dito isso ele saiu para atender seus afazeres. O homem era realmente ocupado.

A dor nas minhas costas estavam insuportáveis e a sensação de sujeira me fazia sentir como se tivessem milhares de insetos imundos rastejando sob a minha pele. Olhei em volta, deveria ser um quarto de tenente vago, julgando pelo espaço e o banheiro adjacente.

Geralmente a tropa usava banheiros comunitários.

-Arlo – chamei e ele me respondeu com um resmungo – Eu realmente preciso de um banho.

-Ah vontade princesa – ele respondeu sem dar muita atenção, era visível que ele não estava feliz com a situação. Nem eu mesma estava.

-Já teria ido se conseguisse – ralhei de volta – Preciso que você me ajude a tirar as minhas roupas.

-Não – ele disse sem pestanejar – Espere Hange chegar.

Arqueei a minha sobrancelha – Tem medo de uma mulher? Nunca viu um corpo nu na vida?

-Vi o suficiente – Arlo retrucou - Apenas não quero ter memórias do seu na minha cabeça.

Me forcei a me sentar reprimindo os resmungos de dor, eu não aguentaria Hange chegar. Conhecendo como eu a conhecia capaz dela desviar no meio do caminho – Ótimo, eu faço sozinha.

Me apoiei na cama e andei com passos curtos até a porta amaldiçoando eternamente quem quer que fosse a pessoa que tinha me jogado contra o muro, comecei a desabotoar a camisa mas logo ouvi uma movimentação.

-Você vai ter que me agradecer pelo resto da vida Maely – Arlo disse mais pra ele do que pra mim, sorri ele era uma pessoa boa demais para deixar que uma acidentada como eu ficasse andando e se esforçando sozinha. O garoto abriu as torneiras para que a banheira começasse a encher.

-Tira a roupa – ele disse mantendo o olhar pro teto.

-Não sabia que você era desse tipo – brinquei.

-Continue com essas brincadeiras e eu vou finalizar o serviço que aqueles mercenários incompetentes não conseguiram – ele me ameaçou.

Desabotoei a minha camisa e joguei ela na pia, não estava com o cintos que serviam de suporte para o 3DMT então isso já era um alívio. A calça me deu um pouco de trabalho mas também não precisei de auxilio nessa parte.

Arlo mantinha os olhos fechados para preservar a minha integridade e eu agradeci por isso – Passe seu braço pelos meus ombros, vou apoiar a sua cintura. Passe uma perna pra banheira de cada vez.

Fiz como instruído e logo me vi na agua limpa me livrando de toda a sujeira.

-Obrigada – falei ele se virou de costas e pegou as minhas roupas.

-Vou até o seu dormitório buscar limpas, tente não se afogar enquanto eu não volto.

-Vou tentar – respondi.

E então o rapaz saiu me deixando sozinha com meus próprios pensamentos, a água estava um pouco fria mas eu não reclamei, minhas costas até agradeciam a temperatura. Comecei a tirar os vestígios de sujeira que eu conseguia e enquanto fazia isso Arlo retornou.

Não estava sendo uma tarefa muito fácil já que a cada movimento eu sentia como se minhas costas fossem quebrar ao meio.

Ouvi um suspiro alto – Se afaste um pouco da borda e jogue sua cabeça pra trás. Não vai conseguir tirar toda essa fuligem do cabelo sozinha.

-O que você vai fazer? – perguntei.

-Um bom trabalho – vi pelo canto de olho ele arregaçando as mangas – Não se preocupe não vejo nada mais do que suas costas.

Não tive uma resposta certa mas fiz o que ele me pediu, eu confiava nele como companheiro de equipe, amigo e homem também, logo senti a água ser despejada delicadamente na minha cabeça e em seguida ele começou a mexer nos meus cabelos.

-Antes que você pergunte – ele começou a falar – Eu costumava ter uma irmã.

-Hum... – virei a minha cabeça de leve para poder ver seu rosto – Irmã? Nunca ouvi você falar dela.

-Como eu disse, eu costumava ter uma irmã – ele repetiu e então eu entendi.

-Sinto muito. – respondi não sabendo mais o que falar.

Ele ficou em silencio por mais algum tempo antes de voltar a falar – Eu sou o mais novo de uma família humilde da muralha Sina, quando era jovem vi minha irmã mais velha cair do cavalo e bater com a cabeça numa pedra.

Arlo em nenhum momento deixou de mexer nos meus cabelos enquanto contava sua história.

-E apesar de ser o mais novo, só eu poderia cuidar dela já que meus pais tinham que trabalhar... Foi o motivo de eu entrar na tropa de reconhecimento, pra conseguir ao menos mandar algum dinheiro para eles.

-Conforme o tempo foi passando, os remédios da minha irmã foram ficando mais caros e suas crises foram piorando... No fim o meu próprio egoísmo prolongou o sofrimento dela a impedindo de partir. – ele terminou de falar e puxou de leve o meu cabelo me fazendo reclamar – Você me lembra um pouco ela...

-Tirando a parte idiota.







N/A: Eu amo o personagem do Arlo, acho ele um bálsamo no meio de tanta loucura.

Obrigada por ler até aqui, sei que o Levi não está aparecendo mas em 2 capítulos vai começar a expedição e a história entre os dois vai se desenvolver mais.

Obrigada por ler até aqui.

Xx.

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