Capítulo 36

— NÃO precisa ficar triste por ter que visitar a sua amiga tão rápido, agora que você é uma pessoa livre poderá vir quantas vezes quiser, lembra? -Viktor disse depois de alguns minutos rodando pela cidade.

Ele tinha razão.

Não havia motivos para que eu ficasse desanimada quando eu literalmente poderia voltar a visitá-los no dia seguinte.

Além do mais, Rico não se sentia bem e Susanna teve que levá-lo até o hospital para ver o que poderia ser.

Acabamos encontrando-os na entrada do edifício e embora eu tivesse conseguido ver o seu rostinho angelical por alguns minutos, não quis atrasar a sua ida ao médico.

Eu sabia muito bem que ter um filho não era fácil e devia compreender a nova vida da minha amiga, por mais saudades que eu sentisse dela.

E também sabia que uma mãe de primeira viagem pode exagerar algumas vezes, mas tampouco a julgaria por isso.

Susanna era uma mulher maravilhosa e que amava o filho mais que tudo nesse mundo e eu respeitava o seu espaço.

— Não estou triste, amor, apenas preocupada com Rico. -Afirmei com um sorriso fraco.

Viktor apertou minha coxa e beijou meu rosto delicadamente.

— Ele provavelmente deve estar com gases ou algo do tipo. -A frase saiu de uma maneira tão natural que seria até engraçado se eu não estivesse quase tendo um treco.

— Como sabe disso? -Indaguei desconfiada.

— Quando eu morava na Alemanha, uma das cozinheiras teve um bebê e eu a ajudava algumas vezes a tomar conta dele para que ela pudesse trabalhar tranquilamente.

Arregalei tanto meus olhos que ele sorriu ao ver minha careta.

Viktor, cuidando de uma criança?

A imagem dele segurando um bebê no colo tomou conta da minha cabeça e um milhão de coisas passaram pela minha mente ao perceber que nunca conversamos sobre a possibilidade de ter um filho ou criar uma família.

O assunto não tinha surgido e eu também fiz questão de enterrá-lo.

De repente um medo me invadiu e com ele, a insegurança.

Será que ele esperava isso de mim?

Será que queria que eu engravidasse em algum momento da nossa vida juntos?

Eram acontecimentos distantes, afinal, acabávamos de nos comprometer, mas isso não significava que não chegariam a acontecer ou que ele não poderia chegar a desejar.

— Vik eu... eu não sei se quero ter filhos algum dia. -Soltei em uma só respiração e foi a sua vez de arregalar os olhos totalmente surpreendido com a minha confissão.

— De onde veio isso, Coelhinha?

Engoli em seco quando ele segurou meu queixo, virando meu rosto para si.

— E-eu, nós... quero dizer, eu não me sinto, já sabe...

— Preparada para ser mãe? -Seu olhar escureceu e eu vi quando ele observou minha barriga por um milésimo de segundos, desviando a vista rapidamente.

Balancei a cabeça para responder a sua pergunta e não ficar encarando-o como uma idiota.

Maldita boca sem filtro.

— Me desculpa por dizer isso desse jeito, é que nós não chegamos a conversar sobre esse assunto e agora vamos nos casar, eu... -Seus lábios encostaram nos meus e parei de falar no mesmo instante.

O beijo que recebi foi tão suave, tão... cheio de calma que por um momento eu não entendi qual era a sua intenção.

Mas uma coisa era certa: o medo de antes tinha sido substituído pela confusão e temor de que talvez eu acabasse de estragar tudo.

Eu estou com você, Alícia. E vou respeitar cada decisão que você tomar. -Franzi o cenho. — Além do mais, eu também não sei se estou preparado para ser pai. Na verdade, eu meio que tenho medo disso.

— Medo do quê?

Segurei sua mão que tremia levemente.

O que diabos estava acontecendo?

— De ser como ele.

Ofeguei irritada, não com Viktor e sim com sua ideia maluca.

— Você jamais será como o seu pai, Vik.

— Como pode estar tão convencida?

— Porque eu te conheço. Sei que você nunca seria capaz de machucar alguém que você ama, olha só para Susanna! Você comprou a porra de um edifício inteiro para ela, cara! Sem nem ao menos conhecê-la... -Abaixei o tom de voz ao perceber que começava a gritar. — O que quero dizer, é que se algum dia acontecer, tenho certeza de que você será um pai maravilhoso e se esse instinto surgir no seu coração e eu ainda não estiver preparada, eu te dou a permissão de terminar comigo e procurar alguém que possa satisfazer a suas vontades. -Brinquei para tentar aliviar a tensão que começava a se espalhar dentro do carro, mas eu sabia que no fundo havia aquela pitada de verdade nas palavras tão amargas que foi quase impossível soltá-las.

