Capítulo 27

— O QUE quer dizer com isso? -Perguntei com o olhar estreito e o coração martelando meu peito ainda mais forte do que antes.

Viktor acariciou levemente minha bochecha ao mesmo tempo em que parecia pensar no que diabos diria a seguir.

Era como se ele não estivesse acreditando nas suas próprias palavras, assim como eu.

Como se não entendesse porque tinha falado aquelas coisas ou como as palavras tinham passado de estar no seu cérebro a serem exteriorizadas de uma maneira tão natural.

Mesmo assim, ele respirou fundo, o olhar concentrado e um sorrisinho tímido nos lábios antes de responder.

— Eu sei que não somos mais aqueles adolescentes de anos atrás e há muita coisa rolando no momento, é só que isso que a gente tem, o que quer que seja, não é uma brincadeira para mim, Alícia.

Oh Deus.

Abri e fechei minha boca como um peixinho fora d'água sem ter a menor ideia de como reagir.

Meu peito queimava como se gasolina pura percorresse minhas veias, eu queria gritar, pular, porra, eu poderia literalmente voltar para a mansão correndo de tanta adrenalina.

— Seja minha namorada. É isso que quero dizer. -Viktor continuou percebendo que eu estava a ponto de surtar mais uma vez.

— M-mas eu pensei que você não fosse esse tipo de pessoa...

— E está certa. -Seu olhar escureceu rapidamente. — Mas por você eu posso ser qualquer coisa. Eu quero ser o que você precisa que eu seja.

Engoli em seco várias vezes, meus olhos tão arregalados que eu parecia ter acabado de ver um filme de terror.

Na verdade, a situação não estava muito longe disso.

A ideia de namorar com Viktor me aterrorizava.

Fazia meu corpo inteiro tremer.

E não é que eu não quisesse aquilo, porque, Deus sabia o tanto que eu desejava que ele dissesse exatamente aquelas palavras desde que me entendia por gente.

Mas ali, no seu cassino, sendo perseguida por um assassinato e conhecendo uma boa parte das suas atividades, era difícil pensar com clareza.

Dentro de mim, uma voz gritava desesperadamente para que eu respondesse com um enorme sim, mas outra parte, a racional, me pedia para ir com calma.

Para me manter na superfície, caso contrário eu acabaria me afogando.

— Não precisa ficar tão animada assim, liebe. -Seus braços caíram ao lado do seu corpo e ele deu alguns passos para trás ao som do meu silêncio ensurdecedor.

— Vik, eu... -respirei fundo — eu não sei o que dizer.

— Tudo bem. Tome o seu tempo, não quero te obrigar a nada. -Recebi um beijo rápido na testa antes de que ele fosse até o bar e servisse outra taça de vinho, bebendo todo o líquido carmesim em um só gole.

Desci da mesa com o coração pesando tanto que quase não consegui caminhar até o seu corpo musculoso, abraçando-o por trás e me dando um tapa mental ao senti-lo endurecer com o meu toque.

— Eu sou uma idiota, não sou?

Meus olhos se encheram de lágrimas com a realização de que eu provavelmente havia estragado um momento que tinha tudo para ser algo lindo.

Viktor se virou ficando de frente para mim, suas mãos segurando meu rosto novamente e seus lábios se curvaram em um sorriso triste, porém calmo, como se ele já soubesse que essa seria a minha reação.

— Não, amor, você não é. E não estou bravo, ok? Só... chateado comigo mesmo por ter desperdiçado tanto tempo. Não tem nada a ver com você.

— Me desculpe, eu não queria parecer que estou hesitando e agora se eu disser que sim, você vai pensar que estou fazendo por obrigação. -Murmurei envergonhada e ele negou com a cabeça antes de me beijar carinhosamente. — Mas só para que saiba, eu também não queria ser apenas sua amiga praticamente desde o momento em que nos conhecemos.

Seus olhos brilharam e o sorriso triste foi substituído por um semblante sério.

