Capítulo 23

FOI A MINHA  vez de arregalar os olhos.

— Então a coisa é bem mais obscura do que eu pensava.

— É ingenuidade pensar que toda a sua divisão é composta por policiais honestos e que estão do lado da lei, Alicia.

Balancei a cabeça para cima e para baixo devagar.

Por mais que não quisesse reconhecer, ele tinha razão.

Andrew e Rage eram a prova disso e abriram meus olhos para o fato de que nem tudo é o que parece.

Deus, eu havia cruzado com aqueles dois pelos corredores tantas vezes e o pior de tudo era que eles sempre me tratavam bem sempre que me viam.

Engoli saliva antes de voltar a me sentar na frente do computador.

— É melhor a gente se concentrar ou vamos acabar perdendo um tempo que eu não tenho disponível. -Murmurei sentindo minhas bochechas queimando de raiva e vergonha.

Às vezes eu parecia tão boba, tão ingênua e odiava o fato de que o próprio Viktor pensava isso de mim.

Ele achava que eu ainda era aquela garotinha que nem mesmo contava com todos os dentes quando nos conhecemos.

— Ei, sabe que não quis te ofender, não é mesmo? -Os dedos longos seguraram meu queixo virando meu rosto para o lado.

— Eu sei, Vik. -Respondi em um meio sorriso triste.

Seus lábios pousaram nos meus e puxei uma respiração profunda deixando que a sensação de tranquilidade me invadisse por completo.

Seu sabor era como um tipo de calmante, uma poção mágica capaz de me embriagar em segundos.

Um dia lendo uma revista, descobri que ao beijar, liberamos vários tipos de substâncias no nosso corpo, uma delas era como uma espécie de anfetamina que estimula o sentimento de prazer.

E ao beijar Viktor, era como se a droga fosse injetada direto nas minhas veias.

Meus batimentos cardíacos ficavam acelerados, as palmas das minhas mãos suavam e a pressão no meio das minhas pernas me fazia sentir um desespero descomunal em busca de liberação.

Mas o mais interessante, era que isso não acontecia com qualquer um.

Não acontecia com Josh, por exemplo. Quero dizer, eu sentia sim um tesão quando nos beijávamos, no entanto, a sensação não chegava nem aos pés do que o homem ao meu lado me provocava.

Isso significava que somente Viktor era capaz de despertar em mim os neurotransmissores que se encarregavam de me levar à loucura e eu estava rendida à aquilo.

— Tudo bem. -Ele disse com a voz rouca e as pupilas dilatadas. — Você está certa, não temos tempo a perder.

Concordei silenciosamente e passamos a analisar o vídeo com mais atenção.

Praticamente revisamos cada quadro e Bertha não errou quando disse que a assassina parecia já saber cada passo.

Então de repente tudo começou a fazer sentido.

Até mesmo sua caminhada desajeitada por supostamente estar bêbada se notava falsa depois de analisar bem.

Tudo aquilo era falso demais.

Armado demais.

As horas voaram como um papel em meio a uma ventania e meus olhos já estavam cansados depois de ver as mesmas cenas.

Viktor parecia estar a ponto de quebrar a mesa com as suas próprias mãos e Bertha nem sequer piscava para a tela.

Seu desespero por achar uma solução era tão evidente que me fazia gostar ainda mais dela.

— O que acham de descansar um pouco? -Sugeri depois de notar que ambos estavam esgotados.

Viktor assentiu se levantando para esticar os braços musculosos.

— Mas o quê é isso? -Bertha exclamou como se nem tivesse ouvido a minha pergunta, me deixando curiosa.

— Vejam, -ela apontou para a tela — parece haver mais alguém no carro além do motorista e da passageira.

— Como assim? -Viktor se posicionou atrás de mim, apertando de leve meus ombros por cima da blusa.

— Há uma sombra e na hora que o carro estaciona e você sai, essa sombra se mexe.

Minha mente dava voltas tentando entender ao que a loira se referia e no momento em que vi com meus próprios olhos o que ela comentou, foi como se uma luz se acendesse bem em cima da minha cabeça.