Não era justo para uma pessoa desejar algo tão importante e seu parceiro acabar querendo seguir um caminho distinto.

Não era justo para nenhum dos dois, na verdade.

— Ficou louca por acaso? Eu nunca vou te deixar ir, liebe. Você é minha, para sempre.

Soltei uma risadinha tímida.

Se qualquer outro cara me dissesse uma coisa dessas, eu riria na sua cara e depois socaria o seu nariz.

Mas com Viktor era diferente.

Porque era a verdade.

Eu era dele, até o fim dos tempos.

— Você é o amor da minha vida, Alícia. E eu sei que o que tiver que acontecer, acontecerá com nós dois, não importa se morremos velhinhos sem nenhuma descendência. O que me interessa é saber que você estará comigo.

— Mas e se...

— Se o destino quiser que nós tenhamos um filho, ele vai se encarregar de que isso ocorra. Por enquanto, devemos focar no presente e em como ficaremos daqui para frente. -Ele deu o assunto por encerrado, beijando minha testa e me abraçando contra o seu corpo.

Processei a frase várias vezes na minha cabeça.

O destino se encarregaria de tudo.

Ele tinha feito com que voltássemos a nos encontrar e mais do que isso, tinha nos colocado juntos porque sabia que o nosso lugar era um ao lado do outro desde o começo da nossa história.

E por mais que parecesse egoísmo e frieza da minha parte, eu não me arrependo de nada.

Faria tudo de novo com a certeza de que acabaríamos exatamente onde estamos.

Encostei a bochecha na janela do carro para tentar me distrair um pouco.

As ruas passavam devagar do outro lado como um filme antigo na medida que Ty avançava voando como um piloto de corrida.

— Uma hora você vai ganhar uma multa, cara. -Provoquei estapeando o seu ombro de leve e Ty sorriu sem nem mesmo se abalar.

Homens.

Continuei vendo a paisagem ao meu redor e apenas depois de quase meia hora andando, percebi que não estávamos no rumo da mansão Schultz.

Me endireitei no banco observando mais um pouco.

Quem sabe Ty não tivesse escolhido pegar outro caminho dessa vez.

Esperei outros quinze minutos e quando estava quase explodindo de curiosidade, entramos em um bairro residencial, parando em uma rua vazia na frente de uma casa aparentemente normal.

— O que estamos fazendo aqui? -Meu olhar recaiu na entrada da casa notando um detalhe quase imperceptível para quem não é um detetive treinado como eu.

Na porta, ao lado do umbral pintado de branco, havia uma pequena placa com uma flor roxa com pontinhos amarelos pintada quase de maneira perfeita.

A flor tinha três pétalas externas e três pétalas internas que se abriam de forma ovalada, formando algo muito parecido com uma cruz estranha.

A casa em si era bem comum porém enorme, constando de dois andares, um sótão com uma janela para passagem de ar e uma varanda na parte da frente.

Viktor desceu do carro sem dizer nada, deu a volta para abrir a minha porta e estendeu a mão em um sinal claro para que eu fizesse o mesmo que ele.

— Venha, quero te mostrar algo.

— Se me disser que tem outra família eu juro que arranco as suas bolas. -Sussurrei no seu ouvido e ele soltou uma gargalhada sonora.

— O que aconteceu com toda aquela história de que posso terminar com você caso...

— Pois retiro o que eu disse. -Dei de ombros sem nenhuma gota de vergonha na cara e ele abraçou minha cintura sem parar de sorrir.

— Não precisa ficar com ciúmes, linda. -Recebi um beijo na cabeça. — O que vou te mostrar agora tem a ver com o presente que te contei mais cedo.

Acenei em concordância sem querer estragar a surpresa.

Será que ele tinha comprado essa casa para nós dois?

Se fosse o caso, isso não fazia nenhum sentido, já que ele tinha uma mansão gigante.

Eu devia estar exagerando, mas isso não me impediu de ficar extremamente ansiosa.

Ty permaneceu dentro do carro enquanto dávamos a volta pela casa até a porta dos fundos.