Uma expressão que prometia tantas coisas que minhas entranhas se contorceram em expectativa pelo que ele iria fazer a seguir.

— Eu já disse que te amo, Vik e acho que isso responde a muitas perguntas, mas caso ainda duvide, vou te fazer ter certeza. -Completei desabotoando a minha camisa lentamente sob o seu olhar atento.

Logo foi a vez de abrir o botão da minha calça e deslizar o tecido pelas minhas pernas até chegar no chão.

Eu estava ali no seu escritório, apenas de calcinha e sutiã de renda para que ele entendesse que nossa relação não se definia por um rótulo.

Nós tínhamos nossa própria linguagem.

Nos entendíamos sem ser preciso dizer uma só palavra e nossa conexão era intensa e poderosa.

E isso era o mais importante.

Ele poderia chamar aquilo que a gente cultivava do que quisesse, mas sabia que no final das contas eu era dele.

Em questão de segundos os dedos ásperos foram parar em um mamilo eriçado em e no instante seguinte, eu estava em cima da mesa de novo, os papéis voando para todos os lados enquanto Viktor lutava contra o cinto e botão da calça social entre sorrisos e gemidos ansioso.

Quando ele finalmente conseguiu se livrar da peça deixando-a cair aos seus pés, enfiei a mão dentro da sua cueca e puxei seu membro duro como pedra para fora, bombeando-o algumas vezes antes de levá-lo até a minha entrada encharcada.

Ele arrastou a calcinha para o lado e me penetrou em um golpe certeiro fazendo cada centímetro da minha pele se arrepiar.

A mão livre foi parar no meu pescoço apertando-o de leve ao mesmo tempo em que ele entrava e saía de dentro de mim.

— Oh, isso é tão bom... você é tão grande! -Gemi mordendo seu pescoço, o cheiro do perfume amadeirado se impregnando no meu nariz conforme eu respirava profundamente.

Eu estava tão anestesiada pelo tesão, tão distraída com suas mãos percorrendo a minha cintura, meus peitos, pernas e bunda, que nem mesmo parei para pensar que alguém poderia entrar ali a qualquer momento.

Aquela parte racional de minutos antes havia sido mandada para o inferno e cada vez que eu fechava os olhos, sentia como se mil fogos de artifício explodissem no meu interior me levando até o céu em questão de segundos.

De repente, seus dedos apertaram meu queixo para que eu olhasse nos seus olhos e franzi o cenho sem entender o que estava acontecendo.

— Você pode fazer o que quiser comigo, Alícia, mereço qualquer castigo que queira me dar. Eu sou todo seu. -Ofeguei ainda mais confundida. — Acho que já te disse isso, mas preciso que entenda que estou falando muito sério. -Sua voz embargada e a postura quase submissa não coincidiam em nada com o Viktor que eu estava acostumada.

Parei de me mover imediatamente e me afastei do seu corpo com cuidado.

— Mas que porra...?

Ele penteou os cabelos para trás em um gesto nervoso o que me fez ficar mais apreensiva.

— O que está acontecendo?

Sua cabeça balançou para os lados, as íris azuis injetadas quase vermelhas como se estivessem sangrando.

Como se ele estivesse se controlando para não chorar.

— Amor, por favor me diga o que está errado. -Insisti me aproximando cautelosamente.

Uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha até se perder na barba aparada, sua cabeça pendeu para baixo e no momento em que ele encostou a testa na minha, as mãos segurando minha cintura com força e me levantando até que eu ficasse na altura do seu pau para que ele me penetrasse outra vez, foi quando compreendi que era muita coisa para lidar dentro da sua mente perturbada.

E quanto mais eu insistia, mais perdido ele parecia ficar, então decidi que por enquanto eu não diria nada.

Iria deixar que ele conversasse comigo assim que se sentisse confiante o suficiente para fazê-lo.

Algo o atormentava, isso era um fato, mas se eu continuasse apertando-o em busca de respostas, a verdade acabaria escorrendo entre meus dedos antes que eu pudesse compreendê-la.

— Alícia, eu preciso te...