— Deus, você já pensou em ser detetive, Bertha? -Brinquei para espantar o nervosismo que sentia e ela deu de ombros sorrindo com tristeza.

— Sempre tive uma visão muito boa. Meu pai me dizia que eu era um fenômeno da natureza, ele até mesmo me levou a um observatório antes de falecer. -Seus olhos se encheram de lágrimas e ela se apressou em limpá-las com a mesma elegância de sempre. — Mas isso realmente não vem ao caso. Precisamos saber quem é essa pessoa que se passou por você e... -Ela parou de falar ao ver como minha testa se enrugou repassando mentalmente cada detalhe do caso do Steven, desde o começo das investigações até o momento em que ele foi assassinado.

De repente outro click soou por trás dos meus olhos e abri uma aba do navegador com os dedos trêmulos.

— Você tem internet aqui? -Indaguei para Viktor que confirmou com um aceno curioso.

Escrevi um nome na barra de pesquisa de imagens e várias fotos pipocaram na tela deixando as duas pessoas em pé curiosas e talvez pensando que eu poderia ter ficado maluca.

— Quem é ela? -Bertha indagou em uma careta.

— Penélope Decker, viúva de Steven Decker. -Apertei as pálpebras com raiva pura correndo pelo meu corpo.

Como eu podia ter sido tão estúpida?

— Ela trabalhava como prostituta antes de ser resgatada por Steven. -Olhei de soslaio para Viktor notando como seu corpo se retesou quase de imediato. — Não entendo como ela não foi nomeada na investigação...

— Ela tinha um álibi. -A voz rouca fez meu corpo vibrar.

— É mesmo? Qual?

— Parece que sua mãe ficou doente e ela estava ajudando-a com os cuidados.

Acenei revirando os olhos.

— É estranho você saber mais do caso do que eu, mas nesse momento isso está me ajudando, então vou deixar passar.

Viktor sorriu, sua cabeça indo de um lado para o outro.

— Penélope sabia das coisas que o marido fazia?

Bertha se aproximou para ver melhor as fotos.

— Suponho que sim, afinal, a julgar pela forma que os dois se conheceram ele não conseguiria esconder suas... atividades. -Dei de ombros.

— Você tem razão, no entanto, se ele continuou se envolvendo com garotas de programa mesmo depois de casados, isso seria um bom motivo para querer vingança.

— Porra.

Empurrei a cadeira para trás ao me levantar e caminhei pelo escritório como se estivesse presa ali dentro.

Será que Penélope tinha algo a ver com o assassinato do marido?

Eu precisava descobrir se pelo menos ela sabia alguma coisa sobre o que aconteceu. Talvez ela quisesse me ajudar a descobrir quem matou Steven, talvez...

— Nem pense nisso. -Viktor segurou meu pulso me fazendo parar.

— Pensar no quê?

— Em ir atrás dela.

Droga. Esse cara sabia ler mentes ou eu era muito transparente.

— Eu não estava...

— Alicia.

— Ok. Não vou fazer nada disso, não precisa se preocupar.

Seus dedos subiram até as minhas bochechas, acariciando minha pele com carinho.

— Se ela for mesmo culpada, deve estar sob a proteção dos Red Demons. -Acenei lentamente. — Não quero que se coloque em risco, Coelhinha.

— Tudo bem -eu disse em um resmungo. — De qualquer forma, eu nem mesmo sei onde ela está ficando. -Afirmei desanimada.

Ele pareceu se convencer da minha resposta e continuamos revisando os documentos que ele tinha por mais algumas horas antes de irmos para o nosso quarto bocejando tanto que pegamos no sono assim que nos deitamos na cama.

No dia seguinte, depois de que Viktor saiu para trabalhar, fui direto para o computador investigar tudo sobre Penélope aproveitando o fato de que ele era o único com internet disponível e agradecendo à minha memória por gravar a senha que Viktor usou para desbloqueá-lo.

Eu já sabia muita coisa sobre a esposa de Steven, no entanto, havia certos detalhes que não fazia ideia principalmente depois de vir para a mansão Schultz.