Durante todo o trajeto, meu coração galopou dentro do peito e aquela sensação de que algo grande estava por acontecer fez minha respiração se acelerar.

Viktor não soltou minha mão por um segundo sequer e andamos passo a passo, parando na frente da outra porta com uma placa idêntica à da frente.

Observei em silêncio como Viktor deu pequenas batidinhas na porta, sendo atendido minutos depois por uma mulher que não aparentava ter mais do que quarenta anos.

Porra, ela era linda.

Os cabelos castanhos caindo em pequenas ondas sobre os ombros delicados, os olhos amendoados de uma cor caramelada e um sorriso carinhoso nos lábios.

— Olá, querido. Estávamos começando a pensar que não viria hoje. -Ela sorriu ainda mais, mas eu só conseguia prestar atenção em uma palavra: estávamos.

Então havia mais gente ali?

— Minha noiva quis visitar uma velha amiga no caminho e acabamos nos atrasando um pouco. -Ele explicou sem dar mais detalhes.

— Oh, então quer dizer que deu tudo certo?

Balancei a cabeça soltando a mão de Viktor.

— Será que vocês podem parar de falar como se eu não estivesse aqui e me dizer o que é tudo isso? -Apontei para nós três e a mulher com um corpo curvilíneo como o de uma modelo pin-up soltou mais uma risadinha se aproximando com cautela.

— É um prazer finalmente te conhecer, Alícia. Viktor não para de falar um segundo sobre a sua garota e agora entendemos o porquê-Seu olhar recaiu sobre o meu rosto e senti como minhas bochechas esquentaram imediatamente.

— O-ok... quem são vocês? -Franzi o cenho ficando mais confundida a cada momento que passava.

— Acho melhor a gente te mostrar. -Ela enroscou os dedos nos meus, me puxando para dentro da casa e no momento em que passei pelo umbral, meu queixo quase caiu ao ver um grupo de mulheres de várias idades ali dentro. — Me chamo Sabrina, por certo, e essas são Kelly, Tracey, Jéssica, Alana, Madalena, mas pode chamá-la de Maddie e as outras devem estar no porão fazendo as atividades da escola ou brincando de boneca.

As meninas foram cumprimentando-nos conforme ela citava seus nomes, sorrindo animadas ao ver Viktor.

— Ainda não entendo nada, eu... -De repente como se uma luz se acendesse em cima da minha cabeça, algumas coisas começaram a fazer sentido. — Um momento, você disse que se chama Sabrina? Tipo, Sabrina, quarenta e dois anos e que fugiu de um marido abusivo? -Seu olhar escureceu quando ela balançou a cabeça para cima e para baixo em uma confirmação silenciosa.

Me virei para ficar de frente para Viktor que observava a cena com os braços cruzados e um sorriso orgulhoso no rosto.

— Bem vinda à casa Iris, Coelhinha.

— Não me diga que colocou uma maldita casa de prostituição? -Sussurrei a última parte já que haviam garotas ali que não pareciam passar dos doze anos.

O sorriso de Viktor cresceu ainda mais como se ele soubesse que eu diria exatamente aquelas palavras.

— Acha mesmo que daria o nome da minha mãe a uma casa dessas?

Neguei tentando montar aquele quebra cabeças.

— Todas essas mulheres foram resgatadas das mãos de gangues de tráfico humano. -Ele sussurrou no meu ouvido. — Sabrina, Kelly e Tracey trabalhavam no cassino, mas eu não consegui mais deixá-las continuar se expondo daquela maneira depois de levar um sermão de uma garota esquentadinha para um caralho, então pensei durante meses no que eu poderia fazer para ajudá-las sem comprometer a sua dignidade.

— Viktor... -Meus olhos se encheram de lágrimas com a realização.

Abracei seu corpo musculoso, o sentimento de orgulho e felicidade pura percorrendo cada milímetro dentro de mim.

— Eu fiz isso por você, amor. Porque eu te amo tanto que a única coisa que quero é te ver feliz.

— Mas... por Deus, eu... eu não sei nem o que dizer.

— Também fiz isso por mim, que fique bem claro. -Ele completou sorrindo como um garotinho.

— Eu sabia que você não era o malvado que todos temem. Sabia que tinha um coração de gelatina aí dentro. -Brinquei abraçando-o ainda mais forte. — Obrigada, Viktor Schultz. Esse é o melhor presente que eu poderia ganhar.