— Shh. -Silenciei seus lábios com um beijo. — Por hoje vamos só aproveitar. O que quer que tenha que falar, prefiro que seja quando não estiver com o pau dentro de mim, assim poderei prestar a atenção devida. -Brinquei para tentar aliviar a tensão.

— Tudo bem. -Ele riu baixinho, voltando a se mover cada vez mais rápido.

Em segundos, fui encostada em uma das paredes frias e sua mão livre encontrou meu botão inchado, massageando-o sem parar enquanto ele me penetrava sem desviar o olhar do meu.

— Eu te amo, Alicia. -Sua voz rouca me fez estremecer. — Você sabe disso, não é?

— Sim, meu amor. Agora eu sei.

Apoiei a testa no seu peitoral deixando que a explosão finalmente fosse detonada no meu ponto mais sensível conforme ele diminuía a velocidade das estocadas ao atingir o clímax junto comigo.

Me segurei no seu corpo quando Viktor terminou de tirar a calça chutando-a para o lado antes de rumar até o closet direto para o banheiro.

Ele ligou o chuveiro e esperou que a água ficasse a uma temperatura suportável para entrar debaixo do jato comigo ainda grudada nele como um filhotinho de bicho preguiça.

— Eu poderia me acostumar a isso, sabia? -Sorri inclinando minha cabeça para trás na medida que ficava completamente ensopada.

— Em transar no meu escritório ou ser carregada para todos os lados? Porque eu faria as duas coisas sem nenhum problema. -Ele respondeu apertando um mamilo molhado por cima do sutiã me fazendo lembrar de algo muito importante.

— Droga, não trouxe outra lingerie e essa ficou molhada...

— Não precisa se preocupar, te emprestarei uma blusa de moletom e uma cueca para que possamos voltar para casa.

Concordei com um aceno gemendo com os seus dedos sobre mim.

Viktor conseguia me neutralizar sem nenhum esforço.

Era como se ele fosse algum tipo de entorpecente poderoso.

Seu cheiro, seu toque, timbre de voz... tudo me fazia desejá-lo ainda mais.

Me fazia precisar dele ainda mais.

E não havia nada bonito nisso.

Ninguém deveria estar tão apaixonado por uma pessoa que o fizesse perder o controle sobre si mesmo.

O brilho da água escorrendo pelo seu corpo tatuado lhe dava um ar quase angelical, mas eu sabia que era completamente o contrário.

Ali não havia mais inocência.

Seus olhos não brilhavam mais como antes, a respiração não era mais aquela que ansiava pela vida.

Ele estava apagado.

Viktor, o cara que eu amava com todo o meu ser já não era o mesmo.

Diferente ao que eu imaginei, a aceitação desse fato não me causava mais pânico.

Na verdade, eu começava a admitir que até a pessoa mais santa também guarda esqueletos no armário e eu não tinha nenhum direito de julgá-los por isso.

Terminamos de nos lavar e como prometido, Viktor me passou uma roupa seca para que eu pudesse ir embora sem correr o risco de pegar um resfriado.

Ty ligou alguns minutos depois para avisar que Susy estava em segurança e que ao parecer, ninguém tinha desconfiado de nada, o que me deixou mais aliviada.

Como ele estava praticamente do outro lado da cidade, Viktor resolveu encerrar o seu expediente mais cedo e me levar para a mansão.

Durante o caminho mal trocamos uma palavra, no entanto, o silêncio não foi desconfortável.

Era mais como se estivéssemos cansados e sem forças até mesmo para conversar.

Ao passar pelos portões de ferro, soltei a respiração que estava presa e esperei que Viktor acabasse de estacionar para sair do carro direto até a cozinha.

Meu estômago não parava de roncar já que não tinha me alimentado a tarde inteira, então fiz um sanduíche de peito de peru com um suco de laranja para acompanhar.

Viktor entrou minutos depois afrouxando a gravata e as mangas da camisa de algodão.

— Te espero no nosso quarto. -Ele beijou meu ombro por cima da blusa de frio.