Penélope era a típica garota que nasceu no subúrbio em uma família extremamente pobre.

O pai abandonou ela e a sua mãe por uma garota mais jovem, deixando as duas desamparadas.

Quando completou dezessete anos, vendo que possuía um corpo escultural e uma beleza indiscutível, Penélope começou a buscar trabalho como modelo, até mesmo como atriz.

Ela batalhou por quase dois anos, sobrevivendo apenas de trabalhos básicos que mal pagavam suas contas e deixavam as duas em apuros na maioria das vezes.

Por mais que ela tentasse, o universo parecia não estar ao seu favor.

Ninguém queria contratar uma pessoa com um passado como o dela, o que a levou a procurar por saídas alternativas.

Apesar de ser pobre, Penélope era uma mulher inteligente e começou a usar essa habilidade para conseguir trabalhos sexuais com pessoas tão ricas que pagariam milhares por uma noite ao seu lado.

Ela começou a ganhar tanto dinheiro no ramo, que passou de ser uma completa desconhecida, a estar na boca -e no meio das calças- de todos os magnatas da cidade.

Seu sucesso foi tão grande, que os cafetões exigiram que ela pagasse uma taxa pelo serviço prestado se ela não quisesse sofrer as consequências.

E ao não pagar essa taxa, a mulher foi praticamente obrigada a trabalhar para um cara que assegurou que ela estaria segura nas suas mãos.

O que obviamente não aconteceu.

Resumindo, foi aí que ela conheceu o marido que pagou uma pequena fortuna por ela como se ela fosse uma mercadoria ou algo do tipo, mas eu tinha quase certeza de que ele pediu algo em troca por essa inversão generosa.

Será que Penélope se cansou de ser a esposa-troféu e o brinquedinho sexual de Steven e por isso deu um jeito de matá-lo e se livrar ao mesmo tempo de uma possível condena?

Quero dizer, será que ela havia conseguido matar dois coelhos com uma só cajadada?

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas de todas maneiras precisava chegar até o fundo dessa loucura ou não me chamava Alicia Medina Rios.

Esperei que todos estivessem ocupados com seus próprios problemas e imediatamente comecei a bolar um plano para conseguir burlar a segurança da mansão e poder ir falar com Penélope pessoalmente.

Eu era a porra de uma detetive e consegui descobrir onde a mulher estava se escondendo em um piscar de olhos.

Ou melhor, em um estalar de dedos.

Seu refúgio era a casa da mãe que ainda morava em uma das periferias da cidade, apesar de que a filha agora tinha uma quantidade enorme de dinheiro na sua conta.

Anotei o endereço no GPS do celular que graças aos céus funcionava sem necessidade de internet e guardei a chave da moto no bolso da minha jaqueta de couro.

Eu precisava de um capacete com viseira escura para poder não ser reconhecida na rua, então fui até o galpão onde as motos e carros ficavam guardados e nem acreditei quando encontrei um que coube perfeitamente na minha cabeça.

Como se ele tivesse sido feito sob medida para mim.

Imediatamente o vesti apertando a fivela no queixo e dei partida na moto de Viktor sentindo aquele frio na barriga que já era comum.

Decidi não ir na minha ou acabaria chamando a atenção tanto na mansão quanto nas ruas já que provavelmente saberiam que era eu por conta da placa.

E como eu não podia perder tempo, fui para aquela mesma estrada de chão que me levou até onde encontrei Viktor e Ty torturando aquele nojento.

Se alguém me barrasse, eu diria que estava apenas dando umas voltas e retornaria para a mansão.

No entanto, surpreendentemente, nenhum dos seguranças pareceu me notar.

Na verdade eles nem mesmo olharam para o lado quando eu passei, como se não estivessem interessados em saber quem estava pilotando a moto.

Estranho.

Dei de ombros e segui pelo caminho irregular, rezando para que a gasolina da moto não acabasse, já que a estrada parecia não ter fim.

Meu coração batia acelerado dentro do peito, minhas mãos escorregando no guidão por conta do suor e eu mal conseguia engolir, como se um caroço estivesse preso na minha garganta por conta da sensação de estar fazendo algo estúpido e errado.