— Eu sei. -Neguei com a cabeça, minhas bochechas doendo de tanto sorrir.

Mais algumas meninas apareceram, praticamente saltitando de felicidade ao me mostrar o resto da casa.

Era um lugar completo, com quartos equipados com móveis de qualidade, roupas novinhas em folha, cadernos, utensílios de cozinha, brinquedos espalhados por toda parte...

Deus, eu estava tão maravilhada que não conseguia parar de chorar.

Tudo estava tão limpo, tão organizado.

Até mesmo o cheiro era agradável.

O cheiro de um lugar feliz.

A casa parecia ser um lar normal.

Eu apostava que nenhuma outra família ali naquele bairro desconfiava do que realmente acontecia dentro daquelas paredes.

E talvez fosse essa a intenção de Viktor: passar despercebidos para que ninguém conseguisse achá-las.

— Onde estão as suas garotinhas? -Me virei para Kelly que assistia meu tour em silêncio.

A loira de olhos tão azuis quanto os de Viktor abriu um sorriso e apontou para duas menininhas que brincavam na sala. Elas eram lindas, como dois anjinhos caídos diretamente de uma pintura antiga.

— Uau! -Quase me engasguei com a sua beleza. — Elas são... uau!

— Viktor nos salvou, Alícia. -Ela disse com a voz baixa e suave. — Só esperamos que você faça o mesmo por ele. -Seus lábios pairavam a centímetros do meu ouvido.

— Podem ter certeza de que ela fez isso e muito mais. -Como se pudesse nos ouvir a quilômetros de distância, Viktor afirmou uma convicção. — Agora se nos derem licença, eu preciso levar a minha gata para casa para comemorar o nosso noivado. -Ele continuou sob o som dos gritinhos animados e risadinhas das meninas mais velhas.

Nos despedimos de cada uma com a promessa de que voltaríamos mais vezes e meu coração pesava um pouco ao deixá-las ali.

No entanto, eu também estava morrendo de vontade de comemorar com o meu noivo, ainda mais depois daquele presente gigante.

Entramos no carro e somente quando já havíamos partido me lembrei de um detalhe.

— O que é aquele símbolo nas portas?

O homem ao meu lado puxou uma longa respiração antes de responder.

— É uma flor chamada Íris. -Nem precisou de muita explicação para que eu entendesse.

Aquela foi a forma que ele encontrou para manter a memória da sua mãe viva, mas de um jeito que não traria dor e sim felicidade.

Era a sua maneira de se perdoar.

— Gostaria que você se encarregasse da casa, Alícia. Se quiser, é claro. -Viktor pediu enquanto tomávamos um banho de banheira depois do dia agitado.

Esfreguei a minha perna com a esponja embebida em sabonete líquido com um enorme sorriso no rosto.

— Seria uma honra, amor. -Beijei seu bíceps que repousava sobre o meu ombro.

Continuamos nosso banho em um silêncio confortável.

Eu estava rezando para que ele me pedisse isso.

Já não trabalhava mais na delegacia e precisava manter minha mente ocupada, de modo que cuidar daquela cara era a resposta perfeita para o meu dilema.

E eu sabia que dentro da polícia as coisas não seriam feitas do jeito certo na maioria dos casos, então nada melhor do que combater as sombras... desde as sombras.

Essa seria a minha missão.

Eu finalmente sabia qual era o meu propósito.

Depois de terminar de nos limpar e nos enxaguar, vestimos um roupão cada um e saímos do banheiro direto para a nossa cama.

Viktor se sentou no colchão puxando meu corpo para dentro da prisão das suas pernas musculosas, os dedos escorregando para dentro do tecido felpudo, tocando minha pele quente e sedenta por ele.

— Se estiver me provocando apenas para não acabar em nada, eu vou cumprir o que disse mais cedo. -Ameacei ofegante ao sentir dois dedos me penetrando pouco a pouco.

— Prometo que dessa vez eu vou te fazer minha em tantas posições que você vai acordar com o corpo todo doendo amanhã.

NOTA DO AUTOR

SEGUNDOOOOUUUU!
E antes de me matarem, saibam que eu escolhi parar aí pq vou fazer o 
hot em outro capítulo, então não precisam se preocupar que 
vai ter cavalgada sim kkkkkkkkk 
Espero que tenham gostado, 
Não se esqueçam de votar e comentar!
Tenham todos uma ótima semana!

Amo vcs 🥰
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤

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