— Não vai comer nada?

— Não estou com fome, liebe, mas obrigado por pensar em mim.

— Ok.

Eu sempre penso em você. -Suspirei pesadamente.

Continuei comendo por mais alguns minutos e deixei tudo limpo para não incomodar Bertha.

Desliguei todas as luzes antes de sair e ir de encontro a Viktor com uma sensação estranha, um aperto no peito que fazia com que até mesmo respirar fosse uma tarefa extremamente complicada.

Era como se algo estivesse prestes a acontecer.

Balancei a cabeça sorrindo.

— Não seja idiota, Alícia. -Murmurei empurrando a porta do quarto dando de cara com Viktor sentado em sua poltrona lendo uma cópia de Alice no País das Maravilhas com Chess deitada confortavelmente no seu colo enquanto ele acariciava as suas orelhinhas.

Encostei no umbral para observar aquela cena por alguns minutos.

Deus, como ele podia ser tão lindo?

O rosto angulado, braços musculosos e cobertos pelas tatuagens, as pernas grossas e sem contar na sua bunda durinha.

Era o cúmulo da perfeição, até mesmo a cicatriz na sua bochecha ou as das suas costas.

A perfeição está nos detalhes mais imperfeitos. São eles que nos tornam únicos.

Eu havia escutado aquela frase praticamente a vida toda e apenas naquele momento foi quando realmente a compreendi.

— Vai continuar me espiando por mais tempo ou prefere se juntar a mim? -A voz rouca me arrancou um ofego assustado e obriguei meus pés a se moverem até onde ele se encontrava.

— Não se cansa de ler esse mesmo livro uma e outra vez? Não se preocupa com o que pensarão de você caso descubram que é fã de uma história infantil? -Provoquei colocando a gata no chão sob os miados de reclamação para poder me sentar no seu colo sendo envolvida pelos braços quentes e aconchegantes.

— Disse a garota que tem uma tatuagem de um dos seus personagens no ombro.

— Touché! -Caí na risada beijando seus lábios. — Sabia que ela brilha debaixo da luz ultravioleta?

— Não pode ser! -Revirei os olhos diante do seu deboche.

— É sério! Fiz com Olívia Cross e ela foi quem me deu a ideia. Aquela garota arrasa.

— Oh sim, a filha de Angel. Ela é muito boa mesmo. -Viktor se remexeu debaixo de mim em busca de uma posição mais confortável.

— Por acaso conhece eles?

— Vai surtar se eu disser que sim?

— Hum... não?

— Tem certeza?

— Fala logo, cara! -Grunhi tentando controlar a adolescente que gritava dentro da minha cabeça.

— Sim, Alícia, conheço ele e toda a sua família.

— Como?

Seu olhar escureceu como mais cedo e isso só serviu para aumentar a minha curiosidade.

— Digamos que ele me ajudou com uma coisa e eu lhe ajudei com outra, e é só isso que você deve saber.

— Qual é Vik, você está me dizendo que conhece a porra do Angel Cross e só vai me contar as coisas pela metade?

— É exatamente isso que farei.

Meus olhos se reviraram com força e ele sorriu divertido.

— Que seja. -Dei de ombros sabendo que quando ele enfiava algo na cabeça, era praticamente impossível fazê-lo mudar de ideia. — De todas maneiras, você me fez me lembrar de algo.

Corri até o outro quarto sem nem esperar pela sua reação e peguei a mochila que estava escondida no fundo do guarda-roupas, voltando animada para onde havia deixado Viktor na mesma posição.

— Vai me explicar o que é tudo isso ou terei que adivinhar? -Seu olhar recaiu sobre a mochila desgastada.

Sem dizer nada, deslizei o zíper produzindo aquele barulhinho metálico e retirei a caixinha com as cartas e o livro que havia dado de presente para o meu amigo em uma época que éramos felizes e não tínhamos a menor ideia disso.

— Oh por Deus, onde achou essas coisas?