Era quase como se eu estivesse me sentido mal por desobedecer a ordem de Viktor.

Sorri para mim mesma.

Aquilo era ridículo.

Ele não era meu dono, não podia mandar em mim.

E eu não devia satisfações a ninguém.

Devo ter andado quase trinta minutos, quando finalmente encontrei a cerca que delimitava a propriedade e de maneira desajeitada consegui sair, dando a volta até chegar no asfalto, minhas coxas começando a doer por conta do solavanco.

Parei em uma sombra e ajustei o mapa na tela do celular, prendendo-o em cima do guidão para que eu conseguisse ver tudo sem correr o risco de cair.

Eu conhecia a zona onde a mãe de Penélope morava, no entanto, era melhor não me perder no caminho.

Depois de passar por todas as barreiras da propriedade de Viktor, finalmente respirei com calma ao notar que já não corria nenhum risco de ser pega por algum dos seus seguranças.

E embora eu soubesse que levaria um sermão do meu... do que quer que fôssemos, como dizem por aí, era melhor pedir perdão do que pedir permissão.

Conforme eu pilotava pela cidade, aquela sensação de liberdade ia se destilando pelo meu corpo, se espalhando em cada poro na minha pele, me fazendo acelerar cada vez mais em busca da injeção de adrenalina.

Minha vida inteira havia sido planejada, eu pensava em cada passo que daria, controlava cada aspecto do meu dia e isso me cansava.

Então pilotar funcionava como uma válvula de escape dessa pressão que eu mesma colocava em mim.

Era como se depois da partida de Viktor, eu tivesse criado essa barreira de proteção para não ser abandonada outra vez.

Porque claro, se eu estivesse no controle de cada passo que dava, não poderia mais ser surpreendida.

Ingênua.

Continuei avançando sem deixar de conferir o ponteiro da gasolina.

Por alguma razão, Viktor havia deixado o tanque cheio, no entanto, eu podia apostar que ele não pensava que eu literalmente roubaria a sua moto e fugiria sem dizer nada.

Meu estômago se contorceu quando entrei no bairro decadente onde Penélope se encontrava.

O lugar parecia ter saído de um filme americano e a cada metro que eu percorria lentamente, os olhares curiosos banhados em perguntas silenciosas me acompanhavam sem nem mesmo dissimular.

Crianças brincavam de bola nas calçadas, alguns caras jogavam cartas nas escadas que davam acesso às suas casas e outros apenas se sentavam observando o dia passar como se nada estivesse acontecendo.

Eu sabia muito bem o que aquilo significava.

De uma maneira inusitadamente honrosa, eles protegiam o seu bairro.

Quero dizer, protegiam as suas famílias, filhos, sobrinhos e qualquer outra pessoa que morasse ali de sofrer nas mãos de gangues pertencentes aos bairros inimigos.

Estacionei debaixo de uma sombra para revisar o número da casa de Penélope e não demorou muito para que alguém viesse ao meu encontro.

— Você tem dez segundos para dar o fora daqui se não quiser ser manchete no jornal. -O homem alto com o corpo quase todo coberto por tatuagens rosnou girando um canivete entre os dedos longos e deformados por tantas brigas.

Ele vestia apenas uma bermuda cargo marrom e um tênis surrado deixando à mostra o peitoral musculoso que ostentava várias marcas de guerra.

Símbolos que representavam gangues, estadias nas prisões e até mesmo um assassinato.

— Não tenho medo de você, cara. -Bufei voltando a olhar para a tela do meu celular.

— Pois deveria ter, vadia. Você sabe quem eu sou? -A lâmina fria fez a pele do meu pescoço se arrepiar e sorri com divertimento.

— Oh, eu sei sim quem você é: um babaca que pensa que manda na porra de um bairro, quando na verdade, o chefe está do outro lado fodendo a sua namorada enquanto você brinca de autoridade. -Minha sobrancelha se levantou e continuei procurando o endereço de Penélope sem nem me afetar.

Não tinha chegado até ali para sair correndo como uma garotinha.