Seus olhos azuis encaravam os objetos como se não pudesse acreditar que eles estavam ali na sua frente.

— Vai surtar se eu te disser? -Brinquei com a voz falhando pelo nervosismo.

Será que ele ficaria chateado?

Será que brigaria comigo por literalmente invadir sua casa antiga e ainda por cima roubar seus pertences?

— Onde pegou tudo isso, Alicia?

Ele insistiu e respirei fundo antes de responder.

— Na sua casa.

— Como?

Sua voz perigosamente baixa fez meu coração errar uma batida.

Droga.

Eu deveria ter previsto que estava fazendo merda.

De novo.

— Ok -eu disse em um suspiro. — Um dia eu estava com tanta saudade de você que meio que surtei e tive a brilhante ideia de entrar na sua casa. Eu ainda guardava aquela chave que você me deu, então pensei que não ficaria chateado...Eu sei que não deveria ter feito isso, mas eu... eu queria estar perto de você outra vez e foi o único jeito que me ocorreu.

— O quê você viu lá dentro? -Franzi o cenho pela milésima vez no dia.

Sua reação não era normal.

Ele não parecia bravo, na verdade estava mais para... preocupado ou pior ainda, assustado.

— Os móveis estavam revirados, algumas coisas quebradas e o seu quarto... foi como se um furacão tivesse passado por ali e... -Lembrei de ter tentado abrir a porta do quarto dos seus pais. — Por que a porta dos seus pais estava trancada? E por que todas as suas coisas estavam reviradas? Eu encontrei o livro sem querer debaixo de uma cômoda e haviam fotos nossas rasgadas no chão...eu me senti péssima ao ver tudo aquilo, eu...

Meus olhos se encheram de lágrimas e caminhei até a cama para me sentar.

Viktor estava petrificado.

O olhar vidrado como se estivesse entrando em uma espécie de transe.

Talvez as memórias daquela época acabaram trazendo outras de quando seus pais morreram e uma coisa levou à outra.

Eu só queria respostas, não era minha intenção fazê-lo sofrer, mas naquela altura já não havia como mudar nada.

— Vik? -Sussurrei temendo que ele agisse como da vez que entrei no seu quarto, já que sua postura era quase a mesma.

Ele pareceu voltar a si depois de alguns minutos e piscou lentamente, as pupilas que antes estavam completamente dilatadas quase tampando todo o azul, ficando cada vez menores.

— D-desculpe, eu não quis te assustar.

— Eu só peguei o livro porque era algo importante para nós dois. Não queria que ele estragasse ou fosse comido por ratos, mas foi a única vez que entrei lá, eu juro. -Expliquei rapidamente.

— Tudo bem, não estou bravo, é só que não entro naquela casa desde a última vez que a gente se encontrou.

— O que foi tudo isso, Viktor? Você parecia perdido...

Suas mãos levaram os cabelos despenteados para trás e ele puxou uma longa respiração, o colchão afundando ao meu lado quando ele se sentou com o corpo tremendo.

— O quarto estava daquele jeito porque eu e meu pai tivemos uma briga feia antes de... já sabe... do acidente. -ele começou, seu rosto virado para a frente, o olhar preso em algum ponto na parede do outro lado. — Eu e ele não éramos muito próximos e algumas decisões que eu tomava não eram do seu agrado.

Segurei o seu braço em uma tentativa de apoiá-lo, no entanto, ele se afastou devagar e foi como se uma adaga fosse enfiada direto no meu coração.

— Minha mãe, por outro lado era... era perfeita. -Seus olhos se encheram de lágrimas e um sorrisinho nostálgico desenhou os lábios carnudos me fazendo desejar poder voltar no tempo e evitar aquele maldito acidente para não ter que ver como ele ainda sofria pela perda dos pais, por mais que não quisesse admitir. — Ela fazia tudo para me ver feliz, sabe? Mesmo que seu dia tivesse sido uma merda. Ela era minha heroína, me protegia como uma leoa protege a sua cria e eu tentava retribuir todo esse amor, sabe?

— Oh, amor, eu sinto tanto. -Me aproximei novamente, respirando aliviada quando ele não se afastou dessa vez.

Seus pais quase não estavam em casa quando éramos crianças.

Eles passavam o tempo todo viajando a trabalho ou em ações de caridade e toda essa vida social de pessoas podres de ricas.

Gabriel era praticamente um estranho para mim, no entanto, eu me lembrava muito bem de como era a sua mãe.

Íris Schultz era um doce.

Sempre com aquele sorriso no rosto, sem importar como o dia estava.

Uma vez nós fomos almoçar na sua casa e ela tinha sofrido um pequeno acidente limpando o sótão que acabou deixando-a com uma torção no pulso, mas mesmo assim ela preparou todo o menu de maneira excepcional.

— Às vezes antes de dormir eu vejo algumas fotos dela. -A voz baixa fez minha pele se arrepiar.

— Por quê?

— Tenho medo de esquecer como ela era. A cada dia que passa, é como se uma parte de mim não conseguisse mais lembrar do seu rosto, da sua voz, até mesmo do seu cheiro e e-eu não quero que isso aconteça. Eu não quero perdê-la de novo.

Apertei as pálpebras, as lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas como duas cachoeiras levando tudo pelo caminho.

— Me desculpe por trazer essas lembranças à tona, Viktor. Não foi a minha intenção, eu pensei... pensei que você fosse gostar de ver algo que era importante e... -Seus dedos pousaram sobre os meus lábios me impedindo de continuar falando.

— Infelizmente eu não posso mudar a realidade. Nada disso é culpa sua.

Concordei, me sentindo horrível por mais que ele dissesse o contrário.

— Com relação às fotos, meu pai rasgou elas nessa briga que tivemos. Não fui eu.

— Oh.

— Eu já te amava naquela época, Alicia. Nunca deixei de te amar, e por isso fiquei furioso e joguei os móveis para todos os lados.

— Como quando brigou com os colegas na Alemanha? -Soltei sem querer.

— Sim. -Ele suspirou resignado.

— Posso saber porque você e seu pai brigaram? -Pedi baixinho com medo da resposta.

— Para ser sincero eu não me lembro. -Viktor desviou o olhar do meu e soube que ele estava mentindo, contudo, eu não iria cutucar ainda mais a sua ferida, então deixei para lá.

De todas maneiras, não valia a pena revirar o passado.

Nada mudaria, além do fato de que ele só sofreria mais.

— Sei que agora vai ser difícil, mas acho melhor a gente tentar dormir. Está ficando tarde e você tem que ir para o cassino cedo. -Esfreguei seus ombros e ele concordou em silêncio.

Trocamos de roupa e nos deitamos na cama, sendo acompanhados minutos depois por Chess que estranhamente se deitou aos seus pés de uma forma tão sutil que parecia que ela sabia que ele não estava bem.

Me virei no colchão ficando de costas para ele que imediatamente me puxou para os seus braços, soltando uma longa respiração antes de beijar meu pescoço com carinho.

— Alícia, posso te pedir uma coisa?

Minha garganta se apertou com o nó que se formava pouco a pouco.

— O quê, amor?

O silêncio que seguiu foi desesperador.

Viktor hesitou algumas vezes, como se ele quisesse falar algo e ao mesmo tempo tivesse medo.

Minha nuca se arrepiou com a sua respiração quente e apertei as pálpebras com força na esperança de que ele me dissesse o que tanto o incomodava, no entanto, qualquer vestígio de fé que havia dentro de mim se perdeu no momento em que ele decidiu mentir mais uma vez.

— Hã, amanhã peça para Bertha fazer berliners para o café... vou sair mais cedo e não quero acordá-la. 

NOTA DO AUTOR
Hellooooooo, não me matem kkkkk 
Vou deixar o cap aqui e volto mais tarde para postar a segunda parte! 
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar! 
Uma ótima semana a todos 😎

Amo vcs🥰
Bjinhosssss BF🖤🖤🖤

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