O homem ao meu lado parecia tão perplexo com a minha resposta que demorou alguns segundos para finalmente reagir.

— É o seguinte, sua puta, eu vou te dar mais uma chance porque estranhamente gostei de você e dessa sua língua afiada. Dê a volta aqui mesmo e vaze antes que eu perca a paciência.

Droga.

Agora tinha que reparar os danos por falar demais.

— Ei, não precisa ficar bravo. -Deslizei os dedos até a sua mão, afastando com cuidado a faca do meu pescoço. — Só estou procurando uma amiga, Penélope Decker. -Sua testa franziu e ele rodou os olhos antes de cruzar os braços. — A conhece?

— Infelizmente sim. Aquela filha da puta se acha da realeza só porque ficou rica. Ela esqueceu das origens e nem mesmo olha na nossa cara depois de que a ajudamos a sobreviver quando o covarde do seu pai as deixou.

Respirei fundo.

— Bom, nesse caso, ela não é minha amiga. Na verdade, eu a odeio assim como você -Sorri novamente. — E se quiser se vingar por toda essa sua atitude mesquinha, me diga onde a mãe dela mora. -A declaração veio de uma maneira tão sombria que até eu fiquei impressionada com a minha frieza.

— Quem é você, garota? -Seus olhos cintilavam em excitação e dei de ombros.

— Uma pessoa que está sendo procurada pela polícia e que não tem muito tempo a perder, então...

— Você é quem manda. -Ele apontou para a frente. — Siga essa rua por mais duas quadras e quando chegar na esquina vire para a esquerda. A casa de Melania está no meio da quadra, a porta é marrom com uma Virgem de Guadalupe pintada na madeira. -Balancei a cabeça para cima e para baixo. — É até irônico, sabe? De santas aquelas duas não tem absolutamente nada.

O encarei sério.

Até os maiores pecadores têm direito a ter fé. Disso se trata a religião, não é? Perdão e arrependimento... -Sussurrei me lembrando de Viktor e como ele sempre faz uma pequena oração silenciosa antes de cada refeição, certamente um ensinamento de Bertha, mas mesmo assim, é algo estranho e interessante.

— Se você diz. Agora caia fora antes que alguém desconfie da sua presença. Faça o que tiver que fazer e vá embora. Não ouse voltar aqui, não serei tão compreensivo da próxima vez.

Concordei com um aceno.

— Obrigada, e só para que saiba, se alguém mexer comigo, deve ser consciente de que estará mexendo também com Viktor Schultz. -Falei baixinho e sorri internamente quando ele arregalou os olhos assustado.

Isso mesmo, idiota.

Eu não gostava de me esconder na sombra de ninguém, mas devia admitir que naquele momento era necessário, caso contrário eu corria perigo.

E eu sabia que a voz correria rapidamente e ninguém me incomodaria ao saber que teria que lidar com um dos caras mais perigosos da cidade.

Ser uma espécie de mafioso servia para algo, no final das contas.

Segui as instruções que o idiota com o ego mais inflado que o que há no meio das suas pernas me deu e puxei uma longa respiração ao avistar a imagem da santa na porta deteriorada.

— É isso aí, Alícia. Seja rápida e ninguém nem mesmo saberá que você esteve aqui. -Repeti para mim mesma, descendo da moto e subindo os degraus da entrada que rangiam conforme eu pisava na madeira velha.

Levei a mão até a porta, dando leves batidinhas esperando que pelo menos a sua mãe estivesse em casa.

Se Penélope fosse culpada, era provável que ela mentisse ou tentasse me ludibriar.

Na verdade, se me permitissem escolher, eu preferia falar com a sua mãe no seu lugar.

Continuei esperando e tocando na porta, no entanto, alguns minutos se passaram e ninguém atendeu.

— Droga. -Grunhi para mim mesma começando a pensar que talvez minha ida ali tivesse sido em vão.

Permaneci parada no mesmo lugar por mais um tempo e ao não obter nenhuma resposta, me virei para voltar para a moto, parando de supetão ao dar de cara com um par de olhos castanhos me encarando com raiva pura.

— Que merda está fazendo aqui? Matar meu esposo não foi suficiente então veio terminar o serviço? -Penélope indagou com a voz baixa para não chamar a atenção.

Ela estava vestida com uma legging e top pretos, uma bolsa de academia pendurada no ombro e os pés calçados com um tênis de marca que destoava do ambiente ao nosso redor.

— Economize o show para aqueles que acreditam nessa sua farsa, Penélope. -Desci os últimos degraus parando bem na sua frente.

Ela era quase da minha altura e depois de analisar seu corpo com atenção, notei que ela tinha também a mesma estrutura corporal que eu.

— Está bastante bem para alguém que ficou viúva a pouco tempo. -Levantei uma sobrancelha em deboche.

— Cada um reage de uma maneira diante da perda, além do mais, você não tem o direito de me dizer como devo ou não me sentir. Não depois de ter tirado meu Steven de mim...

Seus olhos se encheram de lágrimas e soltei uma gargalhada sonora.

Deus, ela era realmente uma ótima atriz.

Aproximei minha cabeça do seu ouvido, notando como seu corpo se retesou com a proximidade repentina.

— Eu até tinha alguma dúvida sobre a sua participação nesse crime antes de chegar aqui, no entanto, agora que pude presenciar todo esse seu drama pessoalmente, tenho certeza de que foi você. Pode até enganar os outros policiais com essa lábia, mas a mim você não engana e vou dar um jeito de provar minha inocência, custe o que custar.

Penélope engoliu em seco antes de se recompor rapidamente, me dedicando aquele olhar estoico de quem sabe -ou pensa- que não vai lhe acontecer nada.

— Pobre Alícia, uma agente tão boa, mas ao mesmo tempo tão ingênua. Não faz a menor ideia de onde está se metendo. Eu vou estar na primeira fila do seu julgamento quando te levarem para a prisão enquanto eu continuo livre para usufruir da fortuna do meu amado esposo, que em paz descanse -Seu pequeno sorriso ao limpar as lágrimas de crocodilo ao perder o marido confirmam ainda mais o seu envolvimento no assassinato.

Só me restava saber quais eram as suas motivações para tirar a vida daquele idiota.

O encontro também me fez perceber que Penélope era uma mulher perigosa e eu devia começar a ter mais cuidado.

— Nos veremos no tribunal, Penélope. -Declarei com a voz embargada rezando para que ela não tenha percebido como suas palavras de fato me afetaram.

Subi na moto e voltei para a mansão com o coração quase escapando pela minha garganta a cada quilômetro que me aproximava mais da casa de Viktor.

Eu estava desesperada para chegar.

Aquele lugar tinha se transformado no meu porto seguro.

Ali era onde eu sabia que nada aconteceria comigo e estar na cidade me fazia pensar que a qualquer momento alguém me faria parar e me levaria direto para a cadeia.

Porra. Cedo ou tarde eu ficaria maluca.

Só consegui respirar tranquilamente quando passei pela porta de entrada da enorme propriedade.

Não havia motivos para ir pela parte de trás, já que provavelmente saberiam que eu estava fora, então resolvi economizar algo de gasolina e enfrentar as consequências das minhas ações com a cabeça erguida.

No momento em que estacionei alguns metros depois, fui recebida com três pares de olhares divididos entre preocupação, piedade e raiva contida.

— O que deu na sua maldita cabeça, Alícia? -Viktor se aproximou retirando a chave da ignição com mais força do que era necessário e jogando-a para um dos seguranças que a pegou no ar com uma habilidade invejável. — Esconda essa porra em algum lugar e não se atreva a dizer onde.

— Viktor, me deixe só... -Tentei argumentar, mas ele me interrompeu com um olhar furioso.

— Não quero falar com você agora, Medina. -Engoli em seco. — Tome um banho e reze para não ter sido vista enquanto passeava pela cidade.

Dito isso, ele simplesmente se virou e entrou na mansão a passos firmes e decididos.

NOTA DO AUTOR

Agora sim, aqui está o outro capítulo como 

eu havia prometido! 
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar heim!!!! 

Amo vcs,🥰
Bjinhossss BF ❤️❤️❤️

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